ESPECIAL: Episódio final de Voyager em revista

(Onde aparecem os meus maiores problemas com esta série.)

Os personagens funcionam melhor como suas contrapartes do futuro. Eu não engulo (NEM DE LONGE) que suas versões do futuro alternativo representem (em um certo sentido) um fechamento adequado para eles em termos da série como um todo.

O grande problema da caracterização dos personagens do episódio (mas de forma alguma o único) está no casal Seven/Chakotay. A total (e descarada) falta de “setup” de tal relacionamento nos faz pensar que perdemos ao menos uma temporada, o que não é obviamente o caso. A falta de química entre os dois atores e o absurdo da situação, parece ter afetado os próprios Ryan e Beltran. Em certas pontos, temos a clara impressão de que uma “sessão de riso coletiva”, entre eles, está para ocorrer.

(O mais duro é que tal relacionamento têm bastante tempo de tela. Depois desta eu TENHO que concordar com o Robert Beltran: “os roteiristas de Voyager são uns idiotas”.)

De fato, se não fosse por estas cenas, Chakotay não teria muito o que fazer devido a forma que o episódio é estruturado com duas Janeways. A esquecida perspectiva de um romace com Janeway, não é sugerida, mesmo que por sub-texto, em lugar algum.

O episódio reduz o (potencialmente trágico para Seven Of Nine) “setup” do final de “Human Error” a uma “coisa tão simples que um procedimento médico trivial de fim de tarde pode resolver”. A partir dai Seven está pronta para experimentar emoções com o comandante “Comatay”. Mais uma reciclagem (via almirante Janeway) do tema da culpa de Seven, pelos seus tempos na coletividade, é simplesmente ridícula. A personagem fica muito mal fechada.

O doutor têm uma melhor sorte, pois parte do seu fechamento ficou no episódio “Author, Author”. Neste veículo, a possibilidade de um relacionamento dele com Seven vai para o “toilete”, com direito a AINDA MAIS UMA “cena do doutor, que através somente de sub-texto, continua a tentar conquistar Seven a longo prazo” (a cena é simplesmente deprimente, apesar do esforço de Picardo). Deve ser frustrante perder a Seven para um personagem em ETERNO estado de coma. O doutor se sai bêm como alívio cômico.

Kim continua o eterno “bobo-da-corte”. Seu brinde “não ao destino mas sim à Jornada”, que vai para o ralo com o final apresentado, beira a comédia involuntária.

Torres foi usada como alívio cômico, e as cenas funcionam mais pela raça da atriz. Paris tenta asssumir ares mais responsáveis (o que ele até certo ponto consegue, dentro da sua rasa caracterização). Foi digno de nota o fato de ambos estarem preparados para criar a sua filha a bordo da Voyager (pena que o final arruinou isto também).

A participação de Neelix foi infima (felizmente). Tuvok saiu com alguma dignidade, a referência a Spock foi simpática. Pena que o nosso primeiro “Afro-Vulcano-Americano” (ou algo parecido) tenha sido tão ridiculamente pouco (e mal) desenvolvido no curso da série. Ele se notabilizou por falas como “Escudos à 50%” e as suas derivadas, “escudos à 40%”, “escudos à 30%”, … .

A caracterização de Janeway (no presente caso, das duas Janeways) representa talvez o meu maior desgosto por esta série. Aqui temos a personagem: tentando forçar sua patente por pelo menos 3 vezes, tomando posições rígidas e radicais e depois “dando um 180” (não menos radical) sobre tais posições e violando regras e respeitando outras tantas para fazer o episódio funcionar em seus termos.

(Sou só eu, ou a maquiagem da almirante Janeway era a mais leve dentre todos as versões futuras dos personagens? Parece que o capitão Kim é mais velho do que ela.)

Nem mesmo o Klingon Korath funcionou aqui, ele era um tipo sem um pingo de honra. Miral Paris foi um prazer de assistir. Barclay foi decente e os demais não comprometeram. A rainha Borg passou de um interessante conceito, que serviu para viabilizar o filme “First Contact”, a uma “vilã-padrão” que acabou por tornar bastante indefinida (especialmente pela falta de consistência) a própria coletividade. Aqui ela morre (mais uma vez).