VOY 4×09: Year of Hell, Part II

Destruição da Voyager muda a História

Sinopse

Data estelar: 51425.4

Seriamente danificada, a USS Voyager busca refúgio em uma nebulosa, operada por uma tripulação diminuta. Na nave temporal, Chakotay e Tom são convocados para se encontrar com Annorax, que deseja fazer uma proposta. Diz que mandará a Voyager de volta no tempo, restaurando as suas condições originais, desde que eles detalhem a extensão do envolvimento dela no território Krenim. A idéia é completar os cálculos que restaurem o império em sua glória.

Tom se recusa a cooperar, mas Chakotay acredita que vale a pena arriscar confiar no anfitrião, se isso significará a continuação da viagem de volta para casa.

Enquanto Chakotay ajuda a catalogar a jornada da Voyager, Annorax lhe conta a história de um erro que cometeu assim que criou a nave temporal. Ele destruiu o maior inimigo dos Krenim, mas, no processo, também destruiu um importante anti-corpo presente na estrutura genética de sua própria espécie, e 50 milhões de indivíduos sucumbiram a uma doença há tempos erradicada. Ele vem tentando corrigir o erro desde então.

Paris descobre uma vulnerabilidade na nave Krenim, mas Chakotay o proíbe de agir contra Annorax. Porém, quando o anfitrião erradica outra raça para restaurar parcialmente a linha do tempo Krenim, o comandante se decepciona ao ver que ele recorreu de novo ao genocídio como resposta aos seus problemas. Annorax acaba revelando a verdadeira força que o leva a agir dessa forma. Sua esposa morreu como resultado de uma de suas incursões e ele espera reverter o estrago feito.

Chakotay e Tom contatam a Voyager secretamente, fornecendo a Janeway suas coordenadas. Ela forma uma coalisão com outras espécies e planeja atacar a nave de Annorax assim que Tom desligar o reator temporal. Os tripulantes da Voyager dividem-se entre as naves da aliança para a batalha, mas a capitã permanece a bordo.

O reator temporal é desativado, tornando a nave vulnerável a armas convencionais. Annorax ordena que seus homens disparem contra a frota que ataca. Janeway, então, traça um curso de colisão contra a nave Krenim e o impacto desestabiliza o núcleo, provocando uma incursão temporal dentro da própria nave de Annorax. Com a sua destruição, a linha do tempo é restaurada, a Voyager acaba não entrando no território inimigo e Annorax, por fim, reencontra a sua amada esposa.

Comentários

O segmento da semana alcança uma marca que poucas “segundas partes” conseguem: faz jus à primeira. É claro, o telespectador tem que assistir ao episódio sem considerar que, ao final, nada ali narrado terá acontecido. Terá que esquecer, também, as bases científicas e a plausibilidade do enredo. Afinal, “Year of Hell” enfoca viagem temporal e, como é de amplo conhecimento, Voyager não costuma fazê-lo com êxito.

De fato, é um tanto frustrante que a história acabe como se nunca tivesse acontecido, tendo as repercussões e aprendizados apagados. A famigerada tecla reset. Mas Jornada já produziu outros episódios sob o mesmo princípio e, apesar da previsibilidade, eles se tornaram clássicos. Foi o caso de “Yesterday’s Enterprise”, de A Nova Geração, e “The Visitor”, de Deep Space Nine. Assim, fica a lição de que o sucesso das premissas “e se?” advém da dramaticidade contida naqueles 45 minutos de história. A idéia é entreter para a hora; não é acumular subsídios para eventuais conseqüências ao longo série. E “Year of Hell, Part II” é bem-sucedido.

O que marca o episódio é uma mudança no foco dos personagens. Antes, havia elementos centrados no tema “família”. Agora — talvez por conta dos meses que passaram –, a preocupação é outra. O telespectador lida com a dualidade das obsessões de Janeway e Annorax. A capitã parece preocupada em resgatar seus oficiais abduzidos e destruir a nave-temporal. Annorax continua a interminável missão de trazer a esposa de volta à vida.

Opta-se por ignorar, aqui, a lógica simplista dos roteiristas ao tratar da manipulação temporal empreendida pelos Krenim. Evidentemente, apagar uma espécie inteira da História deveria ter implicações por todo o Quadrante Delta — e além –, o que torna questionável a limitação dos efeitos à região em que a Voyager está.

Falhas à parte, o que enriquece o roteiro é mesmo a participação de Kurtwood Smith, ator com enorme presença em tela. Annorax chega a conquistar a simpatia do telespectador. Suas ações são questionáveis. Mas o interessante é que ele não é um vilão no sentido em que se está acostumado a ver em Jornada. É um homem torturado, arrependido. Excelente a cena em que oferece um jantar a Chakotay e Paris. Os pratos servidos, inventados por culturas que, na verdade, nunca existiram. E seu olhar na hora de revelar a informação aos convidados contrasta com a frieza das palavras.

As sucessivas intervenções que realizou já apagaram e trouxeram de volta tantas espécies que Annorax aprendeu a racionalizar o genocídio. Tenta se convencer de que não está dizimando povos, pois, na verdade, eles nunca teriam existido em uma linha do tempo alternativa. Mas o tempo silenciosamente “se vinga” dele. A arma, criada para eliminar os inimigos dos Krenim, acabou apagando seu próprio império. Mais do que isso. Apagou sua esposa e todo o futuro que teriam juntos. É fantástica a forma como Annorax percebe a situação. O próprio tempo virou um personagem. Tem humores, psicologias, sentimentos. Obstina-se em o fazer pagar pelo que fez, durante toda a eternidade. E não resta alternativas a Annorax, a não ser passar os séculos tentando se redimir.

A forma como a obsessão de Janeway é retratada é igualmente notável. A capitã chega ao ponto de operar apenas por instintos. Torna-se impulsiva, inquieta, ameaçadora, anárquica. O fã nem sempre concorda com suas decisões ou se sensibiliza com a causa, mas entende por que a personagem age da forma como o faz. Aqui, ela está disposta a abandonar totalmente os protocolos para salvar a tripulação. Quando confrontada pelo Doutor, recusa-se a obedecer ordens médicas e nem mesmo se intimida com o prospecto de vir a sofrer uma Corte Marcial.

Só que o interessante é justamente a polêmica e falta de objetividade de Janeway ao tomar decisões. A única voz que se levanta contra ela — fora o Doutor, que o faz dentro do regulamento — é Seven, que ainda desconhece as formalidades implícitas na cadeia de comando. A capitã é uma heroína, mas também é um indivíduo falho. Leva a efeito quaisquer atitudes para atingir seus objetivos. Neste quesito, não difere de Annorax. E Seven a lembra disso.

Quem também brilha, para a surpresa e agrado do telespectador, é Chakotay. Ele tem uma participação maciça e consistente no episódio. Foi muito bem bolada a ligação que os roteiristas estabeleceram entre o comandante e Annorax. Convenceu também o antagonismo de Tom. O dilema gerado em duas frentes só se resolve quando o capitão Krenim volta a realizar incursões contra espécies. Apenas assim Chakotay percebe que Annorax é “um caso perdido” e concorda com o colega da Voyager que é hora de agir.

Conforme fora estabelecido na primeira parte, a tripulação da nave Krenim estava cansada. Viajava na mesma estrada havia 200 anos. Queria desmantelar a arma e seguir em frente. Assim, não é difícil compreender por que Obrist — que desenvolveu uma boa amizade com Tom — assistiu na sabotagem ao núcleo do reator. Em tempo, vale ressaltar que conta como ponto positivo o fato de os próprios Krenim terem agido contra Annorax.

A batalha final é linda, os efeitos visuais impressionam, “dá gosto” ver a Voyager aos pedaços. Mas a resolução deliberada por Janeway é totalmente inaceitável. Aparentemente, os roteiristas quiseram que o telespectador prestigiasse um heróico ato de suicídio. Infelizmente, não colou. De onde a capitã tirou a idéia de que, se destruísse a tempo-nave, restauraria toda a História? Ela não tinha parâmetros para julgar aquilo. Desconhecia — conforme ela mesmo mencionou no episódio — a lógica dos paradoxos temporais e procurava evitá-los.

Se fosse tudo tão simples assim — e as cenas finais mostraram que ela estava certíssima — por que o próprio Annorax não teve o mesmo pensamento? Não só era um cientista Krenim que dominava a tecnologia em questão, como passara os dois últimos séculos buscando uma saída. Compreendia como poucos o funcionamento da coisa toda. Também não fica claro o que foi restaurado. A tempo-nave é destruída e, em seguida, aparece na tela novamente a inscrição “Dia 1”, com a USS Voyager em sua melhor forma. Depois, vê-se Annorax com a esposa, projetando a sua arma. Tudo parece indicar que ele ficou preso na situação por toda a eternidade. Se destino foi evitado? Parece que não, mas não há como saber. Fica a dúvida.

Há diversos furos e questões não resolvidas no roteiro, mas “Year of Hell, Part II” se salva pela soma do pacote. Não é inferior à primeira parte, mas, também, não chega a ser estupendo. Para a média de Voyager, soma-se como um dos melhores episódios da série.

Avaliação

Citações

“We’ve got three minutes of air left.”
“How long can you hold your breath?”
(Temos mais três minutos de ar.)
(Por quanto tempo consegue segurar a respiração?)
Kim e Janeway

“You have no idea how you complicated my mission.”
“Glad to hear it.”
(Não têm idéia do quanto complicaram a minha missão.)
(Bom saber disso.)
Annorax e Paris

“This vessel is more than a weapon. It’s a museum of lost histories.”
(Esta nave é mais do que uma arma. É um museu de histórias perdidas.)
Annorax

“Remember this guideline: the Captain is always right.”
“Even when you know her logic is flawed?”
“Perhaps.”
(Lembre-se desta regra: a capitã sempre está certa.)
(Mesmo quando sua lógica é falha?)
(Talvez.)
Tuvok e Seven

“You’ve been at this for 200 years, Annorax. What makes you think you’ll ever succeed?”
“What makes you think Voyager will ever reach Earth? The odds against you are astronomical. Yet you keep trying.”
“You’re right. But we don’t destroy everything that stands in our way.”
(Você está nessa há 200 anos, Annorax? O que o faz achar que algum dia conseguirá?)
(O que o faz pensar que a Voyager chegará na Terra? As chances contra vocês são astronômicas. Mesmo assim, continuam tentando.)
(Tem razão. Mas não destruimos tudo o que aparece em nosso caminho.)
Chakotay e Annorax

“Why do I get the feeling you are testing me, Voyager?”
(Por que tenho a impressão de que está me testando, Voyager?)
Janeway

“Captain Kathryn Janeway, under Starfleet Medical Regulation 121, Section A, I, the chief medical officer, do hereby relieve you of your active command. Effective immediately… Have a sit.”
“How do you plan to implement this protocol, Doctor? Mr. Tuvok doesn’t have a security team, both the brigs have been destroyed and, with the internal force fields offline you’ll have a hell of a time keeping me confined. You’d better grab a phaser, because before I give up command you’ll have to shoot me.”
“You realize this incident will be noted in my official logs. By refusing my orders you risk a general Court Martial.”
“Compared to what I’ve been throught the past few months, a court martial would be a small price to pay. If we make it back home, I’ll be happy to face the music.”
(Capitã Kathryn Janeway, sob o Regulamento Médico da Frota Estelar 121, Seção A, eu, o oficial médico chefe, a destituo do seu comando atual. Em vigor imediatamente… Sente-se um pouco.)
(Como planeja implementar esse protocolo, Doutor? O Sr. Tuvok não tem uma equipe de segurança, ambas as celas foram destruídas e, com os campos de contenção internos desativados, será um inferno conseguir me confinar. É melhor pegar um phaser, porque antes de eu desistir do comando terá que atirar em mim.)
(Tem consciência de que este incidente será registrado nos meus diários oficiais. Ao recusar as minhas ordens, corre o risco de enfrentar uma Corte Marcial geral.)
(Em comparação ao que tenho enfrentado nesses últimos meses, uma Corte Marcial seria pouco a pagar. Se conseguirmos chegar em casa, ficarei feliz em encarar a música.)
Doutor e Janeway

“Given Voyager’s damaged state, the probability of your suviving in an armed conflict is marginal.”
“I know the odds. But I have to stay. Voyager has done too much for us.”
“Curious. I never understood the Human compulsion to emotionally bond with inanimate objects. This vessel has done nothing. It is an assemblege of bulkheads, conduits, tritanium, nothing more.”
“No, you are wrong. It’s much more than that. This ship has been our home, it’s kept us together, it’s been part of our family. As illogical as this might sound, I feel as close to Voyager as I do to any other member of my crew. It’s carried us, Tuvok. Even nurtured us. And right now it needs one of us.”
(Dado o estado de danos da Voyager, a probabilidade de sua sobrevivência a um conflito armado é mínima.)
(Eu sei das adversidades. Mas tenho que ficar. A Voyager fez demais por nós.)
(Curioso. Eu nunca entendi a compulsão humana em ligar-se emocionalmente a objetos inanimados. Esta nave não fez nada. É uma montagem de anteparos, conduítes, tritanium, nada mais.)
(Não, está enganado. Ela é muito mais do que isso. Esta nave tem sido a nossa casa, tem nos mantido juntos, tem sido parte da nossa família. Por mais ilógico que isto possa parecer, sinto-me tão próxima da Voyager como me sinto de qualquer outro membro da minha tripulação. Ela nos carregou, Tuvok. Até nos nutriu. E neste momento precisa de um de nós.)
Tuvok e Janeway

“Time’s up!”
(Tempo esgotado!)
Janeway

Trivia

  • O médico da nave pode afastar o capitão de suas funções de acordo com o Regulamento Médico da Frota Estelar 121, Seção A. Se o capitão não obedecer a ordem, corre o risco de sofrer Corte Marcial.
  • “Year of Hell, Part II” é um dos 5 episódios em que a USS Voyager é destruída de alguma forma. Os outros são “Deadlock”, “Timeless”, “Course: Oblivion” e “Relativity”.

Ficha Técnica

Escrito por Brannon Braga & Joe Menosky
Dirigido por Mike Vejar

Exibido em 12 de novembro de 1997

Título em português: “Um Ano no Inferno, Parte II”

Elenco

Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B’Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Ethan Phillips como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Jeri Ryan como Seven of Nine
Tim Russ como Tuvok
Garret Wang como Harry Kim

Elenco convidado

Kurtwood Smith como Annorax
John Loprieno como Obrist
Peter Slutsker como Comandante Krenim
Lise Simms como Esposa

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Edição de Mariana Gamberger

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