TNG 4×10: The Loss

Deanna Troi perde poderes empáticos e sem eles tem sua carreira ameaçada

Sinopse

Data estelar: 44356.9

Logo após uma consulta com uma tripulante, Deanna Troi descobre que seus poderes empáticos desapareceram. Ela tenta se adaptar com a perda do sentido, mas sofre demais e se incomoda com a atitude condescendente de seus colegas. Julgando-se incapaz de fazer seu trabalho, ela desiste da função de conselheira da nave.

Enquanto isso, a Enterprise encontra um fenômeno que está arrastando a nave para sua destruição, rumo aos restos de uma corda cósmica. Data especula que o fenômeno que está gerando os grávitons que estão arrastando a Enterprise são criaturas que vivem em duas dimensões.

Picard pede a ajuda de Troi, e ela lança a hipótese de que os enigmáticos seres bidimensionais estão agindo por instinto, atraídos pela corda cósmica. Então Data cria um plano para iludir as criaturas, fingindo que o disco defletor é ele mesmo uma dessas cordas. Isso faz com que os seres mudem sua direção durante tempo suficiente para que a Enterprise possa escapar. Após a fuga, as criaturas retomam seu curso para os restos da corda cósmica.

Com o desaparecimento dos seres, os poderes empáticos de Deanna Troi voltam e ela reassume suas funções como conselheira.

Comentários

“The Loss” arruma uma desculpa pseudocientífica para retirar os poderes empáticos de Deanna Troi, em uma tentativa de desenvolver melhor a conselheira da Enterprise. Até consegue, mas com uma boa dose de exageros e variações sobre o mesmo tema.

A história repete essencialmente a mesma mensagem o tempo todo – Troi sem sua empatia é como uma pessoa que perdeu um dos tradicionais cinco sentidos, ou seja, uma pessoa com necessidades especiais. A ideia é extremamente coerente, mas diz muito mais sobre a espécie da conselheira – betazoide – do que dela própria enquanto indivíduo.

A porção mais divertida da história é ver a conselheira perdida em seu próprio ambiente de trabalho. Normalmente, Troi chega a ser irritante com sua arrogância empática, sempre capaz de antecipar as sensações das pessoas com quem está falando.

Por isso, é um colírio para os olhos vê-la totalmente perdida com uma tripulante que vem em busca de aconselhamento. Troi nos mostra claramente que ela como terapeuta é uma ótima empata. Parece que os instrumentos teóricos que ela aprendeu na escola de psicologia são totalmente inúteis se ela não tiver a empatia como apoio para a análise. Chega a ser irônico vê-la em negação, depois de diagnosticar a negação da tripulante que tratava antes de a crise começar.

No fim das contas, o que era para ser um episódio para fortalecer a personagem – em geral tão maltratada pelos roteiros de A Nova Geração – acabou enfraquecendo-a, por mostrar sua profunda dependência da empatia e a perda da racionalidade.

O estrago só é amaciado porque, ao fim, Troi conseguiu superar suas dificuldades e auxiliar Data a elaborar um plano para salvar a nave da corrente de grávitons gerada pelos seres bidimensionais que estava levando a nave para sua destruição na corda cósmica.

A parte “falsa encrenca” da história se superou no quesito tecnobaboseira. A ideia de seres bidimensionais é, por si só, muito interessante (nós mesmos somos seres tridimensionais em um ambiente quadridimensional), mas, somada à história da corda cósmica (que surge como uma possibilidade em alguns modelos cosmológicos, mas jamais foi observada), a coisa toda ficou meio confusa e sem sentido.

Um exemplo clássico da ideia de seres bidimensionais está no clássico livro Flatland, de Edwin Abbott. Nele, Abbott conta a história de polígonos que vivem em um plano, até que um deles descobre que existe uma terceira dimensão. O impacto da descoberta pode ser comparado à constatação de Albert Einstein de que o tempo não passa de uma quarta dimensão, somadas às três (largura, altura e profundidade) que estamos equipados para perceber intuitivamente.

Como nota de rodapé, vale mencionar o bom uso que os roteiristas conseguem com a personagem Guinan. Mais uma vez, ela fala pouco, e bem. Também merecem destaque as tomadas da Enterprise, mais eficientes e belas do que nunca. Embora a despedida da nave, na cena final do episódio, dê toda a pinta de que o segmento acabou curto demais e teve de ser esticado ali para cumprir o tempo.

Avaliação

Citações

“With all due respect, Captain. You don’t know what you are talking about. That is a common belief with no scientific basis, no doubt created by normal people who felt uncomfortable around the disabled. I am disabled, and I’m telling you I cannot perform my duties.”
(Com todo respeito, capitão. Você não sabe do que está falando. Essa é uma crença comum sem base científica, sem dúvida criada por pessoas normais que se sentiam desconfortáveis em meio a deficientes. Eu sou deficiente e estou dizendo que não posso cumprir meus deveres.)
Troi, passando um sabão em Picard

Trivia

  • Rick Berman se mostrou fascinado com esta premissa. “Eu fiz muita campanha por esse episódio. Era fascinante para mim que alguém perdesse um dos seus sentidos e fosse incapaz de explicar aos outros porque eles não o tinham em primeiro lugar. Se você fosse a única pessoa com visão em uma colônia de cegos e de repente você perdesse sua visão e todos eles dissessem: ‘E daí?’ Era essa a história.”
  • Para Piller, não era exatamente uma nova premissa. “Essa ideia básica era apresentada a nós todas as temporadas, com Troi perdendo seu sentido de empatia. Finalmente, porque precisávamos de um episódio da Troi, dissemos, vamos fazer aqui.”
  • Segundo o showrunner, a equipe de roteiristas considerou por um tempo tornar permanente a perda da empatia de Troi.
  • A trama de ficção científica que circunda o episódio, com os seres bidimensionais e a corda cósmica, foi desenvolvida pela estagiária da sala dos roteiristas Hilary J. Bader.
  • T’lli Beta foi nomeado em homenagem à avó de Hilary Bader, Tillie Bader.
  • O campo de integridade estrutural, uma parte importante dos sistemas da Enterprise, foi mencionado pela primeira vez neste episódio. Também é a primeira menção aos breens, que, como os ferengis, não podem ter suas mentes sondadas por betazoides. Por sinal, também aprendemos que os poderes empáticos dos betazoides residem no cerebelo e no córtex cerebral.
  • Piller acabou não muito satisfeito com o segmento. “Era uma história muito diferente para acertar. Senti que o roteiro era adequado, não é um dos meus favoritos. O problema na concepção é que você tem um fenômeno com que ninguém pode se identificar. Nós dissemos que esse é o nosso episódio do cego, mas não podemos fazer um episódio do cego como outras séries.”
  • Marina Sirtis, por sua vez, reportou enorme entusiasmo dos fãs com necessidades especiais. “Eles vinham até mim e me agradeciam. É exatamente assim que eles se sentem, é o modo como expressei a emoção deles. ‘The Loss’ foi muito, muito popular.”
  • O diretor Chip Chalmers também gostou. “Um episódio com algum conflito de personagens. Havia uma cena em que a Deanna entrava em fúria na enfermaria e realmente brigava com Beverly. As pessoas que viram aquela cena amaram. Whoopi Goldberg também estava neste episódio e, claro, ela é uma joia.”
  • A atriz Kim Branden, que aqui interpreta a alferes Janet Brooks, fez o papel da esposa imaginária de Picard no Nexus, em Jornada nas Estrelas: Generations.

Ficha Técnica

História de Hilary J. Bader
Roteiro de Hilary J. Bader & Alan J. Adler e Vanessa Greene
Dirigido por Chip Chalmers

Exibido em 31 de dezembro de 1990

Título em português: “A Perda”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Whoopi Goldberg como Guinan
Kim Braden como Janet Brooks
Mary Kohnert como Allenby

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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