EDITORIAL: A conquista do sexto dígito

De tudo que está na capa do Trek Brasilis, há um elemento de que me orgulho mais. É discreto, simples, um resquício de outros tempos da internet, mas sua significância é colossal. É um monumento à persistência. E hoje esse ícone do espírito deste site ganhou um novo dígito. O dia 13 de dezembro trouxe ao TB sua 100.000ª visita.

Escrito assim, nem parece tanto. Mas os que participam desse site sabem o quanto cada unidade dessas 100 mil custou em dedicação, garra, vontade, paixão, personalidade e, acima de tudo, paciência. Lembro-me quase como se fosse ontem quando esse mesmo contador, com um site ainda hospedado no antigo servidor Crosswinds, marcava 9, 12, 17 visitas.

E ao final de cada dia, ver o número que ele marcava determinava a vontade de continuar o trabalho no dia seguinte. Houve momentos em que ele quase me fez desistir –entre o fim de 1999 e o começo de 2000, o site não teve nenhuma atualização. Mas com o tempo, percebi que aquela homepage quase abandonada recebia pelo menos uma ou duas visitas, todos os dias.

Imaginei que houvesse uma única pessoa, que insistentemente batia à minha porta na esperança de receber notícias daquele jovem projeto. Pensava comigo mesmo: “esse sujeito não vai desistir? O site está parado há meses…” Mas com o tempo aquela persistência, aquele número que não parava de crescer, aquela quase constante visita diária, acabou reacendendo a chama do TB.

Não sei se esse visitante solitário ainda está conosco depois de dois anos de Jornada. Estando ou não, gostaria que a 100.000ª visita fosse dedicada a ele, por ter persistido no momento em que eu pensava em desistir. Se estamos todos aqui hoje, enfrentando todos os revéses e as alegrias de acompanhar de perto o universo de Jornada nas Estrelas, uma boa parte do mérito vai para ele.

Logo depois dessa ressurreição, o site exibia orgulhoso um subtítulo sob o seu logo, que já era esse, mas contava com um letreiro cinzento: “We’re back!”. E mal podia imaginar o quanto havíamos voltado. Foi nessa fase que o Fernando Penteriche descobriu o site, e entrou em contato para elogiar o projeto. Começamos a trocar idéias, ele me contou que trabalhara antes no saudoso Base Nexus, que eu já conhecia e apreciava. Na ocasião, ele se entusiasmou com o site e ajudou a divulgar, espalhando e-mails pela lista da Frota e pedindo apoio ao Orgânia, o site brasileiro de Jornada mais badalado na época.

O Fernando foi o grande responsável pelo segundo grande salto pelo qual o TB passou, mas eu não imaginava na ocasião que iria encontrar, mais que um companheiro de Jornadas, um amigo.

Aliás, o que mais prezo de todos os feitos obtidos nesses anos pelo TB são as amizades. Não só o Fernando, que, até pela proximidade geográfica, acabou se tornando o mais chegado dos meus amigos trekkers, mas o grande Luiz Castanheira, cujo assombroso conhecimento sobre Jornada nas Estrelas me fascinou desde o momento em que descobri sua existência, por meio dos extensos reviews de temporadas completas que ele enviava por e-mail a dezenas de pessoas.

Na ocasião, fiquei tão impressionado com o trabalho dele que resolvi adaptar a revisão completa dos sete anos de A Nova Geração que ele enviava por e-mail para a web, um trabalho que ainda hoje abrilhanta a seção do site sobre a segunda série live-action de Jornada. Lembro que o Luiz realmente apreciou o trabalho, mas ainda estava relutante de escrever para o site em vez de enviar seus textos por e-mail. Levou algum tempo até que ele se rendesse ao TB, que hoje ele considera “o site que ele teria criado, se já não existisse”.

Veio o primeiro aniversário, e com ele uma gigantesca reformulação de conteúdo, que transformou o meu sonho no de vários colaboradores e entusiastas. Daniel Sasaki, hoje responsável pelo conteúdo na capa do site, veio como colunista de Voyager. Conheci o Daniel por meio do site dele, exclusivamente devotado à capitã Janeway e a sua tripulação.

Paralelamente, conversava muito com o Felipe Pereira Anderson, outro fã de Voyager que atualmente edita o ‘Portal Jornada nas Estrelas Brasil’. Ele foi o primeiro a conhecer o novo layout do site, que até hoje se sustenta solidamente como um conceito aparentemente indestrutível, mesmo com o passar dos meses. Na época, Felipe tinha um site mais modesto, o Voyager Brasil, cujo design confessamente foi feito a partir do nosso.

Era o TB já ditando modas na web. Pode parecer um toque de presunção ou arrogância, mas não é. É apenas a constatação de que um trabalho bem-feito é recompensado, não só na forma de reconhecimento público, como na apropriação dos modelos que ele estabelece. Costumo brincar que tenho orgulho de dizer que o TB foi o primeiro site de Jornada que eu conheço a adotar um fundo branco.

Infelizmente, algumas desventuras durante esse ano que passou, geradas em sua maioria por intrigas de terceiros, acabaram afastando os rumos do Trek Brasilis e de Felipe Pereira Anderson, que atualmente segue outra direção com seu ‘Portal’. Vez por outra vemos um resquício de material nosso aparecendo por lá (algumas vezes com crédito, outras sem), mas o mais importante é que a mensagem está sendo passada –o coração, a vontade e a dedicação estão valendo a pena. E o reconhecimento vem com tudo isso.

Parece apenas soberba de minha parte, mas se tem algo de que todos os participantes do Trek Brasilis devem se orgulhar é de sua capacidade de incomodar os medíocres. É impressionante como, em dois anos de site, conquistei mais antipatizantes do que em toda a minha vida pregressa. Felizmente, quando vemos quem se opõe a nós, fica tão claro quem está do lado certo –e do lado que vai sair vitorioso– que nem são precisos os e-mails de incentivo e de elogios que vez por outra recebemos.

Mesmo assim, eles são sempre muito bem-vindos. Principalmente os que vêm do coração. A título de exemplo, presto aqui uma homenagem a Roberto Cavalcanti, que escreveu ontem mesmo ao TB. Ele diz:

“Meus parabéns pela página dos 35 anos de Jornada nas Estrelas. Poder saber a história da dublagem original e ainda ouvir nossos saudosos Astrojildo, Rebello e Antonio Celso é um grande presente para os fãs de carteirinha (desde a primeira exibição na TV Excelsior) como eu.

“O meu muito obrigado a vocês por terem trazido de volta minha infância, e um grande abraço.”

Como não se achar no caminho certo depois de receber uma resposta dessas de um leitor, meses depois de o material ter sido publicado? Como não se orgulhar dos feitos desse site, que hoje é muito mais do que uma criação de uma pessoa, sendo mesmo a realização de um sonho para seus participantes?

Não serão as críticas invejosas, em 99% dos casos totalmente direcionadas a mim, que irão abalar as estruturas do TB. Ele é muito mais sólido que isso. Os medíocres confundem o criador com a criação. Provavelmente têm a mesma visão antiquada de que Jornada nas Estrelas e Gene Roddenberry são sinônimos. Não são. E o Trek Brasilis é muito mais do que Salvador Nogueira.

O desespero de causa às vezes induz as pessoas à violência. Por vezes não física, mas ainda assim violência. Foi assim com uma certa tradutora da VTI-Rio, que nunca conseguiu superar o fato de que divulgamos que havia “Tívoks” em vez de “Tuvoks” na dublagem dos primeiros episódios de Voyager. Foi assim com um certo dublador, que nunca conseguiu se conciliar com a escolha que fez ao se alinhar com exclusividade a um grupo pela ambição de aparecer mais diante dos holofotes. Foi assim com uma revista em vias de falência que viu num site uma ameaça a seu controle dominador sobre o público. Foi assim com um fã-clube que age como se Jornada nas Estrelas fosse seu monopólio.

Nenhum desses inimigos do TB conseguiu resistir ao trabalho sério, à competência, à dedicação e à determinação embutida em cada um dos projetos conduzidos por esse site. O TB não se contenta em trazer a seu público a informação mais acurada possível, com maior detalhamento possível, e independentemente de qualquer interesse ou interessado alheio ao público, mas também faz questão de o fazer com inovação e ineditismo.

Fico feliz de ter tido a chance de transformar um site pessoal em um verdadeiro celeiro de talentos. Além dos já citados Fernando Penteriche, Daniel Sasaki e Luiz Castanheira, cujo talento, qualidade e idoneidade são indiscutíveis, tenho o prazer e o orgulho de dizer que participam ativamente desse site gente como Susana Lopes de Alexandria, Cláudio Silveira, Luiz Felipe do Vale Tavares, Fernando Rodrigues, Gustavo Leão, Tiago Duarte, Paulo Maffia, Gabriel Mistuáureo, Lia Mattos Viegas, Mariana Pedroso, Eduardo Cope e Marcos Kleine –pessoas que se mostraram, além de talentosos colaboradores, grandes companheiros de viagem nessa aventura que é explorar o universo de Jornada nas Estrelas.

Chegamos hoje às 100 mil visitas. A barreira do sétimo dígito ainda está distante, mas sabemos que está lá, e com a perseverança e a fibra já demonstrada diante dos obstáculos anteriores, estou certo de que chegaremos lá. E a romperemos, como fizemos com as anteriores. E tudo que me resta é convidar você, amigo leitor, a seguir conosco até lá. O caminho é longo, mas, como diria um velho amigo meu, “parece divertido”.

E não se preocupem com os que insistem em tentar interromper o turbilhão criativo do Trek Brasilis com acusações “de araque” ou críticas infundadas. “A necessidade de muitos supera a de poucos. Ou a de um.”

Que venha o milhão.

Um abraço,

Salvador Nogueira
Editor do Trek Brasilis