Michael Dorn comenta sobre atuação como Worf

O site TrekZone Network entrevistou com exclusividade o ator Michael Dorn, durante a convenção FedCon XIX, em Bonn, na Alemanha. Dorn interpretou o oficial da Federação Klingon, Worf, nas séries A Nova Geração e Deep Space Nine e falou sobre a atuação de um dos personagens alienígenas mais famosos da franquia. Ele aproveitou também para opinar sobre o filme de J. J. Abrams, Star Trek.

Você já atuou como Worf por algum tempo e já percorreu um longo caminho durante este período. Se você voltar para o começo, quando assumiu esse papel: o que o tornou interessante para você? Imagino que lhe foi dada uma descrição do personagem quando fez um teste para ele.

“Nem um pouco. Não, sériamente, apenas o nome. Eles não disseram o que fazer. Eles não disseram como queriam que o personagem fosse – nada. Entrei no teste por este nome do personagem e foi isso. Quando eu comecei, antes de ir para o cenário, fui a Gene Roddenberry, e disse: – Ei, o que você quer deste cara? Quem é ele? – E, sendo muito inteligente como ele é, respondeu: – “Não preste atenção no que ouviu, leu ou viu no passado, nada. Basta fazer o seu próprio personagem. E foi isso que eu fiz.”

“Uma grande oportunidade. E isto é o que estou dizendo – ele é esperto – porque é assim que você pega um ator para realmente investir em um papel. Se você diz: – “faça o que quiser com ele. Vamos lá, mostre-me” – Os atores dirão: – “Legall!” (Risos). Você começa a pensar no troço e ganha muito com isso. Acho que foi a coisa mais inteligente que ele poderia ter feito.”

Você ganhou, portanto, uma influência relativamente grande sobre a elaboração e o aprofundamento da cultura Klingon. Quais os elementos da tradição Klingon que puderam ser traçados até sua entrada?

“Os Klingons sempre foram, mesmo nos tempos antigos, belicosos, mas muito inteligentes. Eles não eram selvagens ou fora de controle. Eles simplesmente acreditavam na vida ao máximo. Vida, morte, tudo ao máximo. A única coisa que eu realmente trouxe foram as artes marciais Klingon e quanto aos Klingons si, um pouco mais do que eram além de criaturas guerreiras. Também a ideia de que há diferentes Klingons. Worf foi um filho Klingon que foi criado por pais humanos e que foi capaz de encaixar-se basicamente em sua sociedade muito bem, embora com dificuldade, às vezes. Eu não fui aos produtores e aos escritores e fiz uma grande coisa sobre ele. Uma vez que eu havia criado o personagem Worf e dei-lhe quem ele é, eles continuaram a partir daí. As coisas que eles escreveram para mim, foi surpreendente.”

Havia um escritor ou um grupo de escritores que realmente levaram o personagem na sua visão?

“Claro. Ron Moore. Ele foi o cara que na nossa série e em Deep Space Nine escreveu os melhores episódios Klingon. Ele escreveu grandes episódios, em geral, mas escreveu os melhores episódios Klingon. Eu sempre sabia quando ele ia escrever um episódio Klingon, porque ele era capaz de deixar a barba crescer muito rápido e eu ao vê-lo com a barba, como a barba do Worf, eu pensava: – “Ah, episódio Klingon chegando! ” – Ele escreveu o primeiro filme e o segundo filme também (de A Nova Geração), que foram brilhantes. Ele era o cara. Brannon Braga também foi brilhante, mas Ron era a pessoa que escreveu os episódios Klingon que foram simplesmente fantásticos.”

Pelo menos duas das ações de Worf durante A Nova Geração que foram considerados controversos entre os fãs na época: uma foi quando Worf se recusou a doar sangue para um Romulano moribundo e o outro foi quando ele matou por vingança Duras. Quais foram os seus próprios pensamentos, quando você leu os roteiros?

“Nesse ponto Rick Berman era o produtor – e quando li fiquei um pouco preocupado. Eu não tinha medo nem nada, eu só estava preocupado que isto lançaria Worf em uma estranha luz. Eu gosto de ser o maldito, eu gosto de ser o cara que vai contra a natureza. Mas teve uma saída, e em ambos os casos – em um caso onde eu não dou ao romulano o sangue, Ron disse: – “Nós apenas queremos mostrar que Worf não é um ser humano. Ele não tem que dar o sangue ao romulano. Então ele não vai. E Worf disse: – “Se você me ordenar, eu faço. Mas se você não ordenar isso, eu não vou fazer” – Você apenas tem que aceitar isso”. E eu disse ao Ron “Ok”. Fazia sentido. Eu não sabia o que ia acontecer, mas eu acho que foi um grande episódio.”

E quanto a Duras, eu realmente não me importei. Quer dizer, eu realmente não acho que isso ia ser um problema. Acho que todo mundo diria: – “Oh meu Deus!” -mas os fãs Klingon diria: – “É isso!” (Risos) – Mais uma vez, ele mostra que Worf vai fazer essas coisas. Quero dizer, ele não vai fazer nada para trazer uma vergonha para ninguém, ou desobedecer a uma ordem, mas é quem ele é. E eu gostei.”

Uma coisa que Worf não era tão bom foi em cuidar do seu filho. Avery Brooks veio aqui [no FedCon] alguns anos atrás e ele disse que estava convencido de que seu relacionamento para com seu filho (Sisko e Jake) na série seria retratado de forma positiva, uma forma de personagem-modelo, porque muitas crianças negras crescem sem o pai. O que você pensa sobre o relacionamento de Worf com Alexander nesses termos ou não foi um problema para você porque você estava fazendo um alienígena?

“Isso mesmo. Não, não foi um problema. Mais uma vez, quase todos na série tinha um bom relacionamento com seus colegas ou com os seus irmãos e coisas assim. Mas você tem que ter algum conflito, quer dizer, eu acho que todo mundo tem um conflito em algum lugar. Sobre A Nova Geração, Patrick (Stewart) teve um conflito com seu irmão, Jonathan (Frakes) com o pai, eu tive conflitos com o minha companheira e meu filho, você sabe. Marina (Sirtis) teve um conflito com a mãe, cada um de nós tem. Portanto, não foi nada que seja raro. Acho que todo mundo teve um conflito com alguém. O Data teve um conflito com seu irmão. Então, houve um conflito com todo mundo. Assim, não foi realmente algo que fosse fora do comum.”

“Mas eu acho que se estivesse apenas fazendo um personagem afro-americano, um personagem negro, e eu tivesse um problema com o meu filho, não acho que me importaria se houvesse um conflito. Quer dizer, eu tinha um conflito com meu próprio pai. É apenas um tipo de vida. Eu acho que Avery estava correto que você não vê isso, em geral. Muito disso é retratado dessa maneira, mas acho que ele está certo em dizer que não acha que deveríamos fazer isso. Eu acho definitivamente certo. Mas, para mim, não, eu teria dito: tudo bem.”

Após A Nova Geração você fez a transição para Deep Space Nine. Foi uma decisão fácil ao dar o Ok em assumir esse papel por mais quatro anos?

“Sim. Surpreendentemente, foi fácil. Eu não pensei que ia ser fácil. E eu brinquei sobre isso dizendo: – “Sim, eles me ofereceram um monte de dinheiro”- mas não foi isso. Eu pensei que havia encerrado com Jornada, eu achava que havia encerrado com o personagem. E quando eles me chamaram, eu achei uma coisa estranha. E felizmente eu fui capaz de entrar e pedir-lhes para mudar algumas coisas, coisas estruturais sobre maquiagem. Em A Nova Geração eu tinha que estar na maquiagem todos os dias e eu disse: – “vocês podem tornar isso mais fácil” – e eles disseram: – “Com certeza” – E a única coisa que eu lhes disse foi que eu sou muito protetor do Worf, ele é quem ele é e ele se tornou muito popular por ser esse cara e eu quero que ele seja acessível, mas eu não quero que ele seja afastado de quem ele é, assim você pode não reconhecê-lo depois de alguns anos, como ele está rindo, brincando e se divertindo. E eles aceitaram. Fizeram um trabalho muito bom com isso também.”

Eles te deram uma idéia, na época, aonde queriam levar o personagem?

Não, eu acho que eles realmente não o fizeram. Eu acho que eles tinham uma série de scripts. Tinham uma série de coisas que estavam pensando. Além disso, a coisa Jadzia Dax/Worf pode ter sido algo que eles estavam pensando. Mas eles realmente não perceberam que isso iria ser uma grande coisa até que ela e eu fizemos nossas primeiras cenas juntos. Acho que eles tinham isso traçado um pouco, mas quando você se envolveu nisso e vê as coisas acontecendo você vê as relações em curso. Então eles tiram as histórias de lá.”

O que você achou do papel de Worf nos filmes de A Nova Geração? O que você gostou e o que não se gostou dele?

“Melhor filme, acho que foi a altura de Jornada, para nós, da Nova Geração, foi Primeiro Contato. Eu acho que esse foi o filme onde eles acertaram. Em Generations o personagem era um carácter acessório, ele não estava realmente com um grande grau de envolvimento. Foi basicamente Brent (Spiner) e Patrick (Stewart) e (William) Shatner. Todos estavam mais envolvidos na história.”

No filme Primeiro Contato, Worf foi um grande participante e ele foi parte da tentativa de parar os Borgs. Ele foi uma grande parte disso. Teve um conflito com Picard. E eu achei que foi simplesmente brilhante. Ele não ofuscou todos, mas também era sólido e foi ali mesmo. E nos próximos dois filmes, que começaram a diminuir, cada vez menos e menos e menos. Até o último filme, não vou entrar mais nessa, mas no último filme, não havia nada lá para mim. Eu estive muito pouco lá. E acho que foi a maneira que seguiu, e você tem que ir, mas isso é algo que eu achei um pouco difícil de lidar.”

Vocês vão para Nemesis com a sensação de que este seria o último? A campanha promocional foi um pouco estranha, com “O começo do fim da viagem”, ou algo similar.

“Não, eu sabia duas coisas: se o filme não fosse muito bem, então seria o último filme. Se ele se saisse muito bem, então nós faríamos outro filme. E isso não tem nada a ver com nada, exceto dinheiro. Ele não se saiu muito bem e por isso disse: nem um mais, não vamos mais fazer isso.”

Vocês já viram o mais recente, o filme de J.J. Abrams?

“Sim, eu vi.”

Qual é sua opinião, ele fez certo com esse filme que estava faltando no último?

“Eu não creio que foi questão de fazer certo ou errado. Ou que nós fizemos certo ou errado ou algo parecido. Seria entre os dois filmes porque eles foram apenas dois filmes separados. Abrams estava seguindo para um público diferente do que estávamos. Ele estava seguindo para um público jovem, porque todas as estrelas principais são jovens. Você viu que as crianças de 12, 13, 14, 15 anos foram ver o filme mais e mais e outra vez, porque Chris Pine é um garoto quente e as meninas amam ele e que muitos desses filmes que nós vemos agora são enormes – em termos de som e seus efeitos especiais e tudo isso … para mim foi muito grande. Eu fiquei admirado porque ele era imenso. Mas para as crianças isso é onde eles estão agora. E então eu acho que ele estava atingindo as crianças. O que J.J. Abrams faz, é alcançar esse público e é isso que ele estava tentando fazer. Eu acho que em nosso último filme eles estavam tentando atrair os fãs de Jornada.

Como uma última pergunta: alguns anos atrás, houve um card game (jogo de cartas) com personagens e naves de Jornada, que foi muito popular. Todos os personagens de A Nova Geração foram avaliados em habilidades como inteligência e tal e eles eram em sua maioria classificados de 8 ou 9, com Data sendo 10 – e Worf ficou com apenas 6 em inteligência. Você acha que representou o personagem de maneira justa?

“Não! Tivemos reuniões sobre o script antes da primeira temporada. E tornou-se uma tradição ou folclore sobre Worf porque Jonathan (Frekes) estava discutindo sobre esta cena que era tão óbvia. “É tão óbvio”, disse ele, “mesmo o estúpido bobão Worf pode ver isso” – E foi hilário! E eles continuaram dizendo isso, sempre que estivéssemos fazendo uma cena, alguém dizia: – “Oh meu Deus, até mesmo grande estúpido Worf pode ver isso”-  Ei, eu era o grande idiota Worf. Porque ele era do tipo “O que significa, senhor?” Mas eu gosto de pensar que Worf é só um cara. Você sabe, ele é inteligente, mas ele é só um cara machão. Ele não entende as nuances, ele não entende os relacionamentos, ele não entende as mulheres, ele não entende nada. Ele só está lá fora, tentando fazer isso, tentando manter-se vivo o quanto ele pode, sem se descontrolar. Mas eu não me importo. Eu acho que é engraçado. Eu realmente acho que é divertido.”