ENT 3×16: Doctor’s Orders

Enterprise vazia enquanto todos hibernam

Episódio introspectivo traz dr. Phlox para o primeiro plano

Sinopse

Data: Desconhecida

Enquanto se dirigem para Azati Prime, a tripulação da Enterprise se confronta com uma anomalia espacial transdimensional, através da qual passar se mostrará fatal para a tripulação. Como não há tempo hábil para se contornar a anomalia, uma ideia de Phlox é posta em prática, com a tripulação indo para hibernação, sendo mantidos em proteção, enquanto o médico, graças a sua imunidade aos efeitos por ser um denobulano, irá cuidar da nave e da tripulação em hibernação, durante esse período. Apesar das preocupações sobre a falta de treinamento e procedimentos da Frota Estelar, a tarefa é confiada a Phlox e Trip e vários outros lhe dão um crash-course em tudo o que ele precisa saber para suas tarefas durante os quatro dias de viagem, com a nave em impulso, uma vez que Trip não recomenda o uso de dobra enquanto dentro da anomalia.

Phlox aproveita a oportunidade para fazer alguns tours pela tranquila e deserta nave, passeando com Porthos e escrevendo algumas cartas para o Dr. Lucas. Apesar disso tudo, ele sente certa tensão pelo inusitado da situação, mas o denobulano fica um pouco mais sossegado após perceber que T’Pol também ainda está consciente, uma vez que vulcanos aparentemente também são imunes aos efeitos da anomalia. Após algum tempo, Phlox estranha alguma movimentação e ruídos pela nave e, apesar de a vulcana não dar muito crédito a essa impressão do doutor, ele acaba ficando face a face com um xindi-insectoide quando ele fora investigar alguns ruídos no quarto de Hoshi. Ele escapa do encontro com o xindi e insiste com T’Pol para fazerem uma busca completa pela nave por este e outros eventuais intrusos.

Alucinação de Phlox - insectóide xindi

Phlox também tem algumas visões perturbadoras, vendo Hoshi consciente chegar até seu quarto, em péssimo estado, como se estivesse se desfazendo, mas isso subitamente termina e ela ainda está no seu aposento, em hibernação. Entrementes, T’Pol percebe que ela também não parece estar imune a alguns efeitos colaterais ela mesma, pois não está conseguindo controlar completamente suas emoções e não está em condições de apenas ela cuidar da nave, depois que Phlox sugeriu que ela o colocasse em hibernação. Dessa forma, ambos não tem muita escolha a não ser continuarem conscientes.

Hoshi em alucinação de Phlox

A vulcana e o denobulano também têm que decidir o que fazer após descobrirem que aquela região do espaço está se expandindo e que não terão muito mais tempo. Dessa forma, eles têm que levar a Enterprise para velocidade de dobra e, depois de muito esforço de Phlox — pois T’Pol se mostrou tão afetada que não conseguia mais se lembrar de nada do que sabia sobre propulsão de dobra –, eles conseguem velocidade de dobra e a nave deixa a região. Phlox descobre a real razão do estranho comportamento De T’Pol após a tripulação acordar, uma vez que a vulcana também estivera em hibernação o tempo todo — a T’Pol com a qual havia interagido era apenas mais uma das alucinações que ele mesmo estava tendo.

Comentários

“Doctor’s Orders” é um episódio inteligente. Além de ser totalmente introspectivo — o que é um fenômeno raro em Enterprise –, ele ainda consegue pregar uma peça no telespectador, que vira de cabeça para baixo a avaliação que ele até então fazia do segmento.

Trata-se de um “high concept com conteúdo”, se é que pode existir algo do tipo. A premissa é tão simples que dá pena: Phlox é obrigado a cuidar da nave sozinho e começa a ficar louco. Simples assim.

Title Card Enterprise Doctor's Orders

Mas não tão depressa. O drama e o senso de responsabilidade imputados ao médico denobulano são tão fortes que, mesmo através de suas alucinações, ele continua labutando para salvar a nave e seus colegas de tripulação. E esse elemento é muito bem escondido da audiência, sendo revelado apenas na última cena do episódio: Phlox acompanha T’Pol, supostamente sua única companhia durante a travessia da região alterada da Expansão Délfica, até seus aposentos, para descobrir que a vulcana, na verdade, passou o tempo todo sedada, em coma induzido, exatamente como o resto da tripulação. A T’Pol com quem ele interagiu durante todo o drama era, na verdade, outra de suas alucinações.

Num nível mais superficial, essa revelação explica o porquê de T’Pol parecer tão “mal escrita” quanto parece às vezes durante este episódio. Tudo bem que ela pudesse estar sofrendo os efeitos das alterações espaço-temporais, com a gradual perda de controle das emoções e dificuldade de se manter em foco. Mas nada parece justificar que ela não saiba absolutamente nada sobre como reiniciar os motores de dobra da Enterprise, ou mesmo como monitorar a tripulação assim que Phlox chega à conclusão de que está alucinando e não pode mais cumprir a função.

T'Pol em hibernação

Quando olhamos essas cenas à luz do fato de que aquela T’Pol é apenas um artifício da mente de Phlox, tudo muda de figura e nos maravilhamos com o fato de que a presença dela nada mais foi do que um mecanismo inconsciente que o cérebro do médico encontrou para fazer com que ele cumprisse as tarefas necessárias à sobrevivência da tripulação. Num lance raro na ficção em geral, temos acesso ao inconsciente de um personagem.

Esse, sem dúvida, é o aspecto mais interessante e intrigante de todo o episódio. Mais do que toda a narrativa de Phlox em carta ao doutor Lucas (um artifício já usado antes em outro grande episódio envolvendo o personagem, “Dear Doctor”), o que mais fala do médico são suas próprias alucinações. Seus medos, suas preocupações e suas aspirações estão todos lá.

Phlox vendo T'Pol em alucinação

T’Pol funciona como a “razão” do médico — não é de todo estranho que seu inconsciente a tenha escolhido para o papel, dado o extremo racionalismo dos vulcanos. Mas há mais: é com T’Pol que Phlox sente maior identificação, sendo ela a única outra alienígena numa nave cheia de humanos. Faz sentido, portanto, que sua companhia imaginária ganhe a imagem da vulcana… tudo que ela diz, entretanto, não passa de um eco dos próprios pensamentos de Phlox — seus dilemas são repartidos em dois personagens, de uma maneira natural e inteligente, o que expõe completamente sua alma ao telespectador.

Claro, um episódio dessa natureza não seria nada, não fosse o talento dos atores que o interpretam. No elenco de Enterprise, se há alguém que mereça esse papel, trata-se de John Billingsley. Desde o começo, John tem conseguido transmitir uma dignidade e uma sabedoria diferenciadas a Phlox, que resgatou seu personagem de uma potencial (até provável, em alguns casos) conversão em Neelix, versão 2.0, fazendo do bom doutor um dos mais cativantes personagens da série.

Phlox sozinho na Enterprise enquanto todos estão hibernando

Aqui, ele se sobressai, mesmo com toda a maquiagem que recobre seu rosto, transmitindo todas as emoções pelas quais passa o médico, com um misto de humor, maravilhamento e pavor. Uma atuação excepcional.

Jolene Blalock também é exigida (em menor escala, claro), mas se sai muito bem como “a mente racional/alternativa” de Phlox, encarnada em T’Pol. Sua interação com Billingsley sempre foi produtiva e atingiu um ponto alto durante este episódio.

T'Pol em alucinação de Phlox

Claro, Porthos também merece um destaque especial. Com certeza, tem tudo para levar o próximo Emmy de melhor cão em série dramática.

Por fim, é sempre bom vermos os efeitos especiais entrando em segundo plano, numa série que nos acostumou a ofertar mais imagens bonitas do que roteiros inteligentes. Felizmente, a taxa de sucesso na escrita cresceu significativamente na terceira temporada.

Porthos vendo Archer hibernando

Fechando a conta, “Doctor’s Orders” é um episódio que fascina a posteriori. Você vê os primeiros 40 minutos como meramente “divertidos” e o final provoca um giro de 180 graus, exigindo uma reavaliação de tudo que foi visto a partir de um novo ponto de vista. O exercício não só vale a pena, como faz o episódio subir muito no conceito do telespectador. E conquistar a audiência no minuto final é o verdadeiro segredo para deixar o gostinho de “quero mais”. Nesse contexto, o episódio marca um verdadeiro gol de placa.

Avaliação

Citações

“Perhaps we are letting our imaginations run away with us, hmm? I should have never let Mr. Tucker talk me into watching The Exorcist last week.”
(Talvez estejamos deixando nossas imaginações nos levarem demais, hum? Talvez eu não devesse ter permitido ao Sr. Tucker me convencer a assistir O Exorcista semana passada.)
Phlox

“I’m a physician, not an engineer!”
(Eu sou um médico, e não um engenheiro!)
Phlox

“Are you suggesting I read the manual?”
(Você está sugerindo que eu devo ler o manual?)
Phlox

“He also said, and I quote, Phlox did one hell of a job.”
(Ele também disse, e eu cito, Phlox fez um baita de um trabalho.)
T’Pol

Trivia

  • Apenas John Billingsley e Jolene Blalock foram necessários para todos os sete dias de fotografia principal do episódio.
  • Rick Berman, sobre “Doctor’s Orders”, comentou que se tratava de um episódio consideravelmente amedrontador, que toma grande vantagem do ótimo John Billingsley.

Ficha Técnica

Escrito por Chris Black
Dirigido por Roxann Dawson

Exibido em 18 de fevereiro de 2004

Títulos em português: “Ordens Médicas”

Elenco

Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato

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Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Nívea Doria

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