Jornada XI: A revisita de J.J. Abrams

Se você é daqueles trekkies que não abrem mão de visitar sites como este e ficar sempre por dentro das notícias sobre Jornada nas Estrelas, então já deve estar a par do anúncio de uma produção para 2008 de um novo filme da série, ou melhor, um reboot que pretende ignorar tudo o que já foi apresentado no passado e seja um novo começo para o futuro. Mas, como uma roubada dessas foi acontecer? Seria mais um plano ardiloso de Rick Berman e seu ajudante Brannon Braga?

Para quem não sabe, aí vai a única notícia boa para o novo projeto: Berman, após anos de fracassos no estúdio, produzindo bombas como Voyager, Enterprise, Insurreição e Nêmesis (ai, meu pobre Nêmesis…), recebeu um chute na bunda pela nova chefe do estúdio, a gordinha Gail Berman, e sumiu da face da Terra (aparentemente levando Brannon Braga com ele). Enquanto isso, Gail, que não é boba nem nada, logo foi procurar um substituto a altura para assumir o cargo de Tio Rick.

Lembrando: pelo menos quando Berman estava produzindo seu Jornada XI, ele foi esperto em desenvolver uma história junto com o celebrado roteirista Erik Jendresen, em que um antepassado de Kirk chamado Tiberius Kirk servia a bordo de uma nave estelar à lá NX-01 durante a terrível Guerra Romulana (e fui eu que revelei com exclusividade tais spoilers para o Trek Brasilis em uma das minhas colunas anteriores. Não é uma maravilha saber de tudo?). Pode não parecer a melhor idéia que já saiu da Paramount, (Berman, copiando George Lucas, estava planejando um trilogia de filmes prequels da Guerra Clônicas… quer dizer… Romulanas) mas é uma idéia muito superior à concepção de fazer um remake da Série Clássica com novos atores, o grande furo de Abrams. Em Hollywood, ao que parece, nada se cria, tudo se copia.

Eu, cético como sempre, não gostei da novidade, ainda mais depois do surgimento de tais boatos nos quais J.J. Abrams deseja contratar novos atores para interpretarem Kirk e Spock. Desculpe, senhor Abrams, mas Shatner é Kirk e Nimoy é Spock. A magia da Série Clássica não consegue ser repetida com apenas novos efeitos especiais de ultima geração. É simples assim. Pelo menos quando Berman estava produzindo seu Jornada XI, ele foi esperto em ignorar tais reboots e mostrar uma história que se adequava à cronologia e ao cânon da franquia – a tal Guerra Romulana.

Berman, ao que parece, está fora da Paramount. Como a escolha para seu substituto caiu em J.J. Abrams, um nerd e produtor famoso pelas duas séries de grande audiência que produz (“Alias“e “Lost“), muita gente achou que Jornada havia sido salva. Foi a direção forte de Abrams no filme da segunda maior franchise da Paramount, o último filme da série “Missão Impossível”, que lhe rendeu seu cogitado papel de dono da nova fase de Jornada nas Estrelas.

De resto, a comunidade trekkie parecia cética, em completo denial frente às notícias de um reboot total da franquia e de novos atores nos papéis que imortalizaram William Shatner e Leonard Nimoy (cruzes!). Mas isso foi mudando, já que Abrams passou a dar inúmeras entrevistas para acalmar os trekkies de plantão e foi lançado até um pôster-teaser do filme, feito para distribuição na Comic-Com, a maior convenção de quadrinhos nos Estados Unidos. Logo que este chegou à mão de inúmeros fãs e na internet, a sorte estava lançada. O pôster trazia uma imagem da insígnia de comando da USS Enterprise na Série Clássica (uma possível alusão à Enterprise original) e as cores dourado e azul – sem dúvida uma citação aos uniformes clássicos de Kirk e Spock. Alguém aí ainda duvida que será um reboot?

Mas vamos aos pontos negativos. De um ponto de vista de storyteling, nada dramaticamente pode ser ganho visitando Kirk e Spock na sua juventude. Diferente de James Bond, Tarzan ou Superman, todos criados na literatura e abertos a outras interpretações, Kirk e Spock apenas existem nas mentes das pessoas como William Shatner e Leonard Nimoy Nem o melhor dos melhores dos atores não conseguiria escapar da performance original de Shatner como Kirk. Por que tentar, então?

Mas as novidades não param por aí. Uma fonte confiável do site TrekWeb (no qual sou co-editor) nos revelou que Jornada XI se passaria durante a primeira missão de James T. Kirk como capitão da USS Enterprise NCC-1701, e mostraria a tripulação daquela época: Spock, Dr Piper, Gary Mitchell, e daí por diante. Outros rumores dizem que o filme se passaria na Academia da Frota Estelar, com Kirk e Spock adolescentes (um erro cronológico, já que Kirk e Spock não atenderam à Academia juntos, já que quando Kirk era um calouro, Spock já servia como um tenente na Enterprise sob o comando do Capitão Christopher Pike.) Qual a verdade? Façam suas apostas e continuem lendo este site!

Para complicar ainda mais o meio-de-campo, surgiu o rumor que Abrams havia escolhido o bom ator Matt Damon para viver o jovem Kirk (o que ao que parece, de certa forma confirma o rumor sobre a primeira missão de Kirk, ao julgar pela idade do ator, já que Damon tem a mesma idade de William Shatner ao assumir o papel do capitão em 1966). Tanto Abrams como Damon estão quietos e não deram nenhuma entrevista sobre o assunto. Desconfie. De qualquer forma, é só não contratarem Ben Affleck como Spock e eu acho que o meu estômago agüenta.

Com a saída do editor-chefe do TrekWeb do site por motivos familiares por algum tempo, coube a mim administrar o site nas ultimas semanas e entre diversas tarefas, receber scoops de “fontes confiáveis” do estúdio, e daí por diante. Confesso que está sendo duro postar notícias sobre J.J. Abrams e seu filme, já que tais notícias me causam um profundo aborrecimento quando as leio. Santa depressão, Batman… O pior é ver que isso é verdade, realmente vai acontecer que a lembrança da Série Clássica está para ser maculada pela Paramount, sempre correndo em busca de uma grana fácil. Onde está o Leonard Nimoy quando a gente precisa dele?

Como último insulto, parece que teremos um update, tanto nos uniformes dos personagem, como no design dos set da Série Clássica mostrados no filme. O que quer dizer o seguinte: Jornada XI, além de prequel, também será um reboot de proporções inigualáveis, assim como foi a “Galactica” de Ron Moore. Eu até que entendo a posição dos produtores em não apresentar um visual retrô para o filme, seja o design da Enterprise ou os uniformes coloridos da década de 60, mas tais coisas são ícones não só de Jornada, mas também da história do cinema e televisão. Muitos, assim como eu, não vêem com bons olhos a questão de se atualizar algo que não precisa ser atualizado. Abrams diz que respeitará o cânon e os fãs, ao ser indagado por jornalistas de todas as partes do mundo.

Eu queria acreditar em você, J.J., queria mesmo. Mas assim está difícil.

Artigo originalmente publicado no conteúdo clássico do Trek Brasilis em 31 de julho de 2006.