LDS 1×01: Second Contact

Alferes da Cerritos

Cerritos e aranha alienígena mordem mais do que conseguem mastigar

Sinopse

Data estelar: 57436.2.

A Cerritos está na Estação Douglas se preparando para um segundo contato com os galardonianos, e a alferes Mariner flagra Boimler gravando um diário do capitão falso. Bêbada, ela acaba ferindo a perna do sujeito, em uma desajeitada demonstração do que não fazer com uma bat’leth.

Depois, a alferes D’Vana Tendi se apresenta ao muquifo onde Boimler e Mariner trabalham, uma oficina com replicadores defeituosos, tranqueiras estocadas e uma nave auxiliar depenada. Durante o tour da nave para Tendi, apresentam-na ao alferes Rutherford e passam pelo holodeck, onde Mariner mostra a Tendi seu programa holográfico “educativo”.

Boimler é chamado pela capitão Freeman, que dá uma avaliada na capivara do alferes e o delega a tarefa de observar a alferes Mariner e reportar qualquer desvio de conduta.

Rutherford tem um encontro no bar com a alferes Barnes, mas uma infestação zumbi se inicia, devido ao comandante Ramson ter voltado infectado do planeta. Enquanto Mariner e Boimler trabalham no planeta, a alferes sai em um Argo, e Boimler a segue. Boimler acha que ela está vendendo armamento federado para alienígenas locais, e Mariner diz para ele parar com o chilique, pois é apenas equipamento agrícola, mas ambos são atacados em seguida por uma aranha gigante.

Na Cerritos, Tendi se enrola com tarefas como amarrar zumbis nas biocamas ou manter bombeamento cardíaco na unha, enquanto Rutherford e Barnes encontram um jeito de ir ao deque 8 lutando contra zumbis e conversando sobre eles mesmos.

Mariner diz que conheceu aqueles fazendeiros por ter estado no planeta antes enquanto servia na USS Quito, que já viu bastante maluquices na carreira e que seria bom Boimler seguir as sugestões dela. A aranha ataca bonecos criados por Mariner para servirem de distração, mas Boimler hesita e a aranha abocanha o alferes. Mariner apenas avisa que o fazendeiro disse que a aranha é herbívora e só está sugando umidade dele.

Na volta para a base federada, Mariner e Boimler vão fazendo uma DR básica e, no que teleportam de volta, encontram o caos na Cerritos. Todos vão para a enfermaria depois que T’Ana fareja o potencial de cura da gosma da vaca-aranha ainda em Boimler; a médica sintetiza a cura e a aplica como gás, curando os tripulantes. Mais tarde, a capitão Freeman questiona Boimler sobre qualquer atividade inadequada de Mariner, e ele diz que não houve nada. Pelo subespaço, Freeman discute sobre a filha deles, Mariner, com seu marido, um almirante.

No bar da Cerritos, Tendi consola Rutherford sobre o encontro mal-sucedido, enquanto Mariner afoga as mágoas na birita. Boimler pede desculpas pelo ocorrido e elogia a postura dela. Mariner se emociona ao se dar conta de que ele não a entregou e jura que vai mentorá-lo.

Comentários

No papel, “Second Contact” teve uma tarefa difícil: como fazer um piloto de uma série de Star Trek com menos de 25 minutos? Isto foi obtido com sucesso, pois nesse tempo exíguo tivemos a apresentação da premissa e o início do desenvolvimento dos personagens e suas relações, em uma estrutura que lembrou muito um episódio dos anos 1990 da franquia. Isto foi possível graças ao formato da série, como uma comédia de animação moderna, que traz consigo o estilo adequado para a execução da tarefa.

No aspecto de trama, uma das intenções da série é de inverter a polaridade (rá!) da típica estrutura de um episódio de Jornada, especialmente os da época a que remete. As tramas “B” ficam sendo as de maior importância no episódio, que deixam as tramas “A” correrem no fundo. Aqui, tivemos isto com Boimler e Mariner quebrando a cabeça com a vaca-aranha enquanto a infestação de zumbis tomava conta da nave. Nela, vimos mais como Rutherford e Tendi eram afetados pela confusão do que vimos a tripulação efetivamente buscar uma solução para a crise. Isso ocorreu quando Boimler e Mariner voltaram para a Cerritos e aí tivemos o tradicional encontro de tramas, com T’Ana usando a gosma encontrada em Boimler para tanto. Pelo ritmo necessário ao episódio, a cura foi ilustrada com uma quantidade mínima de exposição e technobabble, pois isso nunca foi o foco do episódio, mas sim como os quatro alferes lidavam com a situação.

De temas, acho que tivemos boas escolhas. O velho trope de zumbis aqui foi usado meramente como maneira de espalhar caos pela nave e mostrar os alferes lidando com a situação, enquanto o segundo contato no planeta foi um vetor para interação entre Boimler e Mariner. Os diálogos são rápidos e descontraídos e, se as atuações fosse de atores reais, seriam largamente exageradas, mas são adequadas para animação, uma vez que a expressão de intenções e sentimentos precisa ser mais cômica e visualmente intensa, devido à simplicidade do traço.

Detrás do humor, tivemos uma dose do clássico conflito de interesses ser revertido para reforçar o laço entre protagonistas, com Boimler percebendo que nutrir um forte esprit de corps com seus pares é algo fundamental a um bom oficial da Frota, e que ele não deveria sacrificar isso em nome da agenda pessoal de um superior.

Disto, vemos aquilo que Lower Decks tenciona colocar na mesa, que os federados do século 24 são obviamente pessoas competentes e de boas intenções, mas têm falhas e agendas. Até aí, Deep Space Nine também entregou isso, mas a nova animação adiciona o ingrediente de que tais pessoas também podem ser irreverentes, inseguras e mesmo atrapalhadas. Tudo isso pode perfeitamente existir dentro da proposta maior de “ilustrar o melhor da humanidade” que é típico da franquia.

A bola curva do episódio foi a revelação de que Mariner é filha da capitão Freeman com o almirante federado com quem ela conversa por subespaço. Isto nos fornece uma prévia da dinâmica que podemos esperar entre as duas e serve como uma “barra de tolerância” para as atitudes mais insubordinadas de Mariner, que poderiam chegar a um ponto irrealista se fosse com outros capitães – podemos presumir que esse foi o caso nas quatro outras naves onde ela serviu.

É engraçado avaliar a nossa própria expectativa da plausibilidade daquilo visto em tela e contrastar o que consideramos ser adequado ou não contra o que sabemos serem escolhas feitas pela equipe criativa para suas necessidades de trama. Isso ocorre com qualquer obra, não apenas episódios de séries diferentes de Star Trek, onde isso sempre ocorreu em maior ou menor grau.

No caso de “Second Contact”, os maiores desafios vêm na cena do holodeck: ela é executada de uma maneira que dá a impressão de que Tendi nunca viu um equipamento daqueles na vida, o que não faz muito sentido. Claro, o objetivo era remeter à cena equivalente no piloto de A Nova Geração, onde Data, Riker e Wesley exploram o holodeck. Para além da própria recriação holográfica, Tendi também nunca viu areia? É de se esperar que Órion, sendo um planeta classe M, tenha litoral com acúmulo de areia nas bordas em alguns locais. E, mesmo que não fosse o caso, ela poderia ter ido às praias californianas enquanto esteve na Academia da Frota, em São Francisco.

Outro ponto que me incomodou foi um diálogo do tenente-comandante Billups, ao indicar que a antena subespacial possibilitaria aos galardonianos se comunicarem com o restante da Federação. Isso me incomoda na medida em que parece deixar implícito que aquele planeta já teria ingressado na Federação, o que não faz sentido uma vez que praticamente acabaram de ser descobertos, ao passo que o processo de ingresso na Federação é algo que leva anos e tem profundo impacto nos mundos-candidatos.

No mais, eles souberam inserir elementos que deixaram várias sequências mais redondas, como por exemplo no rolo com a aranha, ao justificar a razão de eles simplesmente não teleportarem para fora de lá (com deixa para o humanismo a se esperar de Jornada) ou tontearem a aranha (com deixa para o humor de se esperar de uma comédia animada). Até mesmo certos detalhes bem pequenos de velhos tropes da franquia eles parecem ter azeitado mais, como por exemplo a Mariner dar nomes de arquivo bem descritivos aos seus programas, fugindo do que muita gente em Jornada fez antes, que pareciam estarem sempre nomeando arquivos no MS-DOS (“Geordi 1” ou coisa do tipo).

No mais, um segmento muito legal; zumbis não são realmente um tema que toca meu coração, mas todos os demais elementos nos entregaram um sólido início de mais uma série de Star Trek.

Avaliação

Citações

“Oh, senior officers are overrated. They’re always, like, stressed out and just yelling about directives. It is better down here, where the real action is.”
(Ah, oficiais superiores são superestimados. Eles estão sempre, tipo, estressados e só gritando sobre diretrizes. É melhor aqui embaixo, onde a ação pra valer está.)
Mariner para Tendi

“I like my crew working in lockstep. There isn’t any wiggle room on the Cerritos. Not when lives are at stake. Do you disagree?”
“No ma’am.”
(Eu gosto da minha tripulação trabalhando sincronizada. Não há espaço para folga na Cerritos. Não quando há vidas em jogo. Você discorda?
Não senhora.)
Capitão Freeman e alferes Boimler

“Hey you. Green girl! Strap patients down as they come in. Double them up if you have to. They aren’t going to infect each other twice.”
(Ei você. Garota verde! Amarre os pacientes a medida que eles chegarem. Coloque eles em pares se for necessário. Eles não vão se infectar um ao outro novamente.)
T’Ana para Tendi

“I mean, who has time for romance when there’s a level two diagnostic just sitting there waiting to be run?”
(Quero dizer, quem tem tempo para romance quando há um diagnóstico de nível dois parado ali esperando para ser executado?)
Rutherford para Tendi

“Do you know about Spock? Dude came back… from being dead!”
“Yeah, I think I’ve heard of Spock.”
“He got frickin’ Genesis-deviced and fought Khan and some space whales!”
(Você já ouviu falar do Spock? O cara voltou… dos mortos!
É, eu acho que já ouvi sobre o Spock.
Ele foi genesisado e lutou com o Khan e umas baleias espaciais!)
Mariner e Boimler

Trivia

  • O nome Cerritos é de uma cidade na grande Los Angeles, conhecida na região pelos jingles dos comerciais da Cerritos Auto Square, um shopping center de concessionárias de carros, o maior do tipo no mundo.
  • A citação ao Cetacean Ops, que se refere a um laboratório aquático a bordo com golfinhos, remete ao conceito original desenvolvido na pré-produção de A Nova Geração, mas nunca utilizado em tela. Mike McMahan comentou que isto será uma premissa de um episódio da segunda temporada.
  • Boimler ser natural de Modesto, Califórnia, e também não gostar de areia, parece ser umas piscadelas na direção de Star Wars: Modesto é a cidade-natal de George Lucas, e Anakin Skywalker não gostar de areia é um velho meme do fandom daquela franquia, baseado em falas dele nos filmes.
  • A faixa amarela pintada no casco da Cerritos remete às cores de divisão da Frota Estelar, indicando que aquela unidade da classe California é focada em missões de segundo contato com um perfil mais para engenharia. Outras unidades são identificadas por faixas azuis e vermelhas indicando suas especialidades distintas em missões de apoio em segundo contatos.
  • A bebida destilada romulana que Mariner toma é chamada de MelShat, baseada em um grão romulano chamado GenMat. Trent Pehrson, o linguista que trabalhou no idioma romulano visto em Star Trek: Picard, colaborou com a equipe de produção de Lower Decks para criar o background cultural da bebida e certificar-se de que o nome dela encaixa na lógica da linguagem romulana.

Ficha Técnica

Escrito por Mike McMahan
Dirigido por Barry J. Kelly

Exibido em 06/08/2020

Elenco

Tawny Newsome como Beckett Mariner
Jack Quaid como Brad Boimler
Noël Wells como D’Vana Tendi
Eugene Cordero como Sam Rutherford
Dawnn Lewis como Carol Freeman
Jerry O’Connell como Jack Ransom
Fred Tatasciore como Shaxs
Gillian Vigman como T’Ana

Elenco convidado

Jessica McKenna como alferes Barnes
Phil LaMarr como almirante Freeman
Ben Rodgers como tenente-comandante Stevens
Paul Scheer como tenente-comandante Andy Billups

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