LDS 2×03: We’ll Always Have Tom Paris

A dupla de Grandes Aves de Rapina da Galáxia

Sinopse

Data Estelar: desconhecida.

Mais um dia se inicia na Cerritos, onde encontramos no refeitório os subalternos do turno Beta. Boimler descobre que um bug nos sistemas de segurança da Cerritos o trancou para fora das autorizações, pois não consegue convencer o replicador a lhe dar uma simples refeição, e com a fila aumentando, se desespera ao ponto de acabar aceitando sair de lá com a árvore bonsai que o replicador lhe entrega. Tendi finaliza rapidamente o seu café, já noiada para mostrar serviço para T’Ana, enquanto Rutherford não se conforma em encontrar Shaxs ali, e questiona Mariner a respeito, que tranquilamente confirma que ele voltou, em mais uma daquelas situações de tripulante voltar dos mortos.

No muquifo onde costumam trabalhar, Boimler conta para Mariner e Rutherford que o tenente Tom Paris está agendado para visitar a Cerritos em um tour promovido pela Frota Estelar para que compartilhe experiências de seu período no Quadrante Delta com outras tripulações, e Boimler está animado para conseguir o autógrafo dele em um prato temático, para completar o seu kit da equipe principal da USS Voyager. Na conversa, Shaxs é mencionado de passagem e Rutherford surta de novo, questionando ambos a respeito. Mariner e Boimler são casuais a respeito, jogando um monte de hipóteses que podem explicar isso, e tentam dissuadir Rutherford de procurar saber mais por ser algo que não se deve discutir abertamente com as pessoas que voltaram.

Logo em seguida, Tendi encontra Mariner e conta que T’Ana a confiou para uma missão que consiste buscar um item pessoal em Qualor II, e a órion convida a humana para irem juntas em uma nave auxiliar buscar o troço, já que nunca fizeram uma missão avançada sendo apenas elas duas. Saindo dali, Boimler procura por Paris, mas todas as portas da nave recusam sua passagem devido ao bug de segurança. Após rejeitar a ajuda de Jet para entrar no turboelevador, Boimler resolve subir até a ponte através dos tubos Jefferies.

Chegando em Qualor II, as federadas vão aproveitar a deixa para curtir um pouco o distrito turístico local, e depois chegam até a empresa de guarda-volumes onde T’Ana tem um compartimento para itens pessoais. Tendi bate um papo sobre a cena musical klingon com o atendente, o que chama a atenção de Mariner, que curte saber mais sobre o gosto musical da amiga. Na nave auxiliar, Mariner convence Tendi a dar uma olhada dentro do caixote de T’Ana, e depois de zuar um pouco com o totem caitiano de madeira que tinha dentro, aparentemente um brinquedo sexual cerimonial, elas deixam cair e quebram a cabeça do totem, o que deixa Tendi desesperada, mas Mariner cozinha um plano de levarem o treco até um parça dela na base estelar Earhart, que tem as manhas desse tipo de conserto.

Na Cerritos, Boimler e Rutherford estão tensos. Boimler tem que ficar atravessando sistemas internos da nave para chegar cada vez mais perto da ponte, enquanto Rutherford continua esbarrando em Shaxs e nota mais indícios do mistério envolvendo sua volta. Ele cria coragem para perguntar, quando está com Shaxs e Billups na engenharia, mas rapidamente muda de ideia ao ver a péssima reação a outro tripulante que fez exatamente a mesma pergunta.

Na base estelar, Addix, o amigo de Mariner, garante que dá jeito, mas vai custar 50 tiras de latinum, e Mariner resolve passar a perna em um grupo de nausicaanos jogando dom-jot para conseguirem a grana. A alferes já ganha uma partida de largada, o que deixa um dos nausicaanos invocado, e Mariner diz que Tendi joga melhor ainda. Tendi está muito nervosa na partida, mas, no que Mariner dá um chute no nausicaano por ele puxar uma faca devido à demora da órion, ela se atrapalha toda na jogada mas tem o rabo de conseguir fazer um encaçapada perfeita. O nausicaano fica ainda mais louco, arrebenta a cabeça do totem e começa uma briga, com Mariner e Tendi conseguindo escapar ao espalharem o latinum deles pelo local.

Tom Paris se apresenta à ponte da Cerritos, recebendo as boas-vindas da capitão Freeman à nave. Paris pergunta se pode experimentar pilotar a Cerritos, e Jennifer cede o timão da nave para Paris, que ativa alguns comandos de iniciar os motores. Isso começa a aumentar a pressão e temperatura nos difusores estáticos do estabilizador de gravidade, exatamente onde Boimler estava passando em seu caminho para a ponte. Ele se joga rapidamente em outro tubo Jefferies, onde o computador recusa até mesmo o pedido de desligamento de emergência que fez.

Em uma comunicação, T’Ana fica apressando Tendi para voltarem logo, e ela está muito desanimada e preocupada com o que vai contar para a caitiana. Tendi contudo lembra que tem um primo que trabalha em um posto avançado de piratas órions no setor onde se encontram, e talvez ele consiga consertar o totem. Ela aplica uma hypospray em Mariner para deixar a pigmentação da pele da humana em um tom de verde, e seguem para o local.

Na Cerritos, Rutherford não consegue se concentrar no trabalho de tão obcecado que está sobre a volta de Shaxs, alucinando inúmeras possibilidades que explicariam como o tenente voltou da morte. Ele não resiste e vai procurar Shaxs, encontrando-o em um turboelevador. Rutherford convence Shaxs a contar a verdade para aliviar um pouco a culpa que sente por ter estado envolvido nos eventos que levaram a sua morte, mas Shaxs avisa que isso pode ser pesado demais para ele saber. O alferes insiste em saber o que aconteceu mesmo assim. Com isso, Shaxs começa a contar como foi que voltou.

Vestidas como perigosas criminosas órions, Tendi e Mariner vão encontrar D’Onni, o primo dela, com quem Mariner já fica excitada por ver que é um fortão musculoso. Tendi já tem que bancar a órion durona para botar o cara para trabalhar, e ver a amiga daquela forma diverte enormemente Mariner, ainda que Tendi esteja morrendo de constrangimento por dentro. Enquanto discutiam, o efeito verde na pele de Mariner acaba, e elas têm que fugir de vários órions que invocam com a presença de uma humana ali.

Na fuga, ambas já estão ficando irritadas uma com a outra por mutuamente demonstrarem não saber muito a respeito da colega. Elas conseguem encontrar um jeito de escalar uma estrutura industrial para alcançar a plataforma onde deixaram a nave auxiliar, mas o grupo de órions encontram as duas e as atacam. Mariner quase despenca e Tendi a pega pelo braço, mas Mariner e peças do totem são pesadas demais, e Tendi solta os pedaços do totem em cima dos órions para conseguir salvar Mariner.

Depois de penar por inúmeros tubos Jefferies, um cansado e imundo Boimler luta para conseguir hackear mais uma passagem, inspirado por sua conversa alucinatória com o próprio prato de Tom Paris. Boimler fica cada vez mais desesperado e acaba enfiando o prato no painel EPS no tubo em que estava, o que provoca uma sobrecarga que abre o compartimento e ele despenca no meio da ponte da Cerritos. Alucinado e parecendo um dorme-sujo, Boimler se dirige a Tom Paris, que o ataca por confundi-lo com um kazon.

Na nave auxiliar a caminho da Cerritos, Mariner e Tendi conversam a respeito do que passaram, abrem o coração uma para a outra sobre as razões pelas quais não costumam falar muito a respeito de si mesmas e logo se entendem novamente, reforçando sua amizade. Tendi se conforma em enfrentar a ira de T’Ana, mas Mariner inventa de querer colidir a nave auxiliar contra a Cerritos para justificar os danos no totem. O veículo acaba apenas um pouco amassado ao trombar contra os escudos da Cerritos.

No hangar, Mariner se justifica para um furioso Ransom dizendo que uma abelha foi a culpada por se atrapalhar na aproximação com a nave auxiliar, enquanto Tendi confessa o que houve com o totem para T’Ana, que responde que não está nem aí para o troço — ela só queria a caixa onde estava guardado, para se aninhar dentro na enfermaria e aliviar suas tensões. Mais tarde, Rutherford e Tendi novamente fazem companhia para Mariner em cana, com Boimler finalmente sendo reconhecido pelos sistemas da Cerritos e indo tomar um goró com Paris no bar, e Rutherford meio paranoico pela verdade secreta que descobriu sobre a volta de Shaxs.

Comentários

O que aprendemos com “We’ll Always Have Tom Paris”? Que Lower Decks sabe surpreender e não se deve assumir nada por padrão com a série. Mesmo quando um elemento em questão é de certa forma previsível, a maneira pela qual a equipe criativa o encaminha vai acabar sendo com uma bola curva.

O episódio também é mais um onde “aquilo que está em jogo” tem escala adequada: são elementos do dia a dia de operações da nave e não ocorreu nada aqui para salvar a galáxia, apesar de ter elementos de desenvolvimento de personagens grandes para os envolvidos.

Neste segmento, tivemos três tramas distintas. A primeira, com Mariner e Tendi, embora a mais “pedestre” delas, foi a melhor sem dúvida. Como já comentamos inúmeras vezes, a equipe criativa parecia estar devendo tanto uma interação boa entre as duas protagonistas como um maior desenvolvimento em cima da órion. E aqui tivemos uma boa dose desses dois aspectos, até mesmo com Mariner comentando diretamente a falta de interação delas. Considerando que a produção de Lower Decks já contava com duas temporadas distintas contratadas, elas muito provavelmente foram mapeadas e escritas juntas, e a equipe criativa antecipou os comentários do fandom a respeito das dinâmicas de personagens na primeira temporada e de forma presciente respondeu neste episódio. Claramente jogaram verde para colher maduro, e deu certo.

Adicionalmente, elementos de “Crisis Point” se fizeram presentes aqui, onde aprendemos que Tendi ressente o estereótipo que sua espécie tem. O mesmo ocorre desta vez, ainda que ela novamente reforce imediatamente o estereótipo ao lembrar onde o primo dela trabalha. As piadas como um todo se encaixaram bem, em particular na instalação órion, e aprendemos várias coisas adicionais a respeito das duas federadas, tanto de suas histórias pessoais como de seus sentimentos e de como elas se relacionam com as pessoas à sua volta.

A piada final com T’Ana estava na nossa cara o tempo todo, mas eles souberam bem desviar a atenção da coisa até o último minuto. Afinal de contas, se T’Ana queria uma mera caixa, poderia muito bem ter replicado uma na Cerritos, mas deu para notar que aquela em particular é a sua proverbial tampa de panela, algo que não poderia reproduzir facilmente.

A surpreendente volta de Shaxs foi possivelmente uma das tramas mais fora da casinha que Lower Decks já fez até agora, e novamente aqui foi um elemento claramente planejado para ter sua execução entre as duas temporadas. Ressureições de personagens aparentemente mortos ou perdidos funcionam melhor com um tempo adequado entre a “morte” e eventual volta, e a morte de Shaxs em “No Small Parts” foi um bem executado passo no plano deles de aloprarem esse conceito de “personagens principais que morrem e voltam”. Eles seguiram tocando isso de maneira séria até onde foi possível, especialmente no hiato entre as temporadas. Bobos fomos nós, que não consideramos que estamos falando de Star Trek aqui e, principalmente, de Lower Decks.

E qual foi a melhor forma de entregar o desfecho? De maneira totalmente na cara, escancarando a questão na tela e nos colocando no mesmo estado de espírito em que Rutherford se encontrava pelo episódio todo. Isso poderia ser feito apenas com Rutherford, é claro, tendo ele estado diretamente envolvido com a morte do bajoriano, além de sua perda de memória ser algo que ajuda na confusão do alferes. Eu apenas dei falta de hipóteses espirituais bajorianas entre todas que foram mencionadas, mas vai que isso também é um setup para algo mais adiante…

E onde se encaixa Kayshon nisso? Tendo sido apresentado como um personagem secundário completamente viável, seu papel de isca para olharmos para o outro lado foi preenchido, então ele apenas cai de canto? Não acredito muito nisso, considerando que já vimos como a série está criando para si um elenco grande e bem trabalhado. DS9 fez a mesma coisa, e Lower Decks ainda conta com as naturais capacidades de animação para conseguir levar isso mais adiante.

O enrosco com o Boimler acabou sendo o elo fraco do episódio, eu diria. Aparentemente escrita de trás para a frente, me deu a impressão de que eles pensaram na piada do Tom Paris na ponte passando o rodo em Boimler parecendo um kazon, e daí arrastaram ele pelo episódio inteiro até esse ponto. Não há nada de necessariamente errado em ajustar o início de uma trama apenas para ter uma certa resolução específica, mas foi um caso em que o setup acabou sendo a parte mais divertida da piada, acompanhando o alferes em seu penar ao longo de uma situação totalmente com a sua cara.

Sistema de segurança e computadores federados nunca foram as mais… consistentes das tecnologias, vamos dizer assim. Em inúmeras ocasiões já vimos bugs malucos em naves federadas, e apesar da necessidade de alta segurança pelo perfil operacional que a Frota Estelar tem, a coisa toda lembrou situações em empresas onde às vezes funcionários novos passam dias sem login e senha da rede, ou com isso não funcionando direito, além das ocasiões “usa o meu crachá para entrar mesmo”. O próprio Ransom deu a deixa ao dizer em tela que fizeram ajustes no sistema, então isso embasou bem a criação das dificuldades que caíram em cima de Boimler.

Já sobre Tom Paris, foi agradável ver mais um personagem-legado e a premissa para tê-lo a bordo da nave foi bem justificada, de maneira despretensiosa, mas nada muito mais além disso. O que até tem seu lado positivo, se for ver: não dá para começar a ter personagens-legado salvando o dia na Cerritos ou coisas do tipo, não é isso que Lower Decks se propõe a ser.

Em itens diversos, vemos que Quark deve estar se dando bem sendo parente do Grande Nagus, já que encontramos em Qualor a segunda franquia dele (primeira que vimos foi em Freecloud, em Star Trek: Picard). Adicionalmente, tivemos mais citações ao que seria a cultura pop do século 24, algo sempre muito bem-vindo, e destaque para a divertida metarreferência adicional de eles usarem a abreviação “VOY” para se referirem àquela nave e grupo de tripulantes, canonizando isso em adição ao “TOS” em “No Small Parts” (“DS9” sempre foi usado por razões óbvias). E na mesma cena com a Mariner eles me jogam a moça mandar uma referência sobre o “Shatnerverso” (livros que Willian Shatner escreveu com o casal Reeves-Stevens) com uma das falas sendo “os borgs o reconstruíram”, referindo-se a uma premissa de um dos livros.

Um bom episódio, no seu todo. Novamente, fica a dica: apesar de estar totalmente lastreada nas séries convencionais de Jornada da chamada era Berman (A Nova Geração, Deep Space Nine, Voyager e Enterprise), não esperem que Lower Decks se comporte como uma série convencional daquela fase da franquia, não é essa a sua intenção. Ela será diferente, ainda que simultaneamente mantendo convívio com o universo fictício dessas séries de maneira bem encaixada.

Avaliação

Citações

“Escher got lucky. I mean, curing the Captain’s Terellian Death Syndrome? She was in the right place with the right hypospray.”
(Escher deu sorte. Quero dizer, curar a síndrome terelliana da morte na capitão? Ela estava no local certo com a hypospray certa.)
Rutherford para Tendi, sobre outra alferes ganhar uma promoção na enfermaria

“Mind if I give her a whirl? I hear these Cali-class engines can purr.”
“Of course. Just don’t send us to the Delta Quadrant.”

(Se incomoda se eu der uma volta com ela? Eu ouço falar que esses motores da classe Califórnia sabem roncar.)
(É claro. Só não nos mande para o Quadrante Delta.)
Tom Paris e Freeman, ao tenente se apresentar na ponte da Cerritos

“Hi, Tendi. My name is Jeremy. I’m an important cultural sex toy from the past.”
(Olá, Tendi. Meu nome é Jeremy. Eu sou um importante brinquedo sexual cultural do passado.)
Mariner, dublando a voz do totem de madeira caitiano

“We’re sparing you dark truths about scientific drepavity that would haunt you for the rest of your days. Once you know, you can never go back to being the man you were before.”
“Works for me! Tell me, tell me!”

(Nós estamos o poupando de obscuras verdades sobre depravações científicas que vão assombrá-lo pelo resto de seus dias. Uma vez que souber, você nunca poderá voltar a ser o homem que era antes.)
(Tudo bem para mim. Me conta, me conta!)
Shaxs e Rutherford, sobre a razão de poucos conhecerem como algumas pessoas voltam da morte

“Send the bee to the brig! It’s the bee’s fault!”
(Manda a abelha pra cadeia! É tudo culpa da abelha!)
Mariner, retrucando Ransom questionar o jeito como que elas se reapresentaram na Cerritos

Trivia

  • Mariner entrega informacão aqui que ela serviu em DS9 por um período juntamente com Worf, o que garante a presença dela na tripulação federada da estação pelo menos em algum momento entre 2372 e 2375, correspondente às temporadas 4 a 7 de Deep Space Nine.
  • Este episódio é considerado oficialmente o de número 800 de toda a franquia, incluindo todas as séries (e contando todos os duplos como dois), mas sem contar os filmes para cinema.
  • O prato temático de Tom Paris foi realmente lançado como merchandising oficial de Star Trek, disponível pela Star Trek Unlimited para venda.
  • Você pode conferir todas as referências e easter eggs do episódio neste artigo de Maria-Lucia Racz no Trek Brasilis.

Ficha Técnica

Escrito por M. Willis
Dirigido por Bob Suarez

Exibido em 26 de agosto de 2021

Elenco

Tawny Newsome como Beckett Mariner
Jack Quaid como Brad Boimler
Noël Wells como D’Vana Tendi, a Senhora das Constelações Invernais
Eugene Cordero como Sam Rutherford
Dawnn Lewis como Carol Freeman
Jerry O’Connell como Jack Ransom
Fred Tatasciore como Shaxs
Gillian Vigman como T’Ana

Elenco convidado

Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Marcus Henderson como Jet Manhaver
Tom Kenny como Addix
Lauren Lapkus como Jennifer
Paul Scheer como Andy Billups

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Edição de Leandro Magalhães
Revisão de Salvador Nogueira

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