TNG 2×07: Unnatural Selection

Enredo faz bom uso de polêmica da ciência e desenvolve Picard e Pulaski

Sinopse

Data estelar: 42494.8

Respondendo um chamado de emergência da nave de suprimentos USS Lantree, da Federação, a Enterprise encontra o veículo à deriva no espaço. Todas as tentativas de comunicação falham. Antes de abordar a nave, Picard decide que é melhor conectar a Enterprise aos sistemas da Lantree para investigar o que está havendo em seu interior.

Após rastrearem visualmente a ponte da Lantree, a tripulação da Enterprise fica chocada ao descobrir que todos a bordo da nave à deriva estão mortos. A dra. Pulaski determina que os membros da tripulação, que foram examinados e tiveram a saúde perfeita constatada há oito semanas, estão todos mortos por causas naturais. A Lantree é imediatamente colocada sob quarentena e a Enterprise decide visitar o último local em que a nave esteve, a Estação de Pesquisa Genética Darwin, para avisá-los do perigo potencial de terem sido contaminados pela mesma doença que teria causado o envelhecimento precoce da tripulação da Lantree.

Infelizmente, a Enterprise descobre que os residentes da Estação Darwin estão sofrendo da mesma doença misteriosa. Os médicos do complexo pedem a Picard que aceite receber as crianças da estação, que foram geneticamente modificadas para se tornar ‘super-humanos’. Embora as crianças tenham ficado em isolamento e não mostrem sinais de infecção, um cauteloso Picard permite apenas que Pulaski examine uma das crianças até que se possa determinar a natureza da virulenta doença.

Para eliminar qualquer perigo para a tripulação da Enterprise, Data e Pulaski vão a bordo de uma nave auxiliar e teleportam o menino para lá, de modo que ele possa ser examinado em um ambiente seguro. Mas momentos após Pulaski começar a examinar o rapaz, ela é atacada por uma misteriosa doença, que imediatamente começa a causar nela o envelhecimento acelerado.

Uma vez infectada, a doutora parte com Data para a Estação Darwin, onde eles descobrem o que de fato aconteceu. O poderoso sistema imunológico ativo das crianças reagiu com um vírus aparentemente inofensivo, criando anticorpos que vivem no ar e afetam o DNA de humanos normais, acelerando o processo de envelhecimento.

De posse dessas informações, e em uma tentativa desesperada de salvar a vida de Pulaski, Picard ordena à tripulação que modifique o teletransporte de modo que quaisquer mudanças causadas no DNA da doutora pudessem ser filtradas, com base em uma cópia sã de seus genes, obtida a partir do folículo de um fio de cabelo encontrado nos aposentos da médica.

Pouco tempo depois, com Picard controlando o processo de materialização do transporte, Pulaski é levada de volta com segurança à Enterprise, com sua fisiologia normal totalmente restaurada.

Comentários

“Unnatural Selection” permanece tão atual quanto era na época em que foi produzido. Talvez até mais. A questão das consequências da engenharia genética em seres humanos é discutida de forma bastante original e inteligente, demonstrando a capacidade de Jornada nas Estrelas de bem trabalhar temas de ficção científica muito próximos da vida cotidiana.

A ideia de que uma nova geração de seres “engenheirados” acabaria por excluir a convivência com a geração anterior é das mais interessantes –principalmente por ser assustadoramente real. O argumento por trás da história é bastante convincente, sem grandes forçadas de barra, para mostrar que não é um sonho que a modificação extensa do DNA humano leve à criação de uma espécie  nociva a seus predecessores.

Embora traga um tom de déjà vu com relação a “The Deadly Years”, episódio da Série Clássica que também coloca os tripulantes da Enterprise em um processo de envelhecimento precoce, o tom diferenciado e filosófico dos detalhes da história faz de “Unnatural Selection” muito mais que um simples “high-concept”, como era o episódio clássico.

A única porção do enredo que incomoda é o uso “mágico” do teletransporte para “filtrar” Katherine Pulaski e trazê-la sã, salva e rejuvenescida de volta à Enterprise. É mais um daqueles momentos em que a necessidade de trazer o personagem de volta para o episódio seguinte nas mesmas condições em que foi deixado obriga os roteiristas a uma “macaquice”.

O uso de transporte como “salvação médica” já é incômodo. Mas poderia ter sido muito menos traumático do que foi aqui. Bastaria ter seguido com o plano “A”: restaurar Pulaski a partir do “traço” do transporte, devidamente obtido junto à nave que abrigou a doutora anteriormente. Embora seja muito mais sem graça, é tremendamente mais realista do que usar o DNA dela, extraído de um fio de cabelo, para filtrar os dados do transporte. Por uma razão muito simples: filtrando todos os átomos dela a partir do “traço”, o resultado seria uma cópia “antiga” da dra. Pulaski, antes de ser afetada pelos anticorpos engenheirados.

Filtrando só o DNA, apenas o código genético seria restaurado, mas todo o metabolismo celular de todas as células já envelhecidas seria mantido. Em outras palavras, não haveria medo de Pulaski ser rejuvenescida na própria plataforma de transporte. Na melhor das hipóteses, ela iria, aos poucos (questão de dias), recuperando sua aparência e saúde originais.

De todo modo, condenar o episódio por isso seria como dizer que uma aproximação envolvendo dez casas decimais esteja completamente errada só porque, na última casa, em vez de “8”, há um “7”. Até porque, não só de uma boa história ele vive.

Trata-se de um dos primeiros episódios destinados também a desenvolver os personagens –nesse caso, o relacionamento entre Pulaski e Picard. O andamento da história é pautado pelo antagonismo dos dois, que é permeado de forma interessante por admiração mútua. Acabamos descobrindo que os dois não são muito diferentes um do outro, e a interação proveniente da dupla é interessante para mover o episódio e arrancar boas risadas, como quando Picard pede que a doutora o deixe ao menos terminar suas frases (ela segue interrompendo-o, mesmo depois do pedido).

Os outros personagens acabam meio esquecidos na história, o que foi bom para deixar Pulaski e Picard em alto relevo. Essa é uma atitude não adotada com frequência pelos produtores nas duas primeiras temporadas da série, mas que sempre trouxe um brilho a mais quando foi utilizada.

Tecnicamente, o episódio é bastante satisfatório. A maquiagem de envelhecimento precoce é interessante, embora não seja exatamente uma novidade (vide “The Deadly Years”), assim como todo o conceito visual do “futuro da humanidade”, com meninos telepáticos, telecinéticos e “anabolizados”. Os efeitos visuais envolvendo tomadas externas da Enterprise mostram a qualidade costumeira. Apenas a explosão da nave USS Lantree parece pouco convincente, mas, dada a época e o orçamento, passa sem reclamações.

Avaliação

Citações

“They died of natural causes.”
“Natural causes? What in nature could cause that?”
(Eles morreram de causas naturais.)
(Causas naturais? O que na natureza poderia causar isso?)
Pulaski e Picard

“Commander Data has a way with computers.”
(“O comandante Data leva jeito com computadores.”)
Pulaski

Trivia

  • A nave auxiliar deste episódio tem o nome de Shakarov em homenagem ao russo Andrei Shakarov, físico russo e grande defensor dos direitos humanos, já falecido.
  • A nave Lantree nada mais é do que uma versão modificada do modelo que foi usado em “Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan” como a USS Reliant. Ele voltaria mais uma vez à ativa no piloto de Deep Space Nine como a USS Saratoga, nave de Benjamin Sisko destruída durante a batalha de Wolf 359.

Ficha Técnica

Escrito por John Mason & Mike Gray
Dirigido por Paul Lynch

Exibido em 30 de janeiro de 1989

Título em português: “Seleção Artificial”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado

Diana Muldaur como Katherine “Kate” Pulaski
Patricia Smith como dra. Sara Kingsley
Colm Meaney como O’Brien
J. Patrick McNamara como capitão Taggert
Scott Trost como o alferes no teletransporte

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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