TOS 1×14: Balance of Terror

Na introdução dos romulanos, episódio faz discurso contra preconceito

Sinopse

Data estelar: 1709.2

O casamento de Angela Martine e Robert Tomlinson é interrompido quando uma ave-de-guerra romulana destrói o Posto Avançado 4, que guarda a Zona Neutra entre a Federação e o espaço romulano. Kirk descobre que a nave romulana também destruiu três outros postos e agora está fugindo a toda velocidade para casa.

A USS Enterprise persegue a ave-de-guerra, apesar das dificuldades impostas por um dispositivo de camuflagem que torna a nave invisível. O uso da camuflagem, entretanto, impede os romulanos de usarem suas armas ou seus sensores. Por essa razão, o comandante romulano não sabe se seu radar está detectando uma nave da Federação ou apenas um eco de sua própria nave.

Spock consegue captar uma imagem da ponte romulana, que revela que os romulanos, até então jamais vistos por humanos, se parecem muito com os vulcanos. Isso desperta um velho preconceito no tenente Andrew Stiles, descendente de uma família que lutou na Guerra Romulana, mais de cem anos antes. Ele passa imediatamente a suspeitar de Spock.

Depois que todas as tentativas de escapar da Enterprise falham, o comandante romulano é obrigado a lutar. As duas naves sofrem avarias; quando os bancos feiser da Enterprise são avariados, emitem um gás tóxico que acaba rendendo Stiles e Tomlinson, então no controle de armamentos. Em uma corrida contra o tempo, Spock consegue disparar manualmente os feisers, desabilitando a nave romulana. O vulcano consegue salvar Stiles, mas Tomlinson é morto.

O comandante romulano contacta a Enterprise e, lamentando, diz a Kirk que, em outras circunstâncias, os dois poderiam ter sido amigos. Em vez de deixar que ele e a ave-de-guerra fossem capturadas, o romulano destrói sua própria nave.

Comentários

“Balance of Terror” é considerado um dos melhores episódios da Série Clássica, trazendo um eloquente discurso contra o preconceito e a introdução dos romulanos ao cânone de Jornada nas Estrelas, com uma visão não maniqueísta e cheia de nuances desses grandes rivais da Federação. Aqui, a despeito da agressão não provocada que infligem na fronteira da Zona Neutra, eles são os honrados heróis de sua própria história.

A história é construída para evidenciar em um primeiro momento o preconceito do tenente Stiles para com Spock, pelo simples fato de se parecer com os romulanos, para depois deixar claro o repúdio da civilização do século 23 contra o preconceito (mostrado por meio da atitude de Kirk frente ao tenente traumatizado pelos horrores da guerra Terra-Romulus no século 22). Por fim, o episódio reforça a mensagem com a atitude de Spock, que se arrisca para salvar o mesmo tenente Stiles que o discriminava.

Apesar de ser posto em xeque em razão da semelhança entre vulcanos e romulanos, Spock permanece inabalável. McCoy, por sua vez, passa a ser um contraponto mais forte para Spock, no que seria o início de um dos relacionamentos mais férteis da história de Jornada nas Estrelas. Isso fica claro durante a reunião entre os oficiais para decidir se a Enterprise deveria ou não violar a Zona Neutra Romulana.

O “grande trio” recebe tratamento especial. O drama de Kirk, em decisões que podem custar a paz na galáxia, o humanismo de McCoy e a fria lógica de Spock jogam em favor do episódio. Já os personagens secundários (Sulu, Rand, Scotty e Uhura) não têm muito o que fazer.

Apesar da falta de material do elenco de apoio, o episódio dá um grande salto ao nos mostrar o cotidiano da Enterprise: durante o prólogo, Kirk realiza um casamento. Nesse momento, um truque de iluminação traz um brilho aos olhos de William Shatner que quase nos faz acreditar que ele tem a bênção divina para realizar a união. Grande trabalho do diretor de fotografia Jerry Finnerman.

Entre os romulanos, o que mais chama a atenção é o senso de justiça, lealdade e conflito interno impresso nos inimigos da Enterprise. Eles não são simplesmente “maus”; são indivíduos com personalidades e opiniões distintas, são leais e têm um admirável senso de honra (característica que seria transferida para os klingons em A Nova Geração).

O episódio mostra que a política do Império Romulano não é igual às opiniões de seus soldados. Mostrando isso, o episódio nos leva a pensar que os soldados também são vítimas da guerra, porque combatem seguindo ordens, mas muitas vezes contrariando seus princípios e convicções.

Infelizmente, a história carecia de um elemento indisponível aos produtores na época: bons efeitos especiais. Em “Balance of Terror” as batalhas são melhor compreendidas pelos diálogos entre os tripulantes do que pelas imagens. A remasterização com CGI ajudou um pouco, mas não muito. O mais importante aqui é que o drama humano se sobrepõe à ação, minimizando a falta de recursos técnicos e garantindo o lugar deste episódio em qualquer lista de melhores da Série Clássica.

Avaliação

Citações

“Here’s one thing you can be sure of, mister – leave any bigotry in your quarters. There’s no room for it on the bridge.”
(“Há uma coisa de que você pode estar certo – deixe seu preconceito nos seus alojamentos. Não há espaço para ele na ponte.”)
James Kirk

“In this galaxy, there’s a mathematical probability of 3 million Earth-type planets. And in all of the universe, 3 million million galaxies like this. And in all of that, and perhaps more, only one each of us. Don’t destroy the one named Kirk.”
(“Nesta galáxia, há uma probabilidade matemática de 3 milhões de planetas tipo-Terra. E em todo o universo, 3 milhões de milhões de galáxias como esta. E em tudo isso, e talvez mais, apenas um de cada um de nós. Não destrua aquele chamado Kirk.”)
Leonard McCoy

“I regret that we meet in this way. You and I are of a kind. In a different reality, I could have called you friend.”
(“Eu lamento que nos conheçamos assim. Você e eu somos do mesmo tipo. Em uma realidade diferente, poderia ter te chamado de amigo.”)
Comandante romulano

Trivia

  • A capela da Enterprise vista aqui é o mesmo cenário da sala de reunião, redecorado. A música do casamento é uma composição inglesa do século 19, “Long, Long Ago”.
  • No mapa que aparece na tela, os planetas capitais do Império Estelar Romulano são marcados como Romulus e Romii (ou mais provavelmente RomII). Mais tarde na franquia, “Romii” se tornaria Remus.
  • O tenente Stiles é vivido por Paul Comi. O ator foi muito bem, mas Gene Roddenberry hesitou em escalá-lo, pois só se lembrava de um papel de Comi, em que ele vivia um deficiente mental.
  • No roteiro, a cena com o oficial do posto avançado era maior. E ele dizia que a nave inimiga era similar às “nossas”. Foi isso que levou Stiles a pensar que podia haver um espião a bordo. Com o corte, a desconfiança virou paranoia pura.
  • Lawrence Montaigne, que aqui interpreta Decius, voltaria a Star Trek no episódio “Amok Time”, vivendo o vulcano Stonn. Na virada do primeiro para o segundo ano, em meio a duras negociações com Leonard Nimoy, cogitou-se trazer Montaigne à série como um substituto para Spock.
  • Paul Schneider criou os romulanos pensando, por óbvio, na cultura militar do Império Romano. O parentesco com os vulcanos tornou tudo ainda mais interessante.
  • Um cometa com cauda no espaço interestelar, como visto neste episódio, é uma impossibilidade física. Os compostos voláteis só sublimam, formando a cauda, quando o astro está próximo a uma estrela.
  • O cenário da ponte romulana é uma criação de Matt Jefferies. Mas está na cara que faltou dinheiro. O visual externo da nave foi projetado por Wah Chang.
  • No poderoso discurso de McCoy para Kirk neste episódio, devemos creditar Gene Roddenberry, que reescreveu fortemente o roteiro de Schneider (como todos no começo da temporada).
  • Nas primeiras versões do roteiro, Stiles morria, e Tomlinson, vivido por Stephen Mines, sobrevivia. Ficou muito melhor com a inversão, terminando o episódio em tom sombrio.
  • Primeira aparição de Mark Lenard em Jornada nas Estrelas, como o comandante romulano. Mais tarde, Lenard interpretaria Sarek, o pai de Spock, e ainda um klingon em Jornada nas Estrelas – O Filme.

Ficha Técnica

Escrito por Paul Schneider
Dirigido por Vincent McEveety

Exibido em 15 de dezembro de 1966

Títulos em português: “Medida de Terror” (AIC-SP), “O Equilíbrio do Terror” (VTI-Rio)

Elenco

William Shatner como James T. Kirk
Leonard Nimoy como Spock
DeForest Kelley como Leonard H. McCoy
James Doohan como Montgomery Scott
Nichelle Nichols como Uhura
George Takei como Hikaru Sulu
Grace Lee Whitney como ordenança Rand

Elenco convidado

Mark Lenard como comandante romulano
Lawrence Montaigne como Decius
Paul Comi como tenente Andrew Stiles
John Warburton como centurião
Stephen Mines como especialista Robert Tomlinson
Barbara Baldavin como especialista 2/C Angela Martine

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Edição de Salvador Nogueira
Revisão de Susana Alexandria

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