DSC 3×02: Far From Home

Spaguetti western traz a tripulação da Discovery ao futuro

Sinopse

A USS Discovery sai do buraco de minhoca seriamente avariada, em queda num planeta. A nave faz um pouso de emergência numa geleira, em meio a esse mundo desértico. Saru comanda a tripulação a efetuar os reparos. As comunicações caíram.

Tilly indica que há bolsões de ar respirável no planeta e naves. Há vida, mas não dilítio. Bryce avisa que o transtator pifou, e a Discovery não tem como repará-lo. Stamets ainda está se recuperando do ferimento da batalha contra Leland. Saru se reúne com Nhan, Georgiou e Tilly para decidir o que farão a seguir. Confrontando Georgiou, ele resolve que o melhor é pedir ajuda aos nativos. E Tilly irá acompanhá-lo, por produzir uma “excelente primeira impressão”. A imperatriz não está nada feliz.

Lá fora, Saru e Tilly encontram uma das instalações habitadas. Eles não são bem recebidos. Mas a alferes os convence de que são quem dizem ser: oficiais da Frota Estelar. E revela que pode fornecer dilítio em troca de ajuda no reparo do transtator.

Um alienígena chamado Kal então revela que eles são quase todos coridanitas. Eles vivem naquele mundo, que chamam apenas de “A Colônia”, e são explorados por um portador chamado Zareh, que leva e traz o que precisam.

Na Discovery, Stamets e Reno formam uma relutante dupla de reparos. Ambos feridos. Ele sobe a um dos tubos Jefferies para fazer reparos, a despeito de sua condição. O gelo está tomando a Discovery. E ele volta a sentir seu ferimento. Mas consegue concluir o trabalho.

No planeta, Kal produz um novo transtator com matéria programável. Mas a chegada de Zareh atrapalha tudo. O portador pretende pilhar a Discovery, e mata Kal para mostrar que está falando sério.

Identificado como um viajante do tempo, Saru se recusa a render a nave, mas oferece uma troca em dilítio. E então os capangas de Zareh capturam Georgiou, ao vigiarem o perímetro em busca de outros membros da tripulação da Discovery. Mas ela e Saru conseguem virar o jogo em combate corpo a corpo.

Georgiou quer matar Zareh. Mas Saru é contra. E os coridanitas decidem permitir que ele parta. Agradecidos, os alienígenas fornecem um transporte portátil a Saru.

De volta à Discovery, a tripulação conclui os reparos e se prepara para partir. Mas a nave está coberta de gelo parasítico e não consegue decolar.

Então outra nave se aproxima e puxa a Discovery com um raio trator. A tripulação acredita ser um veículo hostil, querendo pilhá-los. Saru reluta, mas ordena a abertura de um canal de comunicação. E descobre que estão sendo resgatados por Michael Burnham.

Ela conta que chegara do buraco de minhoca no ano passado e tem procurado pela Discovery desde então…

Comentários

“Far From Home” é quase um clássico “lado B” da abertura da terceira temporada de Discovery. Se “That Hope Is You, Part 1” se concentrou na primeira aventura de Burnham ao chegar ao século 32, este segundo episódio conta a jornada da tripulação da USS Discovery, com um sabor de faroeste clássico que evocará sentimento de nostalgia entre os fãs.

Não é a primeira vez que Star Trek busca no gênero western inspiração para suas histórias. O próprio Gene Roddenberry, ao vender o conceito da série original, nos anos 1960, a descreveu como “Caravana para as estrelas”, mencionando a série Caravana (Wagon Train) que retratava uma jornada pelo Velho Oeste americano. E não foram poucas as vezes em que a referência se tornou literal, em episódios como “Spectre of the Gun”, da Série Clássica, e “A Fistful of Datas”, de A Nova Geração. Mas aqui nós vemos a transcrição mais direta dos clichês e do sabor dos faroestes, não como paródias do gênero, mas como uma escolha dramática válida em si mesma.

A história não se conecta diretamente com o Velho Oeste; apenas transporta as circunstâncias do Velho Oeste para este futuro desconhecido do século 32, em que a ausência da Federação tornou boa parte da galáxia uma “terra sem lei”. Essa transposição é feita de forma harmoniosa pela fotografia e pelo ritmo adotados pelo diretor Olatunde Osunsanmi, combinados ao design de produção de Tamara Deverell. Muito divertido ver as clássicas cenas de portas do “saloon” e toda a ambientação interna dele alinhada com a estética do faroeste, com armas de raios em lugar de pistolas. O figurino também contribuiu demais para construir de forma bem-sucedida o sabor spaguetti western. E é divertido ver Discovery se despindo de certas amarras para exercitar de forma mais livre os músculos de variedade que uma série de Star Trek pode oferecer.

A trama em si, a exemplo do primeiro episódio, é tão simples quanto possível, mostrando o desejo de mergulhar mais nos personagens e deixar que eles sejam o foco da história, em vez de elementos de enredo. Dá para sentir o dedo da showrunner Michelle Paradise nisso, no que é uma mudança muito bem-vinda. Se bem que, este episódio, com uma edição um pouco mais acelerada, poderia ter se tornado ainda melhor. Em certos trechos, ele se arrisca a ser enfadonho.

Apesar disso, entrega muito bem o drama da Discovery, caída num planeta, com uma contagem regressiva para a partida antes de sucumbir sob o gelo, enquanto Saru e Tilly precisa se livrar de sua própria enrascada para conseguir a ajuda de que precisam a fim de restabelecer o sistema de comunicações da nave.

Muito interessante ver o duelo de poder entre Saru e Georgiou, dois teóricos postulantes da cadeira de capitão da Discovery. A autoridade está com Saru, mas a imperatriz se mostra mais apta a navegar pelo mundo selvagem em que acabaram de aportar. A história acaba revelando que, na verdade, eles funcionam mais em conjunto, cada um trazendo suas habilidades à mesa, do que individualmente. É a atitude de Saru que ganha o apoio dos alienígenas para ajudá-lo, mas é a desconfiança natural de Georgiou que permite que eles saiam vivos dessa enrascada.

Temos um retrato do poder exercido pelos portadores nesta era, com uma ótima atuação de Jake Weber como o frio e calculista Zareh, bem como do status “lendário” que a Federação e a Frota Estelar ganharam após o cataclismo da Queima. Tudo isso vai ajudando a construir a ambientação desse futuro decadente em que a série se insere a partir da terceira temporada. Gradualmente, e sem drama excessivo, somos apresentados ao que está em jogo, nessa missão de restaurar a Federação ao que ela já foi no passado.

De forma interessante, também temos um tratamento muito bom da tripulação estendida da Discovery. Todo mundo tem seu momento, e é muito agradável ver as interligações entre os personagens. Owo e Detmer (e a promessa de que a piloto da nave tem um arco sendo construído em torno dela), Culber e Stamets (como o casal adorável a que fomos apresentados na primeira temporada, até que uma morte e ressurreição tenha entrado no caminho deles), a amizade jocosa entre Stamets e Jett Reno (com o impecável timing de comédia de Tig Notaro), a relação de mentoria paternal entre Saru e Tilly (que brilha ainda mais quando não é usada para puro alívio cômico), a dinâmica de confiança desconfiada entre Georgiou e Nhan e as rápidas, mas adoráveis, aparições de Linus vão fazendo com que ganhemos mais e mais apego a esta família. Ela certamente não é uma “família Doriana”, como a que tivemos em A Nova Geração, mas ainda assim é uma família e é reconhecida de forma fácil e agradável como tal.

Ao final, temos a reunião entre Burnham e a Discovery e descobrimos que um ano se passou desde o episódio anterior. Agora estamos em 3189, e Michael teve um longo tempo se aclimatando a esse futuro misterioso. Decerto veremos os resultados desse descompasso, conforme a USS Discovery reencontra seu lugar numa galáxia profundamente diferente daquela em que sua jornada começou, no século 23.

Avaliação

Citações

“We are introducing ourselves to the future. You, Ensign Tilly, are a wonderful first impression.”
(Estamos nos introduzindo ao futuro. Você, alferes Tilly, é uma maravilhosa primeira impressão.)
Saru para Tilly

“I’m gonna enjoy this new world. If this idiot can run a settlement, then imagine what I can do in my sleep.”
(Vou gostar deste novo mundo. Se este idiota pode liderar um povoado, imagine o que eu posso fazer enquanto durmo.)
Georgiou, sobre Zareh

Trivia

  • “Far From Home” é o primeiro episódio a ir ao ar com o logotipo totalmente modificado da série. No primeiro episódio da terceira temporada, o logo havia sido apenas parcialmente alterado.
  • Após sair do buraco de minhoca, a USS Discovery faz um pouso de emergência em meio a uma geleira, num planeta frio. Vimos uma nave estelar passar por algo semelhante em uma linha do tempo alternativa mostrada no episódio “Timeless”, da quinta temporada de Voyager.
  • Este episódio, a exemplo de “That Hope Is You, Part 1”, teve cenas filmadas em locação na Islândia, com Doug Jones (Saru) e Mary Wiseman (Tilly).
  • Para consertar seu sistema de comunicações, a Discovery precisa de um novo transtator. A tecnologia, associada então a um comunicador portátil, foi mencionada pela primeira vez no episódio “A Piece of the Action”, da Série Clássica.
  • A ambientação na Colônia é cheia de referências a um saloon do Velho Oeste, adaptado para este futuro sem lei do século 32. Star Trek já flertou várias vezes com o Velho Oeste. Gene Roddenberry vendeu a série à NBC como uma “Caravana para as estrelas”, em referência à série de faroeste Caravana. Vários episódios da franquia também fizeram releituras do Velho Oeste, como os episódios “Spectre of the Gun”, da Série Clássica, e “A Fistful of Datas”, de A Nova Geração.
  • Os alienígenas da Colônia são apresentados como coridanitas, do planeta Coridan, um mundo rico em dilítio no passado da saga, mencionado pela primeira vez em “Journey to Babel”, da Série Clássica. O capitão Jonathan Archer fez uma visita a Coridan em “Shadows of P’Jem”, da primeira temporada de Enterprise. Lá, os alienígenas são similares aos vistos aqui. Em compensação, um embaixador supostamente coridanita em “Demons”, da quarta temporada de Enterprise, é bem diferente. Seria mesmo coridanita?
  • Pela primeira vez ouvimos o nome da matéria “mágica” deste futuro no século 32: matéria programável. O conceito já é familiar aos cientistas do século 21.
  • A matéria programável parece ter um componente de rubíndio. Esse cristal foi mencionado pela primeira vez em “Patterns of Force”, da Série Clássica.
  • Linus diz ter um espectro visível de 74 mil nanômetros, mais de 200 vezes o humano. O sauriano deve ver ultravioleta e infravermelho, além da nossa luz visível.
  • Zareh usa o termo “V’draysh” para mencionar a Federação. A expressão apareceu pela primeira vez na saga em “Calypso”, curta-metragem da série Short Treks.
  • Ao final, Michael Burnham reencontra a tripulação da Discovery e descobrimos que um ano se passou desde o episódio anterior. Agora estamos em 3189.
  • Você pode conferir mais referências e easter eggs do episódio neste artigo de Maria-Lucia Racz no Trek Brasilis.

Ficha Técnica

Escrito por Michelle Paradise & Jenny Lumet & Alex Kurtzman
Dirigido por Olatunde Osunsanmi

Exibido em 22 de outubro de 2020

Título em português: “Longe de Casa”

Elenco

Sonequa Martin-Green como Michael Burnham
Doug Jones como Saru
Anthony Rapp como Paul Stamets
Mary Wiseman como Sylvia Tilly
Wilson Cruz como Hugh Culber
Rachael Ancheril como Nhan
Michelle Yeoh como Philippa Georgiou

Elenco convidado

Tig Notaro como Jett Reno
Jake Weber como Zareh
Emily Coutts como Keyla Detmer
Patrick Kwok-Choon como Gen Rhys
Oyin Oladejo como Joann Owosekun
Ronnie Rowe Jr. como R.A. Bryce
Sara Mitich como Nilsson
Wole Daramola como Olhos Vermelhos (capanga)
Raven Dauda como Tracy Pollard
Kevan Karse como capanga
Jonathan Koensgen como Kal
Lindsay Owen Pierre como Os’ir, o barman
Sanjay Pavone como alferes da limpeza
David Benjamin Tomlinson como Linus

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