Movido a ação, episódio nos coloca cara a cara com o mistério dos Progenitores
Sinopse
Data estelar: desconhecida.
O Quartel-General da Federação está em frenesi quando Saru reencontra T’Rina trazendo flores. Em reunião com a presidente Rillak, surge a informação de que a primarca Tahal pretende tomar os soldados de Ruhn para si e reforçar sua posição de poder entre os breens. Enquanto isso, a nave de Moll está se aproximando do local onde podem encontrar a tecnologia dos Progenitores. A Discovery precisa saltar imediatamente. Stamets não garante precisão com o motor de esporos, mas diz que é possível.
Após o salto, a nave se vê no disco de acreção de um buraco negro. Com esforço eles manobram para longe e descobrem estar entre dois buracos negros primordiais, formados no início da história do Universo. No ponto lagrangiano de equilíbrio gravitacional entre os dois, eles encontram um artefato do tamanho de uma nave auxiliar, com uns 800 anos de idade. Michael especula que foi construído pelos cientistas para proteger a tecnologia dos Progenitores.
Em seguida, a nave de Moll chega e, com um raio trator, captura o artefato. Os oficiais constatam que ele pode ser aberto com as pistas, sob posse de Moll. Michael destaca que recebeu uma informação adicional na Galeria: “Construa a forma do um entre os muitos.” Ela ainda não sabe o que isso quer dizer, mas formula um plano para recuperar o artefato. Uma nave auxiliar vai se aproximar discretamente e de lá dois grupos irão se transportar. Enquanto Michael e Book se dirigem para o hangar em busca do artefato, Rhys e Adira irão à ponte. Um deles vai facilitar o transporte do artefato, na ponte, e o outro vai colocar nele um rastreador. Enquanto isso, Rayner fica no comando da Discovery, com Tilly como primeira oficial.
Na nave breen, Moll ordena que um soldado abra o artefato. Uma passagem se abre e ele é sugado para dentro, desaparecendo. Aparentemente é um portal extradimensional. Enquanto os cientistas breens investigam a situação, Moll usa um acumulador de padrão portátil para armazenar o corpo de L’ak e então vai à ponte.
O grupo avançado da Discovery consegue embarcar disfarçado de breen, e Michael usa seus conhecimentos xenoantropológicos para convencer outros soldados de que eles são membros da tripulação. E então se separam em duplas para cumprir a missão. No caminho para o hangar, Michael conversa com Book sobre o que viu durante seu tempo inconsciente na Galeria e tenta fazer as pazes com ele. Ambos se sentem na mesma situação.
Na ponte, Adira e Rhys trabalham para acessar a plataforma que permitirá baixar os escudos da nave, enquanto Rayner, na Discovery, repassa as ações da tripulação para a execução do plano. Tilly observa que ele está inquieto e sugere que ele se sente na cadeira do capitão. Rayner recusa.
No Quartel-General da Federação, Rillak diz que Tahal não respondeu às tentativas de contato. A presidente decide enviar Saru como um representante para tentar negociar um acordo.
Enquanto isso, Michael e Book chegam ao hangar, mas acabam sendo barrados. Os dois precisam enfrentar dois soldados num combate corpo a corpo para prosseguir. Eles conseguem acessar o artefato e colocar um rastreador para o transporte, mas são cercados por Moll e seus soldados.
Michael consegue enviar uma mensagem cifrada a Rayner, que entende que ela quer que ele rompa o campo de força do hangar e permite que todos eles voem para o espaço, onde serão resgatados com o artefato. Stamets encontra um meio de executar o plano, e a Discovery parte em disparada para o hangar, enquanto Michael e Book se desvencilham dos soldados. Adira baixa os escudos, mas tem de enfrentar os soldados breens junto com Rhys.
Moll percebe o que vai acontecer e adentra o artefato, avançando pelo portal extradimensional. Michael vai atrás dela. A Discovery invade o hangar e teletransporta Book, Adira e Rhys. O artefato voa para o espaço e se destrói, deixando exposto um estranho portal. Rayner diz que a capitão e a tecnologia dos Progenitores estão lá dentro e que vão recuperar os dois. E então finalmente se senta na cadeira de comando para iniciar o resgate…
Comentários
Como esperado, “Lagrange Point” é um grande episódio de ação que prepara o terreno para o desfecho da temporada. Para quem gosta do gênero, o segmento agrada. Mas ainda assim carrega alguns defeitos que impedem o espectador de passar o tempo todo na beirada da cadeira.
De uma coisa não se pode reclamar: o roteiro é bastante direto, conduzindo a história com confiança. O problema, ao menos durante a primeira meia hora, vem com a previsibilidade. O formato da aventura é clássico: ao estilo de Onze Homens e um Segredo e similares (dentre os quais “Badda-Bing Badda-Bang”, de Deep Space Nine), assim que os breens capturam o artefato, somos apresentados a um plano de ação que precisa ser meticulosamente coordenado para dar certo.
Todo mundo e mais alguém sabe que, quando um plano é apresentado assim, na largada, é óbvio que vai dar tudo errado. E aí somos colocados nessa posição de esperar tudo dar errado, e a graça que resta é descobrir de que maneiras isso vai acontecer. É onde o episódio acaba se tornando meio previsível. As coisas andam mais ou menos dentro do programado durante boa parte do segmento, a ponto de dar um tempo para Michael e Book discutirem a relação enquanto se escondem de soldados breens – é de rolar os olhos nessa hora, com um clichê da série que a atual temporada havia evitado até então. A cena é curta e não chega a comprometer, mas não era momento ou lugar para isso, e dá uma quebrada na sequência.
Também não ajuda muito a simplicidade com que os nossos heróis ludibriam os estúpidos soldados breens, com frases de efeito e emulações simplórias daquela cultura alienígena, recheadas com humor barato. O diretor Jonathan Frakes bem que tenta salvar a hora com uma condução criativa e uma edição charmosa, com direito a telas divididas e um bom uso da “câmera do Homem-de-Ferro”, em que vemos os atores “dentro” da armadura breen, mas no geral os clichês predominam, e o fato de todos os breens serem iguais não ajuda a acompanhar as sequências de luta ou mesmo os diálogos, em alguns casos. Tarefas inglórias, que a produção conseguiu entregar a contento, mas sem brilhantismo.
Temos a volta de Saru após uma longa ausência, mas o personagem apenas se recoloca no jogo, com sua relevância deixada apenas para o episódio final. Como sempre, as cenas entre ele e T’Rina são um certo charme e se encaixam melhor às circunstâncias do que a entre Michael e Book. Também Adira ganha pontos por aqui com uma trama secundária que envolve o aumento de confiança para se colocar à disposição do grupo que vai à nave breen. É um bom momento de personagem, agregado pela doce despedida dos “pais”, Culber e Stamets.
Após a primeira meia hora, o episódio começa de fato a esquentar. O plano para recuperar o artefato vai para o vinagre e descobrimos por que a nave breen é tão absurdamente grande – os roteiristas queriam fazer a Discovery entrar e sair do hangar dela, numa das sequências mais empolgantes deste segmento. Rayner tem a chance de brilhar e acaba saindo como um dos personagens mais fortes da trama, conduzindo a tripulação com confiança e perspicácia. A recompensa por uma temporada sem se sentar na cadeira do capitão vem ao final, quando ele assume a responsabilidade por salvar Michael Burnham e resgatar a tecnologia dos Progenitores. OK, podiam ter evitado mais um clichê (“Fracasso não é uma opção”, tirado diretamente de Apollo 13), mas Callum Keith Rennie segura muito bem suas cenas como um líder de respeito.
Também é intrigante a revelação do tal “portal extradimensional” que pode levar à tecnologia dos Progenitores. A cena inicial, com o soldado breen sendo engolido, lembra um pouco a sequência “só o homem penitente passará”, de Indiana Jones e a Última Cruzada, em que todos os que tentam chegar ao Santo Graal vão morrendo, até Indy entender que precisa se ajoelhar para sobreviver. Michael já apresenta aqui a pista extra colhida em “Labyrinths”, a frase “construa a forma do um entre os muitos”, mas seu significado ainda está por ser revelado.
O que será que nos aguarda do outro lado do portal? Depois que Moll (convenientemente levando o corpo de L’ak no bolso) e Michael mergulham nele, o mistério é aguçado, num bom gancho para nos levar ao episódio final. Mas essa qualidade não é suficiente para de fato nos empolgarmos com “Lagrange Point”, que serviu apenas como uma ponte recheada de ação para nos levar às revelações que nos aguardam no desfecho da temporada.
Avaliação
Citações
“Listen up. Our captain is in there. The Progenitors’ tech is in there. We’re getting them both back. Failure… not an option. All right. Let’s do this.”
(Ouçam. Nossa capitão está lá dentro. A tecnologia dos Progenitores está lá dentro. Vamos recuperar os dois. Fracasso… não é opção. Certo. Vamos lá.)
Rayner, assumindo a cadeira do capitão
Trivia
- Sean Cochran traz aqui seu segundo roteiro da temporada, depois de “Face the Strange”. Ele está com a série desde o primeiro ano. Já a roteirista Ari Friedman faz sua estreia neste episódio.
- Jonathan Frakes, conhecido por viver William T. Riker em A Nova Geração antes de se tornar um dos mais importantes diretores da história de Star Trek, conduz aqui seu oitavo e último episódio em Discovery. Foi a série da franquia para a qual ele mais dirigiu, empatada com A Nova Geração.
- Com 46min57s, este é o episódio mais curto da temporada.
- Os pontos de Lagrange, também conhecidos como pontos de libração, são regiões de equilíbrio gravitacional em sistemas de dois corpos.
- Na astrofísica, buracos negros primordiais são uma possibilidade teórica, mas sem confirmação observacional. Seriam objetos de pequeno porte e grande massa, menores que os buracos negros de massa estelar, e criados logo após o Big Bang, nos primórdios do universo, a partir do colapso da matéria recém-criada.
- Após uma ausência de cinco episódios, a pedido do ator para participar da promoção do filme Hopus Pocus 2, Doug Jones está de volta à série como Saru.
Ficha Técnica
Escrito por Sean Cochran & Ari Friedman
Dirigido por Jonathan Frakes
Exibido em 23 de maio de 2024
Título em português: “Ponto de Lagrange”
Elenco
Sonequa Martin-Green como Michael Burnham
Doug Jones como Saru
Anthony Rapp como Paul Stamets
Mary Wiseman como Sylvia Tilly
Wilson Cruz como Hugh Culber
Blu del Barrio como Adira Tal
Callum Keith Rennie como Rayner
David Ajala como Cleveland “Book” Booker
Elenco convidado
Chelah Horsdal como Laira Rillak
Annabelle Wallis como Zora
Tara Rosling como T’Rina
Eve Harlow como Moll
Patrick Kwok-Choon como Gen Rhys
Orville Cummings como Christopher
David Benjamin Tomlinson como Linus
Christina Dixon como Asha
Victoria Sawal como Naya
Natalie Liconti como Gallo
Zahra Bentham como Lorna Jemison
Dorian Grey como tenente breen Arisar
Tony Ofori como oficial de comunicações do QG da Federação
Makenzie Heaven Smith como cientista breen
Perrie Voss como Mia Greer
Jordan Collalto como soldado breen
Jordan Francis como soldado breen
Jordan L’Abbé como soldado breen
Eli Martyr como soldado breen
Dayton Sinkia como soldado breen
TB ao Vivo
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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria