Andrew Robinson comenta sobre Elim Garak

O ator Andrew Robinson foi mais um dos participantes do evento virtual da GalaxyCon sobre a série Deep Space Nine e conversou com o site TrekMovie falando a respeito de seu personagem, o misterioso Elim Garak.

Veja os pontos mais importantes dessa entrevista.

Preparação para o papel

Andrew lembra que, quando pegou o personagem, não fazia ideia do que era, tendo pouco material a sua disposição.

“A única coisa que eu pude assistir sobre os Cardassianos foram alguns episódios de A Nova Geração, nos quais Marc Alaimo e David Warner interpretaram Cardassianos, e isso foi um pouco útil, mas não realmente. Foi meio intrigante para mim e, e um pouco desafiador, entrar naquele programa e nesse personagem”.

Para definir seu personagem, o ator analisou o comportamento dos papéis de Warner e Alaimo, e pela ocupação de Bajor e a estação Terok Nor, procurou um paralelo histórico sobre os alemães na Segunda Guerra Mundial e a ocupação nazista de Paris.

“E eles pareciam ser uma raça militante e agressiva que fazia algumas coisas muito cruéis”.

Então, ficou estabelecido que ele iria interpretar uma espécie de nazista durão vestido como cardassiano, mas um personagem com camadas, em termos de sua posição.

“Ele era um espião? Ele era alfaiate? E assim por diante. Costumo comparar Garak sendo deixado para trás ou permanecendo em Deep Space Nine depois que os Cardassianos partiram como se houvesse isso, havia um oficial da Wehrmacht em Jerusalém. O que esse cara está fazendo aqui, onde é odiado universalmente?”

Andrew não esperava que sua participação fosse além de um único episódio. Mas os roteiristas estavam procurando um relacionamento para o Dr. Bashir e se a química entre Garak e Bashir (Alexander Siddig) funcionasse, haveria a possibilidade de mais episódios com ele. Outro fato que deixou Andrew animado foi a maneira como o personagem foi escrito, afastando o gênero assassino psicopata, no qual já estava cansado de fazer em seus trabalhos anteriores. Andrew incorporou o serial killer Scorpio, no filme Dirty Harry, e como Larry Cotton no filme de terror Hellraiser.

A sexualidade do personagem

Garak e seu relacionamento com Bashir evoluíram muito ao longo da série. Mas havia uma particularidade no personagem que foi introduzido pelo próprio Andrew.

Isso funcionou muito bem, porque Sid e eu realmente nos demos bem e ainda somos amigos até hoje. Eu acho que foi a principal coisa que Sid e eu nos demos bem. Mas havia a ambiguidade sobre Garak em que eles escreveram. Quem é esse cara, ele é um mistério e assim por diante. O que eu acrescentei no primeiro episódio foi uma ambiguidade sexual sobre Garak. Na primeira cena em que ele conhece o Dr. Bashir, fica claro – e essa foi a minha escolha – que ele estava sexualmente atraído por esse jovem e bonito médico da Frota Estelar. E embora eles não tenham seguido isso com um caráter explicitamente gay, essa ambiguidade sobre Garak permaneceu. E era apropriado para o que eles haviam escrito sobre sua ambiguidade, ele é um alfaiate, um espião, o que é ele?

Naquela época, não havia uma discussão sobre um personagem abertamente gay na franquia, mas o ator quis dar esse toque de debate mesmo que fosse sutil.

Eu o transmiti o mais forte que pude (sobre sua sexualidade). Mas você sabe, eles nunca realmente o acompanharam, nunca tivemos uma discussão sobre isso. Deep Space Nine já estava em ângulo reto com a franquia Star Trek. Foi um tipo diferente de série. E acho que, de repente, trouxe um alienígena abertamente gay que estava tendo esse relacionamento com o Dr. Bashir. Eu acho que talvez fosse uma ponte longe demais. Eu estou supondo isso, mas acho que pode ser isso.

Ira e os roteiristas acabaram ficando satisfeitos que isso tenha aumentado o mistério deste cardassiano. O que ele é. Quem é ele. Para Andrew isso reforçou o que eles já estavam tentando fazer com o personagem.

Contando o passado de Garak

Na segunda temporada pudemos ver um pouco mais do passado de Garak e seu exílio no episódio “The Wire”. Esse roteiro empolgou Andrew, pois coloca Garak num jogo, onde encontra-se contando várias histórias, das quais todas, ou algumas das quais, pelo menos, não são verdadeiras, mas com as emoções sendo reais. Além de discutir sobre os malefícios do vício.

Muita família sofria com o vício do alcoolismo. Como o que acontece com muitas famílias viciadas, isso realmente prejudica nossa vida familiar. Então, para lidar com esse vício. Tudo o que posso dizer sobre esse episódio são duas coisas. Uma é que fiquei eternamente grato a Robert Hewitt Wolfe, que escreveu esse episódio, e agradeci muitas vezes. A segunda coisa é que nunca fiz uma atuação melhor na minha vida.

Garak apareceu em quase 40 episódios de toda a série. Andrew comenta como sentiu essa evolução do personagem até seu final.

“Eu mal podia acreditar no que eles estavam fazendo com Garak, especialmente nas duas últimas temporadas e em todo o arco da guerra do Domínion. Foi extraordinário. Trazendo o passado de Garak, trazendo Enabran Tain, trazendo Mila, e todos esses. Não havia como eu dizer: “Isso é ótimo, mas você poderia adicionar isso ou aquilo?” Não tem jeito. Foi fabuloso. Não estou dizendo que alguém estava com ciúmes da quantidade de material que eu estava recebendo, mas alguns frequentadores riam e diziam: “Jesus, você está dando uma boa mordida nisso”. E é verdade. Se eu me apaixonei por Garak, acho que é porque os escritores se apaixonaram por Garak”.

Dirigindo alguns episódios

Graças à conquista de dois prêmios do Drama Critics Awards, o ator conseguiu convencer o produtor Rick Berman a dirigir alguns episódios. A produção concordou em dar um episódio de Deep Space Nine e dois de Voyager. Andrew conta como foi a transição de ator para diretor.

O primeiro episódio (“Looking for par’Mach in all the Wrong Places”) foi um pesadelo porque, obviamente, eu só dirigi teatro. E mesmo que Rick e Ira fossem muito bons em garantir que eu seguisse outros diretores e que fosse basicamente mandado para a escola, nunca havia dirigido filmes antes. Ainda mais naquele primeiro episódio, apresentando a história de amor entre Worf e Dax, foi difícil.

Mas o ator avalia que seu trabalho na direção em Voyager foi melhor, tendo a ajuda do produtor da série Jeri Taylor e dos diretores de fotografia Jonathan West e Marvin Rush.

Quanto ao ambiente nas séries, Andrew revelou que o trabalho em Voyager era mais leve do que em Deep Space Nine.

Eles se divertiram mais do que nós. [Risos] Éramos uma equipe muito séria. Eu sempre me perguntei sobre isso. Eu acho que é porque a nossa série foi escrita como um mundo cinza. Não era preto e branco. Não éramos muitos heróis marchando para derrotar o malvado alienígena da semana e indo de planeta em planeta, resolvendo problemas. Tudo aconteceu nisso, neste único lugar. Eu acho que Garak é emblemático de quão cinza o mundo era e de quão complicado. E havia problemas reais. Não apenas “The Wire”, mas também falei sobre “Duet”, que é essencialmente baseado em um nazista que sente remorso quando o fez nos campos de concentração. Havia coisas leves também, mas eles não tinham medo de lidar com problemas.

A única questão com a qual Ira disse que desejava ter lidado, e ele só me contou isso depois que tudo acabou, é que ele gostaria de ter mais informações sobre os temas gays e o viés contra as pessoas LGBTQ. Mas você não pode fazer tudo, e nós éramos um show do nosso tempo.

Sobre Discovery e Picard

A respeito das novas séries Star Trek, Andrew deu sua opinião.

Sim. É engraçado porque está aí. Estamos seguindo em frente, o que eu acho realmente saudável para a franquia. E considerando o que está acontecendo agora com o Black Lives Matter e o coronavírus e essa tempestade perfeita que está nos atacando. Estou ansioso para ver como tudo isso afetará a narrativa de Star Trek à medida que ela avança.

O ator disse ainda que aceitaria participar de Picard se o chamassem.

Eu ficaria mais do que feliz em voltar à ativa como aquele cara novamente.

Recentemente, Andrew se reuniu com seu velho amigo Alexander Siddig para fazerem uma leitura ao vivo do primeiro episódio de um roteiro de fanfic intitulado Alone Together: A DS9 Companion através do site Sid City. A estória é definida 25 anos após os eventos de Deep Space Nine, e o primeiro episódio, “These Days”, nos apresenta o Dr. Julian Bashir indo visitar seu velho amigo Elim Garak em Cardassia, quando descobre um segredo obscuro.

Os episódios futuros serão lidos ao vivo durante as reuniões no site.

O próximo evento on-line de Andy é o da Creation Virtual Fan Experience, neste sábado, 18 de julho.