TNG 4×17: Night Terrors

História explora a importância do sono na manutenção da saúde mental

Sinopse

Data estelar: 44631.2

A Enterprise encontra a nave estelar USS Brattain, desaparecida há muitas semanas, à deriva no espaço. Com a exceção de um tripulante betazoide, todos estão mortos.

Enquanto a Enterprise investiga o acontecido, estranhos eventos começam a ocorrer. Deanna Troi é atormentada por pesadelos enquanto La Forge não consegue religar os motores da Brattain, e a tripulação começa a demonstrar sinais de uma irritabilidade sem sentido.

A dra. Crusher sugere então que possivelmente o que aconteceu a bordo da Brattain, e que vitimou sua tripulação, possa estar começando a ocorrer na Enterprise. Picard decide que é melhor a nave deixar a área, porém descobre que os motores da Enterprise, a exemplo dos da Brattain, não funcionam.

Ao longo dos dias seguintes a tripulação começa a sofrer alucinações e desenvolver sentimentos paranoicos. Descobre-se que a causa é a incapacidade para o sono REM (“rapid eye movement”, ou “movimento rápido dos olhos”), que impede que os tripulantes descansem efetivamente ao longo dos dias e organizem seus pensamentos.

Finalmente, Troi acaba descobrindo por que ela é a única capaz de sonhar: seu pesadelo é na verdade uma mensagem, proveniente de uma outra nave, que também está presa no mesmo fenômeno, uma Brecha de Tyken, que mantém a Enterprise e a Brattain imóveis.

Por meio do sonho, a conselheira consegue estabelecer contato com os alienígenas e estabelecer uma cooperação. Por conta disso, as duas naves conseguem escapar, ao provocar uma explosão que rompe o fenômeno.

Comentários

“Night Terrors” parte de uma questão bastante interessante – o que aconteceria a uma tripulação, caso ela não conseguisse descansar durante o sono?

A ideia de refletir sobre os efeitos da ausência do sono REM entre os tripulantes é interessante, principalmente levando em conta a importância dos sonhos no processo de reorganização das informações no cérebro – muitos cientistas acreditam que seja nesse momento que nossa mente decide que memórias serão gravadas em nosso “disco rígido” e quais serão deletadas de nossa “memória de trabalho”, liberando espaço para mais um dia de experiências.

Em última análise, o que eles fizeram com os personagens foi simular os efeitos de uma noite em claro e multiplicar por dez ou vinte. Os sintomas de paranoia, as sensações de presenças inexistentes e o espírito persecutório é que dão o tom dessa história.

Infelizmente, a execução não foi tão feliz quanto a ideia original poderia permitir. Com o perdão do trocadilho, o episódio chega a ser, em alguns momentos, sonolento. Isso porque não se pode “entregar o ouro” – ou seja, explicar a razão para a perturbação da tripulação – muito rapidamente, a fim de não destruir o mistério.

Essa necessidade acabou obrigando os roteiristas a estender e repetir muitas vezes as cenas em que a conselheira Troi tenta decifrar as palavras desconexas transmitidas telepaticamente por seu amiguinho catatônico resgatado da Brattain – cenas que, além de chatas, são dispensáveis. Deanna não precisava de um outro betazoide para descobrir que seus pesadelos recorrentes eram uma tentativa de comunicação.

Por outro lado, algumas sequências foram extremamente bem-sucedidas, fruto de acertos de roteiro em conjunto com uma boa direção. O melhor exemplo é o momento em que a doutora Crusher se vê às voltas com vários cadáveres que, subitamente, aparecem todos sentados. As trocas de câmera e a convincente atuação de Gates McFadden contribuem para que o telespectador sinta exatamente o mesmo terror vivenciado pela médica.

Outra cena interessante é a que mostra o capitão Picard alucinando e gritando como um louco, sentado no chão do turboelevador, para total perplexidade do pessoal na ponte. Imagine como Jean-Luc, sério e preocupado com sua imagem como ele é, deve ter se sentido ao se ver naquela situação ridícula.

Já a “tradução” do sonho de Troi é uma das melhores sacadas do episódio, e mostra que às vezes é possível fazer bom uso da conselheira. Suas conclusões são totalmente coerentes, e a ideia de estabelecer a cooperação entre as duas naves presas na singularidade é um bom desfecho, apesar da tecnobaboseira necessária à conclusão.

Nota positiva vai para a equipe de maquiagem, que fez um bom trabalho com os cadáveres da Brattain e com os sonolentos tripulantes da Enterprise. Nota negativa fica para as sequências visuais dos pesadelos de Troi, que, embora sejam até esteticamente interessantes, não conseguem ser muito convincentes do ponto de vista técnico. Ou alguém ali realmente teve a impressão de que a conselheira estava voando, em vez de pendurada por fios?

No fim das contas, “Night Terrors” é capaz de entreter, mas não chega perto dos melhores segmentos da temporada. Entre os culpados estão a excessiva alternância entre bons e maus momentos e a falta de ritmo na execução da história.

Avaliação

Citações

“That was setting number one. Anyone want to see setting number two?”
(Essa foi a regulagem número um. Alguém quer ver a regulagem número dois?)
Guinan

“Sir. As my final duty as acting captain, I order you to bed. I shall do the same for all personnel.”
(Senhor. Como meu dever final como capitão interino, eu ordeno que vá para a cama. Farei o mesmo com todo o pessoal.)
Data, para um sonolento Picard

Trivia

  • A roteirista Jeri Taylor comentou: “Esse foi um episódio realmente difícil. Era rebuscado, um pouco misterioso, técnico, quase sobrenatural. Estava em todos os cantos e havia muitos episódios diferentes nele para tentar torná-lo coeso. Eu reescrevi e reescrevi, e nunca achei que fôssemos colocá-lo para dormir. Foi estranho. As sequências de sonho de Troi não são algo que você costuma ver toda semana.”
  • As cenas da Troi voadora consumiram um dia inteiro de produção da segunda unidade, o que era raro para A Nova Geração. Marina Sirtis comentou que seus pedidos por mais cenas de ação com sua personagem acabaram a colocando em maus lençóis. Ela teve de lidar com seu medo de altura para filmar o episódio. “O terror em minha face era real. Eu estava absolutamente apavorada.”
  • Este foi o primeiro episódio filmado em 1991, entre os dias 7 e 15 de janeiro. As filmagens de segunda unidade ocorreram no dia 22.
  • Michael Piller lembra que o ritmo desse episódio era tão lento que o primeiro corte tinha nove minutos a mais, o que exigiu cortes pesados.
  • A USS Brattain era uma redecoração do modelo da USS Reliant, usado em Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan. Na maquete, o nome foi escrito errado, “Brittain”, mas o correto é o que aparece no roteiro e em vários gráficos internos da nave: Brattain. A placa na ponte de comando da Brattain, criada por Michael Okuda, identifica a nave como da classe Miranda (a mesma da Reliant) e indica que seu registro é NCC 21166. Segundo a placa, a nave foi construída na “Yoyodyne Division” (uma referência a Buckaroo Banzai), que fica no Sistema Solar de 40 Eridani-A . 40 Eridani-A é a estrela-mãe do planeta Vulcano.
  • Referências aos nomes de diversos membros da equipe de produção de A Nova Geração podem ser vistos neste episódio. Exemplos: “Mooride Polyronite 4” (Ron Moore), “Takemurium Lite” (David Takemura), “Neussite 283” (Wendy Neuss, produtora associada), “Bio Genovesium” (Cosmo Genovese) e “Hutzelite” (Gary Hutzel).
  • O ator Brian Tochi (alferes Kenny Lin) viveu o pequeno Ray Tsing Tao no episódio “And the Children Shall Lead”, da Série Clássica.
  • John Vickery (Andrus Hagan) viveria Rusot em três episódios da última temporada de Deep Space Nine e o klingon Orak em “Judgment”, de Enterprise.
  • A recepção ao episódio foi quase universalmente ruim na produção, em particular pelas cenas de Troi “voando”, pouco convincentes. Jonathan Frakes classificou-as como “abaixo do nosso padrão”.
  • Marina Sirtis elogiou a trama: “Gostei da história daquele episódio porque era sobre o mundo dos sonhos, e eu sou de ascendência grega, então acredito totalmente que sonhos significam alguma coisa. E não a coisa freudiana, aquele abracadabra. Então foi outro com que pude me relacionar fortemente. Mas eu odiei o voo.”
  • Rick Berman comentou em tom crítico: “Era tudo medicamente acurado, mas meio difícil de seguir e ficou rebuscado. Não acho que houvesse nada muito aterrorizante nele.”
  • Michael Piller atribuiu o mau resultado à retomada após o ano novo. “Foi o primeiro episódio logo depois do Natal e não acho que estava todo mundo totalmente ligado ainda. Como resultado, o nível de energia estava lá embaixo, o timing de todos estava desregulado, e a natureza do problema fez todo mundo começar a interpretar lentamente… Eles estavam falando devagar e depois de um tempo isso fica bem chato. O meio do episódio se arrastou, era lento, chato e frustrante.”
  • O diretor Les Landau diz ter bloqueado o episódio da memória e prefere não discuti-lo por razões que gostaria de não mencionar. Tinha algo a ver com Troi flutuando no espaço.

Ficha Técnica

História de Shari Goodhartz
Roteiro de Pamela Douglas e Jeri Taylor
Dirigido por Les Landau

Exibido em 18 de março de 1991

Título em português: “Terrores na Noite”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Whoopi Goldberg como Guinan
Colm Meaney como Miles O’Brien
Rosalind Chao como Keiko O’Brien
John Vickery como Andrus Hagan
Duke Moosekian como Gillespie
Craig Hurley como Peeples
Brian Tochi como Lin
Lanei Chapman como Sariel Rager
Deborah Taylor como Zaheva

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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