TNG 4×05: Remember Me

Episódio explora paranoia de Beverly e promove o retorno do Viajante

Sinopse

Data estelar: 44161.2

Após dar as boas-vindas ao seu mentor, o dr. Dalen Quaice, um homem idoso triste pela perda de sua esposa e amigos, a dra. Beverly Crusher visita seu filho, Wesley, na seção de engenharia da Enterprise. Wesley está trabalhando em um experimento com o campo de dobra espacial. Enquanto a doutora observa o filho trabalhar, um súbito flash de luz ocorre, e o projeto fracassa.

De repente a dra. Crusher começa a ver os tripulantes da Enterprise sumindo, um por vez. Alguns permanecem, porém nenhum deles sabe algo sobre os desaparecimentos. Até que a doutora se vê sozinha na nave. Na verdade, o experimento de Wesley jogou sua mãe em uma bolha de dobra, onde ela está vivendo uma realidade criada por seus próprios pensamentos.

Após duas tentativas fracassadas de resgatar a doutora, a única esperança de recuperá-la antes que seus pensamentos a matem é a ajuda do Viajante, um ser que compreende perfeitamente a relação entre espaço, tempo e pensamento. Ele já havia topado com o pessoal da Enterprise em 2364.

Graças à pronta aparição do Viajante e a consequente colaboração entre ele e Wesley, a tripulação consegue tirar Beverly de seu universo pessoal.

Comentários

“Remember Me” busca, a um só tempo, trazer de volta um personagem recorrente intrigante, explorar as mesmas possibilidades abertas no episódio “Where No One Has Gone Before” e mostrar uma crescente perturbação mental da doutora Beverly Crusher. Infelizmente, a mistureba não funciona a contento. Sem muito foco ou senso de propósito, a trama é minimalista, repetitiva e desinteressante.

Não começa deste jeito. Quando Beverly recebe a visita de Quaice, reflete sobre a perda de entes queridos, vai à engenharia meramente para estar com Wesley e então nota que seu velho amigo sumira, há um mistério bem estabelecido a ser trabalhado.

Daí para a frente, temos uma espiral de crescente paranoia e loucura. Beverly é inserida em uma realidade alternativa, a tal bolha de dobra, cuja vivência é moldada por seus próprios pensamentos. E eles logo saem de controle.

O que era apenas uma angústia natural ao pensar na morte de familiares vai ganhando fôlego e criando um mundo cada vez mais aberrante, em que pessoas não só somem aos montes como passam a nunca ter existido. A irracionalidade, claro, é fruto da instabilidade mental crescente da doutora, manifesta pelo que ela vivencia — numa metáfora do que acontece com pessoas que perdem contato com a realidade. A fantasia que criam para si, na cabeça delas, é real.

Valeu pela tentativa de representar um problema psicológico por meio de uma alegoria sci-fi. Há pistas desse intento, por exemplo, na noção de que a mente de Beverly está moldando sua própria realidade e só ela pode decidir sair dela. Ainda assim, é tudo muito pobre e carente de um tratamento mais adequado, até mesmo na direção, que é tocada de maneira burocrática, em contraste com o drama psicológico da história. O episódio anda em círculos. É simplesmente cansativo passar meia hora vendo pessoas desaparecendo sem explicação, no que obviamente não pode ser o mundo real.

E aí tudo se resolve com uma boa dose de deus ex machina.

Se tudo deu certo na primeira aparição do Viajante, em um dos melhores episódios do primeiro ano, agora parece que os produtores quiseram mostrar como é possível usar mal o personagem. Ele chega do nada, nem toca no assunto de sua desaparição anterior (em “Where No One Has Gone Before”), troca algumas ideias com Wesley e ajuda o menino-prodígio a tirar sua mãe do tal fenômeno esquisito.

Ou seja, sua volta pode ser boa para a doutora, mas para o telespectador diz absolutamente nada. E não é porque o personagem não tenha carisma ou personalidade a ser explorada; o roteiro é que simplesmente se recusa a ir nessa direção. O Viajante é um mero dispositivo da trama.

Aliás, o episódio é uma prova viva de quanto pode ser perigosa a ideia de juntar pensamento, espaço e tempo, quando a premissa é tão monótona e monotemática. Quando o recurso foi explorado em “Where No One Has Gone Before”, o objetivo era, ao mesmo tempo, mostrar o que rolava na cabeça de cada tripulante, bem como a capacidade da tripulação de controlar seus próprios pensamentos. Aqui, ficamos num modorrento loop de gente desaparecendo.

Por incrível que pareça, apesar de o episódio girar 100% em torno de Beverly, não aprendemos nada de muito interessante sobre sua personalidade. Só podemos pensar que, em seu íntimo mais profundo, ela alimenta o medo de ficar sozinha (o que, convenhamos, dadas as circunstâncias, qualquer pessoa alimentaria, ainda mais se a aparente realidade parece reforçar isso a cada esquina).

A trama só não se sai pior graças à química existente entre os personagens, que conseguem segurar o episódio somente em seus diálogos e interações, dispensando a necessidade de um roteiro mais interessante ou elaborado.

O único personagem que de fato sai ganhando é Wesley. Vemos que ele dá mais um passo em sua caminhada rumo a um destino diferenciado, como o Viajante havia previsto em sua primeira aparição. A jornada dele seria concluída na sétima temporada da série, no episódio “Journey’s End”, que também conta com uma aparição-relâmpago do Viajante.

Avaliação

Citações

“If there’s nothing wrong with me… maybe there’s something wrong with the universe.”
(Se não há nada errado comigo… talvez haja algo errado com o universo.)
Beverly Crusher

Trivia

  • Essa história foi originalmente pensada como uma trama secundária para “Family”, mas acabou não se encaixando lá e virou um episódio próprio.
  • Este episódio marca a volta do ator Eric Menyuk como o Viajante. Ele havia participado do episódio “Where No One Has Gone Before”, da primeira temporada, e ainda voltaria na sétima, em “Journey’s End”.
  • A adição do Viajante se deu na última hora. Segundo Michael Piller: “As duas primeiras versões não tinham o Viajante nelas. A primeira terminava com a constatação de que tudo que aconteceu não passara de um episódio de sonho. Não achamos isso satisfatório, então decidimos puxar tudo que estava nas primeiras 60 páginas para os três primeiros atos e contar à audiência o que estava rolando do outro lado da bolha de dobra e como eles estavam tentando trazer Beverly de volta. Passamos os dois atores seguintes decidindo como trazê-la de volta. No começo do ano dissemos que queríamos trazer o Viajante de volta para alguma coisa, então por que não usá-lo neste episódio para ajudar Beverly a voltar?”
  • O diretor Cliff Bole disse: “Eles o adicionaram porque ele é popular nas convenções. Ele era apenas um papel de ponta.”
  • Temos aqui mais um bottle show, filmado totalmente dentro da Enterprise.
  • Gates McFadden fez todas as cenas que envolviam o vórtice, sem dublês. O supervisor de efeitos visuais Robert Legato coordenou a sequência em que ela fica pendurada na cadeira de Data. A cadeira foi montada numa parede, com McFadden pendurada nela enquanto máquinas de ar-comprimido forneciam o efeito do vórtice. Logo após fazer a cena em que ela é atirada da cadeira do Data, McFadden descobriu que estava grávida.
  • Efeitos visuais da Base Estelar 74, de “11001001”, foram reutilizados aqui para representar a Base Estelar 133.
  • Quando Crusher e Quaice andam juntos pelo corredor, é possível notar que nem todos os uniformes azuis têm o mesmo tom.
  • O compositor Jay Chattaway buscou uma trilha diferente para este episódio. “Era um tipo diferente de episódio. Eu usei algumas técnicas diferentes naquele, já que era um daqueles mistérios ‘o que está errado?’. Para as sequências do vórtice, escrevi uma quantidade limitada de material para a seção de cordas, de modo que eles estavam tocando em tempos diferentes. O resultado foi esse som de turbilhão que se integrou bem com os efeitos sonoros.”
  • A maquiagem do Viajante foi ligeiramente modificada com relação a sua primeira aparição, em “Where No Man Has Gone Before”. Ele agora está mais pálido.
  • Este episódio marca a primeira aparição de um redesenho da plataforma de transporte. O novo design permaneceria pelo resto da série, bem como em Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida (como a Enterprise-A) e em Voyager (como a nave título).
  • Rick Berman comentou o episódio. “Foi um high concept muito interessante. Achei que tinha a possibilidade de ser um pouco confuso demais. Você está enganando a audiência um pouco e eu não gosto de fazer isso. Eles estavam olhando para um mundo quando, na verdade, estávamos lidando com universos paralelos e isso era potencialmente confuso.”
  • Cliff Bole elogiou o papel da doutora Crusher. “Gates fez um trabalho muito bom. De novo, era um episódio econômico. Por cerca de 40% dele, era só ela. Ela foi separada no tempo de todo mundo. Não é meu episódio favorito, mas recebi mais cartas positivas sobre aquele episódio do que qualquer outro. Fiquei espantado. Algumas vezes eles te dão uma história e sabem o que é, mas esperam que os espelhos mudem tudo. Não acontece. A palavra escrita está lá. Você não tem como simplesmente mover a câmera e cobrir um roteiro fraco. É por isso que os klingons e os borgs se oferecem à criatividade. É um desafio real quando você tem alguém correndo por um corredor da Enterprise, como em ‘Remember Me’.”
  • O termo “cochrane” é utilizado neste episódio. Trata-se de uma unidade para medir a tensão do campo subespacial. Esse termo, é claro, é uma homenagem a Zefram Cochrane, o inventor da dobra espacial.
  • Aqui ficamos sabendo que a Enterprise carrega 1.014 pessoas, contando com o dr. Quaice, que estava a bordo neste episódio.
  • O título é uma passagem da peça Hamlet, de Shakespeare.
  • Beverly Crusher menciona O Mágico de Oz, ao dizer: “Bater meus calcanhares três vezes e estou de volta ao Kansas. Pode ser tão simples?”

Ficha Técnica

Escrito por Lee Sheldon

Dirigido por Cliff Bole

Exibido em 22 de outubro de 1990

Título em português: “Lembrem-se de Mim”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado

Bill Erwin como Dalen Quaice
Colm Meaney como Miles O’Brien
Eric Menyuk como Viajante

Enquete

TS Poll - Loading poll ...

Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

Episódio anterior | Próximo episódio