Tripulação dá seu último adeus à série

Na próxima quarta-feira, 23 de maio, a tripulação da USS Voyager entrará em cena pela última vez. Mas para os atores que caracterizaram os personagens ao longo desses sete anos, as cortinas já estão fechadas há quase um mês. Desde então, eles vêm comentando sobre suas experiências no quadrante Delta e os sentimentos com relação ao fim da série.

Em continuidade às matérias da TV Guide americana, a versão canadense da revista traz um artigo sobre o fechamento do seriado, com as reflexões de vários dos atores envolvidos.

“Nosso show melhora a cada ano”, disse Robert Duncan McNeill (Tom Paris). “Às vezes, esse nível de conforto pode gerar presunção, não que tenhamos chegado a isso, mas é sempre bom sairmos durante a melhor fase.”

Tanto McNeill como Tim Russ (Tuvok), não planejam se afastar dos estúdios da Paramount, à medida que planejam dirigir episódios da nova série, Enterprise. “Eu certamente estou fazendo propostas para dirigir episódios da nova série”, anunciou Russ. “Se houver qualquer oportunidade, eu ficarei mais do que feliz.”

Robert Picardo (Doutor) não foi otimista sobre guardar algumas lembranças dos cenários. “Acho que no momento em que disserem ‘corta’ [durante o episódio final, “Endgame”], eles virão tirar o figurino e vendê-lo. Serei sortudo se puder manter minhas costeletas”, brincou. Ethan Phillips (Neelix) foi mais sutil ao dizer que gostaria de levar Seven of Nine para casa.

Robbie McNeill falou em um programa de rádio que “Jornada é como uma grande família”. A influência do franchise se espalhou de forma tão grandiosa que o ator se encontrou com vários fãs no set de seu novo filme de terror, ‘Infested’. Durante os intervalos nas gravações, eles se reuniam e faziam paródias a cenas da Série Clássica, com direito a interpretações do tema, das quais o próprio Robert participava.

Logo que as filmagens de Voyager foram concluídas, a Paramount descobriu que a Plataforma 9, a qual abrigara corredores, a enfermaria e o hangar de carga da nave, estavam “despedaçando-se”. A estrutura básica desses cenários estavam lá desde 1977, quando a equipe de produção se preparava para o lançamento da abortada série Phase II. McNeill contou aos ouvintes que o prédio agora foi condenado e que foi bom que a série foi finalizada enquanto o edifício ainda estava de pé.

Em outra entrevista de rádio, Picardo (Doc) acrescentou que os sete anos de trabalho em Voyager “passaram num piscar de olhos”. Ele atribui essa sensação à “experiência maravilhosa” que teve. Ele também falou sobre seu tempo no circuito de convenções. “Para os fãs leais de Jornada nas Estrelas, nós nos tornamos heróis, por isso viajamos o mundo inteiro para conhecê-los e sermos vistos como se soubéssemos de algo que os meros mortais não sabem, o que de fato não sabemos”, avaliou o ator. “Eu os lembro disso constantemente.”

Com o episódio final indo ao ar na próxima semana, diversos jornais norte-americanos pagaram um tributo a Voyager. Em um extenso artigo do Los Angeles Times foram enfocados os maiores problemas da série, com algumas citações dos próprios atores.

“Nós nos esforçamos muito com a premissa do seriado”, disse o co-produtor executivo Kenneth Biller. “Estávamos em uma situação que aproximou os personagens, mas tornava impossível a serialização e recorrência a personagens secundários. O maior desafio era invertar novas histórias.”

Outro fator de destaque em Voyager foi o enfoque significativo nos personagens femininos. “Era uma situação em que Seven e a capitã Janeway consumiam o show nas últimas temporadas, algo que não se vê todos os dias numa série de ação voltada para um público predominantemente masculino. As mulheres eram bastante secundárias em A Nova Geração e, na série do capitão Kirk, basicamente gatas de mini-saia.”

Jeri Ryan (Seven of Nine) concorda. “Dada a aparência física de Seven, teria sido muito fácil colocá-la na cama com cada homem na tripulação da Voyager e cada alienígena que encontramos. Ao invés disso, os roteiristas se contiveram e a mantiveram uma forasteira.”

Já, no diários Boston Herald, quem comentou foi a atriz que comanda o seriado. Kate Mulgrew (capitã Kathryn Janeway) contou como planeja dizer adeus a Voyager. “Após o encerramento definitivo das filmagens, ainda terei algum trabalho a ser feito na secunda unidade, então estarei no estúdio por mais alguns dias”, disse.

“Uma vez finalizado, irei para a Plataforma 8 com meu uniforme, caminharei pela ponte escura e apenas sentarei na cadeira da capitã por um tempo, reunindo meus pensamentos e memórias. Planejo ter um momento bastante quieto com Janeway na ponte de comando. É como planejo dizer adeus a ela e à Voyager.”

Os sentimentos da atriz certamente são mistos. Os últimos sete anos foram de total devoção à série, mas Mulgrew acredita ter sacrificado sua vida em família. “Agora poderei ver quem eu amo na hora em que quiser,” continuou. “Senti falta [de coisas da minha vida] nessa correria louca para honrar a agenda nesses sete anos, algo que fiz e não tenho mais que fazer”.

“As luzes apagaram na ponte e estava acabado”, é o que Mulgrew contou ao jornal Washington Post sobre seus momentos finais no set (…) Tenho reações confusas ao fim da série. Sete anos é um longo tempo, e um capítulo significativo da minha vida. Porque foi algo tão rigoroso e trabalho urgente –e essa é a palavra que usaria, ‘urgente’– não tive tempo para assimilar minhas emoções. Agora elas estão me alcançando.”

A atriz sentiu que seu personagem precisava ser importante por si só, não como um símbolo ou parte de uma visão maior. Quando perguntada sobre como enfrentou tão bem as expectativas do tradicional público masculino de Jornada sobre uma mulher na cadeira de comando, ela afirmou que tentou ser “o menos parecida com uma mãe e mais parecida como um capitão o possível.”