TOS 1×02: Charlie X

Episódio discute dificuldades da adolescência exagerando seus efeitos

Sinopse

Data Estelar: 1533.6.

Charles Evans, o único sobrevivente de uma expedição colonizadora enviada ao planeta Thasus, vem a bordo da Enterprise, transportado pela USS Antares. Quando o capitão Ramart, da Antares, tenta contatar Kirk para falar sobre Charlie, sua nave é subitamente destruída.

Charlie mostra completa indiferença e insensibilidade pelas mortes. Ele só se preocupa com que sua nova “família” goste dele e o aceite. Infelizmente, os hormônios adolescentes e sua vida pregressa solitária dificultaram esse processo.

Eventos estranhos ocorrem sempre que Charlie se enfurece – ele faz a ordenança Rand desaparecer quando ela recusa seu amor, quebra as pernas de Spock quando o vulcano tenta discipliná-lo e provoca dor e desconforto em qualquer um que ele pense estar rindo dele.

Charlie exige que a Enterprise o leve ao planeta habitado mais próximo, mas Kirk teme que seu temperamento descontrolado e seus perigosos poderes sejam uma ameaça para qualquer civilização. O jovem toma o controle da nave, mas Kirk consegue sobrepujá-lo. Por fim, um rosto alienígena aparece na ponte. É um thasiano, a raça que ajudou Charlie a sobreviver sozinho no planeta e lhe deu seus poderes.

Os thasianos perceberam que Charlie havia deixado Thasus e enviaram uma nave para interceptar a Enterprise. O jovem deseja desesperadamente ficar, mas os thasianos o levam de volta. Antes de partirem, os alienígenas restauram a Enterprise e sua tripulação ao normal.

Comentários

“Charlie X” mostra com clareza as sensações e crises que compõem a adolescência, graças aos superpoderes de Charles Evans. Os sentimentos são todos familiares: a vontade de que os outros sumam, o humor infantil e permeado de chacotas (mostrado quando o jovem faz com que Spock recite poemas infantis na ponte), a paixão descontrolada (pela ordenança Rand) e a teimosia (ilustrada pelos momentos em que Charlie vai jogar xadrez e aprender a lutar). Mas o que seria algo apenas natural, com este jovem se torna um jogo perigosíssimo de vida ou morte.

O episódio também busca demonstrar que a tendência à civilização não é inata no ser humano, mas adquirida pelos costumes. Charlie não viveu entre os seus iguais e por isso não sabe se comportar adequadamente, dando vazão a todos os seus sentimentos.

A beleza da história está em sua imparcialidade narrativa. Nunca vemos Charlie como um “inimigo” no sentido mais comum, mas como uma criança atormentada pelos conflitos da adolescência com um fator complicador: não existe autoridade capaz de contê-lo.

À primeira vista, podemos achar que “Charlie X” é mais uma versão de “poder absoluto corrompe absolutamente”, como em “Where No Man Has Gone Before”. Na verdade, desta vez, não é o poder que corrompe. Charlie já está corrompido por sua própria falta de autoconhecimento e de entendimento de sua própria espécie, somado aos sentimentos típicos de sua idade; o “poder” é só o instrumento que permite que ele demonstre suas fraquezas.

Em geral, o episódio é bem estruturado, com grande conteúdo dramático. Mais uma vez, Jornada rompe com o estilo de séries da época e não apresenta um final no estilo “tudo acaba bem”. Ao contrário, a conclusão é bem trágica.

E, apesar de a tragédia ser a tônica do episódio, também há momentos hilários, como a cena em que Kirk tenta explicar a Charlie por que não se deve bater em mulheres, ou a em que Spock recita poeminhas para o dr. McCoy através do intercom.

Avaliação

Avaliação: 3 de 4.

Citações

“Is that a girl?”
(“Isso é uma moça?”)
“That’s a girl.”
(“Isso é uma moça.”)
Charlie e Kirk

“We are in the hands of an adolescent.”
(“Estamos nas mãos de um adolescente.”)
Spock

Trivia

  • Este foi o primeiro episódio escrito por D.C. Fontana, uma das escritoras mais prolíficas de Jornada nas Estrelas.
  • “Charlie X” foi a oitava produção de Star Trek, contando o piloto rejeitado, mas apenas o segundo a ser exibido. Isso porque ele tinha poucas exigências de efeitos visuais.
  • Este episódio tem dois erros de continuidade gritantes: o primeiro ocorre quando McCoy está examinando Charlie. Charlie está deitado na enfermaria, mas é possível ver o reflexo do ator em pé pelo monitor médico de McCoy. O segundo é o efeito “bat-caverna” – Kirk entra no turboelevador com um uniforme e sai na ponte com outro! O evento costumava ocorrer na série Batman dos anos 1960, quando a dupla dinâmica ia para a bat-caverna.
  • Na primeira versão do roteiro, Uhura divertia os tripulantes da Enterprise com imitações em mímica. Isso foi trocado por uma canção, para explorar os talentos de Nichelle Nichols.
  • As “cartas” de Janice Rand que Charlie faz aparecer são na verdade fotos promocionais da NBC com Grace Lee Whitney. O truque não era especificado no roteiro.
  • Os elementos mais voluptuosos do roteiro, como Charlie descrever o desejo sexual como se ele estivesse com fome, foram inclusões feitas por Gene Roddenberry.
  • Originalmente, a nave Antares deveria aparecer. Mas, para entregar o episódio a tempo, as tomadas da Enterprise saíram todas dos pilotos. Na edição remasterizada, isso foi corrigido.
  • Neste episódio nem Scotty, nem Sulu aparecem. Embora a voz de George Takei tenha sido reciclada de um episódio anterior para uso no intercom.

Ficha técnica

História de Gene Roddenberry
Roteiro de D.C. Fontana
Dirigido por Lawrence Dobkin

Exibido em 15 de setembro de 1966

Título em português: “O Estranho Charlie”

Elenco

William Shatner como James T. Kirk
Leonard Nimoy como Spock
DeForest Kelley como Leonard H. McCoy
Nichelle Nichols como Uhura
Grace Lee Whitney como ordenança Rand
George Takei como Sulu (só voz, não creditado)

Elenco convidado

Robert Walker, Jr. como Charlie Evans
Charles J. Stewart como capitão Ramart

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