Segmento traz mistério da Expansão e leva o capitão Archer ao limite
Sinopse
Data: Desconhecida
A Enterprise atinge uma área do espaço em que as anomalias da Expansão Délfica ficam ainda mais poderosas. Além de causar estranhas distorções do campo gravitacional interno da nave (que fazem pratos voarem e o próprio espaço se expandir e comprimir imprevisivelmente), os fenômenos acabam causando uma espécie de curto-circuito dos motores de dobra. Trip é obrigado a desligá-los, deixando a nave em força de impulso.
A NX-01, então, encontra uma nave à deriva no espaço, recentemente atacada. Um grupo vai a bordo, mas não encontra sobreviventes. Reed consegue extrair alguma informação dos bancos de dados, mas depende do processamento de Hoshi para decodificá-las. A equipe volta à Enterprise e Archer ordena a partida o mais rápido possível, para evitar que sua nave possa ser vítima dos mesmos seres hostis que atacaram os alienígenas.
Não demora muito e uma outra nave, de fato, se aproxima e abre fogo contra a Enterprise. Uma equipe de abordagem usa teletransportes para se materializar na nave terrestre, com o objetivo de pilhar tudo que puder encontrar. As forças de segurança de Reed, reforçadas pelos MACOs, tentam repelir os atacantes, mas todos conseguem escapar, à exceção de um, nocauteado por Trip na engenharia.
Seus ferimentos são leves e ele é levado à enfermaria, até que Archer ordena seu deslocamento para a prisão da nave. O capitão recebe um relatório de Trip, que informa o roubo de todas as reservas de combustível, à exceção do que já está no reator — que permitiria uma autonomia de um mês, no máximo, para a Enterprise. Archer vê a necessidade de recuperar o que foi roubado e decide interrogar o prisioneiro.
Phlox diz ao capitão que conhece a espécie — ele é um osaariano, que, em tese, veio de fora da Expansão Délfica. No interrogatório, ele confirma essa perspectiva, dizendo que uma barreira impede que as naves saiam da Expansão, o que os deixou presos lá. Com o tempo, desenvolveram a pirataria como modo de vida, beneficiados pelas anomalias locais. Archer quer saber como detectar a nave pirata, que possui algum dispositivo que mascara seu rastro iônico. O alienígena não revela nada, apesar das ameaças de Archer.
Felizmente, nos dados obtidos a partir da nave atacada, foi possível encontrar referências a um método para detectar os traços iônicos. Perseguindo-os, a Enterprise acaba encontrando uma enorme esfera artificial, com 19 km de diâmetro, encoberta por um gigantesco efeito de camuflagem. O casco é compatível com a tecnologia osaariana, mas a estrutura já tem 1.000 anos de idade.
É impossível passar por uma das portas com a Enterprise, então Archer decide invadir a esfera com uma cápsula auxiliar. Acompanhado por Reed, Travis e alguns MACOs, ele consegue adentrar a gigantesca estrutura e chegar a um dos módulos pressurizados em seu interior. Começa, então, a busca pelos materiais roubados da NX-01, que acabam sendo encontrados. Junto com eles, a tripulação encontra um inventário de carga.
De volta à Enterprise, Hoshi Sato descobre que o mesmo cargueiro pirata que os atacou também foi responsável pelo saque a uma nave xindi. Archer, mais furioso ainda, volta a interrogar o prisioneiro osaariano. Quando ele se nega a cooperar, o capitão decide cumprir suas ameaças e coloca o alienígena numa das comportas da nave, iniciando, em seguida, a descompressão do compartimento. Quase sufocado, o prisioneiro revela os códigos de acesso ao computador de sua nave.
Archer, então, ordena que a Enterprise dispare contra a esfera artificial, no intuito de atrair a nave cargueira para perto. A estratégia dá certo e a Enterprise inicia uma perseguição. Enquanto isso, Hoshi entra no computador da nave e inicia o download do banco de dados xindi capturado pelos osaarianos. Quando o download está quase completo, a Enterprise, agora com poder de fogo superior, desiste da perseguição, danifica a nave alienígena e parte, levando consigo informações preciosas sobre os xindis.
Comentários
“Anomaly” funciona, dentro da sua proposta. Um sólido segmento de ação, orientado a enredo, com um enfoque adequado às circunstâncias apresentadas na terceira temporada da série. Temos um episódio bastante consistente no uso dos personagens — e, ao mesmo tempo, ousado.
Quem mais ganha com isso é o capitão Archer. Definitivamente, ficaram para trás os tempos de bom moço e respeitador das regras. Scott Bakula conseguiu transmitir adequadamente o dilema pessoal pelo qual passava seu personagem, ao decidir sobre torturar ou não o pirata capturado. E, a partir de agora, está claro que Archer só tem olhos para sua missão — salvar o planeta Terra.
Sua decisão de romper com a ética e colocar o osaariano na comporta de ar só surge ao descobrir que os alienígenas possuem informações importantes sobre os xindis. O momento em que a balança pende para esse lado, ao perceber que pode conseguir dados cruciais para sua missão, é muito bem retratado e explica graficamente o que ele havia dito a Trip ao entrar na Expansão Délfica, “faremos o que for necessário”.
Mas, tirando esse aspecto do episódio, todo o resto é totalmente orientado a enredo e os outros personagens, embora dentro de seus papéis, só precisam “ler as falas” e manter a história caminhando. Aliás, o maior problema, nesse sentido, vem com o nosso pirata capturado, que parece ter assistido às últimas duas temporadas de Enterprise antes de dar seus pitacos. De onde ele tirou a ideia de que Archer era “civilizado demais” para chutar o balde e cumprir suas ameaças? O que ele sabia sobre os humanos, antes desse encontro? Fico me perguntando se ele iria dizer à mesma coisa a um capitão klingon…
Falando da história em si, Michael Sussman é o roteirista de Enterprise que mais entende do aspecto “terror e espanto” que a ficção científica pode trazer. Seus episódios normalmente são os que trazem os conceitos mais ousados, capazes de propelir histórias de forma eficiente, no melhor estilo dos segmentos orientados a enredo. É dele o excelente “Dead Stop”, da temporada anterior, em que a Enterprise encontra uma estação de reparos alienígena que é muito mais ameaçadora do que parece. E, desta vez, num lance semelhante, a NX-01 encontra uma “Estrela da Morte” com 19 km de diâmetro.
Toda a concepção desse artefato alienígena é interessante e apresenta uma intrigante história, que não é esclarecida pelo episódio. Segundo pudemos constatar, os osaarianos são de fora da Expansão Délfica. Portanto, não deviam estar há centenas de anos por lá. Em compensação, a esfera gigantesca tinha mil anos de idade, embora elementos do casco tivessem características osaarianas. Afinal, quem construiu aquele troço, com tão poderoso dispositivo de camuflagem? Foram os osaarianos? Foi uma outra espécie, saqueada pelos osaarianos? Foi uma espécie perdida, que há muito deixou de existir? Ninguém fica sabendo disso ao longo do episódio, o que oferece não só a possibilidade de desenvolver esse tema mais adiante, mas também tem o agradável efeito de não entregar todas as respostas ao final do episódio, um dos maiores defeitos de Jornada nas Estrelas enquanto obra de ficção científica.
Perguntas para um futuro episódio: Será que há outras esferas como essa em outras partes da Expansão Délfica? Elas têm mesmo relação com as anomalias da região, conforme T’Pol sugeriu? Têm algo a ver com os xindis? Mistéééério…
Os efeitos especiais são, como de costume, impressionantes. As sequências dentro da nave alienígena atacada, com a falta de gravidade e os corpos boiando no ar, são perfeitas. O mesmo se pode dizer das sequências de batalhas e da aparição da “Estrela da Morte”. Verdade seja dita: não há nenhuma produção televisiva hoje que possa se equiparar aos padrões de Enterprise. E quando os roteiros ajudam, fica muito fácil produzir episódios vencedores.
Embora ainda não tenhamos visto tudo que a Expansão Délfica pode oferecer, “Anomaly” é uma boa forma de começar a destrinchar os enigmas que esperam Archer ao longo desta terceira temporada.
Avaliação
Citações
“Where’s Isaac Newton when ya need him?”
(Onde está Isaac Newton quando se precisa dele?)
Tucker
“I need what was stolen from me, there is too much at stake here to let my morality get in the way.”
(Eu preciso do que foi roubado de mim, há muito em jogo aqui para eu deixar minha moralidade ficar no caminho.)
Archer
“Mercy is not a quality that will serve you well in the Expanse, captain.”
(Misericórdia não é uma qualidade que lhe servirá bem na Expansão, capitão.)
Orgoth
Trivia
- Nathan Anderson faz seu segundo episódio como o sargento Kemper e temos a primeira aparição da MACO McKenzie.
- A produção começou em 10 de julho de 2003.
- Rick Berman disse: “Vamos encontrar a primeira de mais esferas. Elas foram criadas artificialmente, quase do tamanho de luas, o propósito ainda não sabemos. Vamos também encontrar alguns ‘pilhadores’, piratas que se aproveitam das naves que vêm à Expansão e são vitimadas por todas as anomalias espaciais.”
Ficha Técnica
Escrito por Mike Sussman
Dirigido por David Straiton
Exibido em 17 de setembro de 2003
Títulos em português: “Anomalia”
Elenco
Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato
Elenco convidado
Robert Rusler como Orgoth
Nathan Anderson como sargento Kemper
Julia Rose como cabo McKenzie
Sean McGowan como cabo Hawkins
Kenneth A. White como tripulante da engenharia
Ryan Honey como guarda
Ken Lally como guarda de segurança
Enquete
Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Nívea Doria