DSC 3×04: Forget Me Not

Reconexões ditam o tom, em episódio emotivo com sabor trill

Sinopse

O doutor Culber está preocupado com a saúde mental da tripulação, após o salto para o futuro. Isso inclui Adira, que não consegue se lembrar de nada desde que recebeu o simbionte trill. A solução é visitar o mundo natal trill, mesmo sem saber se a Discovery será bem recebida. Mas os temores são infundados, e eles são bem-vindos, segundo o comissário Vos, uma das autoridades do planeta. Ele conta que Trill teve enormes perdas na Queima, e que é muito bom receber de volta um simbionte e um hospedeiro.

Saru está preocupado com Stamets e a capacidade de preservar o motor de esporos ativo. Ele ordena que Tilly e Stamets desenvolvam uma interface mais amigável, mas o cientista resiste.

Culber pede a Michael Burnham que acompanhe Adira à superfície – uma dupla relutante. O médico também manifesta suas preocupações a Saru sobre a tripulação.

Em Trill, a comitiva fica chocada ao saber que o simbionte está com um ser humano, Adira, que não consegue recordar as vidas passadas dos hospedeiros anteriores – uma “aberração”, segundo os trills. Adira a Burnham recebem ordens de partir e não voltar mais.

Michael decide desobedecer e levar Adira às cavernas sagradas de Mak’ala, ambiente natural dos simbiontes, mas é cercada por guardas. Ela abandona os protocolos da Frota Estelar e ataca os guardas para prosseguir. E Xi, um guardião dos simbiontes, parece disposto a ajudá-las.

Na Discovery, Saru conversa com o computador sobre a situação da tripulação, e a máquina age estranhamente. Ela sugere descanso e um jantar em “família”, ou uma exibição de um filme mudo de comédia. O capitão promove um jantar para a tripulação da ponte. Mas a maionese logo desanda, e o pessoal começa a bater boca.

Nas cavernas, Adira tentará estabelecer um elo com seu próprio simbionte. Ao entrar na piscina, vem um estado de transe, e Adira acaba afundando. Com relutante autorização dos trills, Michael entra na água para salvar Adira. Em um tipo de conexão mental, Michael sugere que Adira se deixe travar contato com o simbionte.

Adira relembra estar com o namorado, Gray, numa nave geracional. Ele iria receber um simbionte. A transferência deu certo, mas pouco tempo depois houve um acidente e Gray foi gravemente ferido. Ele morreu, e o simbionte foi transferido para Adira. A memória traumática era a razão do bloqueio.

Com isso, finalmente Adira é aceita pelo simbionte e por seus antigos hospedeiros, dentre eles, o almirante Senna Tal. Os trills estão agradecidos, pois agora sabem que outras espécies podem ser hospedeiras, potencialmente acabando com a falta de voluntários adequados para a união. Mas Adira Tal decide partir com a Discovery.

A bordo, Saru tem mais sucesso em unir a tripulação com um filme mudo de Buster Keaton. Culber parabeniza o capitão, mas ele revela que a dica veio do computador da nave. Saru acredita que os dados da esfera estão tentando proteger a Discovery, como a nave os protegeu.

Com sua memória voltando, Adira dá as coordenadas de Senna Tal para o encontro com a Frota Estelar. E, de algum modo misterioso, Gray ainda está presente.

Comentários

“Forget Me Not” é um episódio fantástico. Com um tema claro, ele fala sobre reconexão – seja entre a tripulação da Discovery, traumatizada após perceber o significado de deixar tudo que amava para trás, seja para Adira, que tem as memórias bloqueadas por um trauma do passado, revelado de forma gradual e magistral.

Embora o segmento faça ponte no arco maior da temporada, ele tem começo, meio e fim muito bem definidos, e vemos tanto a trama A, com Adira, como a trama B, com o capitão Saru e sua tripulação, se desenrolarem com fluidez e estrutura sólida.

De quebra, o episódio premia aqueles que têm acompanhado a saga de Jornada nas Estrelas desde seus primórdios, com uma visita nostálgica e bem encaixada a Trill, planeta de origem de Jadzia e Ezri Dax, de Deep Space Nine. Com um bônus: evitando a armadilha fácil de mostrar o simbionte Dax (e tudo que ele traria consigo) neste momento da trama. Não quer dizer que Dax esteja morto, não quer dizer que ele não possa aparecer no futuro da série, mas aqui, neste momento, seria roubar de Adira um protagonismo que ela merece ter.

“Forget Me Not” também traz mais referências ao clássico episódio “Calypso”, dos Short Treks, com a primeira aparição do que parece ser Zora – aparentemente a inteligência artificial é fruto da fusão dos dados da esfera (colhidos pela Discovery em “An Obol for Charon”) com o computador da nave. A voz é a mesma, bem como a paixão por filmes antigos. Em “Calypso”, tivemos a canonização de Fred Astaire e Audrey Hepburn, e agora temos a de Buster Keaton e Charles Chaplin. Para além da diversão, o episódio intriga por nos fazer refletir sobre como o que vimos no curta vai se encaixar aqui na série. Já tivemos a menção à V’draysh (corruptela de Federação), em “Far From Home”, e agora Zora. O que mais vem por aí? Impossível não especular.

Vale também destacar o excelente uso dos personagens neste episódio, a começar por Hugh Culber. Normalmente servindo de “parceiro de sparring” para outros no elenco, aqui ele se torna o agente que coloca a história em movimento, servindo como “guia” da história (por meio de seu diário médico) e participando de maneira decisiva nas duas tramas, ajudando Saru a perceber o problema que ele enfrenta com sua tripulação e induzindo Michael Burnham a acompanhar Adira à superfície de Trill.

Vemos também uso especialmente bom de Detmer, a piloto da Discovery, numa trama que já vem se construindo desde o início da temporada. Ela parece estar especialmente abalada com a ida ao futuro, mostrando sintomas claros de transtorno de estresse pós-traumático, e a coisa atinge um ponto alto aqui, no conflito com Stamets.

Aliás, muito do estresse brota da postura do cientista, de se projetar como o centro do universo da Discovery. Saru cobra dele alternativas na interface com o motor de esporos, e ele se recusa a considerá-las, apesar de Tilly trazer boas ideias à mesa. Detmer faz a mesma cobrança, tratando-o como alguém que não reconhece a contribuição alheia e banca o “super-herói excêntrico”. Em tempos normais, talvez fosse uma crítica exagerada. Mas os nervos de todos estão à flor da pele e, nesse contexto, os conflitos parecem apenas naturais.

Tudo culmina com o jantar promovido pelo capitão, a fim de promover a integração da tripulação da ponte. De forma previsível, o tiro sai pela culatra. Os momentos são, ao mesmo tempo, esquisitos e extremamente reconhecíveis. Quem nunca passou por uma ocasião de família daquele naipe, que atire a primeira pedra. Por outro lado, é estranho ver uma tripulação altamente treinada, mesmo nas circunstâncias mais desfavoráveis, agindo como completos “tiozões do zap”. Resumo da ópera: é uma cena realista para uma família, mas estranha para profissionais. Numa nave estelar, é natural que essas sejam duas faces da mesma moeda.

E, claro, tudo está bem quando termina bem, e a cena final da tripulação confraternizando em uma sessão de cinema funciona a contento. Emocionante e muito bem atuado o abraço reconciliador de Stamets e Detmer. Emily Coutts e Anthony Rapp mandaram muito bem.

Como também é o caso de Sonequa Martin-Green, com sua Michael Burnham. Ela está mais relaxada que o resto da tripulação, após um ano de aclimatação, e a interpretação de Martin-Green vende isso com facilidade. E trata-se de ponto crucial para comprarmos a ideia de que Culber sugere que ela acompanhe Adira à superfície. Do ponto de vista narrativo, era apenas uma desculpa para colocar lá embaixo a única pessoa disposta a promover “diplomacia caubói”. E é isso que ela faz, com direito a tiros e luta corpo a corpo.

Agora, tendo dito tudo isso, o episódio é todo de Adira, com a interpretação brilhante de Blu del Barrio, e seu namorado/hospedeiro anterior, Gray, vivido por Ian Alexander. Os dois jovens atores, mas especialmente Blu, simplesmente arrebentam, em cenas dificílimas, que eles executam com sensibilidade e emoção crua, sem descambar para o piegas. É um feito e tanto. Quem não se emociona com a gradual revelação do drama de Adira e do destino de Gray não tem coração. E a trama ainda nos deixa com um mistério: como Gray pode ainda estar por lá, ainda que visível apenas para Adira? Certamente é algo que veremos se desenrolar nos próximos episódios.

Em termos de construção de mundo, aprendemos aqui que os trills também passaram por enormes apuros após a Queima, e já não fazem parte da Federação. Há falta de hospedeiros adequados para a união – o que soa meio estranho, depois que descobrimos a fraude sobre a real compatibilidade entre trills e simbiontes, em “Equilibrium”, de Deep Space Nine, onde aprendemos que cerca de metade da população trill é apta a receber um simbionte. Só podemos supor que houve um colapso populacional no planeta, e restam pouquíssimos humanoides.

De resto, a hipocrisia e o tradicionalismo trills seguem os mesmos do milênio passado – o que se alinha bem com uma sociedade hipócrita e tradicionalista. A revelação de que humanos também podem passar pela união com os simbiontes tem o potencial para ser um ponto de inflexão naquela cultura, o que é sempre algo interessante a introduzir no processo de construção de mundo promovido por Discovery no século 32.

De todo modo, muito legal vermos mais um planeta visitado na temporada. A essa altura, são quatro planetas em quatro episódios, dois deles de “legado”, ou seja, visitados antes em outras séries, o que é muito bom. Aos poucos, vamos apreendendo o “estado da galáxia” nesta nova era de Star Trek.

Avaliação

Citações

“Okay, I have a squid, and you threw up in a wormhole. Things are pretty weird out here.”
(Ok, eu tenho uma lula, e você vomitou num buraco de minhoca. As coisas são bem esquisitas por aqui.)
Adira, para Michael Burnham

“The symbionts are a gift for everyone, not just the Trill, and I think I’m supposed to be that messenger.”
(Os simbiontes são uma dádiva para todos, não apenas os trills, e acho que devo ser a pessoa a levar esta mensagem.)
Adira Tal

Trivia

  • “Forget Me Not” nos leva de volta a Trill, planeta de origem de Jadzia e Ezri Dax, personagens de Deep Space Nine. A primeira visita aconteceu no episódio “Equilibrium”, da terceira temporada de DS9, quando Jadzia precisou resolver uma crise com seu simbionte Dax.
  • Voltamos mais uma vez às cavernas sagradas de Mak’ala, onde vivem os simbiontes, para que Adira também possa encontrar paz com o simbionte Tal.
  • O truque para permitir que Adira e Michael afundassem subitamente nas piscinas naturais das cavernas foi bem low tech: um membro da equipe de produção ficava debaixo d’água, prendendo a respiração, até receber um aviso por rádio. Um alça no figurino permitia que ele puxasse os personagens para baixo.
  • A primeira aparição dos trills foi no episódio “The Host”, da quarta temporada de A Nova Geração, mas lá eles tinham outra aparência física.
  • Vemos pela primeira vez o computador da Discovery afetado pelos dados de esfera, mudando de voz e de comportamento. Os dados da esfera foram colhidos pela nave no episódio “An Obol for Charon”, da segunda temporada.
  • Já um computador “vivo”, chamado Zora, foi visto em “Calypso”, episódio da primeira temporada dos Short Treks, onde víamos a Discovery abandonada há mil anos.
  • A voz diferente do computador, tanto em “Calypso” como em “Forget Me Not”, é de Annabelle Wallis, na época namorada de Chris Pine, o Kirk dos filmes de J.J. Abrams.
  • Descobrimos neste episódio que Tal está em seu sétimo hospedeiro. São eles Cara, Kasha, Jovar, Madela, Senna, Gray e Adira. Com base no uniforme, um deles foi um oficial da Frota Estelar na época de Star Trek: Picard, entre o fim do século 24 e começo do 25. Outros dois foram oficiais da Frota também, mas com uniformes jamais vistos antes.
  • Confira mais curiosidades e easter eggs deste episódio, em artigo de Maria-Lucia Racz, clicando aqui.

Ficha Técnica

Escrito por Alan McElroy & Chris Silvestri & Anthony Maranville
Dirigido por Hanelle M. Culpepper

Exibido em 5 de novembro de 2020

Título em português: “Não Me Esqueça”

Elenco

Sonequa Martin-Green como Michael Burnham
Doug Jones como Saru
Anthony Rapp como Paul Stamets
Mary Wiseman como Sylvia Tilly
Wilson Cruz como Hugh Culber
Rachael Ancheril como Nhan
Michelle Yeoh como Philippa Georgiou

Elenco convidado

Ian Alexander como Gray Tal
Andreas Apergis como guardião Xi
Blu del Barrio como Adira Tal
Karen Robinson como líder Pav
Andrew Shaver como comissário Vos
Annabelle Wallis como Zora
Kenneth Welsh como Senna Tal
Emily Coutts como Keyla Detmer
Patrick Kwok-Choon como Gen Rhys
Oyin Oladejo como Joann Owosekun
Ronnie Rowe Jr. como R.A. Bryce
Sara Mitich como Nilsson
Julianne Grossman como computador da Discovery
Raven Dauda como Tracy Pollard
Elana Dunkelman como engenheiro da Discovery 1
Christine Nguyen como engenheiro da Discovery 2
David Benjamin Tomlinson como Linus

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