Episódio competente, mas pouco inspirado, oferece desfecho à crise gorn
Sinopse
Data estelar: desconhecida
Atacada pesadamente pelos gorns, a Enterprise aguarda ordens de Pike. Una sugere bloquear as comunicações deles e recuar para um resgate futuro. Será preciso marcar a nave gorn para rastreá-la. A tripulação decide colocar um marcador em um torpedo e aproximar a Enterprise do destróier gorn a fim de penetrar os escudos, viabilizando a instalação. A manobra dá certo. Pike ordena uma retirada e a Enterprise se reúne com outras naves da Frota Estelar.
Na enfermaria, Chapel trabalha para salvar a capitão Batel, infectada com ovos gorns. Mas ela é alérgica ao criossoro e não pode ser colocada em estase, o que dá pouco tempo para a busca de uma solução, menos de um dia. Spock vai ajudá-la.
Pike se reúne com o almirante April, que insiste que a Federação não confronte os gorns fora de suas fronteiras, mas o capitão está convencido de que os gorns, sem resistência, acabarão promovendo uma invasão de larga escala. April concede não oficialmente sua bênção para que Pike possa enfrentar os gorns no espaço deles e mostrar que não são indefesos. O capitão cobra que Pelia e Scotty consigam instalar o transponder improvisado que fará a Enterprise ser identificada como uma nave gorn, mas não é fácil. Ela consegue inspirá-lo a trabalhar depressa dizendo que o tempo acabou. Funciona, mas o jovem engenheiro não fica feliz. Com isso, a Enterprise consegue penetrar espaço gorn sem ser confrontada.
No destróier gorn, La’An desperta em uma espécie de casulo. Ela extrai M’Benga, Sam Kirk e Ortegas de outros desses invólucros. Todos estão feridos, em particular a pilota, que perdeu parte da mão. Os casulos servem como um sistema digestivo, consumindo-os pouco a pouco para gerar energia. O grupo pensa em como fugir. Sam encontra um rifle feiser. La’An quer salvar todos os colonos presos, mas libertá-los um por um seria impraticável. O grupo encontra uma interface de computador gorn e La’An consegue operá-la para pegar os códigos de transporte dos colonos. Gorns chegam para atacá-los e, após o combate, os federados fogem numa nave caçadora.
Em paralelo, a Enterprise parte para um sistema binário com atividade estelar sem paralelo, destino do destróier gorn. Pike segue preocupado com Batel, que recebe atenção de Spock e Chapel. O vulcano aproveita a ocasião para pedir desculpas à enfermeira, mas ela diz que será melhor para eles darem um tempo. Todas as estratégias para salvar a capitão parecem fadadas ao fracasso. Chapel tem a ideia de usar o sangue iliriano da Una para uma transfusão, permitindo que Batel passe pela cirurgia. A chance de sobrevivência sobe de zero para 14%. Eles decidem prosseguir, mas, na última hora, optam por um curso alternativo: em vez de extrair os gorns cirurgicamente, tratá-los dentro de Batel para que sejam reabsorvidos em vez de chocarem.
Una e Uhura descobrem que as aparições gorns têm correlação com atividade estelar, algo que Pike já sabia. Mas também há circunstâncias de atividade estelar em que eles acabam se tornando dormentes, dóceis. A Enterprise encontra o destróier, que se coloca entre as duas estrelas e desaparece. O capitão está determinado a ir atrás dela. O sistema binário aparentemente gera um holograma natural que serve de ocultação para os gorns. Pike especula que estejam diante do caminho para o mundo natal gorn. Eis que surge uma enorme armada de naves gorns, a caminho do espaço federado. Pike fica dividido entre voltar para avisar a Federação e salvar os colonos. Acabam desenvolvendo um plano para gerar uma explosão estelar artificial com a Enterprise e atrair os gorns de volta para hibernarem. Mas o risco de perda da nave é enorme.
Em paralelo, Ortegas pilota a nave caçadora para fora do destróier. La’An consegue abrir contato com a Enterprise e mandar os códigos de transporte para o resgate dos colonos. As naves gorns são todas atraídas pela Enterprise, que desliga a explosão estelar artificial na última hora. Os gorns voltaram a seu mundo natal. Antes disso, os colonos são resgatados, bem como o grupo na nave caçadora. Pike especula que os alienígenas entrarão agora em um longo período de hibernação, eliminando o problema de uma futura invasão por pelo menos alguns anos.
A Enterprise marca um curso para o Sistema Solar. No laboratório da enfermaria, Pike visita Batel e está prestes a apelar para uma oração quando ela desperta. Ele explica que ela ainda não está totalmente fora de perigo. Emocionado, diz que não quer perdê-la.
Comentários
“Hegemony, Part II” é um episódio competente, ainda que não muito inspirado. Partindo de um cliffhanger ultradramático, a segunda parte procede solucionando, um a um, todas as pontas soltas deixadas pelo final da temporada anterior. E o showrunner Henry Alonso Myers não estava mesmo brincando quando disse que a ideia de fazer esse episódio duplo foi inspirada no clássico “The Best of Both Worlds”, que inaugurou essa tradição de Star Trek na terceira temporada de A Nova Geração. De fato, a solução para o “problema gorn” apresentada aqui é exatamente a mesma aplicada aos borgs na segunda parte daquele episódio – colocá-los para dormir.
O método, evidentemente, é diferente, o que alivia um pouco o que de outro modo seria simplesmente um copia+cola, mas também um pouco complicado e envolvido em tecnobaboseira. É verdade que a consultoria técnica da série, cortesia de Erin Macdonald para assuntos astrofísicos, assegura que toda a conversa sobre ejeções de massa coronal, explosões estelares e erupções de classe X sigam a ciência de verdade. Por outro lado, faltou um pouquinho mais de sensibilidade e incluir também as clássicas metáforas que ajudam o público a entender um pouco mais do que está havendo.
Podemos dividir o episódio em três tramas paralelas entrelaçadas, todas nascidas da primeira parte: a aventura dos tripulantes capturados junto com os colonos a bordo do destróier gorn; o desafio de Pike ao comandar a Enterprise em um confronto com pouca chance de vitória contra esses alienígenas; e o drama pessoal de Batel, infectada por ovos gorns e potencialmente condenada a uma morte terrível digna de um filme da franquia Alien.
O que mais se destaca, naturalmente, é a aventura na nave gorn, com todo o senso de exploração, maravilhamento (e terror, nesse caso) que envolve a visita a um cenário tão alienígena. La’An mais uma vez brilha como a especialista residente da Enterprise sobre os gorns, dependendo de lampejos de seu primeiro e traumático contato com eles para conduzir o grupo. Ortegas também ganha bom destaque ao deixar transparecer seu lado “soldado em missão”. Sam Kirk e M’Benga têm menos a mostrar nessa história, mas o mais interessante mesmo é ver o que os gorns fizeram aos colonos e como os usam literalmente como matéria-prima para a geração de energia.
Algo que há de se elogiar nessa versão repaginada dos alienígenas é a coerência no desenvolvimento de sua cultura, que depende essencialmente de sinais luminosos para comunicação e coordenação. Isso se alinha bem com a revelação, já instigada na primeira parte, de que as atividades gorns têm forte correlação com atividade estelar – elemento essencial para solucionar o problema de como colocá-los para dormir.
Do ponto de vista técnico, a execução das sequências na nave gorn é impecável, e temos mais vislumbres das versões adultas desses alienígenas – versões muito mais assustadoras do que a vista em “Arena”, da Série Clássica, o que os torna verdadeiramente sinistros.
O resto da ação se desenrola a bordo da Enterprise. Em contraste com o Pike paralisado do fim da Parte I, aqui o reencontramos resoluto, na prática reescrevendo o corte entre as duas metades, e fazendo o que o capitão tem de melhor: a capacidade de ouvir todos os seus oficiais e, baseado no que eles oferecem, tomar a melhor decisão. É assim que eles conseguem escapar do ataque maciço dos gorns (com uma manobra que praticamente colide a Enterprise com o destróier) e se reagrupar com a Frota Estelar, quando Pike convence April da necessidade de um revide contra os alienígenas (e incidentalmente viabilizar o resgate dos tripulantes e colonos).
Em paralelo, Chapel (sem a ajuda de M’Benga, mas com o suporte de Spock) precisa resolver como manter Batel viva, uma trama que se arrasta por todo o episódio de forma meio tediosa. É basicamente a necessidade de manter o assunto em pauta até o fim da crise gorn, para que Pike possa dar a devida atenção a ele. Surpreendentemente, a capitão sobrevive – o que nos faz pensar no tamanho da má sorte que teve Hemmer em “All Those Who Wander” (verdade seja dita, a tripulação lá bem que tentou salvá-lo; ele que decidiu que não tinha mais jeito e impediu qualquer intervenção).
Além das três tramas paralelas, podemos enxergar um pequeno, mas muito válido, arco para o recém-chegado Scotty – um engenheiro brilhante e muito criativo, mas ainda inseguro e desencontrado. Pelia começa a forjar uma relação com ele, de início um pouco antagônica, mas enfim visando seu crescimento. O personagem ainda está desconfortável a bordo, mas a semente da mentoria já está plantada, para que ele evolua para o milagreiro que conhecemos na Série Clássica.
Para além de concluir de forma bombástica, ainda que um pouco convencional, essa aventura, “Hegemony, Part II” parece fazer um esforço para encaminhar o fim do arco dos gorns em Strange New Worlds, com a perspectiva de que eles agora entrarão em hibernação e só voltarão a tumultuar o quadrante no ataque a Cestus III, dali a sete anos, como visto em “Arena”. Será?
Avaliação
Citações
“Make us shine like the sun.”
(Faça a gente brilhar como o sol.)
Christopher Pike
“Chris, we did it. We triggered a long hibernation in the gorn.”
“Yeah… But I can’t help wondering if we didn’t just create a problem for someone else to solve later.”
(Chris, nós conseguimos. Disparamos uma hibernação longa nos gorns.)
(Sim… Mas eu não posso evitar pensar se apenas criamos um problema para outro resolver mais tarde.)
Una Chin-Riley e Christopher Pike
Trivia
- Lançado em 17 de julho de 2025, este episódio foi exibido pela primeira vez quase dois anos após a conclusão da segunda temporada da série, em 10 de agosto de 2023. O hiato incomum foi decorrente das greves de roteiristas e atores que paralisaram produções americanas entre maio e novembro de 2023.
- Este é o primeiro episódio a creditar Martin Quinn, ator escocês que interpreta Montgomery Scott, como parte do elenco regular. O nome dele aparece já nos créditos de abertura da série, que trouxeram algumas novidades, como cenas com um cruzador klingon, uma nave auxiliar deixando a Enterprise e a Base Estelar Um cercada por uma frota de naves.
- Celia Rose Gooding já estava com os cabelos mais compridos que usaria no resto da temporada, mas era preciso filmá-la para este episódio com a aparência vista na primeira parte da história. Para isso, a produção preparou uma peruca que emulava o penteado antigo – mas o volume extra na cabeça é facilmente notado em várias cenas.
- Este é o quinto roteiro de Davy Perez para Strange New Worlds, após “Memento Mori”, “All Those Who Wander”, “Among the Lotus Eaters” e “Under the Cloak of War”. A história é coassinada por Henry Alonso Myers, co-showrunner da série.
- O diretor produtor Chris Fisher assume pela terceira vez o comando de um episódio, depois de “A Quality of Mercy” e “The Broken Circle”.
- O mapa estelar discutido por Pike e April no episódio mostra, entre outros locais, Cestus, sistema que seria atacado pelos gorns em “Arena”, da Série Clássica. Pelo gráfico, vê-se que ele fica fora das fronteiras da Hegemonia Gorn. Pike acerta ao predizer que os alienígenas acabariam desrespeitando essas linhas e invadindo espaço federado. O mapa também mostra Kessik (lar de B’Elanna Torres) e a estação Deep Space 2.
- A nave de April, a USS Pablo Picasso, tem o mesmo design de uma nacele da USS Kelcie Mae, vista em “Under the Cloak of War”, da segunda temporada.
- Durante os procedimentos médicos com Batel, Chapel e Spock usam trajes de biossegurança alaranjados, fortemente inspirados nos vistos no episódio “The Naked Time”, da Série Clássica. Essas roupas apareceram naquela série apenas uma vez por conta de sua aparência precária, feitas a partir de cortinas de banheiro. Aqui, a versão repaginada é uma homenagem respeitosa e muito mais crível.
- O material fictício “wolkita” pode ser uma referência ao coprodutor executivo da série Bill Wolkoff.
- O novo laboratório da engenharia da Enterprise – que traz a seção de Operaçãode Cetáceos (Cetacean Ops) para live-action pela primeira vez – estreia neste episódio. Sob a plataforma central, há água de verdade, embora nenhum de seus ocupantes tenha sido visto nadando por lá neste episódio.
- Um dos painéis de computador ao fundo do laboratório da engenharia tem uma animação bem similar à do sistema M5, visto em “The Ultimate Computer”, da Série Clássica.
- Os flashbacks de La’An com seu irmão morto Manu foram vistos originalmente em “Memento Mori”, da primeira temporada.
- Em entrevista ao Trek Brasilis, Rebecca Romijn comentou sobre a transição da primeira para a segunda parte. “Eu não sabia como eles iriam fazer. Quer dizer, sair naquele cliffhanger no fim da temporada 2, no meio da batalha, eu não sabia como. Era mais uma questão técnica, de efeitos visuais, do que de atuação, mas fizemos isso. Voltamos bem de onde paramos e ficou ótimo. Funcionou.”
- Christina Chong também não teve dificuldades na transição para a Parte II. “Porque nós cortamos no ponto logo antes de irmos, eu não precisei revisitar o último episódio. Foi quase como uma nova história, estávamos partindo de um nível acima do que estávamos antes”, disse ao TB.
Ficha Técnica
História de Henry Alonso Myers & Davy Perez
Roteiro de Davy Perez
Dirigido por Chris Fisher
Exibido em 17 de julho de 2025
Título em português: “Hegemonia, Parte II”
Elenco
Anson Mount como Christopher Pike
Ethan Peck como Spock
Jess Bush como Christine Chapel
Christina Chong como La’An Noonien-Singh
Celia Rose Gooding como Nyota Uhura
Melissa Navia como Erica Ortegas
Babs Olusanmokun como Joseph M’Benga
Martin Quinn como Montgomery Scott}
Rebecca Romijn como Una Chin-Riley
Elenco convidado
Adrian Holmes como Robert April
Melanie Scrofano como Marie Batel
Dan Jeannotte como George Samuel Kirk
Carol Kane como Pelia
Rong Fu como Jenna Mitchell
Matia Jackett como Bo
Alex Kapp como computador da Enterprise
TB ao Vivo
Em breve
Enquete
Edição de Maria Lucia Rácz
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