Procuram-se novas idéias

Como salvar Jornada nas Estrelas? Você sabe, essa é a pergunta que não quer calar e está deixando muitos com insônia neste princípio do ano santo de 2001, quando o franchise –que não pode mais ser visto como “just a tv show“, mas como um verdadeiro império de merchandise e marketing– completa 35 anos de vida (alguns diriam até sobrevida –para muitos, Jornada foi consumida pelas chamas junto com o corpo de Benjamin Sisko em 1999).

E quando eu falo das pessoas que estão preocupadas com o bem-estar de Jornada (sem falar nos rendimentos no mercado) a ponto de perder o sono, não estou falando dos famosos trekkies mais “hardcore“, aqueles que são capazes de brigar ao discutir se a série original é melhor divertimento que “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” e se degladiar por políticas de fã-clubes e por aí vai. Estou falando dos próprios produtores e executivos que vêm dirigindo a série (em direção à revitalização ou a um penhasco, acho que nem mesmo eles sabem –daí esse estresse todo que Mr. Berman e cia. vêm mostrando ultimamente).

Eles vêm mostrando essa insegurança ao não contar para os próprios atores como a série irá acabar (não acredito que estejam fazendo isso em nome da segurança –para mim, isso, somado ao rumor de múltiplos finais, mostra apenas o quão inseguros eles estão para decidir como acabar uma série que se tornou uma dor de cabeça para o estúdio e para o franchise).

O medo é tanto que eles acabaram rompendo o silêncio sobre as críticas à série a ponto de dar o mais violento puxão de orelha em Robert Beltran e Kate Mulgrew, depois da vigésima entrevista negativa dos dois (ah, Bob e Kate, quem te viu, quem te vê, hein?).

Mas eles estão com muito, mas muito medo mesmo, de falar da famigerada Série V. Até agora, só vimos eles adiando e atrasando o anúncio do novo programa (ei, não era para ter saído em janeiro?). A boataria saiu do controle de forma tal que até o que Richard Arnold e (pasmem!) William Shatner falam sobre a nova série é levado a sério. (Adoro o Bill, mas ele sabe mais do que se passa dentro da Paramount ultimamente do que eu sei o que se passa nos bastidores da revista Sexy.)

E eu aposto –mas não ponho minha mão no fogo por isso– que essa situação de insegurança pode ter levado Rick Berman (ou alguém ligado ao atual estado de Jornada) a complicar as coisas para o lado da produção do DVD de “Jornada nas Estrelas – O Filme”, que vem passando por diversos problemas com a Paramount ultimamente. Coincidência? Duvido –tem cheiro de B nisso.

A questão é: a julgar pela qualidade medíocre da atual temporada de Voyager (cujo único episódio que me chamou a atenção foi “Inside Man” –que, assim como “Pathfinder”, só é bom porque lembra como estar na Terra com os personagens da Nova Geração era gostoso–, além de “Imperfection” e “Body and Soul”, dois roteiros regulares salvos pelo talento dramático da boa atriz Jeri Ryan –e eu digo isso no bom sentido mesmo) e pela incerteza dos rumos da Série 5 (de novo esses atrasos e rumores furados à la Richard Arnold, Lolita Fatjo, Ethan Phillips, William Shatner, todos falando o que leram na Internet, enquanto Berman se esconde em seu escritório e Braga não conta nada pra ninguém), o novo milênio precisa de algo para revitalizar essa nave e ligar o transwarp de Jornada nos EUA (aqui no Brasil parece que vai tudo muito bem, obrigado).

Particularmente, eu acho que é hora de um novo produtor talentoso assumir Jornada, e o primeiro que me vem à cabeça é Steven Bochco (de “Nova Iorque Contra o Crime” e “LA Law”), um produtor que infelizmente já revelou à imprensa que ficção não é sua praia. O que é triste, porque apenas um talento com a força de Bochco e sua bagagem junto aos estúdios seria capaz de tirar Jornada (e a ficção científica televisiva em geral) dos limites em que ela parece estar presa atualmente.

Está na hora de todos os envolvidos com Jornada (de Rick Berman aos designers) pensarem além de seu universo seguro e conhecido, e começarem a raciocinar de modo realmente ambicioso e audaz, antes que o franchise se torne apenas uma reprise de idéias familiares e repetitivas (como o sétimo ano de Voyager e, ao que parece, a nova série, que comentarei quando tiver mais informações).

Por tudo isso, por enquanto eu não vejo solução. Ou melhor, vejo, mas não nas telas e sim nas páginas de livros e de quadrinhos. Escutem a voz da razão, Rick, John, Brannon –não precisam nem ir tão longe da Paramount para buscar novas idéias. Os livros da Pocket Books e os quadrinhos de Jornada produzidos pela Wildstorm são o que de melhor foi feito sobre a série em 1999/2000.

Leiam a saga da USS Excalibur, criada pelo gênio de Peter David para seu “New Frontier” (série publicada tanto em livros quanto em quadrinhos), a saga de Kirk (feita por Shatner e seus colaboradores), o excelente “Maximum Warp” (em que Picard se junta a uma centenária doutora Carol Marcus para impedir a volta do Projeto Genesis), ou até o sensacional “Final Frontier” (um livro pré-Série Clássica, escrito por Diane Carey, contando as viagens da primeira Enterprise sob o comando do capitão Robert Abril e seu primeiro-oficial, um héroi chamado George Samuel Kirk, pai de um tal de Jim). Isso sim é Jornada nas Estrelas. E está nas prateleiras e lojas virtuais, para quem quiser ler…

Enquanto isso, na Paramount Pictures…

Artigo originalmente publicado no conteúdo clássico do Trek Brasilis em 2001.