DSC 3×05: Die Trying

Episódio “dois em um” traz a Discovery de volta à Frota Estelar

Sinopse

A USS Discovery chega ao Quartel-General da Federação e se reporta à Frota Estelar. Lá, Saru, Burnham e Adira Tal são recebidos pelo almirante Charles Vance. Ele desconfia da história da Discovery, jamais registrada, enquanto lida com uma crise. Um grupo de refugiados kilis está doente, e não há nada que possam fazer para curá-los.

Vance pretende separar a tripulação da Discovery, após interrogatórios, e reformar a nave. Michael sugere que a cura para os kilis pode estar na USS Tikhov, o banco de sementes da Federação. Saru fica na base como garantia, e Michael leva a Discovery até a Tikhov com o motor de esporos.

A pequena nave é resgatada em meio a uma tempestade iônica. Michael, Culber e Nhan vão a bordo, já que a zeladoria do banco está sob controle dos barzans. Eles encontram apenas uma projeção holográfica da família do zelador, dr. Attis. Michael reconhece a música, a mesma que Adira tocava a bordo da Discovery.

Eles encontram Attis, mas ele parece estar fora de fase, após um acidente de transporte. O problema foi causado por uma explosão estelar. A Discovery consegue rematerializá-lo, mas sua família está morta. Michael consegue convencê-lo a dar as sementes de que precisam para salvar os kilis. Mas Attis se recusa a deixar a nave para receber tratamento. Ele morrerá em breve. Nhan então se oferece para ficar a bordo e concluir a missão, depois que ele se for.

De volta à base, com a missão cumprida, a tripulação da Discovery ganha o direito de permanecer unida. E o almirante Vance conta mais ao capitão Saru e à primeira oficial Burnham sobre o atual estado da galáxia.

Comentários

“Die Trying” tem sabor de episódio duplo, comprimido em um único segmento. E, como muitos segmentos em duas partes na história de Jornada nas Estrelas, a qualidade entre eles não é parelha. A primeira metade é excepcional, com tudo que poderíamos esperar do reencontro entre a Discovery e a Federação do século 32. A segunda parte é mais pedestre, com sabor de “nave misteriosa da semana”, mas cumpre bem a função do arco completo do episódio: garantir, de forma justificada, a manutenção da tripulação unida e a bordo da nave titular da série.

A primeira metade do episódio é meio que a recompensa pela jornada da Discovery durante o começo da temporada, em sua busca pelo que restou da Frota Estelar. E isso é entregue em grande estilo, com um espetáculo visual conforme adentramos o campo de distorção para ver o novo Quartel-General da Federação e as naves estelares desta nova era de Star Trek.


Um show de referências se segue, e nada pode impedir os fãs de sentirem um frio na espinha ao verem a USS Voyager-J – os personagens se admiram pela letra, implicando sucessivas gerações evolutivas da nave, mas a gente se encanta mesmo pela reverência ao passado da saga. Igualmente agradável é ver a USS Nog, homenagem ao falecido Aron Eisenberg, ator que viveu o ferengi em
Deep Space Nine.

É uma sequência em que tudo funciona, do encantamento da tripulação ao ver aquelas maravilhas tecnológicas à trilha emotiva de Jeff Russo, passando pelos efeitos visuais estonteantes, evocando o melhor da esperança no futuro que caracteriza a franquia em todas as suas versões. O século 32 é uma época cheia de problemas, mas aqui temos a ideia de que essas crises podem e devem ser superadas, transmitida no melhor estilo de Jornada nas Estrelas – não falando, mas mostrando.

O que vem a seguir pode até parecer como um balde de água fria, mas é exatamente o que tinha de acontecer: se alguém diz ser um viajante do tempo de mil anos atrás batendo à sua porta, não importa quem seja, você precisa desconfiar. O papel de representar o oficial cético cabe ao ator israelense Oded Fehr, como o comandante em chefe da Frota Estelar, almirante Charles Vance.

Ele traz as características que esperamos de um bom almirante: firme, mas cauteloso; capaz de ouvir, mas sempre de olho no panorama das situações; e naturalmente desconfiado da história maluca que acabara de ouvir. Isso é atuado de forma séria no confronto entre ele e a dupla Saru-Michael Burnham, e de maneira cômica nos interrogatórios dos diversos membros da tripulação. Em ambos os casos, funciona – em particular, na entrevista de Georgiou, imediatamente identificada como terráquea do universo do Espelho e observada por um misterioso agente de óculos, interpretado por David Cronenberg. E o plano da Frota Estelar agora é reformar a Discovery e redesignar sua tripulação para outras naves.

Para virar esse jogo, entra em cena a “segunda parte” do episódio, em que um grupo de alienígenas genéricos (os kilis) está seriamente doente e, para curá-los, é preciso viajar até uma nave da Frota destinada a preservar sementes de todos os mundos da Federação – a USS Tikhov. A fim de alcançá-la a tempo, só mesmo com o motor de esporos da Discovery. E aí cabe a Saru e Burnham convencerem o almirante de que a tripulação atual está pronta para a ação.

É interessante como o segmento é usado para criar um contraste entre as posturas de Saru, deferente à cadeia de comando, e Michael, cada vez mais rebelde, mas, fora isso, é tudo muito previsível. Eles vão à nave, resolvem o problema lá (que envolve resgatá-la de uma tempestade iônica e então salvar o zelador) e voltam. A oportunidade é usada para desenvolver mais a oficial de segurança Nhan – e então deixá-la para trás.

Tornou-se um dos aspectos mais frustrantes de Discovery a tendência a desenvolver mais os personagens secundários apenas às vésperas de abandoná-los. Aconteceu com Airiam na segunda temporada, e se repete agora com Nhan. O fato de a Tikhov estar sob a gestão barzan, espécie de Nhan, é bem usado, ainda que de forma meio genérica (o mesmo tratamento “alienígenas da semana” que os barzans tiveram em “The Price”, da terceira temporada de A Nova Geração), e a solução da crise, com a oficial ficando para trás, é aceitável, mas ao sacrifício da personagem (que pelo menos não morreu e assim pode voltar à série mais adiante) e com uma dose excessiva de melodrama (todo o sentimento de saudades de casa funciona, mas o blablablá de homenagens a Michael Burnham é um pouco demais).

 

É uma tentação constante em Discovery deixar os personagens apresentarem as qualidades de Burnham, algo que frequentemente é desnecessário e mesmo contraproducente. Neste episódio temos o contraste perfeito: pela primeira vez vemos Michael no comando, e ela é extremamente convincente. É a Michael que a gente admira, desde o primeiro episódio. Em compensação, Nhan e Culber ficarem festejando as qualidades dela joga contra a personagem, que vira apenas objeto de adoração dos seus colegas, sem levar a audiência junto para essa trip sentimental.

A boa notícia aqui é que Culber mais uma vez ganha bom uso aqui, tornando-se um personagem tão importante nesta terceira temporada quanto Stamets e Tilly. Wilson Cruz não desperdiça a oportunidade, entregando novamente uma boa atuação.

No fim das contas, a missão é cumprida, a Discovery volta ao QG da Frota, mostra que sua tripulação deve permanecer unida, e coloca a nave pronta para as próximas aventuras, com um discurso bonito e intelectual de Saru sobre Giotto e a Renascença. Puro suco de Star Trek. “Die Trying”, com isso, cumpre o que se propõe a fazer – recolocar a nave e sua equipe sob o comando da Frota Estelar, abrindo um novo (e ao mesmo tempo mais tradicional) caminho para a série neste século 32 ainda largamente a ser desbravado.

Avaliação

Citações

“Commander Burnham fell out of the sky. With Captain Pike. It was raining Starfleet officers. Did you bring any snacks? I’m- I’m starving.”
(A comandante Burnham caiu do céu. Com o capitão Pike. Estava chovendo oficiais da Frota Estelar. Você trouxe petiscos? Estou… estou morrendo de fome.)
Jett Reno

“We have three hours left to retrieve the seed sample and create an antidote for the Kili. Let’s show them who we are. You might want to hold onto something. Black alert.”
(Temos três horas para resgatar a amostra de sementes e criar um antídoto para os kilis. Vamos mostrar a eles quem somos. Você pode querer se segurar em alguma coisa. Alerta escuro.)
Michael Burnham, para a tripulação e para a tenente Willa

Trivia

  • Este é o primeiro episódio de Star Trek: Discovery em que vemos Michael Burnham no comando da nave para uma missão.
  • A Discovery se reúne à Frota Estelar no Quartel-General da Federação no século 32. Ao entrar no campo de distorção, são vistas várias naves. Entre elas estão a USS Constitution, a USS Voyager NCC 74656-J, a USS Nog e a USS Armstrong.
  • A USS Constitution é uma referência à nave protótipo da classe a que pertencia a Enterprise na Série Clássica (embora isso só tenha sido canonizado no filme Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida).
  • A USS Nog é uma homenagem a Aron Eisenberg, ator que viveu Nog em Deep Space Nine, morto em 2019. Segundo o produtor Alex Kurtzman, a nave é da classe Eisenberg.
  • A USS Armstrong provavelmente é uma homenagem ao astronauta Neil Armstrong (1930-2012), primeiro homem a pisar na Lua, em 20 de julho de 1969.
  • O almirante Vance revela que em 3189 a Federação conta com 38 membros. No auge, teve 350. Em 2373, segundo o filme Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato, tinha mais de 150. Ele também confirmou que a Queima se deu 120 anos antes deste episódio, ou seja, em 3069.
  • Descobrimos aqui que tanto Kaminar, planeta natal de Saru, quanto Barzan II, mundo de Nhan, se juntaram à Federação.
  • As novas naves federadas usam ligas de neutrônio, algo  que era apenas teórico entre os cientistas da Federação e os borgs em 2375 (segundo “Think Tank”, de Voyager). A viabilidade do neutrônio, contudo, era sabida, pois era o material base do devorador de planetas encontrado em 2267 pela Enterprise, em “The Doomsday Machine”.
  • Os barzans foram vistos apenas uma vez antes da introdução de Nhan em Discovery, no episódio “The Price”, da terceira temporada de A Nova Geração.
  • Neste episódio, Burnham e Culber usam capacetes virtuais que lembram um pouco os campos de força individuais vistos na Série Animada (1973-1974).
  • A nave USS Tikhov (NCC-1067-M) e suas antecessoras de mesmo nome têm sido usadas desde o século 23 para guardar sementes dos mundos estudados pela Federação. Ela é uma homenagem ao astrônomo russo Gavriil Tikhov (1875-1960), considerado mundialmente como pioneiro da astrobiologia e pai da astrobotânica.
  • O agente Kovich sabe detalhes do universo do Espelho e identifica de imediato Georgiou como a imperatriz daquela realidade paralela. Ele também conhece o feriado terráqueo de 5 de abril, celebrando o ataque de Cochrane aos vulcanos, visto em “In a Mirror, Darkly” (Enterprise).
  • Kovich é vivido pelo canadense David Cronenberg, mais conhecido por seus trabalhos de direção em filmes como o clássico A Mosca (1986).
  • Para ver mais curiosidades e easter eggs deste episódio, confira este artigo de Maria-Lucia Racz, clicando aqui.

Ficha Técnica

História de James Duff & Sean Cochran
Roteiro de Sean Cochran
Dirigido por Maja Vrvilo

Exibido em 12 de novembro de 2020

Título em português: “Morrer Tentando”

Elenco

Sonequa Martin-Green como Michael Burnham
Doug Jones como Saru
Anthony Rapp como Paul Stamets
Mary Wiseman como Sylvia Tilly
Wilson Cruz como Hugh Culber
Rachael Ancheril como Nhan
Michelle Yeoh como Philippa Georgiou

Elenco convidado

Oded Fehr como Charles Vance
Blu del Barrio como Adira Tal
David Cronenberg como Kovich
Tig Notaro como Jett Reno
Emily Coutts como Keyla Detmer
Patrick Kwok-Choon como Gen Rhys
Oyin Oladejo como Joann Owosekun
Ronnie Rowe Jr. como R.A. Bryce
Sara Mitich como Nilsson
Brendan Beiser como Eli
Jake Epstein como dr. Attis
Vanessa Jackson como Audrey Willa
Ana Sani como mãe
Ava MacKinnon como filha 1
Shazdeh Kapadia como filha 2
RJ Parrish como oficial de segurança holográfico 1
Vanessa Burns como oficial de segurança holográfica 2
Chris Zamat como oficial holográfico 1
Jajube Mandiela como oficial holográfico 2
Daniel Woodrow como oficial holográfico 3
Shannon Lahaie como oficial tática
Rosie Simon como alferes da Frota Estelar
David Benjamin Tomlinson como Linus
Avaah Blackwell como oficial de ciência osnullus
Pamela Mars como oficial da ponte da Discovery

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