Abrams resiste a fazer filme no formato 3-D

O Jornal The New Yor Times publicou uma reportagem sobre a discussão entre os produtores e diretores a respeito da produção ou não de longametragens no formato 3-D ou três dimensões, àquele que você assisti com óculos especiais e possibilita ter a sensação de estar dentro do filme. J. J. Abrams é um desses cineastas resistentes a criar películas nesse formato.

Uma piada que corre em Hollywood e que envolve os óculos vermelho e verde diz: “Se você não pode fazer bem um filme, então faça-o em 3-D”.

Enquanto Hollywood se apressa com dezenas de filmes em 3-D para a telona – cerca de 60 estão previstos para os próximos dois anos, incluindo Jogos Mortais VII e Mars Needs Moms! – Uma rebelião entre alguns cineastas e espectadores está complicando o salto da indústria para a terceira dimensão.

É difícil medir a resistência do público – denúncias on-line não significam muito quando multidões estão pagando o preço para assistir 3-D. Mas os cineastas são outra questão, e suas atitudes podem dizer se o salto para 3-D de Hollywood está prestes a bater numa parede.

Vários diretores influentes atiraram surpreendentemente contra o boom 3-D durante a recente convenção de cultura pop, Comic-Con Internacional, em San Diego.

“Quando você põe os óculos, tudo fica escuro,” disse JJ Abrams, cujo bidimensional Star Trek arrecadou 385 milhões de dólares nas bilheterias mundiais para a Paramount Pictures no ano passado.

Joss Whedon, que estava no palco com Abrams, disse que, como um espectador: “Eu estou totalmente com isso. Eu amo isso”. Mas, em seguida, Whedon disse categoricamente ser contra um plano da Metro-Goldwyn- Mayer para converter The Cabin in the Woods, um filme de terror que ele produziu, mas que ainda não foi lançado em 3-D. “O que estamos esperando?”, Whedon disse, “é apenas um filme de terror saindo que não está em 3-D”.

Um porta-voz da MGM se recusou a discutir o assunto. Mas uma pessoa que foi informada sobre a situação dentro do estúdio – falando sobre a condição de anonimato, disse que o estúdio estava em meio a uma reestruturação financeira difícil e que continuava sendo uma opção a conversão do filme.

Já um porta-voz da Marvel Entertainment disse que o estúdio não tinha ainda decidido fazer, em duas ou três dimensões, Avengers (Vingadores), um filme de super-heróis que Whedon está dirigindo.

Com o enorme sucesso em 3-D de Avatar, dirigido por James Cameron, seguido, em curto espaço de tempo por Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton, os executivos de marketing de distribuição têm clamado por mais teatros digitais equipados para manter filmes 3-D.

No final do ano, haverá mais de 5.000 telas digitais nos Estados Unidos, ou 12,5 por cento do total de cerca de 40.000 cinemas, aliviando um engarrafamento de trânsito que causou transtorno quando da estréia de Fúria de Titãs, da Warner Brothers, ao chocar-se com o de mesma data Como Treinar seu Dragão, da DreamWorks Animation, que causou incômodo a ambos.

Os ingressos para filmes em 3-D custam de 3 a 5 dólares (mais caro que os filmes comuns), e executivos do setor estimam que as imagens 3-D contabilizem uma média extra de 20 por cento no caixa. As vendas nas casas para 3-D como Avatar e Monstros vs Aliens foi forte, mostrando que podem mais do que  os seus próprios, quando não em 3-D.

Um filme em 3-D pode ser um pouco mais caro do que um equivalente de 2-D, porque ele exige câmeras mais elaboradas e técnicos de filmagens mais treinados ou um processo adicional no período já pesado de pós-produção de filmes de efeitos. Mas os custos adicionais são um pontinho quando comparados com as maiores vendas de ingressos.

Nos bastidores, no entanto, os cineastas começaram a resistir ao interesse de executivos ávidos por vendas 3-D. Por razões estéticas e práticas, alguns diretores muitas vezes não querem converter um filme em 3-D ou ter problema e despesa de filmagem com câmeras 3-D, que ainda não foram relativamente testadas em grandes filmes com cenas complexas e locais.

Cineastas como o Abrams e Whedon argumentam que a tecnologia 3-D vai resultar em pouca melhora para a história cinematográfica, ao adicionar um monte de incômodos. “Não mudou nada, exceto que vai tornar mais difícil a gravação”, disse Whedon na Comic-Con.

Em grande parte no mesmo espírito, Christopher Nolan, recentemente afastou as sugestões de que seu filme Inception, da Warner – ainda número 1 nas bilheterias – poder ser convertido em 3-D.

Por outro lado, Michael Bay, que está filmando Transformers 3, parece ter concordado que seu filme vai ser pelo menos parcialmente em 3-D, após ter insistido durante meses em dizer que a tecnologia não estava pronta para esse tipo de ação.

“Nós sempre dissemos que tudo é uma questão de equilíbrio”, disse Greg Foster, presidente da Imax Filmed Entertainment, que aconselhou que alguns filmes são melhores em 2-D, mesmo em telões Imax. “O mundo está se aproximando para essa abordagem”.

A vontade de filmar em 3-D poderia convencer estúdios a aprovar um filme caro. Mas o desprezo de alguns cineastas para o 3-D, pelo menos no quadro dos seus projetos em curso, foi mostrado em San Diego.

Jon Favreau, falando na Comic-Con sobre seu Cowboys e Aliens para a DreamWorks e a Universal, disse que a idéia de fazer o filme em 3-D tinha chegado, mas ele não estava interessado. “Westerns só devem ser gravados em filme normal”, disse Favreau, acrescentando, “Use o dinheiro que você economiza para vê-lo duas vezes”.

Stacey Snider, diretora-executiva da DreamWorks, disse que Favreau e os estúdios envolvidos tinham de comum acordo que o 3-D não era certo para o filme. Mas, acrescentou que uma discussão sobre 3-D foi inevitável. “É ingênuo pensar que não seria bom tê-lo em qualquer filme que tenha efeitos, ação ou parâmetro,” disse Snider.

Outro filme que está em discussão quanto ao formato é Hobbit. Uma fonte anônima informou ao jornal que há negociações delicadas em torno de um plano para que Peter Jackson dirija Hobbit, mas que o status dimensional do filme ficou por se resolver.

Em entrevista ao site SOS Hollywood (por Fabio M Barreto), Abrams comentou sobre a possibilidade da continuação de Star Trek ser em 3-D, “A Paramount queria fazer o primeiro em 3D, mas como era meu segundo filme (o primeiro foi Missão Impossível), fiquei com medo só por causa do tamanho e complexidade. Seria dor de cabeça demais, e tive receio de que, em vez de fazer um bom filme 2D, poderia terminar com um péssimo filme em 3D (risos). Agora estou mais confortável para pensar nisso. Muito vai depender do que eu ver em Avatar. Estou aberto a essa possibilidade”, disse Abrams.

Há rumores dentro da Paramount de que a CBS estaria considerando a comercialização da série original em 3-D. É isso mesmo, você poderia ver Kirk e Spock saltarem para fora do Guardião da Eternidade a sua frente, através de uma projeção 3-D. No entanto, uma pessoa muito notável e de grande posição na empresa não está empolgada com a idéia. O próprio presidente executive da CBS Les Moonves declarou recentemente que viu os episódios testes da série convertidos em 3-D e que não se impressionou. Embora o parecer do chefe da CBS seja importante, alguns executivos estariam interessados em tal mudança. Afinal, é o mercado que impulsiona as vendas.

Uma pesquisa feita nos EUA, quanto a opinião de pessoas que assistiram filmes em 3-D, algumas expressaram preocupação em relação ao interesse excessivo de tratar somente de efeitos especiais em detrimento a qualidade da produção (roteiro, interpretação, música), como no caso do fracasso de bilheteria de Fúria de Titãs. Muitos fãs de Jornada reagiram com desagrado a remasterização recente da Série Clássica, que trouxe apenas melhoria nas imagens sem mudar a excência dos episódios.

Pelo jeito, a discussão ainda vai continuar por um longo tempo.