DS9 3×23: Family Business

Roteiristas sofrem com bizarro conceito de “comédia séria” com os Ferengis

Sinopse

Data estelar: Desconhecida

O bar do Quark está cheio e o seu dono reclama por não poder contar com a ajuda do seu sobrinho Nog (estudando para os exames da Academia da Frota Estelar) no trabalho. Eis que surge um Ferengi, de nome Brunt, no bar e que pendura um anúncio oficial próximo à porta e interdita imediatamente o estabelecimento. Brunt é uma agente do F.C.A. (uma espécie de Imposto de Renda Ferengi) e avisa Quark que a sua mãe (de nome Ishka) está sendo acusada de ganhar dinheiro, algo proibido pelas leis Ferengis. Quark, como macho mais velho da família, deve ir a Ferenginar resolver a situação. Rom vai com ele.

Os três Ferengis chegam à casa da família de Quark em seu planeta natal Ferenginar. Ishka confirma as acusações e além disto está vestida e se dirige verbalmente a Brunt. Mais duas ofensas segundo a lei Ferengi. Quark tem três dias para obter uma confissão e o retorno do dinheiro obtido ou sua mãe será vendida como escrava e ele terá que indenizar o F.C.A. pelos seus crimes. Brunt parte. Mais tarde, Ishka diz a Rom que não vai confessar por princípio e não pelo dinheiro. Ela não acha errado uma fêmea Ferengi fazer fortuna e ela se considera tão (ou mais) habilidosa nos negócios quanto qualquer macho Ferengi.

Jeffrey Combs em sua primeira aparição como Brunt F.C.A.

Na estação, Jake continua com a idéia de que seu pai deve conhecer a sua amiga capitã de cargueiro, de nome Kasidy Yates, que está na estação no momento. Ben acaba visitando Yates em um dos hangares de carga e fica com boa impressão, marcando um encontro para um café no dia seguinte.

Em Ferenginar, Quark faz algumas pesquisas e descobre que sua mãe não ganhou apenas três barras de Latinum, como admitiu inicialmente. Ela operou inúmeras transações financeiras sob diferentes codinomes em toda a Aliança Ferengi. Toda a fortuna pessoal de Quark não é suficiente para cobrir tal soma. Se sua mãe não confessar ele está arruinado. Ishka confirma tal achado e acusa Quark de estar com ciúmes de suas habilidades, assim como o seu falecido pai sentiu um dia. Quark fica furioso e parte para o escritório do F.C.A. para contar sobre o “Império Financeiro” da sua mãe. Rom tenta impedir e os dois “saem no tapa”. Ishka acaba apartando a briga e Quark sai decidido a contar tudo a Brunt.

Quark com sua mãe, Ishka

Enquanto espera para falar com Brunt, Rom alcança Quark e diz que sua mãe mudou de idéia e concordou em fazer uma divisão “meio a meio” dos lucros em troca do silêncio dele. Quark muda de idéia e volta para ver Ishka. Entretanto, Ishka não prometeu tal coisa, Rom mentiu para colocar Quark e a sua mãe juntos de novo. Os dois conversam e ela diz que Rom sempre foi parecido com o pai, ruim nos negócios. Ishka diz que apesar disto amava o falecido Keldar e também ama Quark, que herdou o seu tino com os negócios, segundo ela. Quark fica tocado com isto e a sua mãe acaba concordando em fazer a confissão e devolver a fortuna que ganhou, para felicidade de Quark.

Em DS9, o encontro entre Ben e Kasidy parece meio morno e ela chega a dizer que se esqueceu de um outro encontro e tem que se retirar mais cedo. Sisko fica desapontado até que ela explica que o tal “encontro” se resumia a escutar uma mensagem do seu irmão mais novo. Tal mensagem continha a transmissão de um jogo de beisebol dele. Sisko fica entusiasmado por Yates conhecer também o jogo e vai assistir à partida com ela. Completamente ligados.

Sisko e Kasidy se encontram pela primeira vez em "Family Business"

Ishka faz a confissão (sem roupas) e devolve os seus lucros na presença de Brunt. Quark fica aliviado e vai se retirando sem esquecer de “molhar a mão” do agente do F.C.A para que ele mantenha o caso como confidencial. Ao final Rom se despede de sua mãe sozinho e os dois partilham o segredo de que Ishka devolveu somente um terço de sua imensa fortuna adquirida.

Comentários

O fetiche de Ira Behr pelos Ferengis parece atingir proporções bíblicas aqui. Nesta semana somente o material envolvendo o primeiro encontro de Ben Sisko e da capitão Yates carrega alguma qualidade. O retorno ao lar de Quark & Rom se mostra uma das mais grosseiras histórias já produzidas pela série. Mais detalhes, sem precisar convencer a sua mãe a produzir uma confissão pelada e ao vivo para o agente do “Leão” (ou equivalente) sobre a sua última declaração de renda no processo, nas linhas abaixo.

Primeiro, vejamos o que o episódio teve de bom, que se resumiu aos acontecimentos que levaram ao primeiro encontro de Ben e Kasidy. Curioso é que Jake não disse a nenhum dos dois sobre beisebol, ele parecia querer ver a reação dos dois ao descobrirem um laço comum em um esporte tão obscuro (ao menos em termos do século 24). Tudo é ainda mais satisfatório para o espectador por ser tal esporte uma marca registrada da série desde o piloto. A breve cena com Dax, além de legitimamente de acordo com a personagem, parece abrir caminho para “Facets” daqui a duas semanas, fazendo de Curzon uma lembrança muito viva.

Title Card Deep Space Nine "Family Business"

A cena em que Bashir e O’Brien estão tentando pegar o jogo de dardos e são pegos com a mão na massa primeiro por Odo e depois por Sisko é o momento mais engraçado do episódio. Existe algo definitivamente divertido em O’Brien (o chefe de operações de DS9) tentando abrir o lacre deixado por Rom. Meio bocó, mas engraçado. A pequena história de Sisko se resume a isso, um pouco de verdade entre os personagens, sem maiores surpresas. Um pequeno e bom esforço de Behr e Wolfe. Já quanto à história Ferengi…

Nesta temporada já havíamos tido “The House of Quark” (milagrosamente bom, considerando a sua arriscada premissa de colocar frente a frente Ferengis e Klingons) e “Prophet Motive” (que tenta repetir o truque do episódio anterior, agora com os Profetas, e falha miseravelmente) como episódios Ferengis da temporada, sem contar a história de Nog querer entrar na Frota Estelar, que se tornou um formal arco para o personagem. Fica a questão de por que mais uma comédia Ferengi (por que parece que todo o episódio envolvendo Quark e/ou Ferengis é incapaz de ser outra coisa senão “comédia”?). Especialmente uma que tenta ser “séria” (?!).

O'Brien e Bashir tentando entrar no Quark's para pegar os dardos

A história dos Ferengis em Jornada é conhecida de muitos. Originalmente concebidos como os “vilões oficiais” de A Nova Geração, tal tentativa se mostrou falha logo após a exibição de “The Last Outpost”, da primeira temporada da turma de Picard e cia. Então eles se tornaram uma espécie de “vilões trapalhões” para o restante daquela série. Em DS9 se fez a promessa implícita de dar maior profundidade a tal raça, incluindo a introdução de um personagem regular na pessoa de Quark. Tal promessa raramente é cumprida e as histórias propostas parecem incapazes de fazer algo com alguma substância com esta estranha cultura que aparentemente é formada por rasas caricaturas de um capitalismo terminal.

Além deste problema crônico de caracterização da raça (e de Quark) e da orientação de seus episódios, a história desta semana parece sofrer de um caso terminal de dupla personalidade. Existem de fato duas histórias aqui: um novo esforço da série em tratar da condição das fêmeas Ferengis naquela sociedade e uma história sobre um filho que após anos afastado do lar retorna para tentar fechar antigas feridas familiares.

A primeira história já havia sido tentada em “Rules of Acquisition”, da segunda temporada, e os resultados aqui são ainda piores. A total falta de argumentos relevantes em ambos os lados da questão é extremamente incômoda novamente e o ambiente completamente de farsa em que tal discussão se dá parece tirar qualquer relevância (se é que existia alguma em primeiro lugar) do tópico discutido. Chega a ser curioso que nem Rom, nem Quark citem a história com a Ferengi Pel, tendo em vista os óbvios paralelos.

Ishka, mãe do Quark e do Rom

A segunda história até mereceria ser contada. É um argumento clássico e já teve ao menos uma versão em Jornada (em “Family” de A Nova Geração). Talvez o problema que os roteiristas encontraram em atacar somente esta história séria do “porquê” da ida de Quark ao seu lar no planeta natal. Daí vieram com a idéia de Ishka estar “cometendo crimes” e Quark ter que intervir. O que já abriria o cenário para o “conflito” (seguindo o possível pensamento dos roteiristas). E de tal “conflito” nasceu uma sucessão de momentos constrangedores.

Os diálogos aqui, tanto em relação à questão de igualdade de direitos entre os sexos em Ferenginar como em relação às questões de relacionamentos familiares são constrangedores. No nível de: “eu posso ganhar tanto dinheiro quanto qualquer homem”, “mamãe sempre gostou mais de você do que de mim”, “ela nunca mastigou a minha comida” etc.

Não bastassem os diálogos, o nefasto humor físico normalmente presente em comédias Ferengis abunda aqui: a briga entre irmãos (com direito a um literal “puxão de orelhas da mamãe” no final), a nudez de Ishka, insuportáveis e repetitivas “piadas” envolvendo “taxas, pedágios, subornos etc.”, Rom repetindo “Moogie” o tempo inteiro etc.

Rom com a sua mãe Ishka

E os personagens ficam com a “cereja do bolo”. As motivações de Quark são completamente egoístas (e orientadas a Latinum) e imutáveis do começo ao fim. O episódio é completamente incapaz de produzir qualquer análise honesta sobre a personalidade de Quark, quanto mais produzir alguma mudança notável no personagem ao seu final. Rom é incrivelmente tolo, parecendo ter o dom de dizer “a coisa mais absurda na hora mais inapropriada” (TM). Ishka parece vir da mesma “Gaveta de idéias” de onde saiu Lwaxana Troi, o que definitivamente não é um elogio.

Auberjonois continua um pouco inseguro na direção, apesar do material fornecido (assim como em “Prophet Motive”) ter sido sofrível. Continua bastante quadrado. Tivemos alguns cenários interessantes na sede do F.C.A. e o visual de “chuva eterna” de Ferenginar até que tem um certo apelo, mas os valores de produção do episódio são bastante pobres de uma maneira geral.

Brooks foi novamente o destaque entre os regulares e Shimerman fez o que pôde, mas o material dado a ele era tão ruim que sua atuação acabou sendo insatisfatória (para dizer o mínimo). Os demais cumpriram as cenas residuais com um pé nas costas.

Ferenginar, onde sempre chove

Johnson é definitivamente alguém que merece retornar ficando com o destaque. Combs teve pouco tempo de tela, mas ainda assim foi o mais bem atuado (dentre os Ferengis) presente em cena. Os exageros de Grodénchik custaram novamente a qualidade de sua atuação e Martin fracassou junto com o texto. Green fez somente uma pequena ponta.

Alguns bons exemplos de continuidade: Sisko cozinhando, a habilidade de Rom com trancas, a franquia de vinho de tulaberrie dos Ferengis, a perda do explorador Mekong em “The Die Is Cast” (e sendo reposto pelo explorador Rubicon) e a menção de que Nog está estudando para os exames da Academia da Frota Estelar.

“Family Business” é mais um péssimo episódio de DS9. A pequena história de Sisko e Yates tem o seu mérito, mas a parte Ferengi da história abusa do bom senso, produzindo momentos que são formalmente LIXO! O grosseiro (e óbvio) choque entre a execução estilo “comédia pastelão” e os temas (teoricamente) sérios tratados chega a assustar. Como algo tão ruim pode ser produzido em primeiro lugar? Behr e Wolfe ficaram devendo a resposta.

Avaliação

Citações

“You only cook Hungarian food when you’re in a really good mood.”
(Você só faz comida húngara quando está com um ótimo humor.)
Jake

“You know, the way we go through runabouts, it’s a good thing Earth has so many rivers.”
(Sabe, do jeito que perdemos exploradores, é uma boa coisa a Terra ter tantos rios.)
Kira

“Nog isn’t going to destroy the Ferengi way of life; he just wants a job with better hours.”
(Nog não vai destruir o modo de vida Ferengi; ele só quer um trabalho com melhor carga horária.)
Rom

Trivia

  • Armin Shimerman disse na época que o roteiro do episódio trazia paralelos entre o personagem Quark e a história pessoal do ator. Behr disse que o episódio brotou da idéia de fazer “algo mais sério” com os Ferengis. O mentor da série é fascinado por ligações fraternais entre homens e o segmento foi mais uma oportunidade para explorar isto entre Rom e Quark.
  • A atriz Andrea Martin foi trazida a bordo por indicação do diretor Auberjonois. Martin sofreu ainda mais do que os seus “filhos Ferengis”. A maquiagem da sua cabeça era mais elaborada que a de um Ferengi mais jovem e ela recebeu maquiagem corporal para as cenas de nudez parcial de Ishka.
  • Após preparar a cena em que Rom e Quark brigam, o diretor Auberjonois colocou uma bacia de frutas em uma posição em que ela necessariamente iria ao chão durante a briga. O diretor só não esperava que ela fosse ser arremessada de encontro à câmera com um resultado tão interessante. A briga dos dois irmãos teve a participação dos dublês Dennis Madalone e seu cunhado, George Colucci.
  • Pela primeira vez é visto o mundo natal Ferengi, de nome Ferenginar. Um “fétido pântano em que chove sem parar”, segundo uma descrição de cena do corpo do roteiro de Wolfe e Behr. Slips foram introduzidas e se juntam a Strips e “Barras” no dicionário monetário do Latinum.
  • Primeira aparição da mãe de Quark (com a sua primeira atriz, Andrea Martin) e do planeta natal Ferengi na história de Jornada. A personagem retornaria em episódios posteriores de DS9, só que vivida pela atriz Cecily Adams. São eles: “Ferengi Love Songs”, “The Magnificent Ferengi”, “Profit and Lace” e “The Dogs of War”.
  • Estréia de Jeffrey Combs como o personagem Ferengi Brunt, que participa dos seguintes episódios da série: “Family Business”, “Bar Association”, “Body Parts”, “Ferengi Love Songs”, “The Magnificent Ferengi”, “Profit and Lace” e “The Dogs of War”. Combs visita o “universo do espelho” como o mirror-Brunt em “The Emperor’s New Cloak”. Combs estreou na série como o alienígena Tiron, em “Meridian”.
  • Entretanto, o papel que Combs tornou realmente inesquecível junto aos fãs da série foi do Vorta Weyoun (e seus clones), personagem visto em: “To the Death”, “Ties of Blood and Water”, “In the Cards”, “Call to Arms”, “A Time to Stand”, “Behind the Lines”, “Favor the Bold”, “Sacrifice of Angels”, “Statistical Probabilities”, “Waltz”, “Far Beyond the Stars”, “Inquisition”, “In the Pale Moonlight”, “Tears of the Prophets”, “Image in the Sand”, “Shadows and Symbols”, “Treachery, Faith and the Great River” (como dois Weyouns no mesmo episódio), “Penumbra”, “‘Til Death Do Us Part”, “Strange Bedfellows”, “The Changing Face of Evil”, “Tacking Into the Wind”, “The Dogs of War” e “What You Leave Behind”. O ator também fez o papel do policial Mulkahey em “Far Beyond The Stars”.
  • Combs também participou do episódio “Tsunkatse” da sexta temporada de Voyager, como Penk. E já ganhou o papel recorrente do Andoriano Shran em Enterprise e participou de “Acquisition” nesta série como um Ferengi.
  • Estréia de Penny Johnson como a capitão Kasidy Danielle Yates. A personagem se tornaria recorrente na série (assim como o seu relacionamento com Ben Sisko) e participa dos seguintes episódios de DS9: “Family Business”, “The Way of the Warrior”, “Indiscretion”, “For the Cause”, “Rapture”, “Far Beyond the Stars”, “The Sound of Her Voice”, “Take Me Out to the Holosuite”, “Badda-Bing, Badda-Bang”, “Penumbra”, “‘Til Death Do Us Part”, “Strange Bedfellows”, “The Changing Face of Evil”, “The Dogs of War” e “What You Leave Behind”. Participou também de “Far Beyond The Stars”, como Cassie.
  • Penny Johnson Jerald é bem conhecida do público pelas séries The Larry Sanders Show e mais recentemente 24. Sua estréia em Jornada se deu no episódio “Homeward” da sétima temporada de A Nova Geração (como a personagem Dobara).
  • O irmão de Kasidy Yates mora em Cestus III (do episódio “Arena” da Série Clássica, claramente não mais disputado pelos Gorns) e joga no Pike City Pioneers (uma referência ao capitão Pike do piloto original de Jornada, “The Cage”).

Ficha Técnica

Escrito por Ira Steven Behr & Robert Hewitt Wolfe
Dirigido por René Auberjonois

Exibido em 15 de maio de 1995

Título em português: “Negócios de Família”

Elenco

Avery Brooks como Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O’Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko

Elenco convidado

Penny Johnson como capitã Kasidy Danielle Yates
Max Grodénchik como Rom
Jeffrey Combs como Brunt
Andrea Martin como Ishka
Mel Green como um secretário Ferengi

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Edição de Mariana Gamberger
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