PRO 1×15: Preludes

Os prodígios reunidos em "Preludes"

Copo meio cheio ou meio vazio?

Sinopse

Data estelar: Desconhecida

Janeway está ouvindo Prelúdio Nº 4, de Chopin, quando o comandante Tysess entra para lhe informar que a Protostar continua não respondendo aos chamados da Dauntless. Mas ele traz uma importante informação: eles interceptaram uma transmissão fora do espaço federado que contém os nomes de todos os tripulantes da Protostar, onde eles estavam sendo considerados prisioneiros fugitivos.

Na Protostar, seguem os trabalhos de reparo do motor de dobra auxiliar. Sem ele a nave está presa dentro da Zona Neutra. Dal ainda está se sentindo muito mal com a revelação sobre a sua origem e não consegue entender que todos ali também já passaram por momentos muito difíceis e tristes. Eles resolvem dar uma pausa para ouvir as histórias de cada um deles.

Comandante Tysses trazendo informações para Janeway

Rok-Tahk começa a contar que, antes de chegar a Tars Lamora, ela fazia parte de um show de lutas, no qual ela era o monstro e o herói sempre a derrotava. Ao final de cada dia, ela ganhava um prato de gosma nutritiva e tinha a companhia do herói, ainda que eles não trocassem muitas palavras. Ela até que achava divertido, pois às vezes podia brincar com a espada. Mas logo percebeu que ninguém gostava dela. Todos iam ali para ver o herói. Por isso, um dia, ela resolveu mudar a luta e ganhou do herói. Por um breve momento, ela ficou feliz com os aplausos, mas as consequências vieram rápido. Ela mal recebeu o seu prato de comida e logo foi entregue aos kazons que a venderam para o Adivinho. Finalmente eles entendem o porquê de Rok não gostar de lutar, e ela conclui que falar sobre isso ajuda.

Com isso, eles resolvem dar uma pausa no trabalho para ouvir as outras histórias. Zero conta que, antes de ser preso, ele vivia com o seu povo. Totalmente livres, mentes curiosas que deixaram seu mundo natal, para explorar novos mundos. Até que ele foi capturado pelos kazons e levado a Tars Lamora.

Rok contando sua história quando era uma prisioneira antes de Tars Lamora

Enquanto isso, na Dauntless, Asencia conversa com o Adivinho. Ele parece surpreso com eles serem da mesma raça, pois acreditava que ele e sua filha fossem os últimos dos vau n’akat. Sua mente está tão destruída por Zero que ele acredita na Federação como sendo boa, o que Asencia rapidamente refuta, dizendo que eles foram os responsáveis pela destruição do seu mundo. Ainda que, tempos atrás, tenha sido seduzido pelas mentiras da Federação, no fim ele escolheu o lado daqueles que não acreditavam nela e a culpavam pela destruição de Solum. A guerra entre essas duas vertentes foi o que destruiu o planeta dos vau n’akat, e a Federação não foi sequer capaz de escolher um lado.

Asencia ainda explica que, pela força do destino, décadas depois de toda a esperança ter sido perdida, eis que o céu se abriu e apareceu a Protostar, vinda do passado, ainda sob o comando do capitão Chakotay. Essa foi a grande chance dos vau n’akat de conseguirem a sua vingança. Eles armaram a nave com uma poderosa arma e estavam prestes a enviá-la de volta no tempo, num ponto antes que a Federação fizesse o contato com o planeta deles, só que Chakotay e a tripulação escaparam e conseguiram enviar a Protostar de volta ao passado sem ninguém a bordo.

Asensia contando a história de quando uma nave federada chegou em Solum

Contrariando todas as probabilidades, os vau n’akat enviaram cem naves, cada uma tripulada por uma pessoa e um drednok para o passado, para que pelo menos um deles conseguisse chegar ao mesmo tempo que a Protostar e dar seguimento ao plano de destruir a Federação. Foi nessa expedição que ele, o Adivinho, e ela, a Defensora, acabaram ali, naquele momento. Só que o buraco de minhoca entrou em colapso e eles não sabiam quem tinha sobrevivido e em que momento chegariam ao passado. O Adivinho acabou chegando por volta de 17 anos antes que Asencia e por anos procurou a Protostar. Ela acabou se infiltrando na Frota e se aproximou de Janeway, porque ela seria a única a procurar Chakotay incessantemente.

De volta à Protostar, eles finalmente terminam de consertar o motor e decidem ouvir mais uma história. Precisando de pouco convencimento para falar, Jankom começa a sua. Ele conta que vivia na sociedade telarita antes de eles se juntarem à Federação. Órfãos como ele eram alistados para missões no espaço profundo. Ele foi, então, enviado em uma nave colonizadora. Em algum momento, a câmara criogênica onde ele estava teve um problema e ele foi acordado antes de chegarem ao destino final. Jankom encontrou apenas um robô assistente de emergência, que é incapaz de consertar todos os problemas que a nave tem. Ele vai solucionando-os um a um, especialmente com o seu método de manutenção percussiva. Quando finalmente todos os sistemas estão otimizados e Jankom pode voltar ao seu sono, eles descobrem que o gasto a mais de oxigênio, pelo fato de ele ter ficado um bom tempo acordado, não permitiria que a nave chegasse ao seu destino. O oxigênio seria suficiente para todos os que estavam na nave menos um. Em um ato de bravura, Jakom entra em uma cápsula de fuga, salvando a todos. Ele fica vagando sozinho pelo espaço e acaba sendo encontrado por kazons, que o vendem como escravo para as minas de Tars Lamora.

Jakon na nave colonizadora antes de ser preso em Tars Lamora

Finalmente eles concluem que todos têm histórias tristes em seu passado, mas que agora eles têm a possibilidade de ter um futuro melhor.

Janeway analisa as informações sobre Dal, Rok, Jankom, Zero e Murf e percebe que eles foram sequestrados, vendidos, negociados. Ou seja, não são criminosos, mas sim crianças com muitos problemas. A grande questão que ela levanta é quem é o tal do Adivinho, responsável pela transmissão e pedido de recompensa para quem entregar os garotos. Ela solicita ao computador todas as informações sobre o Adivinho enquanto vai ao quarto de Asencia, onde se encontra o paciente resgatado de Tars Lamora, para tentar tirar qualquer informação a mais dele, sem saber que ambos são a mesma pessoa. Quando chega ao quarto, ela vê brevemente Asencia como vau n’akat e Drednok, mas logo é nocauteada. O Adivinho questiona o porquê disso e Asencia diz que precisa assegurar a missão.

Comentários

Pode ser repetitivo, mas felizmente obrigatório sempre comentar que Prodigy é uma série que mantém um ritmo excepcional, construindo sua própria mitologia com competência e sem deixar de entregar um ritmo aventureiramente veloz, porém sem confundir velocidade com pressa. Esse sucesso na entrega é fundamental para que a série consiga atingir corações e mentes de seu público alvo e além.

Posto isso, à primeira assistida, “Preludes” parece um pouco desconectado com essa premissa, talvez um “freio de arrumação”, para que se possa respirar e alicerçar as bases para o final de temporada que se aproxima e, por isso, pode soar um pouco estranho a essa altura dos acontecimentos.

Os prodígios pedindo à Rok para contar sua história

Desde o início da série, a origem de Gwyn era clara, e Dal foi recebendo tratamentos pontuais sobre essa questão ao longo do tempo, é fato que os roteiristas se debruçaram bem mais sobre esses dois personagens, deixando alguma lacuna e consequentemente curiosidade sobre os demais membros, que até então haviam sido no máximo insinuadas. Aqui, contudo, parece haver a intenção de preencher essa lacuna, mas há dúvidas sobre o sucesso dessa empreitada.

A começar por Rok-Tahk. Ao revelar sua passagem em uma espécie de circo ou cativeiro como uma espécie de atração, ela nos revela uma história comovente, que pode facilmente ser associada ao bullying, fato comum entre crianças e adolescentes em várias situações, especialmente nas escolas. Claro que a situação de Rok aqui é muito mais grave, uma criança prisioneira e obrigada a ser uma atração em troca de um prato de comida.

Rok lutando contra a sua vontade

A própria fala da personagem dá ênfase à forma como os frequentadores do local a julgam um mostro por conta de sua aparência, e como isso a incomoda de forma especial. Aqui vemos mais uma vez a expressão da “filosofia teológica” de São Tomás de Aquino, que atribuía ao Belo o caráter de perfeição, mas que definia também quais esses critérios de classificação do Belo: perfeição, proporção e esplendor.

Essa noção de que o é “feio” é mau, e o que é “belo” representa o bem se perpetua até hoje, em maior ou menor grau, em nossa sociedade, que na maioria das vezes faz esse julgamento de forma inconsciente, baseada em seus próprios (pré-) conceitos do que seria essa tal beleza, algo que obviamente não existe.

Há um elogio a fazer aqui. Não fica muito claro se o “herói” decidiu se livrar de Rok, ou se foi o dono da atração. Existe um breve momento de dúvida quanto a isso e ficamos a pensar se ele ficou ressentido por ter sido humilhado por Rok, ou triste pois sabia o que aconteceria com ela a partir daquele momento, e isso é louvável.

De toda forma, apesar de ser possível extrair algum comentário sobre essa passagem, ficamos com a impressão de que o roteiro não conseguiu definir bem qual faceta ele realmente queria abraçar, uma dúvida fatal quando se tem tão pouco tempo para trabalhar.

O "Herói" contra quem Rok lutava contra a sua vontade

Passando à história de Zero descobrimos como ele se perde de “seus pais”, ou amigos, e acaba chegando a Tars Lamora pelas mãos dos kazons, definitivamente a escória do Quadrante Delta. Daqui, com uma boa dose de boa vontade, podemos extrair a fórceps alguma substância do arrependimento de Gwyn e do perdão de Zero, mas é preciso muita condescendência para chegar a esse ponto. Além do quê, fica a pergunta de por que Zero jamais comentou a possibilidade de voltar a seu mundo natal, e não somente à Federação, afinal fica claro aqui que ele conhece sua origem. Fica aqui mais uma referência de Prodigy ao universo de Jornada nas Estrelas, mais notadamente a Série Clássica, no episódio Is There in Truth No Beauty?

Chegamos, então, à história de Jankom, certamente a mais esperada, uma vez que esse personagem é o que teve o menor tratamento até agora, limitando-se a ser o “consertador de coisas” clássico de Star Trek. Esperávamos algo mais sobre ele, mas essa entrega aqui se mostra insuficiente e limitada. Há pouco a se falar da história dele a bordo da nave geracional, e a história, que se pretende dramática, perde força ao não conseguir se descolar da faceta de alivio cômico que muitas vezes cercou o personagem, e chega a seu fim sem realmente conseguir o impacto pretendido, o que é uma pena.

Zero com o seu povo antes de ser feito prisioneiro pelos kazons

Essas histórias não só não conseguiram o sucesso desejado como pareceram desnecessárias, uma vez que nada de significativo é entregue através delas. Contudo, havia uma história que precisava ser contada, que era a questão envolvendo a missão de Solum e a ligação da Protostar e a Federação com ela, e infelizmente a solução aqui também, não foi boa.

De uma pancada só, descobrimos quem é Ascencia, o que aconteceu com os vau n’akat, como a Protostar chegou ao Quadrante Delta e como e por que foi parar em Tars Lamora, e tudo sobre a missão deles para destruir a Frota Estelar. Para isso, o roteiro usa doses cavalares de diálogo expositivo, contando toda a trama de forma preguiçosa e aproveitando para recuperar o aparentemente colapsado Solum com uma velocidade inimaginável.

Mas se o roteiro falha ao encontrar formas menos lenientes de contar a história que se propõe, ele ousa em outras áreas. Uma das muitas armas de manipulação usadas pela extinta União Soviética, principalmente no período pós-Revolução Russa, era a propaganda e seus artífices criaram um design gráfico particular e único usado na grafia dos cartazes de propaganda do regime. E é justamente esse design que é usado aqui para ilustrar a narrativa iniciada por Ascencia.

Olhando de hoje para esse período da História, sabemos que a propaganda criada pelo regime nem de longe se preocupava em ser objetiva e isenta. Pelo contrário, e como o nome mesmo diz, sua missão era de fazer a propaganda do Estado. Posto isso, é fácil concluir que a intenção dos realizadores aqui não é somente de chamar a atenção pelo contraste das imagens, mas também para o fato de que a história certamente distorce ou omite fatos importantes em nome da narrativa panfletária do Estado, no caso aqui representado por Ascencia. Essa decisão insere elementos através da sua linguagem que nenhuma das demais histórias contadas conseguiu.

Guerra em Solum por conta da chegada da Federação

Da mesma forma, a música nesse episódio merece especial atenção. Não à toa, o segmento abre com a obra que dá nome ao episódio, o Prelúdio Op. 28, Nº 4, composto por Frédéric Chopin retornando à tradição dos clássicos em Star Trek. Mais que isso, o episódio tem cada ato envolto em peças que formam poema sinfônico que acompanha cada um dos pedaços da história. Por esse aspecto, vale a experiência de reassistir ao segmento prestando atenção somente em sua música.  Um belíssimo trabalho de Nami Melumad e da Orquestra Filarmônica da Cidade de Praga.

Infelizmente, ainda que possamos encontrar alguma inspiração ao abordar aspectos específicos de linguagem que aqui são entregues de forma muito sofisticada, dessa vez o roteiro falha na tentativa de contar várias historias e na prática não desenvolver nenhuma, exceto nas informações relativas ao vau n’akat e aos planos de Solum/Ascencia, tudo o mais parece pouco necessário e pouco útil, deixando a impressão de um roteiro construído por encomenda, cujo principal propósito era aparar arestas e fornecer informações para os segmentos futuros.

Avaliação

Citações

“I don’t fix things. That’s your job.”
“With the Admiral watching our every move, it’s everyone’s job.”
(Eu não conserto coisas, isso é seu trabalho.)
(Com a almirante nos vigiando, é trabalho de todos.)
Dal e Zero

“Don’t take it personal. He’s still sensitive about the augment-thing.”
“The “augment-thing”? Forgive me if I need more than a day to come to terms with being a failed genetic experiment.”
(Não leve para o pessoal. Ele ainda está sensível com o lance do melhoramento.)
(O “lance do melhoramento”? Perdoe-me se preciso de mais de um dia para aceitar que sou um experimento falho.)
Gwyn e Dal

“But tell me, why did she betray us?”
“She met a boy”
(Mas diga-me, por que ela nos traiu?)
(Ela conheceu um menino.)
Asencia e o Adivinho

“Jankom Pog can fix it.”
(Jankom Pog consegue consertar.)
Jankom Pog

“A ship is only as good as its crew.”
(Uma nave é tão boa quanto a sua tripulação.)
Janeway

Trivia

  • No episódio não é dada nenhuma data estelar, mas nos diários de bordo da almirante Janeway, vistos no Instagram Star Trek Logs, a data apresentada é 61396.4.
  • A vice-almirante Janeway está escutando Prelúdio Nº. 4 de Chopin no início do episódio, fazendo um paralelo com as quatro histórias passadas dos personagens (prelúdios) que temos nesse episódio, além de continuar demonstrando o amor de Star Trek pela música clássica.
  • Na história contada por Zero, vemos os kazons usando os mesmos visores de segurança vermelhos utilizados por Spock e Miranda Jones em “Is There in Truth No Beauty?”, da Série Clássica, para se protegerem dos medusianos e não ficarem insanos.
  • Algumas naves mostradas nesse episódio já apareceram anteriormente em outras séries de Jornada nas Estrelas. O cruzador telarita foi visto em Enterprise, a nave medusiana vista na versão remasterizada de “Is There in Truth No Beauty?” e uma nave da classe Prometheus, que apareceu primeiramente no episódio “Message in a Bottle”, de Voyager.
  • O primeiro oficial de Chakotay é provavelmente da raça aureliana, que apareceu pela primeira vez na Série Animada, no episódio “Yesteryear”. Essa raça também já foi vista em Lower Decks, nos episódios “Envoys” e “An Embarrassment Of Dooplers”, e anteriormente em Prodigy, no episódio “Asylum”. Fazendo dessas aparições uma tradição do “povo pássaro” dentre as séries animadas.

Ficha Técnica

Escrito por Kevin & Dan Hageman, Julie Benson, Shawna Benson, Lisa Schultz Boyd, Nikhil S. Jayaram, Diandra Pendleton-Thompson, Chad Quandt, Aaron J. Waltke
Dirigido por Steve In Chang Ahn and Sung Shin

Exibido em 1 de dezembro de 2022

Título em português: “Prelúdio”

Elenco

Brett Gray como Dal
Ella Purnell como Gwyn
Jason Mantzoukas como Jankom Pog
Angus Imrie como Zero
Rylee Alazraqui como Rok-Tahk
Dee Bradley Baker como Murf
Jimmi Simpson como Drednok
John Noble como Solum (The Diviner)
Kate Mulgrew como Kathryn Janeway

Elenco convidado

Robert Beltran como capitão Chakotay
Brook Chalmers como Maximillion
Daveed Diggs como comandante Tysess
Zehra Fazal como Boxy
Bonnie Gordon como computador da nave
Jameela Jamil como Asencia
Tommie Earl Jenkins como Adreek-Hu e Kazon #3
Ben Thomas como caitiano azul e Kazon #2

TB ao Vivo

Enquete

TS Poll - Loading poll ...

Edição de Mariana Gamberger e Carlos Henrique B Santos
Revisão de Nívea Doria

Episódio anterior | Próximo episódio