TNG 7×22: Bloodlines

Em trama de vingança, ferengi traz à tona filho de Picard – mas não passa de embuste

Sinopse

Data estelar: 47829.1.

A Enterprise encontra uma sonda no espaço, e ela transmite uma mensagem holográfica de Bok, ex-DaiMon ferengi que tentou matar Picard seis anos atrás, por considerá-lo culpado pela morte do próprio filho em um combate contra a Stargazer, quando Jean-Luc era seu oficial comandante. Bok promete vingança, matando o primogênito de Picard, um rapaz chamado Jason Vigo. Detalhe: Jean-Luc jamais soube desse filho.

Data pesquisa os registros da Federação à procura de Jason, baseado na relação com Miranda Vigo, mulher com que Picard se envolveu brevemente na Terra, 24 anos atrás. Os dados revelam que os dois se estabeleceram há 12 anos em Camor V. A Enterprise passa para lá e encontra o jovem, fazendo exploração e escalada em cavernas. Picard ordena que ele seja teletransportado para a Enterprise, e Crusher realiza um teste e confirma que ele de fato é filho do capitão.

Picard explica que Jason está em risco e tenta estabelecer alguma relação mais próxima com o filho que ele jamais soube ter. Jason também nunca soube quem era seu pai, e ele não se mostra interessado em aprofundar essa relação, apesar de concordar em permanecer na nave até a resolução da crise com Bok.

Enquanto isso, o governo ferengi responde a uma solicitação da Enterprise. DaiMon Birta informa que Bok foi dispensado do comando de sua nave há seis anos e despachado para uma prisão, de onde fugiu há dois anos. Seu último paradeiro conhecido é o aglomerado Dorias. Investigando o desgaste sofrido pela sonda enviada por Bok, La Forge e Data conseguem estabelecer sua origem no sistema Xendu Sabu. Picard ordena que a Enterprise marque um curso para lá.

No caminho, o capitão conversa com Beverly Crusher para falar de sua situação com Jason. Em paralelo, Troi procura o rapaz, mas ele não está muito a fim de conversa, exceto para flertar com ela. Dormindo em seus aposentos, Picard é despertado pela voz de Bok e vê o ferengi diante de si. Mas ao chamar a segurança, ele desaparece.

La Forge e Worf analisam a situação, mas são incapazes de dizer se é um holograma ou se Bok de fato esteve lá, teletransportado. Eles praticamente descartam que Picard estivesse alucinando, manipulado mentalmente como acontecera seis anos antes, no encontro anterior com Bok. Por segurança, o capitão pede que dois seguranças acompanhem Jason pela nave, o que o irrita ainda mais.

A Enterprise encontra mais uma sonda, que explode transmitindo uma mensagem: “Minha vingança está por vir.” Picard fica ainda mais perturbado quando Bok se materializa novamente em seu gabinete. La Forge e Data investigam a cadeira do capitão e suspeitam que o ferengi de fato esteve lá, usando um transporte subespacial. Picard teme que Bok possa usar essa controversa tecnologia para transportar seu filho para fora da nave.

Em paralelo, Jason tem uma convulsão e é levado à enfermaria. Crusher descobre que ele tem síndrome de Forrester-Trent e segue analisando o rapaz cuidadosamente. Medicado, vai ao holodeck fazer uma escalada, e Picard se junta a ele. Os dois começam, de forma tumultuada, a estabelecer um vínculo, depois que o capitão revela saber o passado de crimes do jovem.

Jean-Luc então recebe um chamado de Crusher, que precisa contar algo sobre Jason. Ao mesmo tempo, Bok usa o transporte subespacial para levar Jason dali. Com o sinal de transporte rastreado, a Enterprise parte para a fonte, a 300 bilhões de quilômetros de distância – uma viagem de 20 minutos em dobra 9, tempo demais para um resgate. Picard pergunta a Data se seria possível modificar o transporte para operar em modo subespacial. O androide diz que sim, embora seja arriscado. Picard então decide se transportar.

Lá ele usa um feiser para render a tripulação de Bok e revela que ele está apenas em busca de vingança, e não de um resgate por Jason. Indica ainda ter descoberto o embuste – Jason não é seu filho, mas Bok alterou seu DNA para fazer parecer assim, deixando como resquício a síndrome que surgiu nele.

Jason é resgatado e levado de volta à Enterprise, que o devolve a Camor V, atendendo a seu pedido. Na despedida, Picard presenteia seu “quase filho” com um artefato arqueológico, para que se lembre dele.

Comentários

“Bloodlines” é mais uma boa ideia mal executada nesta sétima e última temporada de A Nova Geração. A ideia do resgate de Bok, arqui-inimigo de Picard estabelecido na primeira temporada no razoável episódio “The Battle”, é bacana, no espírito de ir fechando os arcos que a série abriu ao longo de seus sete anos. A noção de Picard ter um filho não conhecido é melhor ainda, com potencial dramático explosivo. Mas acaba que temos um episódio morno e cujo desfecho anula completamente a própria premissa.

A história toda depende muito das atuações de Patrick Stewart e de Ken Olandt, mas a entrega não é total. Stewart tem alguns bons momentos como o angustiado, mas travado, capitão tentando resgatar uma relação não vivida ao descobrir que teve um filho criado longe dele. Já Olandt faz só o feijão com arroz, com um roteiro que também se apresenta apinhado de clichês.

Sem a química entre os dois, fica muito difícil manter o interesse sobre o episódio, o que se torna ainda mais frustrante quando é revelado ao final que Vigo não é de fato filho de Picard. O segmento todo faz força para preservar a boa imagem do capitão, numa situação em que ele é vítima de todos – de Miranda Vigo, que teve o filho sem contar a ele (ou mesmo ao verdadeiro pai, aparentemente também na Frota Estelar, segundo o que ela teria dito a Jason – historinha esquisita essa), de Jason Vigo, que recusa os esforços do suposto pai para se aproximar, e, claro, de Bok, que arquitetou mais esse “plano infalível” para se vingar do capitão, depois da pataquada com a Stargazer em “The Battle”.

É um problema menor, mas também não ajuda que os produtores não tenham trazido o ator original de Bok, Frank Corsentino, que acabou substituído por Lee Arenberg. Por incrível que pareça, apesar da caricata introdução dos ferengis na primeira temporada de A Nova Geração (e talvez até por isso), o ator original deu mais carisma a Bok que seu substituto, já muito pautado pela reformulação dos ferengis, sobretudo a partir do início de Deep Space Nine. Acabou ficando um vilão comum e o pequeno benefício que a nostalgia poderia trazer ficou de lado.

Um aspecto curioso dessa história é que ela seria “revisitada” (em nova versão) na terceira temporada de Picard, quando é revelado que Jean-Luc teve um filho com Beverly Crusher anos depois do filme Jornada nas Estrelas: Nêmesis e, a exemplo do que teria feito Miranda Vigo, Beverly também escondeu o filho do pai até a idade adulta. É de se espantar que a médica tenha feito essa escolha mesmo depois de ter vivenciado de perto o drama de Jean-Luc neste episódio, o que cria certo ruído (ou ele é mesmo terrível como marido e pai, ou ela foi profundamente injusta com ele, possivelmente um pouco das duas coisas). Pelo menos o drama de ter um filho “perdido” foi bem abordado lá, já que aqui a coisa ficou muito insossa, e ainda por cima anulada no final, com a revelação da fraude de Bok.

Sem emoção suficiente, a trama só poderia se sustentar com grandes lances de aventura, o que infelizmente também está ausente aqui. A história é guiada por mensagens insistentes de Bok e, enfim, sua mal resolvida aparição via transporte subespacial (um vespeiro que, a exemplo da limitação do uso do motor de dobra imposta por “Force of Nature”, poderia criar problemas para o futuro da série se fosse levada a sério). A propósito, é incrível como Data rapidamente improvisa um transporte subespacial para Picard, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Soluções de enredo muito ruins, que fazem pensar que a pressão crescente com prazos no fim da temporada impediu que a história tivesse o polimento merecido. No fim das contas, “Bloodlines” é mais um segmento bem-intencionado, mas em última análise fracassado, nesta sétima temporada.

Avaliação

Citações

“Lower your weapons, or Bok is dead.”
“Lower yours or your son dies!”
“You know as well as I do, Bok, he is not my son.”
(Baixem suas armas, ou Bok morre.)
(Baixe as suas ou seu filho morre!)
(Você sabe tão bem quanto eu, Bok, que ele não é meu filho.)
Jean-Luc Picard e Bok

Trivia

  • A versão final do roteiro é datada de 9 de fevereiro de 1994, e as filmagens se deram entre os dias 10 e 17, nos galpões 8 e 9 da Paramount.
  • A ideia para o episódio nasceu de uma conversa que Jeri Taylor teve com Brent Spiner e Patrick Stewart durante as filmagens de “Masks”. Taylor perguntou a Stewart se havia algum aspecto do seu personagem que ele sentia que não foi explorado. Stewart mencionou a vingança não concluída de Bok do episódio “The Battle”, da primeira temporada. “Sempre me fascinou que haja essa criatura correndo pelo universo até hoje que me odeia”, disse Stewart. Taylor deu ideia a Nick Sagan, filho do astrônomo Carl Sagan que já havia contribuído com o episódio “Attached”, para que ele a desenvolvesse.
  • Sagan comentou: “Eu me lembrava [de Bok] e gostava do tipo de vilão safado e corrompido que ele era, e me lembro de ter pensado que era um dos poucos episódios legais da primeira temporada… Eu pensei que Bok tentaria se vingar com o filho de Picard, e quem ele seria? O filho de Picard é a nave? Não, o filho de Kirk é a Enterprise. Eu decidi fazer um pseudofilho geneticamente engendrado.”
  • Sagan apontou que a premissa original (“Fugue”) era muito mais sombria que o episódio final. “A ideia é que Bok havia engendrado geneticamente essa criança desde o nascimento e teria acelerado seu crescimento e dado memórias de Picard o abandonando na Stargazer. Então Bok estaria usando uma das bolas mentais para dar a Picard esses flashes vagos de memórias falsas, fazendo-o pensar que ele teria tido essa experiência como de fuga, em que ele basicamente abandonava seu filho na Stargazes e a bloqueava da sua mente. Eu não sei se teria funcionado ou não, mas tinha um aspecto sombrio bem interessante e dava um senso de abandono e de tentar recapturar esse senso de um filho que ele nunca teve. Então acaba se revelando que não é nada disso.”
  • O roteiro final recebeu uma polida não creditada de René Echevarria.
  • Sagan havia dado o nome de Cristof ao rapaz, e Echevarria trocou por Daniel. Então, Stewart pediu para trocar para evitar usar o nome de seu próprio filho, que havia aparecido em “The Inner Light”.
  • Sagan diz ter se inspirado em uma época em que sua relação com seu pai Carl estava abalada para escrever os diálogos entre Jean-Luc e Jason.
  • Vários nomes desse episódio são piadas internas. O oficial de segurança Garvey é uma homenagem ao jogador de beisebol Steve Garvey; a síndrome de Forrester-Trent é uma referência ao escritor de “The Battle”, Larry Forrester, e o músico Trent Reznor, da banda Nine Inch Nails; e Sandra Rhodes ganhou esse nome em homenagem a uma oficial da Força Aérea dos EUA e fã de Star Trek.
  • Lee Arenberg assume o papel de Bok neste episódio, depois de ter interpretado o ferengi Gral, em “The Nagus”, de Deep Space Nine. Mais tarde ele interpretaria o embaixador telarita Gral em vários episódios de Enterprise.
  • Este é o único episódio de A Nova Geração a mencionar as Regras de Aquisição ferengis.
  • Nem todos os roteiristas ficaram entusiasmados com o retorno de Bok. Ronald D. Moore comentou: “Pensei se o mundo sabia ou se importava com a volta de Bok. Eu não fui um grande fã disso ou de ‘The Battle’ e não vi motivo para repetir ‘Suddenly Human’, em que realmente acertamos num arco interessante com Picard tendo uma relação do tipo pai/filho.”
  • Nick Sagan também achou que o episódio ficou aquém de sua contribuição anterior para a série, com “Attached”. Ele reconheceu que o episódio não ofereceu muito fechamento, o que seria importante numa temporada final. “Acho que ‘Bloodlines’ também foi prejudicado pelo fato de que parecia que na sétima temporada houve muitos parentes de personagens jogados… é como, ‘quem vem a seguir? A prima em terceiro grau da Guinan?’.”

Ficha Técnica

Escrito por Nicholas Sagan
Dirigido por Les Landau

Exibido em 2 de maio de 1994

Título em português: “Laços de Sangue”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Ken Olandt como Jason Vigo
Lee Arenberg como Bok
Peter Slutsker como Birta
Amy Pietz como Rhodes
Michelan Sisti como Tol
Majel Barrett como voz do computador

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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