Uma entrevista com Harve Bennett

Há um grande número de pessoas que trabalhou intensamente para manter a franquia de Jornada viva por todos estes anos. Rick Berman, Ron Moore, Ira Steven Behr, Robert Justman, J. J. Abrams e muitos outros. Mas a verdade é que sem os esforços de uma outra figura, aqueles homens nunca teriam chegado a todas essas produções ou mesmo a sua reinicialização. Esse homem é Harve Bennett.

Bennett era um produtor de televisão que tinha tido um sucesso tremendo com The Mod Squad, Rich Man/Poor Man, O Homem de Seis Milhões de Dólares e A Mulher Biônica. Logo após o lançamento de Star Trek: O Filme, o chefe da Gulf & Western, Charles Bludhorn e o presidente da Paramount Pictures, Barry Diller, convocaram Bennett para uma reunião. Eles pediram sua opinião sobre o lucrativo mas criticado filme de Jornada, e Bennett o considerou “chato”. Bludhorn perguntou então a Bennett se poderia fazer um filme melhor e por menos dinheiro, o que levou Bennett a resposta de que poderia fazer quatro ou cinco filmes desse jeito. Satisfeito, Bludhorn disse, “Faça!”. Bennett passou a produzir e co-escrever a história que viria a ser A Ira de Khan, e que marcou financeiramente, com boa crítica e com o aplausos dos fãs. Embalado pelo sucesso, Bennett produziu À Procura de Spock, A Volta Para Casa e A Fronteira Final, pavimentando o caminho para os projetos subsequentes.

Após Bennett deixar sua marca em A Fronteira Final, a Paramount vetou seu conceito estilo de Academia da Frota Estelar para um sexto filme, e aborrecido Bennett se afastou da franquia. Hoje, aos 80 anos, Bennett está aposentado e vive feliz com sua esposa. O site StarTrek.com conseguiu uma entrevista exclusiva com ele, que falou de suas experiências, o projeto da Academia e o que espera de Jornada para o futuro.

Os conhecimentos que tinha da série original, na época, em termos de elenco e histórias, você sabia pouco quando começou a desenvolver A Ira de Khan. Como se familiarizou com isso?

O guia de episódios de Bjo Trimble “Star Trek Concordance” tornou-se minha primeira leitura, no dia seguinte, e durante três meses depois fui para a velha e empoeirada sala de exibição em 16 milímetros da Paramount e vi por volta de 70 episódios. Eu assisti todos os três anos. Encontrei-me fascinado. Achei que um terço dos episódios foram brilhantes, que outro terço era bom e o restante não gostei. Agora compare com as médias de rebatidas de beisebol. Se você está golpeando 0,333 você é uma beleza de um rebatedor. Se você fizer essa percentagem de episódios fortes você tem uma grande série. Eu senti isso. Também eu aprendi sobre o triângulo amoroso entre “Kirk, Spock e McCoy, e que se tornou a base do que eu queria fazer com Jornada. Em algum momento eu corri os olhos sobre o episódio “Space Seed”, e foi Deus que me deu esse presente. “Space Seed” terminou com Khan (Ricardo Montalban) deixado em algum planetóide desolado e Kirk, acho que disse: “Se nós voltarmos em 25 anos, eu pergunto como ele estaria.” E Spock diz: “Hmm”. Eu saltei da minha cadeira e disse: – ‘Obrigado, meu Deus! Obrigado. É isso aí. Essa é a minha história”.

Nota da edição: Na verdade é Spock quem diz: “Seria interessante, capitão, voltarmos para aquele mundo em cem anos para vermos que colheita saiu da semente que o senhor plantou hoje” e Kirk responde: “Sim, Sr. Spock, seria mesmo.”

Há sempre duas perguntas que os fã fazem sobre A Ira de Khan, então vamos colocá-las para você. O que era aquela coisa preta no braço de Khan e por que não houve o confronto Kirk-Khan feito com eles face a face?

(Risos) Bem, deixe-me responder a segunda pergunta primeiro. Se você assistir “Space Seed”, Khan é um super-homem. Ele foi projetado para ser criogenicamente invulnerável. Que teria dado uma tremenda vantagem para ele, se tivesse escolhido para colocá-lo no mesmo lugar, com Kirk. Nós apenas sentimos que se eles nunca vissem um ao outro, salvo nas telas, isso funcionaria melhor. Você tinha a distância de tempo – os 25 anos desde que tinham visto um ao outro – e da distância física do espaço. Se eu tivesse que fazer novamente, eu não mudaria nada. Foi uma nova maneira de ter o protagonista e antagonista lutando por duas horas de um filme.

A coisa no braço, quando eu vi pela primeira vez no guarda-roupa, eu nem sequer perguntei ao Ricardo (Montalban) sobre isso. Parece que você vê nos rappers agora. Era uma coisa masculina, como uma munhequeira. Essa foi a escolha do Ricardo, e eu achei que funcionaria. Certamente, as pessoas estão falando sobre isso até agora.”

Vamos passar para a Procura de Spock. Como é que Leonard Nimoy acabou na cadeira do diretor?

“Leonard veio para mim depois de A Ira de Khan e depois de sua cena de morte e disse: “Isso é muito divertido.” E foi. Nós todos dissemos que foi um grupo muito alegre. Ele comentou: “Eu estou engajado em outra coisa, mas gostaria de dirigir”. Então respondi: “Ótimo. Eu sei o que o próximo filme acontecerá, e você conseguiu”. Assim, com Leonard como diretor tornou-se óbvio que o próximo capítulo em que acabou por ser uma trilogia seria Spock trazido de volta à vida”.

Leonard, então, dirigiu A Volta Para Casa também. Como ele evoluíu como um diretor do III ao IV?

“Eu acho que Leonard deu o melhor de si, realmente. Ele disse: “Em Star Trek III, Harve fez treinamento de direção comigo e em Star Trek IV, o treinamento terminou.” Leonard não tinha muita experiência como diretor, por isso eu gastei muito mais tempo no cenário do que normalmente faria, e certamente mais do que eu tive com Nick Meyer. Mas eu acho que Leonard conduziu muito bem. Ele ficou um pouco ressentido durante Star Trek IV porque ele esperava ter provado a si mesmo. Então tivemos um pouco de atrito lá, mas resolvemos isso e ele fez um trabalho magnífico no IV. Seu surgimento como diretor foi sua habilidade triunfando sobre a falta de experiência”.

O filme A Volta Para Casa foi financeiramente o mais bem-sucedido dos longametragens do elenco original e é amplamente considerado como o mais divertido pelo grupo. Você acha que foi o melhor dos filmes que você produziu?

“Meu instinto é dizer: “Você pode apostar, IV é o meu favorito”, mas então eu tenho que parar e dizer que eu amo IV, mas o II sempre terá um lugar especial no meu coração pelas razões discutidas e muito mais. Naquele o momento nós conseguimos o IV e ficamos confiantes. Voltando ao presente (no ano de 1986) criou-se algo que nunca havia sido feito, que era mostrar Jornada a um público não-Trek. Tudo que você tem que fazer é lembrar estas cenas nas ruas de San Francisco. As pessoas (nas ruas durante as filmagens) não relacionaram os personagens, como estrelas de Jornada, mas um outro tipo de loucura de San Francisco. Eu adorei a senhora reagir à Chekov, quando ele pergunta a ela: “Onde posso encontrar navios nucleares?” Aquela cena toda apresentou Jornada contemporaneamente às pessoas que nunca tinham ouvido falar dela. É por isso que foi o maior sucesso e de muitas maneiras a mais popular das que eu já fiz”.

Aguarde em breve a segunda parte dessa agradável entrevista.