VOY 3×11: The Q and the Grey

Janeway interfere em guerra dos Q e quase vira a “primeira-dama do cosmo”

Sinopse

Data estelar: 50384.2

Depois que a tripulação da Voyager testemunha de perto uma supernova, fenômeno que acontece apenas uma vez a cada século nesta galáxia, Q aparece nos alojamentos da capitão com uma proposta: ele quer que ela carregue seu bebê. Janeway recusa de cara, mas Q é persistente. Ele reaparece diversas vezes, e, embora Janeway admita que gostaria de ter um filho algum dia, ela afirma que não será com ele — o que deixa aliviada uma ciumenta mulher Q que aparece na nave.

Depois que a tripulação assiste a uma terceira supernova, eles começam a suspeitar que Q pode estar por trás das explosões. Temendo o impacto que as ondas de choque do fenômeno cósmico teriam sobre a Voyager, Janeway pede a Q que faça algo a respeito. Como resposta, ele transporta a capitão para o Continuum Q, que desta vez se manifesta como as colônias do sul dos Estados Unidos em plena Guerra Civil.

O conflito é uma repercussão da morte de Quinn, o Q que cometeu o suicídio a bordo da Voyager um ano antes. Sua morte trouxe o caos ao Continuum. Agora o status quo dos Q luta uma sangrenta batalha contra os Q que, como Quinn, acreditavam no individualismo. Um dos efeitos do conflito é a frequência pouco convencional das supernovas, causadas pelas descontinuidades espaciais no Continuum. Para acabar com a guerra, Q decidiu criar uma nova linhagem de Q, que incorporaria as melhores qualidades humanas.

Na Voyager, Chakotay pergunta à mulher Q sobre a guerra e eles concordam em unir forças. Ela ajuda a nave a entrar no Continuum, onde Janeway encoraja Q a associar-se com a mulher Q. Enquanto ele considera a ideia, Janeway visita o campo inimigo para discutir o cessar-fogo. Em nome de Q, ela oferece uma trégua, mas o coronel opositor decide pôr fim ao conflito executando Q — e sentenciando a capitão à morte por colaborar com o inimigo.

Encarando o batalhão, Q declara a inocência de Janeway e pede que a vida dela seja poupada. O coronel ignora o pedido, mas uma cavalaria — formada pela tripulação da Voyager e a mulher Q — vem para o resgate. Q acaba concordando com a ideia de Janeway e pede à mulher Q que conceba o seu filho. Eles se tocam com a ponta dos dedos e a paz reina novamente no Continuum. Mais tarde, Q visita a capitão com seu filho e pede que ela seja a madrinha da criança.

Comentários

Qualquer episódio de Jornada em que John de Lancie aparece como o instável Q está condenado a ser bom entretenimento. “The Q and the Grey” não foi diferente. Aliás, teve sim uma diferença. O humor também dominou o set de filmagens — lembrando que Kate Mulgrew e De Lancie são amigos de longa data. A produção sucedeu com mais naturalidade.

O primeiro mérito da história — além, é claro, da atuação de de Lancie, que dispensa maiores comentários — é a continuidade que estabelece com o clássico episódio “Death Wish”, da temporada anterior. E foi feito um bom trabalho. Os roteiristas mostraram a repercussão que a morte de Quinn, o Q que cometeu o suicídio a bordo da Voyager, teve sobre o Continuum Q. A ideia da linguagem figurada para representar o Continuum é um bom artifício que a produção escolheu para não ter que desvendar o que se passa lá. Mas, é claro, eles tinham que representá-la como a Guerra Civil dos Estados Unidos…

O roteiro se dividiu em duas tramas principais: a luta pelos direitos do indivíduo no Continuum, e as intenções românticas de Q para com a capitão. É aí que a história se perde. Que Q sempre se intrigou com a humanidade não há dúvidas, motivo que justificaria a escolha de Janeway como mãe de seu filho. Agora, os motivos por que queria ter uma criança não são convincentes. Como um ser onipotente e onipresente não saberia que as chamadas “melhores qualidades humanas” não se tratam de determinismo biológico? Q sabe, mais do que ninguém, que a humanidade se tornou o que é pelo aprendizado de séculos e não por causa de seu DNA. Qualquer ser de uma “espécie intelectualmente limitada” — como insistia em dizer a mulher Q, referindo-se aos humanos — saberia disso.

Também não fica exatamente claro como a Voyager entra no Continuum Q por meio da explosão de uma supernova. A boa e velha “tecnobaboseira” deve se encarregar da resposta.

É por isso que a atenção deve ser dada à carga humorística da história. Sobretudo, a interação entre Q e Janeway, e a mulher Q e a tripulação da Voyager. O casal da semana vive momentos hilários, principalmente no começo do episódio, quando Q tenta cortejar a capitão com presentes e palavras. As cenas da “namorada” de Q com Chakotay, Tuvok e B’Elanna também estiveram entre as melhores. A mulher sempre tentava rebaixá-los com seu ar de superioridade, mas acabava tendo que se calar.

Engraçada também — mas pouco plausível — foi a participação da tripulação da Voyager na batalha dos Q. Engraçado foi ver Tuvok, com suas orelhas e sobrancelhas vulcanas em um uniforme militar norte-americano do século 19, e Paris rendendo o coronel Q. Mas foi pouco plausível ver um grupo de humanos amedrontando o poderoso Continuum Q, que até então mostrava qualidades divinas. Isto, no entanto, passa a ser uma tendência em Voyager a partir da terceira temporada: o enfrentamento direto e destemido dos inimigos mais ferozes da Federação, por exemplo os borgs.

Enfim, ao final da história a paz é restaurada no universo e a capitão sai como heroína e madrinha de um Q — algo que também terá uma repercussão, no último ano da série. Só não dá para entender outras duas coisas. A primeira é por que a Voyager ainda está no Quadrante Delta. O mínimo que os Q poderiam ter feito é tê-los mandado de volta para casa como sinal de gratidão. O outro ponto são os comentários de Janeway no acampamento, enquanto cuidava de Q, quando disse que a tripulação não buscava um conserto rápido para sua situação, mas queria chegar em casa através de trabalho árduo e determinação. Isto contradiz muito do que foi dito na série, e muito do que será feito também.

Avaliação

Citações

“Out of all the females, of all the species, in all the galaxies, I have chosen you to be the mother of my child.”
(De todas as fêmeas, de todas as espécies, em todas as galáxias, eu a escolhi para ser a mãe do meu filho.)
Q

“Sorry, but I’m busy for the next 60 or 70 years.”
(Desculpe, mas estou ocupada pelos próximos 60 ou 70 anos.)
Janeway

“What are you doing with that dog? I’m not talking about the puppy.”
(O que você está fazendo com aquela cadela? Eu não estou falando do filhote.)
mulher Q

“The Vulcan talent for stating the obvious never ceases to amaze me.”
(O talento vulcano de afirmar o óbvio nunca deixa de me surpreender.)
mulher Q

“Well, here’s another fact: if don’t stop pastring me, I’m never going to finish. In which case your eternal association with Q might not be quite eternal as you think.”
“You know I’ve always liked Klingon females. You’ve got such… spunk.”
(Bom, eis um outro fato: se você não parar de me atormentar, eu nunca vou terminar. Nesse caso, a sua associação eterna com o Q não será tão eterna quanto pensa.)
(Sabe, eu sempre gostei das mulheres klingon. Vocês têm tanta… coragem.)
B’Elanna e mulher Q

Trivia

  • O episódio mostra a repercussão da morte de Quinn — a entidade que se tornou mortal a bordo da Voyager em “Death Wish”— sobre o Continuum Q.
  • Esta é a segunda aparição de John de Lancie (Q) em Voyager; na sétima e última temporada da série o ator retorna para a sua última participação em Jornada até então. Mais de duas décadas depois, ele reprisaria o papel de Q em “Veritas”, de Lower Decks (em 2020), e em oito episódios da segunda temporada de Star Trek: Picard (em 2022).

Ficha Técnica

História de Shawn Piller
Roteiro de Kenneth Biller
Dirigido por Cliff Bole

Exibido em 27 de novembro de 1996

Título em português: “Guerra Civil”

Elenco

Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B’Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Jennifer Lien como Kes
Ethan Phillips como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Tim Russ como Tuvok
Garret Wang como Harry Kim

Elenco convidado

John de Lancie como Q
Suzie Plakson como mulher Q
Harve Presnell como coronel Q

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Edição de Stéphanie Cristina
Revisão de Nívea Doria

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