Stewart fala de sua relação com Roddenberry

Sir Patrick Stewart, o capitão Jean Luc Picard da série A Nova Geração, esteve num programa de rádio em Nova York, semana passada, para promover sua peça em cartaz na Broadway, mas acabou falando também sobre sua carreira em Jornada, a mudança que ocorreu em sua vida com o personagem, seu relacionamento com o produtor Gene Roddenberry, e muito mais.

A conversa se deu na emissora WQXR e Stewart começou focando sua nova peça “A Vida no Teatro” e também dedicou alguns minutos sobre Jornada. Abaixo uma transcrição dos pontos mais importantes da entrevista.

Como Jornada mudou sua vida?

“Seria mais fácil dizer que estavam lá algumas áreas da minha vida que não foram alteradas por ela. Na verdade não houve. Jornada mudou foi tudo – o meu status na profissão, meu padrão de vida, como eu me sentia como artista. Eu cresci mais confiante. Eu tinha muito medo em meus primeiros anos como ator. Não era medo do palco, eu nunca tive medo do palco. Eu tinha medo de expor Patrick Stewart, então me tornei muito bom em ser outras pessoas, seja fisicamente ou assumindo sentimentos e emoções de outra pessoa que eu não teria de liberar nenhum dos meus próprios. É tão simples e tão estúpido. Porque se você é um artista, refere-se ao que está dentro de você saindo para a tela, para uma folha de papel em branco, para o palco vazio. É tudo sobre o que vem de você. Eu li em algum lugar que – “se você quiser conhecer o artista, olhe para o trabalho” – Foi um outro diretor que me convenceu de que não havia nada a temer, e foi em uma peça chamada “A Winter’s Tale”, sobre um dos piores personagens, que esse diretor disse: – “se você vai encontrar este homem em si mesmo, e você está preparado para deixá-lo sair, vou segurar a sua mão” – E a partir desse momento tudo mudou para mim. Mas a confiança que veio de Jornada foi outra coisa. Eu pude manter a cabeça erguida de uma maneira diferente.”

O seu trabalho no teatro ajudou no trabalho em Jornada?

“Tudo ajudou. Quando estávamos fazendo a primeira coletiva de imprensa para Jornada, eu comecei a perceber que, por trás de muitas das perguntas que eu estava recebendo da mídia, de alguma maneira, por causa da minha história com a Royal Shakespeare, eles achavam que estava misturando tendências por fazer uma série de televisão de ficção científica. Que deveria ser inferior a minha dignidade fazendo esse trabalho. Eu fiquei muito irritado com um jornalista e disse – “olha, o fato é que todos aqueles que se sentam em tronos como reis na Royal Shakespeare Company não se compara em nada, a preparação para sentar na cadeira do capitão da Enterprise!” – E foi absolutamente verdade. Havia muitos aspectos da atuação no drama clássico, que era de uso para mim em Jornada. Sendo capaz de sustentar a linguagem intensificada a partir de longos discursos, que, como o capitão muitas vezes eu tive de fazer. E o diálogo em Jornada é intensificado. Eu posso reconhecer isso. Eu ouço isso e digo que “é Jornada”. Não é totalmente realista. Não é como assistir a “Nova York Contra o Crime”. Digo que é porque estava passando junto com a nossa série. (em Jornada) Deve-se saber absolutamente o que fazer com as mãos, porque não há bolsos em trajes espaciais.”

Você cruzou com a vida de Gene Roddenberry e que o conhecia.

“Sim. Eu o conheci por apenas três anos. Gene morreu tragicamente durante o nosso terceiro ou quarto ano. Ele não estava bem de saúde, e assim sua presença foi ficando cada vez mais difícil no estúdio. Ele não me queria no elenco. Ele colocou um veto em meu nome no elenco. Ele me encontrou e eu conhecia Rick Berman que foi um campeão para mim assim como foi o departamento de elenco, como foi Robert Justman, mas Gene, muito sensatamente, não queria um ator shakespeariano  inglês careca, em sua nova série.”

Então, como você conseguiu isso?

“Eu não tenho idéia. Eu fui chamado de volta três vezes. Meu agente disse que estava entre eu e outro cara. Eu nunca soube quem foi o outro cara. Nunca foi dito que era o outro cara. Eu tenho minha própria idéia de como ele apareceu em Jornada, mas eu consegui. Foi num detalhe. No ano passado o ator e diretor Corey Allen morreu. Corey Allen dirigiu o piloto “Encounter at Farpoint”. No dia do meu teste final para a Paramount recebi um telefonema na noite anterior dele dizendo: – “Eu quero que você venha uma hora mais cedo e eu não quero que ninguém saiba que você está aqui e eu vou encontrá-lo neste lugar e você e eu vamos ensaiar juntos” – Porque ele queria, e foi sem precedentes e quebrando todas as regras. Então, nós trabalhamos as cenas que eu ia ler e quando chegamos com os executivos do estúdio disse-lhes: – “Eu vou ler com o Patrick, porque eu acho que faria mais sentido” – e isso fez toda a diferença no mundo. E eu não sabia até muito tempo depois que gravamos o episódio piloto que Corey Allen foi uma das estrelas do clássico Juventude Transviada … ele foi um grande professor e um grande diretor.”

Mas você acabou tendo um ótimo relacionamento com Gene?

“Eu tive sim. Nós não conversamos muito. Eu não acho que tínhamos muito em comum. Eu gosto dele. Eu gostava de ouvir suas histórias. Você sabe que ele foi um piloto da Pan Am, e seu avião caiu no deserto. Imagina-se que tenha salvo vidas e, basicamente, tirou todos para fora do avião. Mas eu não jogo golfe e não era interessado em clubes e isso era muito na vida de Gene. Mas, ele estava dentro de Jean Luc Picard. Picard foi sua criação e nunca me esqueci disso.”

Nos dias de hoje, ainda surpreende você – o reconhecimento mundial por esta série e por esse papel?

“Não mais. Tenho encontrado pessoas de todo o mundo. Eu pensei comigo mesmo: – “aqui estou seguro, ninguém vai me perguntar sobre o episódio 137 …” [risos] – Lembro-me de sair de um pequeno barco privado em uma ilha em algum lugar ao largo da costa das Ilhas Fiji e o local tem sido mais ou menos abandonado e então eu ouvi alguém nas docas dizer: – “Oh meu Deus, eu não posso acreditar, é o Capitão Picard! ” – Então eu me acostumei a isso.”

“Eu vou compartilhar algo com você. Na próxima semana eu vou para o lançamento do livro de Frank De Winne, comandante único europeu da Estação Espacial, todos eles foram ou russos ou americanos. Ele fez duas visitas à estação espacial, e nessa longa visita os rapazes começam a escolher alguém para conversar na Terra. E minha primeira pergunta a ele quando Houston efetivamente me conectou a ele por um video feed ao vivo na University College London e minha primeira pergunta, quando a estação espacial apareceu e apareceu Frank De Winne foi: – “por favor me diga por que é que um astronauta de verdade quer falar com um astronauta falso?” – E ele respondeu: – “pois, quando criança, eu costumava assistir a série original e quando eu estava na academia eu assisti A Nova Geração e estou hoje na estação espacial por causa de A Nova Geração” … Nós deveríamos falar por meia hora e acabamos conversando por uma hora e 20 minutos e nesse tempo ele realmente circulou a Terra. Foi incrível. Ele me levou em uma excursão pela estação, e lá fomos nós. Foi um grande, grande privilégio, e que não teria acontecido comigo se não fosse por Jornada.”

Fonte: Trek Movie.