DSC 3×10: Terra Firma, Part 2

Em sua despedida, Georgiou já não é mais quem costumava ser

Sinopse

No universo Espelho, Michael Burnham é aprisionada e instada a entregar seus colegas de conspiração. Ela resiste e é sistematicamente torturada. Até ceder. “Arrependida”, compromete-se com Georgiou a entregar seus inimigos numa bandeja. Com a ajuda de Detmer, mata todos os participantes da conspiração de Lorca. A terminar pela própria Detmer.

Juntas, Georgiou e Burnham partirão atrás de Lorca, o líder da insurreição. Em Risa, eles encontram Duggan, braço direito de Lorca. Ele é capturado e instado a entregar seu líder. Então Burnham o mata e imediatamente parte para trair Georgiou mais uma vez.

Um conflito se desenrola, e Georgiou acaba matando Burnham. Ferida mortalmente, ela repousa sobre os braços de Saru… e reaparece no planeta gelado, Dannus V. Para Michael, tudo pareceu ter transcorrido em um instante. Mas, para Georgiou, foram três meses no universo do Espelho.

Carl então revela sua verdadeira identidade: ele é o Guardião da Eternidade. O portal se oferece a levar Georgiou a um lugar onde ela estará segura. A imperatriz se despede de Michael e parte rumo a seu futuro, em algum lugar do passado.

 

Na Discovery, Book oferece um meio de acessar os sistemas da nave kelpiana na nebulosa Verubin. Trata-se de tecnologia da Corrente Esmeralda a que ele, como portador, tinha acesso. Saru recebe autorização de Vance para usar a solução de Book, e a tripulação faz uma homenagem final a Georgiou, dada como morta para todos os efeitos práticos.

Comentários

“Terra Firma, Part 2” traz uma conclusão competente para o arco de Philippa Georgiou em Discovery. Não é genial, não é surpreendente e, se você não curte o universo Espelho, nem chega a ser entusiasmante. Mas cumpre o dever de mostrar que a personagem extraída daquele mundo bárbaro já não pertence mais a ele – embora também esteja claro que não foi uma transformação total da personagem.

Aliás, se tem algo que incomoda, é o fato de que a tripulação da Discovery viu nela uma redenção e um pacote de virtudes que é muito mais difícil para a própria audiência enxergar – depois de ter testemunhado coisas que até mesmo os colegas de nave de Georgiou não viram, como assassinar indiscriminadamente sua corte no Império Terráqueo, comer uma deliciosa sopa de kelpiano ou ordenar o bombardeio sistemático e impiedoso de um planeta abrigando insurgentes contra seu jugo tirânico.

Até faz sentido que Saru e, sobretudo, Michael, deem pela falta da Georgiou que lhes restou – até mesmo pelo apego que tinham à versão original da personagem, levando-os a enxergar a imperatriz com outros olhos. Mas uma reunião da tripulação para celebrar a vida dela pareceu um pouco de exagero – talvez refletindo mais a despedida do elenco de Michelle Yeoh, que agora partirá para sua própria série, do que a realidade ficcional em tela.

O episódio retoma exatamente de onde paramos na primeira parte, com Michael aprisionada e torturada, enquanto Georgiou tenta fazer com que ela se arrependa de ter traído a imperatriz. É um grande alívio, ainda que não tenha sido uma surpresa, que esse “resgate” não tenha passado de um embuste. Afinal, a lição que Georgiou tinha para aprender é que há coisas que não se pode mudar. Ela não poderia, ainda que quisesse, transformar um império historicamente erguido sobre os cadáveres dos oprimidos em algo benevolente.

É uma lição, por sinal, já retratada no arco maior do Espelho em Star Trek: em “Mirror, Mirror”, da Série Clássica, Kirk consegue convencer o Spock do Espelho de que o império precisa mudar para sobreviver. Depois aprendemos que o vulcano de fato tentou implementar as reformas sugeridas, e isso levou à queda do reinado terráqueo, culminando com a opressão dos humanos vista no século 24, ao longo de vários episódios de Deep Space Nine.

A impossibilidade de mudar o trajeto da história se manifesta de forma contundente neste episódio duplo. Na primeira parte, já líamos no rosto dos oficiais leais à imperatriz que a suavizada de sua soberana levaria a uma traição, cedo ou tarde. Os lobos claramente sentiam o cheiro de sangue. Na segunda parte, isso se confirma, com Michael enganando Georgiou e mais uma vez a atraiçoando, aliada a vários oficiais, como Culber e Rhys. A imperatriz ainda tinha seus aliados – e ao menos parte de seus instintos –, o que conduz a um confronto trágico e mortal. Burnham acaba trespassada pela espada de sua “mãe”, que por sua vez é ferida de morte por uma adaga.

Enquanto as duas dão seus últimos suspiros naquele universo, voltamos a Dannus V, onde a entidade Carl explica que Georgiou estava sendo testada em uma linha do tempo alternativa do universo do Espelho, para que se pudesse verificar o quanto de fato ela tinha mudado. Diante dos resultados, Carl entende que ela é merecedora de uma segunda chance e decide despachá-la para outra época, mas ainda no universo Prime, onde sua integridade atômica estaria assegurada. Ah, e ele confirma, de maneira nada discreta, que é mesmo o Guardião da Eternidade.

A exemplo da primeira parte, as melhores cenas do episódio estão aqui, em meio à neve de Dannus V. A revelação do venerável portal espaço-temporal descoberto por Kirk e cia. em “The City on the Edge of Forever” é apaixonante, e coloca o Guardião de volta à “história” do futuro de Star Trek, destacando inclusive o papel que tivera nas Guerras Temporais e o motivo de agora estar escondido, longe do planeta onde originalmente fora encontrado pela primeira vez.

A atuação fantástica de Paul Guilfoyle como a versão “encarnada” do portal se junta às excelentes performances de Sonequa Martin-Green e Michelle Yeoh para promover um despacho tão tocante quanto misterioso para o próximo destino de Georgiou na saga. E vale notar mais uma vez o trabalho de “espelhamento” de Discovery, que abre com uma cena entre Michael e Georgiou em que a capitão diz à primeira oficial que ela devia começar a pensar em seu próprio comando, e agora tem como última cena entre as duas personagens (ainda que a Georgiou aqui seja outra, oriunda do Espelho) uma recomendação da imperatriz para que Michael não desista de buscar o comando.

O episódio é relativamente cuidadoso em preservar a “história”, usando o Guardião para destacar que Georgiou esteve numa versão alternativa do universo do Espelho, sem afetar a linha original de eventos que levou a Discovery ao atual momento da história. E, com Georgiou enviada para seu spin-off, a série agora pode finalmente se concentrar no grande enigma da temporada: a Queima.

Só para não deixar o público se esquecer disso, “Terra Firma, Part 2” traz uma cena em que Book oferece tecnologia da Corrente Esmeralda para permitir acesso à nave kelpiana presa na nebulosa Verubin – sem dúvida nossa próxima parada, conforme a temporada se encaminha para seu desfecho.

Avaliação

Citações

“It’s ready when you are.”
“No. I won’t return to Terra.”
“Oh, come on, no one said anything about sending you back there. I’m gonna send you back to a time when the mirror universe and the prime universe were still aligned. That’s so you won’t fall apart. Atomically speaking. Consider yourself lucky. You’re getting a second shot. I mean, that’s pretty unique. But it won’t be easy. The paper says the forecast will be bumpy and painful. Lots of rainstorms, heartaches. But that’s life. Or so I’m told.”
(Está pronto quando você estiver.)
(Não. Eu não vou voltar para o Espelho.)
(Oh, vamos lá, ninguém disse nada sobre mandar você de volta para lá. Vou mandar você para uma época em que o universo Espelho e o universo Prime ainda estavam alinhados. Para que você não se desmanche. Atomicamente falando. Considere-se com sorte. Você está ganhando uma segunda chance. Quer dizer, isso é bem incomum. Mas não será fácil. O jornal diz que a previsão do tempo é de sacolejos e dores. Muitas tempestades, corações partidos. Mas a vida é assim. Ou, pelo menos, foi o que me disseram.)
Carl e Philippa Georgiou

Trivia

  • Neste episódio, descobrimos que a entidade Carl no planeta Dannus V é o Guardião da Eternidade, um portal para outras épocas e dimensões. O Guardião foi visto pela primeira vez em “The City on the Edge of Forever”, episódio escrito por Harlan Ellison para a primeira temporada da Série Clássica. Depois disso, ele só apareceu uma vez mais, em “Yesteryear”, episódio da primeira temporada da Série Animada escrito por D.C. Fontana.
  • As roteiristas Bo Yeon Kim e Erika Lippoldt cogitaram várias opções, como usar Q ou uma arma temporal confiscada na Guerra Fria Temporal. No fim, foram com o Guardião. “Estávamos nos coçando para achar um jeito de usar o Guardião em Discovery”, comentaram. “O Guardião também fornece flexibilidade, porque só apareceu naquele episódio [‘The City on the Edge of Forever’] e no episódio da Série Animada ‘Yesteryear’ – que de forma meio curiosa quebrou as regras estabelecidas no episódio da Série Clássica –, então sentimos que havia espaço para fazer algo novo e diferente com ele.” A história, contudo, seria bem diferente. “Burham e Georgiou iam se transportar para o planeta esperando encontrar o Guardião e em vez disso chegam a uma casa solitária com um jardim – nada muito diferente da casa em ‘The Survivors’ de A Nova Geração. Seu ocupante solitário, um misterioso jardineiro, se revelaria o Guardião. Georgiou viveria suas horas finais lá, optando por ter um dia perfeito com Burnham (Prime) – e envolvia assar uma torta de maçã!” No fim das contas, a equipe de produção concluiu que a história parecia muito insípida para servir como desfecho para o arco de Georgiou na série e optou por uma volta ao universo Espelho.
  • O nome Carl foi uma homenagem ao astrofísico e divulgador de ciência Carl Sagan (1934-1996), por sugestão dos showrunners Alex Kurtzman e Michelle Paradise. “Queríamos criar um ser que parecesse onisciente, mas também perpetuamente curioso sobre todas as coisas no universo”, explicou a roteirista Kelinda Vazquez. “Carl Sagan foi citado por nossos showrunners Michelle Paradise e Alex Kurtzman como um análogo potencial, por sua tendência de filosofar sobre todos os desconhecidos que a galáxia abriga. Sagan definitivamente foi uma inspiração para Carl!”
  • No episódio, a imperatriz Georgiou tem um dispositivo de monitoramento que em tese permitiria fazer com que Burnham desaparecesse “ao toque de um botão”. O aparelho parece um campo Tantalus, similar ao que o capitão Kirk do Espelho tinha a bordo da Enterprise no episódio “Mirror, Mirror”.
  • Este episódio marca a partida de Michelle Yeoh (Philippa Georgiou) da série Discovery. Mas ela voltará a Star Trek para estrelar seu próprio spin-off.
  • A sequência de abertura deste episódio mostra as animações em cor negativa e de ponta-cabeça, para realçar que se trata de episódio ligado ao universo do Espelho. Antes dele, a série Enterprise também mudou sua abertura especialmente para um episódio duplo ambientado no universo Espelho, “In a Mirror, Darkly”.
  • Georgiou cita a política de tolerância cultural de outro imperador sanguinário de origem oriental: Genghis Khan, líder do Império Mongol no século 13. A imperatriz também faz uma citação ao livro Os Miseráveis, de Victor Hugo: “Até a noite mais escura vai acabar e o sol nascerá.”
  • Vemos o planeta Risa do universo Espelho neste episódio, e aqui em ele tem anéis. Esse mundo foi visto pela primeira vez em “Capitain’s Holiday”, de A Nova Geração, mas, em sua versão Prime, ele não tem anéis.
  • Confira mais curiosidades e easter eggs deste episódio, em artigo de Maria-Lucia Racz, clicando aqui.

Ficha Técnica

História de Bo Yeon Kim & Erika Lippoldt & Alan McElroy
Roteiro de Kalinda Vazquez
Dirigido por Chloe Domont​

Exibido em 17 de dezembro de 2020

Título em português: “Terra Firme, Parte 2”

Elenco

Sonequa Martin-Green como Michael Burnham
Doug Jones como Saru
Anthony Rapp como Paul Stamets
Mary Wiseman como Sylvia Tilly
Wilson Cruz como Hugh Culber
David Ajala como Cleveland “Book” Booker
Michelle Yeoh como Philippa Georgiou

Elenco convidado

Oded Fehr como Charles Vance
Blu del Barrio como Adira Tal
Hannah Cheesman como Airiam
Paul Guilfoyle como Guardião da Eternidade/Carl
Daniel Kash como Duggan
Tig Notaro como Jett Reno
Rekha Sharma como Ellen Landry
Emily Coutts como Keyla Detmer
Patrick Kwok-Choon como Gen Rhys
Oyin Oladejo como Joann Owosekun
Ronnie Rowe Jr. como R.A. Bryce
Sara Mitich como Nilsson
Bart LaRue como voz do Guardião

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