TNG 6×03: Man of the People

Mais uma tentativa em explorar Deanna Troi resulta em episódio previsível

Sinopse

Data estelar: 46071.6

Após um combate no espaço, a Enterprise recebe a missão de transportar o embaixador lumeriano Ves Alkar e sua mãe, Sev Maylor, a Rekag-Seronia, a fim de negociar um cessar-fogo. Troi estabelece uma relação cordial com o embaixador, a despeito de a mãe estar sempre amarga e a ofendendo. Algum tempo depois, ela morre, e Alkar pede que Troi participe de um ritual funerário. Os dois estão segurando cristais e, quando um toca no outro, alguma forma de energia se transmite, e Troi fica chocada, sem saber o que houve.

Logo a conselheira começa a se comportar de forma inusual, lasciva e agressiva com todos ao redor, menos Alkar, por quem desenvolve uma forma de obsessão – não muito diferente do que a mãe dele parecia ter.

Crusher quer fazer uma autópsia para investigar a morte de Sev Maylor, que parecia muito idosa, mas não tinha enfermidade aparente, embora manifestasse níveis altíssimos de neurotransmissores. Alkar veta, alegando costumes contrários.

Na chegada a Rekag-Seronia, Alkar vai se transportar para o planeta e iniciar as negociações, e Troi – agora parecendo muito envelhecida e totalmente descontrolada – insiste em ir com ele. Isso a ponto de tentar atacar com uma faca uma colega de Alkar com quem se encontrara, na sala de transporte. Picard acaba ferido, e Troi é levada à enfermaria.

Está claro que a mesma coisa que afetava Sev Maylor também ataca Troi, e Picard finalmente autoriza a autópsia. Com a revelação de que ela na verdade tinha 30 anos e não era mãe de Alkar, Picard desce ao planeta para confrontá-lo. Ele revela que ela era apenas o último de seus muitos receptáculos – pessoas a quem ele se liga e para quem direciona todos os seus sentimentos negativos, a fim de fazer um bom trabalho como negociador.

Picard diz que Alkar irá pagar por isso e insiste em que o elo com Troi seja quebrado, mas ele se nega. Soldados armados forçam Picard e Worf a voltarem à Enterprise. No planeta, as negociações prosseguem rumo ao sucesso. Na nave, forma-se um plano: Crusher vai literalmente matar Troi, para desfazer o vínculo com Alkar, e depois ressuscitá-la. Enquanto isso, Picard se cerca de cuidados para que o embaixador não faça de sua colega a próxima vítima.

Suplantando os escudos do planeta, Alkar é transportado a bordo com sua colega e vê Troi morrer. Em seguida, vai para seus aposentos e inicia o ritual com sua colega lumeriana. Antes que ele consumasse o novo vínculo, Troi é ressuscitada e a colega é transportada dos aposentos. A interrupção gera um refluxo de volta para Alkar, que envelhece rapidamente até a morte, enquanto Troi rejuvenesce, pondo fim a seus crimes.

Comentários

“Man of the People” padece do mesmo mal que praticamente todo episódio produzido até este momento da série com o objetivo de explorar Deanna Troi: ele aborda a personagem de forma extremamente superficial, como se ela não fosse mais que “a personagem empata da nave”.

Além desse problema crônico (que tem muito mais a ver com a visão míope dos produtores e roteiristas para com a conselheira do que com um defeito exclusivo do episódio), temos uma história que se revela extremamente previsível desde o momento em que Troi repara suas primeiras olheiras em frente ao espelho.

Até esse ponto, o episódio conseguia se manter sob uma certa aura de suspense, mas dali em diante é só uma questão de observarmos quanto tempo vai levar para Picard e sua tripulação descobrirem o que sabemos desde o início. O que, em certas circunstâncias, poderia até funcionar, mas aqui deixa um pouco a desejar.

Com um episódio previsível e sem reviravoltas, resta procurar as qualidades. Elas certamente não são encontradas no embaixador Alkar, interpretado por Chip Lucia. O ator tem aqui a expressividade de uma porta.

Por outro lado, o segmento consegue explorar de forma interessante a rotina de Deanna Troi como conselheira da nave. Pela primeira vez, temos a noção de que ela está lá para mais coisas do que simplesmente se sentar na ponte e dizer ao capitão quando o alienígena da semana tenta esconder algo. Ela tem um trabalho bastante importante, ajudando a administrar os problemas interpessoais da nave e avaliando o pessoal em serviço. Se os produtores nunca conseguiram encontrar uma boa função para Troi na série, pelo menos na nave ela mostrou ter um papel importante.

Outro ponto bem desenvolvido foi a relação de ternura e afeição de Deanna e Will Riker. Sabemos desde o primeiro episódio da série que os dois estavam afetivamente ligados e tinham um passado juntos, mas são raras as vezes em que tivemos a chance de ver o amadurecimento da relação dos dois, transcendendo a situação de “ex-namorados” para se tornarem realmente confidentes um do outro. Um bonito relacionamento, que é retratado de forma bastante real aqui.

Quem também sai ganhando é Beverly Crusher. Apesar de a médica geralmente ter pouca participação na série (provavelmente o mais esquecido de todos os personagens regulares), não dá para se cansar de ver a determinação da doutora em solucionar os problemas da sua alçada. Mesmo antes de Deanna manifestar qualquer sintoma, ela já estava com a pulga atrás da orelha pela morte da suposta mãe de Alkar. E não desistiu da investigação nem quando Picard ordenou que ela não fizesse a autópsia, procurando pistas nos registros do transporte. Certamente Beverly é uma fonte de inspiração para todos aqueles que sabem o quanto a obstinação faz parte da prática médica.

No sentido de criar contextos a bordo da Enterprise, a aula de mok’bara, uma tradição klingon, dada pelo tenente Worf também é interessante. É meio ridículo que Alkar esteja nela, mas, mesmo assim, foi uma forma melhor de permitir mais contato entre Deanna e Alkar do que simplesmente inserindo mais uma “cena de corredor”. E a oportunidade também consegue mostrar o que faz o tenente Worf quando não está na ponte sugerindo disparos de torpedos fotônicos.

Algumas cenas do episódio são divertidas, embora em geral sejam de comédia involuntária. Quando Troi, alterada por Alkar, dá uma bela entortada na pobre alferes Janeway (seria parente da capitão?), é difícil não rir da cara desconcertada da oficial frustrada. E quando Deanna quase arranca o couro de Riker também é impossível deixar de rir, embora o tom da cena seja intencionalmente dramático.

De fato, “Man of the People” é uma história limitada escorada em um ator convidado com pouco carisma, e seu principal objetivo na série, desenvolver Deanna Troi, acaba sendo frustrado. Apesar de tudo que aprendemos do cotidiano da conselheira, sua psique permanece mais unidimensional do que nunca. É o preço que se paga por ser empata em uma produção em que todos os roteiristas não o são…

Avaliação

Citações

“You cannot explain away a wantonly immoral act because you think that it is connected to some higher purpose!”
(Você não pode justificar um ato arbitrariamente imoral só porque acha que está conectado a um propósito mais elevado!)
Jean-Luc Picard a Ves Alkar

Trivia

  • “Relics” originalmente estava planejado para ser filmado em lugar deste episódio, mas acabou sendo empurrado para a próxima posição na fila de produção para acomodar a agenda do astro convidado James Doohan. Isso fez com que “Man of the People” fosse escrito às pressas. A equipe inteira trabalhou nele, com cada roteirista escrevendo um ato, e coube a Frank Abatemarco costurar o material todo.
  • A premissa do episódio é baseada em O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde. Tanto Dorian Gray quanto Ves Alkar mantêm uma aparência jovem ao ter algo mais (no caso de Gray, um retrato de si mesmo) para carregar o peso de suas transgressões. O transporte no começo do episódio é chamado de Dorian em referência ao romance.
  • O consultor científico Naren Shankar foi o responsável pela sugestão de como se poderia virar o elo telepático entre Alkar e Troi. “Era um roteiro difícil e havia coisas nele que mudaram várias vezes”, relembrou. “Minha ideia original é que esse elo psíquico criava algum tipo de conduíte entre os dois, e minha ideia era tê-los fazer algo que não era mental, mas que fosse físico, como basicamente aumentando a carga dela. Se era uma ligação de uma via entre este cara e Troi, a ideia era colocar tanta energia em Troi que ela poderia forçar na direção oposta da transferência e sobrecarregar o cara e se livrar de toda aquela energia em seu corpo.” Já a sacada de matar Troi veio de Ronald D. Moore e Brannon Braga, o que Shankar considerou um “belo toque”.
  • Comentando sobre sua atuação neste episódio, Marina Sirtis disse: “Eu interpretei como se estivesse reprimindo partes de Troi que ela controlava ou conseguia suprimir. E apenas olhar o espelho era tudo que eu precisava para mudar. Quando olho no espelho e vejo Troi, é um visual gentil e suave. Na cena no bar panorâmico em que meu cabelo está armado, eu vi Anne Bancroft no espelho. Eu vi a Sra. Robinson, e foi isso que interpretei. Basicamente, muito da performance é governada pelo visual. Alguns atores dizem que põem os sapatos dos personagens primeiro e descobrem o jeito de andar. Eu olho no espelho e interpreto o que eu vejo no espelho – especialmente quando é uma coisa de maquiagem, como em ‘Man of the People’, em que a pessoa velha era uma bruxa e era isso que eu via no espelho, então interpretei uma bruxa.”
  • Este foi o primeiro episódio de A Nova Geração a ter Jonathan West como diretor de fotografia, com a saída de Marvin V. Rush para ocupar a função em Deep Space Nine.
  • Jeri Taylor comentou que foi uma estreia injusta para Frank Abatemarco, que era um escritor veterano, mas teve pouco tempo (e muita dificuldade) para lidar com a história. René Echevarria até elogiou, em retrospecto: “Era um roteiro surpreendentemente bom, considerando que cinco pessoas o escreveram.”
  • O diretor Winrich Kolbe gostou. “Há obviamente alguns problemas com o roteiro, mas o que me intriga é pegar um roteiro que tem problemas e sair com um episódio bem bom. A Marina estava incrível. Ela sabia que era um episódio dela e se preparou para ele. Acho que a única coisa que eu fiz ocasionalmente foi empurrá-la um pouco mais para ser vampiresca.” Michael Piller e Ron Moore também acharam que a atuação de Sirtis, “sexy, mas assustadora”, elevou o episódio.
  • Chegou a se cogitar que, em vez dessa história, o terceiro episódio da sexta temporada fosse uma trama com Q, que reapareceria para criar irmãos gêmeos da tripulação, no estilo do episódio “The Enemy Within”, da Série Clássica. A ideia de René Echevarria, contudo, foi abandonada, e Frank Abatemarco acabou escalado para escrever uma história sobre Deanna Troi.
  • Neste episódio ficamos sabendo que o quarto da conselheira Troi fica no deck 9 da Enterprise.

Ficha Técnica

Escrito por Frank Abatemarco
Dirigido por Winrich Kolbe

Exibido em 5 de outubro de 1992

Título em português: “O Homem do Povo”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Chip Lucia como Ves Alkar
Patti Yasutake como Alyssa Ogawa
George D. Wallace como Simons
Lucy Boryer como Janeway
Susan French como Sev Maylor
Rick Scarry como Jarth
Stephanie Erb como Liva
J.P. Hubbell como alferes
Majel Barrett como voz do computador

Enquete

TS Poll - Loading poll ...

Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

Episódio anterior | Próximo episódio