Atores recém-dispensados continuam comentando a série

Daniel Sasaki
Editor de Voyager

Enquanto o último episódio de Voyager ainda não é exibido, os atores da série, recém-liberados de seus empregos, continuam a comentar o que significou para eles contribuir com sete temporadas de Jornada nas Estrelas. Kate Mulgrew (Janeway), por exemplo, diz que Voyager a ensinou a gostar de ficção científica.

Antes de embarcar no projeto, em 1994, Mulgrew nunca tinha aparecido em um projeto de ficção científica e não possuía familiarização alguma com o gênero. Em uma entrevista à revista Cinescape, ela revelou que desde então passou a gostar muito do universo sci-fi.

“Quando você está imersa em algo e devota a isso, acaba adquirindo uma genuína admiração. Estudei a ficção científica e aprendi a apreciá-la de um modo como nunca pensei que apreciaria. Eu diria que minha paixão por esse gênero vem do trabalho”, explica. “Todos que fazem a ficção e a fazem bem feito, têm minha admiração, pois é algo altamente estilizado.”

“É uma coisa difícil, motivo pelo qual sempre destaco Bob Picardo [o Doutor de Voyager], que é o ator consumado. Ele traz tanto para algo que não era nada. Moldou um personagem absolutamente extraordinário. Eu amo seu talento. Isso vale também para todos os atores que já executaram esse tipo de trabalho com alguma graça.”

Um aspecto de Voyager que Mulgrew sempre adorou é o fato de a nave ser comandada por uma mulher, e disse que se sentiu privilegiada em ser a mulher na cadeira do capitão. “Essa personagem [Janeway] é um bom começo para mudar a visão da sociedade sobre as mulheres, particularmente as de meia-idade. Tenho 45 anos, lidero uma nave e não acho que tenha sacrificado minha humanidade, minha feminilidade ou alegria para fazê-lo.”

Porém, continuando seu relato, revelou as dificuldades iniciais enfrentadas ao aceitar o papel. “Vamos encarar os fatos”, ela disse, “no começo era com a minha genitália que eles estavam preocupados. Foi necessário muita força, porque sabia que estavam observando meus seios, minha maternidade e minha feminilidade. Mas disse a mim mesma, ‘apenas dedique-se a isso totalmente, e eventualmente eles estarão olhando para a capitã (e não o seu sexo)’.”

Já Ethan Phillips (Neelix), se diz aliviado. Quando ele falou à imprensa sobre a maquiagem que teve de usar durante os sete anos de Voyager, não é de se estranhar que alguns tenham pensado que o ator participava de uma série de terror. “É minha idéia de inferno, provavelmente, ter um colchão colado em sua cabeça”, Phillips contou ao SciFiTalk.

Desde o início do seriado, ele pôde vivenciar o quão difícil seria realizar seu papel. O episódio piloto de Voyager, “Caretaker”, envolveu longas horas de filmagens no calor do deserto, algo exaustivo para qualquer ator. Porém, quando se adicionam as pesadas próteses necessárias para transformar um humano em Talaxiano, a situação se assemelha a um pesadelo.

“Há lentes de contato e dentes falsos e você não consegue ouvir nada, não consegue dormir, a poeira fica entrando nos seus olhos e a temperatura externa é de 55 graus”. Voce deve estar se perguntando como então ele conseguiu atuar através do longo período de produção da série. “Você não percebe o quanto costuma tocar o rosto até não conseguir fazê-lo, aí então isso fica óbvio. É desconfortável, mas não se pode lutar contra isso. Tem de se aceitar, como muitas coisas na vida, sabe?”

Roxann Dawson (B’Elanna Torres) concorda com os comentários de Phillips sobre a maquiagem. “Realmente torna-se muito cansativo, especialmente quando você tem uma coceira às 10 da manhã e não pode se coçar até as 10 da noite.”

Mas a atriz é muito mais positiva com relação à sua personagem, B’Elanna, com quem se identificou no momento em que leu o roteiro de “Caretaker” pela primeira vez. Apesar de saber pouco sobre os Klingons e até mesmo sobre Jornada, ela sentiu uma forte conexão com a engenheira-chefe da Voyager.

“Acho que todos nós temos lados que lutam entre si, sejam nossos lados maternal e paternal, ou dois lados étnicos –um lado escuro e outro claro. Não acho que somos apenas uma pessoa.” Para Dawson, é esse conflito que torna a personagem tão atraente. “Ela é muito universal e o que estamos finalmente vendo é uma personagem que encorpa essas partes em nós mesmos e podemos vê-las em guerra entre si.”

Dawson adorou interpretar B’Elanna e expressou preocupação com o direcionamento que os roteiristas estão tomando ao “acalmar” o difícil gênio da personagem. “Eu gostaria de ver esses conflitos ainda mais intensificados. Sei que ela tem de ser uma oficial da Frota e que tem regulamentos a seguir com a responsabilidade de uma engenheira-chefe, mas, mesmo assim, não quero que isso seja tão fácil para ela.”

Diferente de Dawson, Robert Picardo (o Doutor) não se impressionou com “Caretaker”. “Eu estava um pouco nervoso quando fiz o piloto porque o Doutor não parecia ser grande coisa. Eu não tinha idéia que eles o desenvolveriam tanto e tão rápido,” disse.

Hologramas, é claro, têm mais limitações físicas do que personagens de carne e osso. “Você não come ou bebe, então não tem graça ir a uma festa, você não sua, você não precisa ir ao banheiro –e, por sinal, banheiros também são mais uma coisa nunca vista em Voyager.”