VOY 3×01: Basics, Part II

Tripulante condenado salva o dia em episódio que muda os rumos da série

Sinopse

Data estelar: 50023.4

Abandonada pelos kazons em um planeta dominado por terremotos e criaturas ferozes, a tripulação procura por comida e abrigo. Ao mesmo tempo, Paris, que conseguiu deixar a Voyager em uma nave auxiliar, solicita a ajuda dos talaxianos.

Na Voyager, o Doutor surpreende Seska ao lhe revelar que seu bebê não é filho de Chakotay, mas de Culluh. Depois que ela deixa a enfermaria, o médico descobre que não é o único membro da tripulação na nave; o alferes Suder, violento sociopata que Tuvok vinha tentando reabilitar, ainda está a bordo. Eles unem forças contra os kazons, mas, ao traçarem uma estratégia de ação, Suder expressa descontentamento quando pensa que possivelmente terá de matar inimigos para recuperar o controle da Voyager.

No planeta, Kes e Neelix são levados como reféns por uma cultura humanoide primitiva. Chakotay e uma equipe de resgate os libertam, mas, durante o escape, são obrigados a se esconder em uma das perigosas cavernas dos arredores. Eles conseguem se esquivar da enorme criatura que habita o local e selam a abertura ao saírem.

À medida que Paris traça curso de volta à Voyager com reforços, ele manda uma mensagem para o Doutor, pedindo-lhe que desative as junções secundárias dos fêiseres. Suder sabota uma série de sistemas usando velhos truques maquis para evitar ser detectado. Mas Seska, outrora membro dos maquis, percebe que há um sabotador a bordo e confronta o Doutor. Ele diz que é o único responsável e Seska desativa seu programa antes que ele possa cuidar das junções secundárias. Cabe a Suder a tarefa de salvar nave e tripulação e ele heroicamente desliga os fêiseres pouco antes de ser morto pelos kazons.

Paris dispara contra os fêiseres principais da Voyager e, quando Culluh tenta compensar com os sistemas de back-up, Seska e muitos outros na ponte são mortalmente feridos. Ela morre enquanto Paris e os talaxianos se transportam para a nave e Culluh leva a criança consigo ao evacuar suas tropas. Paris, então, toma o controle e volta para resgatar seus colegas. Mais tarde, Tuvok oferece uma prece vulcana de paz a Suder, enquanto Janeway traça um curso para casa.

Comentários

O terceiro ano de Voyager começou com tudo. Houve muita coisa boa em “Basics, Part II”, principalmente no que se refere a um desenvolvimento significativo de personagens — algo raro na série. Merecem destaque o Doutor, Chakotay e Suder.

Também Janeway, mas com menos destaque, principalmente por seu espírito de liderança e por seu exemplo em situações limite. Basta relembrar a cena em que ela ordena que a tripulação coma as minhocas das pedras e a sequência em que corta os longos cabelos para fazer o fogo — foram especiais. O que uma mulher determinada no comando não faz pela sobrevivência de seus subordinados?

Mais do que qualquer outra coisa, “Basics” dá um toque mais humano a Voyager. Incrivelmente, foram necessários dois anos para os telespectadores assistirem à série e terem a noção: “Nossa, eles estão desamparados e têm que fazer sacrifícios para continuar vivos!”. Até então, o que víamos eram oficiais muito bonitos e bem vestidos, com botas polidas e estômagos cheios, viajando em uma nave luxuosa e com recursos ilimitados — isso sem falar na misteriosa regeneração dos sistemas bioneurais, na limpeza do casco externo e nas eternas reservas de dilítio que alimentam o reator de dobra.

Aqui, vemos Frota e maquis atirando pedras em neandertais alienígenas e a batalha contra os fenômenos naturais e contra animais selvagens. É um verdadeiro retorno às raízes humanas.

Os sentimentos e as emoções também afloram no episódio. O Doutor, como sempre, foi magnífico. Além do humor de costume, ajudou Suder a superar o impacto psicológico que a luta contra os kazons estava tendo sobre ele. Sobre Suder, tem-se sua total regeneração e redenção. Ele está genuinamente arrependido do que fez no passado e percebe-se que tem levado a sério as técnicas de meditação que Tuvok vinha lhe ensinando. Até Tuvok passa momentos de emoção, ao oferecer uma prece vulcana à alma de Suder. Não se pode esquecer, também, momentos dramáticos como a morte de Hogan, o cansaço da alferes Wildman e o sofrimento do bebê. Não é sempre que se vê cenas como a de Chakotay se oferecendo para carregar a criança ou da capitão dando atenção especial a um oficial menos graduado.

Sobre Suder e Hogan, é uma pena que os personagens tenham sido descartados. Suder, porque tinha toda uma nova existência à frente. A repercussão do que fez para salvar a nave poderia render bons roteiros futuros para a série. Quanto a Hogan, talvez seja o personagem secundário de maior destaque e empatia com o público durante a segunda temporada. Em “Alliances”, ele parece ser mais um maqui frustrado por estar sob o comando de uma capitão da Frota. Mas, com o decorrer do tempo, dá para notar que é um bom homem e um bom oficial. É realmente uma pena que tenha morrido.

Outro ponto negativo no episódio, aliás, como acontece em todo episódio envolvendo os kazons, são os próprios kazons. Não dá para entender o que os produtores e roteiristas querem da raça. Há inconsistências por toda parte. Talvez seja por esse motivo que decidiram seguir em frente e os deixar para trás. Onde estão as outras facções e por que não lutam para tomar a Voyager de Culluh? Como os nistrim conseguem operar a nave mais avançada da Frota e com 87 tripulantes a bordo? Alguém se lembra que Chakotay comentou com Janeway que seriam necessárias, no mínimo, 100 pessoas para manter os sistemas (“The 37’s”)? Como aquele kazon conseguiu pousar a nave se, meses antes, nem Tom Paris sabia como fazê-lo? E como a meticulosa e experiente Seska não fez uma varredura interna da Voyager para detectar os sinais de vida de Suder?

Mas o que prevalece é uma boa hora de ação, aventura e emoções. É uma história pouco convencional para Voyager.

E os principais fatos desse episódio (as mortes dos recorrentes e a última aventura com os kazons), de certa forma, representam o fim de um compromisso em Voyager — o da continuidade. Mata-se os personagens recorrentes mais marcantes, elimina-se o inimigo recorrente da série (essa é a última aparição dos kazons por um longo, longo tempo) e tudo volta à estaca zero. Claramente há uma ruptura e uma mudança de filosofia com relação à temporada anterior. Nesse sentido, o episódio é um marco.

“Basics, Part II” dá início a uma bateria de mudanças na série, mudanças essas que serão sentidas logo pelo público. Daqui para frente, vale a pena prestar atenção nos efeitos visuais, no relacionamento Janeway/Chakotay, em Tom e B’Elanna, no Doutor e, sobretudo, em Kes.

Avaliação

Citações

“Trapped on a barren planet, and you’re stuck with the only Indian in the Universe who can’t start a fire by rubbing two sticks together!”
(Aprisionados em um planeta desolado e você está presa com o único índio no Universo que não consegue fazer fogo raspando uma pedra na outra!)
Chakotay

“You’re more talented in the art of deception than you led me to believe.”
“I was inspired by the presence of a master.”
(Você tem mais talento na arte de mentir do que me fez acreditar.)
(Eu me inspirei na presença de uma mestre.)
Seska e Doutor

“What am I supposed to do? Lead a revolt with the gang from Sandrine’s? Conjure up holograms of Nathan Hale and Che Guevara? I’m a doctor, not a counter-insurgent… Get a hold of yourself. You’re not just a hologram, you’re a Starfleet hologram.”
(O que devo fazer? Liderar uma revolta com a gangue do Sandrine? Criar hologramas de Nathan Hale e Che Guevara? Eu sou um médico, não um revolucionário… Controle-se. Você não é só um holograma, você é um holograma da Frota Estelar.)
Doutor

Trivia

  • A atriz Martha Hackett, que interpreta a espiã Seska, disse que ficou desapontada com o final que escreveram para seu personagem. “Achei que se Janeway ou Chakotay tivessem que matá-la em autodefesa, a história teria mais impacto. Ali estava uma vilã capaz de tomar o controle da nave e ela morre em um acidente. Parece que eles desmontaram o que haviam construído para mim”.
  • “Eu particularmente estava cansada dos kazons há muito tempo, antes mesmo daquele episódio [Basics] ser produzido ou idealizado”, disse Jeri Taylor, que assumiu o controle da série na passagem para o terceiro ano. “Estou feliz em poder dizer que é a última vez que os veremos”.
  • Em “Basics, Part II”, o alferes Lon Suder (Brad Dourif) aparece pela última vez em Voyager. O personagem só é citado novamente no episódio “Counterpoint”, do quinto ano.

Ficha Técnica

Escrito por Michael Piller
Dirigido por Winrich Kolbe

Exibido em 04 de setembro de 1996

Título em português: “Sobrevivência, Parte II”

Elenco

Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B’Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Jennifer Lien como Kes
Ethan Phillips como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Tim Russ como Tuvok
Garret Wang como Harry Kim

Elenco convidado

Martha Hackett como Seska
Anthony De Longis como Culluh
Nancy Hower como alferes Wildman
Brad Dourif como alferes Suder
Simon Billig como alferes Hogan
Scott Haven como engenheiro kazon
David Cowgill como alienígena 2
Michael Bailey Smith como alienígena 1

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Edição de Stéphanie Cristina
Revisão de Nívea Doria

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