TNG 6×05: Schisms

Abduções de relatos ufológicos não fazem muito sucesso no século 24

Sinopse

Data estelar: 46154.2

A Enterprise está estudando o aglomerado Amargosa, um agrupamento estelar que ocupa uma vasta região do espaço. Para acelerar o trabalho, La Forge propõe uma mudança nos sistemas. Com a aprovação de Riker, ele redireciona a energia do motor de dobra para a grade do defletor principal, e a ideia parece funcionar, aumentando a potência dos sensores.

Após alguns minutos, entretanto, o plano parece dar errado, quando os sensores internos da nave indicam a ocorrência de uma explosão na Área de Carga. Quando Geordi, Data, Riker, Crusher e Worf correm para verificar, eles ficam impressionados ao descobrir que na verdade nada aconteceu. Ao que parece, não houve explosão, apenas uma falha dos sensores causada pelas modificações de Geordi.

Enquanto isso, vários tripulantes começam a experimentar estranhos sintomas. Riker luta contra uma exaustão cada vez pior, embora Crusher não detecte nada de errado com ele. Worf e Geordi sofrem dores agudas repentinas e ansiedade. Até Data experimenta uma estranha sensação, quando ele parece ter “perdido” uma hora e meia de sua vida, como se elas tivessem passado instantaneamente. Geordi percebe que todos que são afetados tiveram contato com a Área de Carga. Ele ordena uma investigação da causa e logo descobre uma estranha distorção subespacial naquele compartimento.

Data e Geordi relatam a Picard que as modificações feitas pelo engenheiro nos sistemas atraíram um feixe de partículas alienígena que normalmente não pode existir neste universo. Mais tarde, Geordi se junta a Worf e Riker para falar sobre as estranhas sensações, que parecem estar relacionadas a um fator comum a todos eles. Conversando com Troi, eles percebem que alguma experiência de seu passado parece estar os afetando. Todos se lembram de uma mesa, fria e dura.

O grupo vai ao holodeck, na esperança de que possam guiar o computador a reconstruir suas memórias por estímulos visuais. Conforme eles vão dando mais e mais detalhes ao computador, surge um equipamento que mais parece uma sinistra sala de operações.

Data informa a Picard que um nível intenso de tétrions está presente na nave estelar. Ainda mais perturbador, entretanto, é a descoberta do androide de que ele de fato esteve fisicamente ausente da Enterprise por cerca de 90 minutos. Picard imediatamente pergunta ao computador se há membros da tripulação desaparecidos – há dois, sem relatos de aonde podem ter ido.

O mistério se intensifica quando Beverly examina Riker e descobre que seu braço foi amputado e cirurgicamente reimplantado. Geordi e Data voltam à Área de Carga, onde os níveis de tétrions estão causando uma ruptura espacial. Mas antes que eles possam investigar mais, Picard e a tripulação descobrem que um dos tripulantes desaparecidos voltou à nave. Eles correm até seus aposentos, onde o homem, agonizando em dor, morre diante deles. Percebendo que ele pode ser o próximo, Riker é voluntário para usar um aparelho sinalizador que ajude a determinar para onde as vítimas estão sendo levadas.

Abduzido, Riker se encontra em um laboratório alienígena similar ao local recriado no holodeck. A outra tripulante desaparecida, alferes Rager, está passando por algum tipo de experimento médico, fortemente sedada. Ao mesmo tempo, sombrias criaturas alienígenas tiram seu aparelho sinalizador e tentam sedá-lo, mas Riker apenas finge estar inconsciente (Crusher havia injetado uma substância nele para reagir ao sedativo alienígena).

Enquanto isso, a tripulação da Enterprise usa o aparelho sinalizador para determinar o paradeiro de Riker. Os alienígenas criam uma ruptura naquele ambiente, uma que o pessoal da nave tenta fechar. Conforme os alienígenas tentam compensar a atividade da Enterprise, Riker consegue pegar Rager e correr pela ruptura, levando-o de volta. Os dois escapam e a ruptura é fechada, mas ainda há a desconfortável possibilidade de que essa força misteriosa volte a atacar no futuro.

Comentários

Não importa por qual ângulo se olhe, “Schisms” é um episódio bem fraco. Se você é fã de tecnobaboseira, vai se decepcionar – ela está presente às toneladas aqui, mas nunca foi tão mal utilizada. Se você gosta de desenvolvimento de personagens, desapareça, pois este aqui não vai falar nada sobre ninguém. Se você gosta de alienígenas interessantes, nem passe perto, pois não aprendemos absolutamente nada sobre esses aqui. Se você gosta de metáforas e analogias com o mundo real, esqueça – a não ser que você considere plausível que aquela sua noite de sono mal dormida tenha sido fruto de uma abdução por alienígenas.

Na verdade, tudo se resume a isso mesmo: uma tradicional história de abdução por alienígenas, como é contada nos filmes e contos contemporâneos baseados em relatos ufológicos. O problema é que, no universo de Star Trek, não basta ser alienígena para ser assustador. E os métodos tradicionalmente usados para abduções são simplistas demais para o povo da Enterprise. Seria preciso elevar a complexidade do processo de rapto enormemente para tornar a história vibrante o suficiente para funcionar nos termos da série futurista.

O resultado dessa necessidade se traduz em catástrofe no roteiro. Ao mandar os alienígenas para uma das “n” dimensões do subespaço e permitir que eles arbitrariamente sequestrem os tripulantes da Enterprise que passaram pela Área de Carga é um remendo capenga para adaptar a história. Isso porque nunca foi estabelecido direito o que é o “subespaço”, ou como ele funciona. Em outras palavras, ele pode funcionar aqui do jeito que o roteirista quiser. Ou, dizendo mais diretamente, ele é a conveniência de roteiro por excelência.

Quando as ações e reações de um episódio são determinadas por partículas, feixes, distorções e anomalias que sequer podemos imaginar em que princípios se baseiam, perde todo o sentido tentar acompanhar a história com o objetivo de entendê-la. A audiência fica à margem da “razão” por trás das coisas. Cabe a ela apenas acompanhar para ver como tudo termina. Não existe coisa mais horrível que um episódio pode fazer com um telespectador do que colocá-lo à margem do entendimento. Como ele poderá antecipar o próximo movimento, ou ansiar por uma solução que ele imagina possível, se tudo que existe ali são tétrions e anomalias do subespaço?

Ainda se toda essa tonelada de conveniências produzisse drama envolvente, vá lá. Mas não é o caso aqui. No máximo temos um mistério que, como dito antes, não é facilmente abordável pelo espectador. E um efeito direto de mover o enigma a tecnobaboseira sem sentido em quantidades absurdas é que o roteiro fica com mais furos do que um queijo suíço. Quer exemplos? Como Data pôde ser “apagado” pelos alienígenas, se eles usavam um sedativo para esse fim? Como ele pôde não se “lembrar” do fato de ter ficado desligado por 90 minutos? Ou como Data poderia ter sido arrastado para o ambiente alienígena sem saber, uma vez que ele não dorme, como os outros? Ou por que Riker não sentia o tempo passar durante a noite, se ele de fato a gastava dormindo (ainda que sedado)? Há mais, se continuarmos aqui pensando, mas não é necessário.

Não fosse só pelo fracasso da premissa, a execução também é terrível. O segmento todo é conduzido em um ritmo super arrastado, que culmina com a terrível sequência da “reconstrução” da mesa de cirurgia no holodeck. Quantos minutos não são jogados fora ali, em algo tão pouco empolgante? A “fuga” de Riker da sala dos alienígenas é igualmente patética, assim como sua simulação de estar sedado. Sorte que os camaradas não resolveram amputar a perna dele, ou ele estaria urrando de dor até agora…

A aparência dos alienígenas é decepcionante, e suas motivações são tão pouco claras quanto as dos que, dizem as más línguas nos círculos ufológicos por aí, curtem picotar gado e depois atirar a carcaça de volta à Terra.

As únicas cenas que valem alguma coisa são a do barbeiro Mott com Worf e a demonstração de “apreciação” de Riker pela poesia de Data. De resto, “Schisms” é uma perda de tempo.

Avaliação

Citações

“I’ve been in this room before.”
“We’ve all been here before.”
(Já estive nessa sala antes.)
(Todos nós estivemos aqui antes.)
Geordi La Forge e William Riker

Trivia

  • O episódio é confessadamente inspirado nas histórias populares de abdução alienígena. O designer de cenários Richard James comparou-o a Contatos Imediatos do Terceiro Grau. Brannon Braga comentou: “Ser sequestrado por alienígenas não é muito novo. Eu estava mais interessado naqueles quatro primeiros atos, o mistério e a estranheza e ver nosso pessoal enlouquecendo, que é algo que você não vê com frequência.”
  • Um aspecto que Braga elogiou do episódio foi a leitura de poesia do Data. “A coisa que é legal do teaser é que ele está avançando o enredo, com Riker caindo no sono, embora você não pense que isso vá ter qualquer coisa a ver com a história.”
  • Brent Spiner se mostrou impressionado com o poema de Data, “Ode to Spot”. “Eu não podia acreditar, porque não apenas rimava, como era tecnobaboseira e também tinha algo a dizer. Ele tinha um ponto de vista delicado sobre o gato.” O poema voltaria a aparecer em “A Fistful of Datas”.
  • Coube a Wendy Ness (coprodutora), Jim Wolvington (editor de som) e Bill Wistrom (supervisor de edição de som) bolar os cliques que seriam o idioma alienígena. Segundo Wendy, foi uma das experiências mais divertidas que ela teve em A Nova Geração.
  • Esta é a aparição final do barbeiro boliano Mot na série. Depois deste episódio, o personagem chegou a ter uma cena em “The Chase”, mas que acabou cortada do episódio.
  • É a quarta vez que Lani Chapman reprisa seu papel de alferes Rager. Dessa vez a personagem ganhou um primeiro nome, Sariel.
  • O diretor Robert Wiemer, o roteirista Brannon Braga e o showrunner Michael Piller ficaram decepcionados com a aparência dos alienígenas, razão pela qual decidiram não trazê-los de volta, mesmo com o final em aberto aqui.

Ficha Técnica

História de Jean Louise Matthias & Ron Wilkerson
Roteiro de Brannon Braga
Dirigido por Robert Wiemer

Exibido em 19 de outubro de 1992

Título em português: “Cisões”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Lanei Chapman como Sariel Rager
Ken Thorley como Mot
Angelina Fiordellisi como Kaminer
Scott T. Trost como Shipley
Angelo McCabe como tripulante
John Nelson como técnico médico
Majel Barrett como voz do computador

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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