TNG 4×16: Galaxy’s Child

Episódio usa paixonite de holodeck de Geordi para explorar contraste entre fantasia e realidade

Sinopse

Data estelar: 44614.6

Geordi La Forge se prepara para receber uma ilustre visita: a dra. Leah Brahms, projetista-sênior dos motores da USS Enterprise. O engenheiro está empolgado, e não é para menos: há um ano, durante uma crise, ele recriou a imagem de Brahms no holodeck para ajudá-lo a solucionar um problema de engenharia e acabou desenvolvendo interesses românticos por ela. Mas quando a verdadeira Leah chega, Geordi descobre que ela não é nada daquilo que parecia ser no holodeck, dificultando as coisas para o engenheiro.

Enquanto isso, a Enterprise encontra uma criatura que vive no espaço. Ao se aproximar, a nave é atacada e Picard é obrigado a atirar no alienígena, acidentalmente matando-o. Após fazer leituras de sensores, Data descobre que a criatura está grávida.

Apesar do perigo para a nave, Picard decide ajudar, ordenando Crusher a usar os feisers da nave como bisturis para fazer uma cesariana. A operação é um sucesso, com um incômodo inesperado: a criatura acha que a Enterprise é sua mãe.

As energias da nave passam a ser drenadas pela criatura, como se ela estivesse mamando na Enterprise. Geordi e Leah acabam colocando de lado suas diferenças e trabalham juntos na solução do problema – “azedando o leite”. Eles mudam a frequência da energia recebida pela criatura, tornando-a desagradável para ela.

O procedimento faz com que o ser se desprenda do casco, salvando a Enterprise na última hora de um ataque por outras criaturas semelhantes. Após o sucesso do plano, Leah e Geordi acabam se tornando bons amigos.

Comentários

Exibido pela primeira vez em 1991, “Galaxy’s Child” tem um tom profético ao antecipar em alguns anos algo que se tornou cada vez mais relevante com o avançar da revolução da informática – o estreitamento de laços entre pessoas feito por intermédio do computador. Em vez de usar a internet para encontrar alguém, Geordi acaba indo parar no holodeck, onde ele se apaixona pela “imagem virtual” da dra. Leah Brahms.

Embora o paralelismo não seja preciso, muitos dos problemas enfrentados são os mesmos. O principal deles é a inevitável conclusão de que a imagem de uma pessoa na internet não corresponde ao que ela é fora do mundo virtual, por mais honesta que ela esteja sendo.

Não é uma questão de fingimento. O fato é que as pessoas se comportam de forma diferente quando estão conversando virtualmente – algumas características são exacerbadas, outras desaparecem, algumas surgem do nada. Timidez, por exemplo, é bem menos comum virtualmente do que em pessoa.

Outro problema desse tipo de contato é citado pela própria Guinan, em conversa com Geordi. “Você viu o que queria ver”, ela disse. Na internet, a coisa funciona do mesmo jeito. A quantidade de informação que você recebe de uma pessoa é mínima – em geral, é preciso preencher as lacunas com a imaginação.

No fim, Geordi e Leah conseguem romper essas diferenças “virtuais”, estabelecendo um novo e sólido relacionamento de amizade. Não é o que o engenheiro esperava, mas é o que sobrou, depois de retirado o “visor” que o fazia ver somente o que queria.

O “recado” do episódio é exposto de forma sutil e é mais um lembrete de que a condição humana não pode ser reproduzida em computador. Assim sendo, funciona duplamente como continuação do episódio “Booby Trap”, da temporada anterior. Além de ser uma continuação de fato, trazendo elementos da história anterior para o novo episódio, também é uma continuação no plano das ideias – a defesa de que o ser humano não pode e não deve ser substituído por máquinas.

A história envolvendo a criatura espacial também é interessante e mantém o espírito de exploração pioneira que tanto fascina em Star Trek. Graças a ela também temos bonitas cenas de efeitos visuais, como as criaturas do cinturão de asteroides, o nascimento do “Junior” e o ataque da criatura-mãe.

Há um uso pioneiro de CGI (imagens geradas por computador) na criação dessas cenas. Em algumas tomadas, as criaturas não são modelos, mas imagens eletrônicas. Hoje em dia isso é corriqueiro, mas em 1991 era uma grande novidade. (As cenas receberam um banho de loja na remasterização em alta definição, o que agregou ainda mais a elas, preservando o espírito do original.)

Por fim, vale dizer que o episódio traz para o primeiro plano Geordi La Forge, em uma tentativa de melhor desenvolver seu personagem. Embora se mostre uma figura simpática e carismática, Geordi infelizmente não teve a chance de se desenvolver muito ao longo da série, como o fizeram Data ou Worf.

Os episódios que trazem Geordi como destaque normalmente batem nas mesmas teclas. A da vez é a dificuldade do engenheiro em lidar com as mulheres, algo que já havia sido usado intensivamente em “Booby Trap” e que mais uma vez o coloca em maus lençóis aqui (a situação toda é muito mal vista por LeVar Burton, que considera essa sua maior frustração com a série). Um uso mais interessante do personagem foi feito em “The Enemy”, do terceiro ano, mas acabou sendo desprezado ao longo da série como um possível gancho para elevá-lo a um novo patamar.

Avaliação

Citações

“Hi… I mean, welcome aboard, doctor Brahms. I am Lt. Commander Geordi La Forge, Chief Engineer.”
(Oi… quer dizer, bem-vinda a bordo, doutora Brahms. Eu sou o tenente-comandante Geordi La Forge, engenheiro-chefe.)
“La Forge… So you’re the one who’s fouled up my engine designs.”
(La Forge… então você é o sujeito que bagunçou meus designs do motor.)
Geordi La Forge e Leah Brahms

“Captain, I’d like to announce the birth of a large baby… something.”
(Capitão, gostaria de anunciar o nascimento de um grande bebê… alguma coisa.”)
Beverly Crusher

Trivia

  • O showrunner Michael Piller comentou: “Sempre senti que a ideia de ter realidade versus fantasia era um tema interessante para explorar, e a personagem de Leah Brahms nos permitiu fazer isso neste episódio. Esse foi um dos melhores conceitos que tivemos no ano todo.” Ele também falou da outra trama do episódio: “Achei que a ideia de uma criatura alienígena adotando a Enterprise como sua mãe era algo que você não pode fazer em nenhuma outra série.”
  • Maurice Hurley, que foi o roteirista-chefe na segunda temporada, volta a colaborar com um roteiro. Mas o texto final ganhou polidas de Jeri Taylor (na trama de Geordi e Brahms) e Ronald D. Moore (na trama do bebê).
  • O título do episódio tem duplo sentido, já que a Enterprise é uma nave da classe Galaxy, e a criatura a toma por sua mãe.
  • Este foi o último episódio filmado em 1990, entre os dias 13 e 21 de dezembro.
  • Uma cena cortada trazia Picard e Worf recitando uma canção de ninar.
  • A criatura espacial foi em parte representada por um modelo de fibra de vidro criado por Tony Meininger e um modelo gerado em computador (CG) criado pela empresa Rhythm & Hues.
  • Rick Berman ficou bem satisfeito. “São duas ótimas histórias. Primeiro, a da mulher fantasia que Geordi acha que conheceu, e não conheceu, e agora tem de conhecê-la; e a história simultânea do bebê espacial preso à nave. São duas histórias muito legais que funcionaram bem juntas.”
  • O diretor Winrich Kolbe elogiou o papel de La Forge. “LeVar Burton fez um bom trabalho nele, e tenho de dizer que gosto do episódio.”
  • Nem todo mundo vê a história com os mesmos olhos, contudo. O escritor Keith R.A. DeCandido, que já produziu romances de Star Trek, criticou o conteúdo, dizendo que ele faz de La Forge “um estuprador virtual não arrependido”. Para ele, o episódio é “moralmente repreensível”, ao premiar La Forge por suas atitudes.
  • A atriz April Grace, que aqui faz a técnica do transporte da Enterprise, voltaria décadas depois a Star Trek como a almirante Sally Whitley, em “The Star Gazer”, da segunda temporada de Picard.

Ficha Técnica

História de Thomas Kartozian
Roteiro de Maurice Hurley
Dirigido por Winrich Kolbe

Exibido em 11 de março de 1991

Título em português: “Expectativas”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Whoopi Goldberg como Guinan
Susan Gibney como Leah Brahms
Lanei Chapman como Sariel Rager
Jana Marie Hupp como Pavlik
April Grace como técnica do transporte

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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