TNG 1×11: The Big Goodbye

Aventura do holodeck nos anos 1940 borra as divisas entre realidade e fantasia

Sinopse

Data estelar: : 41997.7

Picard prepara-se para o primeiro contato da Federação com o povo jarada após 20 anos. Será um encontro difícil, pois o protocolo dos jaradas exige que eles sejam saudados em sua própria língua, sem nenhum erro, antes que as negociações diplomáticas se iniciem.

Para relaxar, Picard vai ao holodeck e recria o mundo ficcional de Dixon Hill, detetive dos anos 1940. Mas o que era para ser apenas entretenimento acaba por se transformar num jogo perigoso, quando o real funde-se com o imaginário e as balas de revólver tornam-se verdadeiras.

Um grupo de gângsteres atira no historiador Whalen, tripulante da Enterprise que embarcou na aventura, e Picard, Data e a doutora Crusher precisam negociar com os hologramas para garantir a sobrevivência até que a tripulação da Enterprise consiga consertar o holodeck, o que ocorre em tempo para que o capitão faça o devido contato com os alienígenas.

Comentários

“The Big Goodbye” é um episódio que certamente figura entre os melhores do primeiro ano. O segredo do sucesso está na capacidade de manter o foco da história, nos fantásticos valores de produção que recriaram no holodeck todo o clima dos anos 1940, e na qualidade do roteiro, refletida em todos os personagens, tanto os regulares quanto os criados especialmente para essa história.

Já conhecíamos o holodeck desde “Encounter at Farpoint”, mas até agora não havíamos travado contato com a incrível capacidade desse equipamento em recriar situações e personagens. Vê-se que é ainda uma tecnologia experimental, já que envolve riscos, como o de fazer a tripulação real sumir ou o de permitir que hologramas matem pessoas reais. Mesmo assim, é uma boa fonte para novas histórias.

E é justamente o envolvimento das pessoas reais com os hologramas que faz a magia desta história. Trata-se do primeiro segmento no formato “holodeck”, gênero que seria muitas vezes reprisado em A Nova Geração e nas séries posteriores. Acabou virando clichê, mas, na ocasião, era novidade.

Aproveitamos para conhecer uma das paixões do capitão Picard: as histórias de detetives dos anos 1940, encarnadas por Dixon Hill. O ambiente fictício holográfico de Dix voltaria a aparecer em outras ocasiões, notadamente no filme Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato.

Mas o mais interessante é ver a textura dada aos personagens criados pelo holodeck. Existe um conceito real, o chamado “teste de Turing”, utilizado para avaliar se uma entidade dotada de inteligência artificial pode ser considerada uma forma de vida. O teste consiste em deixar que uma máquina interaja com um ser humano, sem contato visual. Se a máquina conseguir convencer o ser humano, por meio de seu comportamento, de que ela não é uma máquina, ela deve ser considerada uma forma de vida.

Logo se vê que Turing consideraria facilmente aquele punhado de hologramas como formas de vida. Não só ele, por sinal, mas também o próprio capitão Picard. Ao final do episódio há uma cena tocante, quando o capitão, ou melhor, Dixon Hill despede-se de seu colega policial. O holograma pergunta a Picard se aquele mundo deixará de existir assim que ele sair. O capitão responde emblematicamente: “Sinceramente, não sei.”

Quando uma história é boa, os personagens são claramente beneficiados por ela. Esse efeito é visto com nitidez em “The Big Goodbye”, em que até os personagens principais, que penaram na primeira temporada com péssimas caracterizações, saem ganhando.

O subtexto entre Beverly Crusher e o capitão Picard – feito na forma de sutis trocas de olhares – dá muita textura ao relacionamento dos dois. Data também tem seus momentos de glória, ao encarnar um “bronzeado” sul-americano.

A história funciona tão bem que nem chega a incomodar o fato de que a segunda metade do episódio se passa praticamente toda em um único ambiente, o gabinete de Dixon Hill.

Para quem ficou do lado de fora do holodeck, as coisas não foram tão bem. Wesley continua espertalhão demais para seu próprio benefício, LaForge, Riker e Troi fazem muito pouco, e Tasha Yar e Worf são meros figurantes. Mas isso não fez mal ao episódio. Muito ao contrário, permitiu que o roteiro “investisse” mais em três personagens, dando-lhes um destaque raras vezes obtido no primeiro ano da série.

Avaliação

Citações

“If I leave town, the town leaves with me.”
(“Se eu saio da cidade, a cidade sai comigo.”)
Picard

“Mister LaForge… step on it.”
(“Sr. LaForge… pisa fundo.”)
Picard

Trivia

  • A premissa básica deste episódio foi concebida por Gene Roddenberry, que sugeriu que fosse feita uma história de detetive no holodeck. Coube ao escritor Tracy Tormé, responsável por seu desenvolvimento, adicionar ao roteiro as importantes referências do cinema noir.
  • Os eventos e personagens retratados na história do holodeck são, de forma genérica, uma homenagem ao filme O Falcão Maltês (1941), com Humphrey Bogart.
  • O personagem Dixon Hill originalmente se chamaria Dixon Steele, em homenagem ao filme favorito de Tormé com Bogart, No Silêncio da Noite (1950). Mas foi trocado por ser muito parecido com o nome do protagonista da então bem-sucedida série Remington Steele.
  • Este episódio originalmente seria dirigido por Rob Bowman, mas acabou passando a Joe Scanlan de última hora, quando surgiram problemas na produção de “Datalore”, e a ordem de filmagem dos episódios foi invertida.
  • Tormé e Scanlan queriam que as cenas nos anos 1940 fossem filmadas em preto e branco, mas Rick Berman e Robert Justman se opuseram, justificando que o holodeck não poderia mudar a aparência da tripulação real. Em Voyager, as aventuras do Capitão Próton, emulando um seriado de cinema dos anos 1930, acabaram embarcando nessa ideia.
  • Os jaradas não apareceram no episódio por restrição orçamentária, para a frustração de Tormé, que esperava vê-los e os imaginou como uma cultura de mente coletiva e aparência de vespas.
  • As cenas de San Francisco de 1941 foram filmadas na rua de Nova York da cidade cenográfica da Paramount.
  • Tracy Tormé tinha apenas 28 anos na época. Após seu trabalho com Star Trek, ele se tornaria o criador da série sci-fi de universos paralelos Sliders. Tracy é filho do cantor Mel Tormé.
  • Este episódio conquistou um Emmy de melhor design de figurino para William Ware Theiss, em 1988. Também valeu a Edward R. Brown a indicação ao Emmy de melhor direção de fotografia.

Ficha Técnica

Escrito por Tracy Tormé
Dirigido por Joseph L. Scanlan

Exibido em 11 de janeiro de 1988

Título em português: “O Grande Adeus”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William T. Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi
Wil Wheaton como Wesley Crusher
Denise Crosby como Natasha “Tasha” Yar

Elenco convidado

Lawrence Tierney como Cyrus Redlock
Harvey Jason como Felix Sanguessuga
William Boyett como tenente Dan Bell
David Selburg como Whalen
Gary Armagnac como tenente McNary
Mike Genovese como sargento
Dick Miller como vendedor
Carolyn Allport como Jessica Bradley
Rhonda Aldrich como secretária
Erik Cord como criminoso

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Edição de Maria-Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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