TNG 2×13: Time Squared

Picard se encontra consigo mesmo e não gosta do que vê

Sinopse

Data estelar: 42679.2

A Enterprise encontra uma nave auxiliar à deriva. Ao recuperá-la, descobre-se que se trata da El-Baz, um dos veículos de apoio da própria Enterprise. A bordo, uma réplica do capitão Picard, desacordada.

Data e La Forge trabalham para restaurar os sistemas da nave recuperada e conseguem restaurar alguns dos diários. Eles revelam que a nave veio de seis horas no futuro e que a Enterprise será destruída, deixando como único sobrevivente Picard.

O capitão fica perturbado pela presença de sua réplica, com tudo que ela significa, e se recusa a aceitar que é ele mesmo. Por outro lado, o Picard do futuro está com a mente completamente bagunçada, e ela só vai clarear conforme ele se aproxime mais do seu ponto de partida no tempo.

A tripulação não precisa esperar muito. Mantendo seu curso original, a Enterprise encontra um vórtice de energia, que tenta absorver a nave. Há aparentemente uma consciência por trás do fenômeno, e ela direciona raios de energia para ambos os Picards.

O capitão então percebe o que o motivou a sair da nave: a entidade está focada nele. Ao partir numa nave auxiliar, a Enterprise pode ter tempo para escapar. A fim de confirmar essa hipótese, ele visita sua réplica na enfermaria. Mas ela está determinada a deixar a nave, como presa num laço temporal infinito.

Picard percebe que precisa quebrar esse ciclo. Ele dispara contra sua réplica no hangar de naves auxiliares e decide pela única solução alternativa, que é mergulhar com a Enterprise no vórtice. Como resultado, a nave escapa e a El-Baz e o Picard réplicas desaparecem, deixando para trás muitas perguntas.

Comentários

“Time Squared” é um ótimo drama psicológico em que Picard tem de encarar a si mesmo sob uma luz aflitiva e muito pouco lisonjeira. Ainda que revestido de altos teores de ficção científica (não todos suficientemente amarrados para que façam inteiro sentido), ele mostra mais um passo na direção certa ao promover um estudo do personagem e mostrar uma situação que o tirasse de sua zona de conforto.

Duas características definidoras do capitão são sua capacidade de decisões firmes e sua ética. E ambas estão sob ataque aqui, com a perspectiva de que, num futuro quase imediato, ele não só tomaria a decisão catastroficamente errada de abandonar a Enterprise, como seria o único sobrevivente após sua decisão.

Isso naturalmente tira o chão de Picard, e Patrick Stewart faz um bom trabalho ao refletir a angústia do capitão em aceitar que ele está vendo realmente a si mesmo vindo do futuro, e não algum tipo de embuste. Ao mesmo tempo, coloca o capitão na situação desconfortável de ter de questionar suas próprias escolhas, a todo momento pensando se ali estaria o erro fatal.

A coisa só funciona porque o Picard do futuro se mantém incapaz de articular raciocínios até praticamente o último momento, o que é conveniente (e dá algo mais para Troi fazer, tentando “sentir” os pensamentos da réplica), mas não de forma excessiva. A premissa é interessante o suficiente, e ao mesmo tempo vaga, para permitir esse tipo de licença.

O episódio replica um dos clichês da Série Clássica, em que Kirk tem de enfrentar a si mesmo (aconteceu em diversas ocasiões: quando dividido em dois, em “The Enemy Within”, quando um androide igual a ele é criado, em “What Are Little Girls Made Of?”, e quando Garth de Izar assume sua forma, em “Whom Gods Destroy”, sem contar Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida, em que Martia também assume a forma de Kirk antes de trocar sopapos com ele). Mas, seguindo a fórmula de A Nova Geração e o estilo de Picard, o confronto é muito mais intelectual do que físico, o que adiciona frescor à trama (se bem que termina com um atirando no outro, o que não é exatamente uma gentileza).

A coisa que não faz sentido mesmo é mergulhar no vórtice para escapar dele. Algum nível de justificativa foi estabelecido com a sequência em que Data e La Forge trabalham na El-Baz e precisam configurar o sistema da forma inversa à correta para que a nave funcione, mas ainda é muito pouco. É o que deixa a desejar no episódio, no mais bem construído.

Na linha “bom e barato”, o segmento é um bottle show, totalmente ambientado a bordo da Enterprise, e não tem atores convidados (além de Diana Muldaur como Pulaski, convidada só em título, mas, na prática, parte do elenco fixo, e o recorrente Colm Meaney como O’Brien). Stewart trabalha um pouco mais que o normal, vivendo duas versões de seu personagem, e as tomadas espaciais merecem um destaque, com os bonitos efeitos do vórtice e da Enterprise sendo tragada.

Restam perguntas não respondidas, sobre o que é o vórtice e que entidade estaria por trás dele, mas isso, francamente, não incomoda. É até agradável, de forma geral, vermos situações em que nem todas as dúvidas são esclarecidas, algo até esperado na investigação dos mistérios do espaço. E aqui os enigmas deixados para trás nem chegam a perturbar, porque o foco está todo em Picard e na dificuldade de reencontrar seu norte após o desconcertante encontro consigo mesmo.

Avaliação

Citações

“Well, they say if you travel far enough you will eventually meet yourself. Having experienced that, Number One, it’s not something I would care to repeat.”
(Bem, dizem que se você viaja longe o suficiente, acaba se encontrando consigo mesmo. Tendo experimentado isso, imediato, é algo que não gostaria de repetir.)
Jean-Luc Picard

Trivia

  • Proposta por Kurt Michael Bensmiller, essa história originalmente se chamava “Time to the Second”.
  • Maurice Hurley, showrunner e roteirista deste episódio, comentou o que o atraiu para a trama. “Já vimos muita gente fazer idas e vindas no tempo e saltos por aí. Eles estão sempre voltando 500 anos ou 1.000 anos. Ninguém realmente voltou seis horas. Seis horas foi o que me fascinou.”
  • De início, Hurley pensou que este episódio pudesse conduzir imediatamente a “Q Who”. “Foi como foi projetado originalmente, que três episódios depois estivéssemos viajando pelo espaço e de repente Picard se vê preso numa nave auxiliar num flash, e vê a nave caindo para o vórtice e explodindo. Ele acha que perdeu a cabeça; ele não sabe o que está acontecendo. Q aparece e diz: ‘Ei, como vai você?’ Picard diz: ‘Você causou isso e todas essas outras coisas?’ Q diz: ‘Ah, bem, surpreso de você não ter sacado antes. Bem, você é lento. Apenas um cartão de visita, algo para fazer. Foi interessante, não?’” A ideia foi derrubada por Gene Roddenberry, o que, na opinião de Hurley, deixou o fim deste episódio confuso. “Por que ir ao centro do vórtice iria salvá-lo? Não faz sentido. Mas faz se Q está manipulando tudo.”
  • Havia uma cena de encerramento no roteiro final em que Riker faria um ensopado do Alasca para compensar o fiasco da omelete. Pulaski e La Forge adoram, mas Worf não curte e diz que “teria preferido outra omelete”.
  • Durante as filmagens deste episódio, o estúdio recebeu a visita de um jovem Ronald D. Moore. Ele deu ao seu guia no passeio, Richard Arnold, o roteiro especulativo que escrevera, “The Bonding”, e que lhe valeria uma vaga na equipe de roteiristas na terceira temporada. Sobre “Time Squared”, Moore disse: “É tão reflexivo. Eles agonizam sobre o que fazer o episódio inteiro. Já entendemos, caramba!”
  • Picard menciona vários processos conhecidos então de viagem no tempo, desde o efeito estilingue de “Tomorrow is Yesterday”, da Série Clássica, aos experimentos de Paul Manheim em “We’ll Always Have Paris” e ao Viajante, de “Where No One Has Gone Before”.
  • Wil Wheaton não aparece neste episódio.
  • A nave auxiliar El-Baz foi batizada em homenagem ao cientista planetário da NASA Farouk El-Baz, envolvido nas missões Apollo.
  • Esta é a primeira vez que vemos a Enterprise-D ser destruída. Aconteceria de novo em “Cause and Effect”, da quinta temporada, e, de forma definitiva, em Jornada nas Estrelas: Generations.

Ficha Técnica

História de Kurt Michael Bensmiller
Roteiro de Maurice Hurley
Dirigido por Joseph L. Scanlan

Exibido em 3 de abril de 1989

Título em português: “Tempo ao Quadrado”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi

Elenco convidado

Diana Muldaur como Katherine “Kate” Pulaski
Colm Meaney como Miles O’Brien

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Roberta Manaa

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