Equipe de Jornada discute efeitos especiais

Grandes saltos foram dados no campo de efeitos visuais desde os dias da série original de Jornada nas Estrelas, mas pode ser surpreendente descobrir que alguns efeitos ainda são mais bem-sucedidos quando feitos à moda antiga.

Um painel de 14 artistas de efeitos especiais representando todas as quatro séries de Jornada revelou alguns dos truques que têm na manga durante o festival da Sociedade de Efeitos Visuais dos EUA, realizado no mês passado. Moderado por Michael Dorn (Worf), o painel discutiu a evolução dos efeitos visuais ao longo das décadas, e mesmo admitiu que algumas de suas mágicas são feitas com ítens manuseáveis mas “low-tech”, como água com gás e pompons de cheerleaders.

Robert Justman, co-produtor da Série Clássica, apontou que o show dos anos 60 era bem revolucionário no que conseguiu usando apenas técnicas muito rudimentares. “Audaciosamente ir foi o que fizemos”, disse Justman. “Eu não sei como fizemos –um show de TV de uma hora com efeitos ópticos, efeitos visuais… não sabíamos na época que era impossível, apenas fomos adiante e fizemos. Quando eu olho para ela agora, é inacreditável.”

Howard Anderson Jr. falou sobre o uso de processos de fundo azul para criar tomadas com imagens combinadas, particularmente aquelas que sobrepunham a nave estelar Enterprise a um campo de estrelas. Mas ele admitiu que “fundo azual era primitivo mesmo naquela época –as estrelas apareciam por trás da nave aqui e acolá, mas passamos por isso.”

Anderson disse que o efeito de transporte foi criado usando peças de alumínio à frente de uma lâmpada de 5.000 watts e uma coluna de fumaça, que era então superimposta sobre os personagens que estavam sendo transportados. O efeito era melhorado pelo diretor de fotografia Gerald Perry Finnerman, que adicionava luzes à plataforma de transporte e variava a iluminação enquanto o processo estava em andamento.

Matt Jefferies, designer de produção, disse que chegou ao design da nave Enterprise após “cerca de seis semanas de frustração”, durante as quais ele “gastou um bom pedaço do dinheiro de Lucille Ball [Lucille Ball era uma das donas do estúdio Desilu, que iniciou a produção de Jornada. O estúdio foi comprado pela Paramount em 1968]”. Embora ele tivesse pensado que a forma mais óbvia para uma nave estelar seria uma esfera, discos voadores eram bem conhecidos na época, então ele pegou aquela forma e “amassou um pouquinho” para criar a seção-disco. De la ele criou o design que finalmente satisfez o criador Gene Roddenberry.

Jefferies também contou como ele decidiu usar “NCC” como o prefixo para os números de registro das naves da Frota Estelar. Ele disse que uma aeronave civil americana usa números de registro precedidos por “NC”, e as soviéticas usavam um prefixo “CCCC”, então ele meio que combinou os dois. Sua filosofia era, “se pudermos fazer alguma coisa no espaço, nós (americanos e russos) temos de fazer juntos”.

Depois que Justman, Anderson, Finnerman e Jefferies concluíram sua discussão sobre a série original, Dorn introduziu a equipe responsável pelos efeitos vistos em A Nova Geração, Deep Space Nine e Voyager. Justman ainda participou do primeiro dos novos programas na primeira temporada, em 1987, e ele e o produtor Rick Berman tiveram de fazer uma decisão sobre usar gráficos de computador para criar novas naves estelares. Depois de investigar o estado da arte na época, eles decidiram que “a arte ainda não estava suficientemente desenvolvida na época”. Por isso, Jornada continuou a usar modelos reais para suas naves, até pelo menos a metade dos anos 90. Lá pelo segundo ano de Voyager, os efeitos digitais haviam evoluído para fazer quase qualquer coisa direto no computador.

O produtor de efeitos visuais Dan Curry apontou que a revolução nos efeitos digitais permitiu a sua equipe fazer mais em menos tempo, e fez certas tomadas drámaticas que eram impossíveis em anos passados se tornarem viáveis.

John Gross, supervisor de gráficos de computador nas últimas três séries, disse que CGI (imagens geradas por computador) permitiu que eles criassem frotas inteiras de naves, fazendo a guerra do Dominion em DS9 e outras situações dramáticas muito mais comoventes. Além disso, “uma coisa que é fácil de fazer em CG é destruir naves”, disse Gorss. “Você não quer explodir seus modelos reais.”

Outros membros do painel imediatamente aproveitaram o gancho, rindo: “Sim, nós queremos!” Após a exibição de um certo número de videoclipes mostrando naves sendo explodidas, Dorn brincou, “parece que se vocês quiserem um trabalho garantido no futuro, ele vai ser construção de naves espaciais”.

Curry falou sobre algumas tomadas específicas de Voyager que se tornaram possíveis com CGI. Ele dise que um grupo de pessoas presas na superfíe enquanto a Voyager, sob controle dos Kazon, decolava, em “Basics, Part I”, foram criadas digitalmente. Ele revelou, inclusive, que o grupo de personagens CH tinham entre eles “pessoas que não deviam estar lá, incluindo o capitão Picard, Gilligan e o Skipper.”

Curry também mostrou a tomada em “Workforce, Part I”, onde Janeway se une a um grupo de alienígenas coloridos em um elevador, que então desce suavemente para outro nível. Ele disse que os atores de verdade foram colocados contra um fundo verde [variação do fundo azul] enquanto subiam na plataforma do elevador. Então os atores se transformavam em pessoas CG durante a descida. O resultado impressionante, mostrado em uma tela enorme, arrancou aplausos da platéia.

Nem tudo que você vê em efeitos especiais é digitalmente criado. Curry e o produtor de efeitos visuais Rob Legato discutiram a cena em “Timeless”, em que a Voyager se choca em um planeta gelado. Eles originalmente planejaram fazer a cena totalmente com CGI, disse Legato, mas chegaram à conclusão de que o procedimento não permitira que o spray de neve que é levantado pela nave parecesse realista. Então, eles usaram água gaseificada para criar aquele “spray” e fotografá-lo, e então compuseram aquilo digitalmente com outros elementos da tomada, incluindo a nave em queda e o fundo da montanha de gelo, ambos criados em computador. Levou duas semanas e meia para criar a sequência inteira.

Foi necessário usar outro item bem comum para produzir a aparência dos escudos da Voyager quando eles levam um tiro de feiser. Curry pôs as mãos em um pompom, e percebeu que poderia fazer algo com ele. Sacudindo-o à frente de um espelho, ele foi capaz de criar uma imagem que ele poderia digitalmente “entortar” em volta da nave e dar a aparência de escudos absorvendo energia.

O compositor de efeitos visuais Paul Hill mostrou um material em vídeo separando como os efeito em que uma peça é retirada da cabeça de Seven of Nine, por meio de um buraco em sua testa, no episódio “Imperfection”. Primeiro, a cena ao vivo do instrumento do Doutor tocando a testa de Jeri Ryan foi filmado. Depois, o nódulo cilíndrico foi filmado contra fundo azul, descendo por um buraco naquele fundo. Aquela tomada foi composta com o topo da testa de Ryan. Já que a ponta da ferramenta do Doutor acabava tampada pela imagem sobre posta do nódulo, a ponta do instrumento teve de ser recriada digitalmente. Um elmento tridimensional do buraco se fechando foi gerado em computador, assim como a suave marca que o instrumento fez na borda da abertura, e esses elementos foram então também combinados.

Após esses artistas mais modernos demonstrarem suas habilidades, Jefferies disse a eles, “estou emudecido pelo que essas pessoas fizeram!” O supervisor de maquiagem Michael Westmore, que estava lá para discutir como a maquiagem se encaixa na equação dos efeitos visuais, afirmou: “A Jornada nas Estrelas original era o estado da arte de sua época. Não poderíamos estar fazendo o que estamos se não tivéssemos aqueles passos de bebê para pavimentar o caminho”. E ele não prevê estabilidade para o setor. “Daqui a dez anos, tudo que estamos falando hoje estará velho.”

Ansioso pelo quinto investimento do franchise, Curry prometeu que “os cenários de Enterprise serão os mais incríveis já feitos para qualquer série de televisão”. O designer de produção Herman Zimmerman completou dizendo que o piloto de duas horas para a série, que levou seis semanas para ser filmado, entre maio e junho, utilizou mais de 40 cenários e locações, comparados à maioria dos filmes de cinema, que usa menos de 30.

Outros participantes do painel incluíram o supervisor de efeitos visuais Ronald B. Moore, o animador de efeitos visuais Greg Rainoff, o fotógrafo de “motion control” Erik Nash, e o produtor de CGI Robert Bonchune.

Quando a sessão de Jornada terminou, a platéia de mais de 200 profissionais e estudantes de efeitos visuais deu ao painel aplaudiu de pé. Um dos espectadores disse que essa era a segunda vez que ele via isso acontecer em três anos do festival.

Fonte: Startrek.com