Guia de episódios

STAR TREK IV:
THE VOYAGE HOME

1986



 









 


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Aparentemente a infame "Procura por Nicholas Meyer" (TM), mencionada pelo autor nos comentários do filme anterior, deu resultado e o verdadeiro responsável pelos melhores momentos da Série Clássica no Cinema voltou para escrever um bom e bem resolvido roteiro, que com uma surpreendentemente efetiva atitude do mais puro, superficial e assumido (por vezes descarado) entretenimento consegue restaurar o Status Quo da série (largamente sacudido pelos dois filmes anteriores), colocando nossos sete velhos conhecidos (incluindo Spock) de volta na ponte de uma (nova) nave Enterprise ao seu final, fazendo tal coisa com grande competência e ainda além conseguindo, durante toda esta trajetória, apelar tanto a uma multidão de não aficionados quanto à legião de fãs tradicionais de Jornada. Uma tarefa deveras impressionante sem dúvida. Mais detalhes, sem precisar voltar no tempo para resgatar um casal de baleias no processo, nas linhas abaixo. 

De forma a restaurar o formato tradicional das aventuras de Kirk e cia. os realizadores perceberam que seria necessário um grande esforço se estabelecido todo um arco dramático que realmente resolvesse os elementos então vigentes (notadamente: a recuperação do Spock de outrora, um julgamento para os amotinados e uma nova nave estelar para ocupar o lugar da Enterprise) de maneira apropriada e satisfatória. O que talvez fosse material demais para um único filme, o que somado a noção de que os dois últimos filmes tivessem sido dramáticos ao extremo apontava naturalmente para uma mudança de tom. 

Salvar a Terra de mais uma ameaça valeria a Kirk e os demais o perdão e uma nave e durante tal crise Spock entraria em contato de novo com seu lado humano. Nenhum destes ângulos foi muito enfatizado e o grosso do filme que fica na memória se resume ao conjunto das situações, no melhor estilo “de um peixe fora d’água”, que enfrentam nossos conhecidos personagens em pleno ano de 1986. Parece que como um habilidoso mágico, Meyer atrai a atenção da audiência com tal “choque cultural”, enquanto “resolve” marginalmente (na melhor das hipóteses) os referidos elementos dramáticos. É uma forma de trapaça sim, mas que funciona perfeitamente bem nos seus termos.  

Este quarto filme é o mais acessível ao público em geral de toda a coleção de segmentos de Jornada para o Cinema, não é difícil perceber o por que. A produção do longa teve grandes cuidados em "aparar as arestas" do produto final, visando maximizar a audiência potencial do filme. Fossem tais "arestas" inerentes: ao roteiro (que minimiza os aspectos técnicos da história, colocando a maior parte da ação em um cenário reconhecível e por isto mais seguro para a audiência), ao tom da fita (onde não aparecem mortes e o lugar comum da "iminente extinção da humanidade" é tratado pouco enfaticamente), a trilha sonora (que não tem nenhuma relação com uma trilha típica de Jornada, que basicamente era a intenção), as atuações dos atores (altamente naturais e despojadas aqui, parecendo capturar os personagens em sua forma mais humana possível), a direção (bastante discreta), a fotografia (absurdamente superior aquela dos dois filmes anteriores, trazendo uma maior suavidade ao filme) etc. 

Não bastassem estes cuidados todos para os não iniciados nas aventuras de Kirk e cia., ainda existe muito para o espectador regular de Jornada no filme. O grande presente para esta parcela do público é o fato do filme capturar tão bem a real "persona" de cada um destes personagens que se tornaram tão íntimos dos fãs de Jornada ao longo dos anos, mas talvez nunca tenham sido pintados de uma forma tão próxima ao fã e em um cenário também tão próximo ao fã. Tomem por exemplo à cena em que após despachar os demais cinco personagens regulares para as suas respectivas missões, Kirk diz a Spock que graças à memória recuperada do Vulcano e um pouco de sorte eles estavam na São Francisco de 1986 procurando as baleias. A descrição que Kirk faz da situação e a forma como ele a faz poderia ter sido facilmente feita por qualquer fã no lugar de Kirk, nisto reside o apelo da caracterização dos personagens no presente filme. E do esforço e competência dos envolvidos em manter uniforme tal proposta (para todos os personagens, cena após cena) ao longo do longa reside a sua maior qualidade (ou seja, exatamente o contrário do que foi feito no filme seguinte). 

Provavelmente o grande mérito de Nimoy enquanto diretor aqui tenha sido justamente trabalhar as atuações dos atores de forma a trazer em suas performances o mais fiel retrato a essência dos seus personagens, despidos de uma certa "capa de heroísmo" que muitas vezes nubla as suas facetas mais humanas. Os demais aspectos da direção do alter-ego de nosso Vulcano favorito não são particularmente dignos de nota, ainda que mostrem uma evolução com relação à absoluta mediocridade dos seus esforços no filme anterior. Tomem por exemplo à seqüência (talvez a mais audaciosa da película) que mostra a "Bounty" salvando as duas baleias do iminente ataque do baleeiro. Em nenhum momento tem-se sequer uma ponta de ilusão que de fato tais três famílias de cenas (casal de baleias, barco baleeiro e interior da nave Klingon) pertençam a um mesmo cenário de ação ao vivo, mais parecendo um mero trabalho de colagem. 

Já Nimoy, enquanto ator, serve de alicerce para o filme (como sempre serviu para a Série Clássica). De fato, apesar dos inúmeros problemas de motivação e execução do filme anterior, em termos práticos é quase impossível imaginar a tripulação original de Jornada sem a estatura do intérprete de Spock em suas fileiras, o Vulcano teria mesmo que voltar a vida para que os filmes continuassem a ser produzidos. Aqui Nimoy ancora os melhores momentos e faz de Shatner um melhor ator quando em cena junto com ele. Ver Shatner e Hicks (cuja personagem talvez pudesse até ser excluída da história, em prol de uma maior diversidade de situações e de uma intensificação do paradigma do “Peixe fora d’água”) trocando “caras e bocas” na pizzaria é absolutamente constrangedor, especialmente por que pouco tempo antes vimos tal trio protagonizando a melhor cena do filme (“Vocês gostam de comida italiana?”), na caminhonete da doutora, em um triunfo cômico que qualquer descrição falharia em fazer justiça. 

“A Volta Para Casa" traz curiosas opções criativas em sua concepção, especialmente quando contrastadas com as dos dois filmes anteriores e das expectativas geradas por estes. Evitando com humor (e jogo de cintura) algumas potenciais armadilhas dramáticas plantadas anteriormente. O filme traz um apelo universal ao mesmo tempo em que revela a mais pura essência da tripulação da Série Clássica. Um belo esforço dos envolvidos.