A estreia da quinta e última temporada de Discovery trouxe uma grata surpresa para os fãs brasileiros mais atentos: pela primeira vez, a série contou com filmagens realizadas no Brasil.
Sabe aquela perseguição desenfreada de motos flutuantes pelo deserto do planeta Q’mau, vista em “Red Directive”, episódio que abre a nova temporada? Pois bem. A locação é — com grandes alterações promovidas pela equipe de efeitos visuais — o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.
O trabalho foi conduzido pela produtora BPS (Brazil Production Services), empresa de Thiago da Costa, cineasta brasileiro radicado nos EUA. Responsável por colaborações em diversas produções de alto calibre, dentre elas mais notadamente Vingadores: Guerra Infinita (2018), Thiago foi procurado pela CBS Studios no começo de 2022 com a demanda de realizar filmagens nos Lençóis Maranhenses, por sinal o mesmo local que sua equipe teve de filmar para o uso no filme da Marvel.
“Acho até que foi o nosso trabalho lá com Vingadores que chamou a atenção deles”, disse o cineasta ao Trek Brasilis.
LEVANDO O MARANHÃO AO CANADÁ
Não é a primeira vez que Discovery busca uma locação fora do eixo Canadá-EUA para a série. De fato, o episódio piloto, “The Vulcan Hello”, teve seu prólogo filmado na Jordânia, e os dois primeiros episódios da terceira temporada contaram com locações na Islândia. Para a quinta temporada, contudo, em vez de vir ao Brasil com os atores para realizar as filmagens, a produção optou por levar os cenários espetaculares dos Lençóis Maranhenses até o Canadá.
As filmagens realizadas pela equipe da BPS, coordenadas por Valéria Costa e Edu Sallouti, ocorreram em abril de 2022 — antes mesmo que a fotografia principal do episódio (que envolve as cenas com os atores) ocorresse, em junho daquele ano. “Com a equipe de efeitos especiais canadense, fizemos uma diária de visita de locação e reconhecimento de terreno e mais três diárias de filmagem. Além disso, tivemos outro produtor que foi alguns dias antes de nós e fez outra diária de visita prévia e mais duas diárias de preparação in loco antes da minha chegada com o time estrangeiro”, conta Valéria.
A ideia era capturar imagens da paisagem do parque nacional — área de reserva protegida e de acesso difícil e restrito conhecida por sua combinação exótica de desertos de dunas e lagoas –, sobretudo com drones, para que ajudassem a compor a espetacular perseguição retratada no episódio, protagonizada por Michael Burnham (Sonequa Martin-Green), Cleveland Booker (David Ajala) e Rayner (Callum Keith Rennie).
“Foi muito interessante ver a captura dessas imagens porque, na época em que a gente fez, o drone FPV, que é first person view, um drone de corrida, mais rápido, era mais novidade. Agora já está um pouco mais difundido no mercado, mas [então] tinha [só] um ou dois operadores experientes aqui no Brasil”, diz Valéria, indicando ainda que os quatro membros estrangeiros da produção trouxeram equipamento de LIDAR (“acrônimo” para light detection and ranging, basicamente um “radar” que funciona a laser) para fazer o escaneamento 3D da região.
De posse dessas imagens e do mapa digital 3D, a equipe de efeitos visuais de Discovery pôde reconstruir toda a ambientação no AR Wall — equipamento que a própria produção compara ao holodeck de Star Trek. É essencialmente um palco cercado por telões de LED que recriam cenários virtuais com a perspectiva adequada, dependendo da posição da câmera, em tempo real, usando para isso tecnologia de motores de videogame. Foi como levar os Lençóis Maranhenses até o Canadá, onde os atores, postados em meio ao AR Wall, foram incluídos nas cenas.
O visual, claro, foi fortemente alterado por computação gráfica para se tornar mais alienígena –o que torna mais difícil reconhecer a paisagem original nas tomadas.
Star Trek teve algumas (poucas) referências ao Brasil ao longo de sua história. Uma das mais marcantes é uma pintura usada para representar a estação de dilítio em Delta Vega, no segundo piloto da Série Clássica, “Where No Man Has Gone Before”, de 1965. Feita pelo icônico artista de pinturas para cinema e TV Albert Whitlock, ela traz um prédio que guarda inconfundível semelhança com o Palácio da Alvorada, em Brasília. Em Deep Space Nine, em “The Dogs of War” (1999), da sétima temporada, tivemos uma rápida introdução da nave estelar USS São Paulo. No episódio de abertura de Enterprise, “Broken Bow”, a oficial de comunicações Hoshi Sato é vista lecionando no Brasil, mas num ambiente totalmente criado em estúdio. Mais recentemente, na terceira temporada de Picard (2023), vimos um Centro de Recrutamento da Frota Estelar em M’talas I que é baseado em uma imagem aérea da região do estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. E agora, com Discovery, temos a mais longa captação de um ambiente real filmado no Brasil para uma produção de Star Trek.
Clique aqui para ver mais imagens dos bastidores da filmagem e confira abaixo nossa entrevista completa com Thiago da Costa e Valéria Costa.
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