ENT 3×08: Twilight

Phlox e T'Pol ajudando Archer em futuro alternativo

Segmento brilhante acerta em cheio na história e na sensibilidade do tema

Sinopse

Data: Desconhecida

Archer acorda em sua cama na nave, que está sofrendo um ataque. Ele corre para a ponte e T’Pol, que está no comando, ordena aos guardas que o tirem de lá. Archer e a tripulação da ponte olham para a tela, onde acontece um confronto de naves de guerra xindi. Enquanto ele olha, a arma xindi se aproxima da Terra e dispara um raio de energia, fazendo com que o planeta exploda.

Em seguida, Archer acorda em sua cama, muito mais velho. Ele levanta e vai ao espelho. O capitão fica chocado ao ver sua pele enrugada e seu cabelo grisalho. Ele vai à cozinha e vê T’Pol fazendo café da manhã. Ela pede que ele se sente e conta que, 12 anos atrás, eles estavam num corredor da Enterprise.

Uma anomalia vem na direção deles, destruindo placas e prendendo T’Pol sob um destroço de metal. Enquanto Archer tenta tirar o destroço de cima dela, outra anomalia vem pelo corredor, atingindo o capitão e colocando-o a nocaute. Ele acorda na enfermaria e Phlox revela que ele esteve num coma por três dias, dos quais Archer não lembra nada. Phlox também diz que parasitas atacaram e se instalaram no cérebro dele, tornando-o inapto a formar novas memórias de longo prazo.

Archer acordando após sofrer acidente

Conforme as semanas passam, Phlox fracassa em encontrar uma cura para a infecção e a Frota Estelar decide afastar Archer do comando, dando a T’Pol uma promoção de campo como capitão.

Os xindis descobrem que a Enterprise está se aproximando de onde a arma está sendo construída e enviam duas naves para atacar a NX-01 e abordá-la. A nave é seriamente danificada. Numa tentativa desesperada de destruir as naves, T’Pol acerta uma das naves xindis, chocando-a com outra, que está atracada ao lado da Enterprise. A nacele de estibordo é perdida no processo.

Nave Xindi atacando a Terra

Phlox reporta a T’Pol a morte de 13 tripulantes, além de 22 feridos, alguns em estado grave. Reed diz que 9 prisioneiros xindis foram capturados. Trip diz a ela que será preciso reconstruir as bobinas de dobra destruídas e que isso levará seis meses; por ora, a nave só pode viajar em dobra 1,7.

De volta ao futuro, T’Pol diz a Archer que os xindis tiveram sucesso ao acionar a arma e destruir a Terra. Mas não pararam por aí; atacaram todas as colônias terrestres que pudessem encontrar. Atualmente, há menos de 6.000 humanos vivos. Os sobreviventes dos ataques precisavam de um refúgio e chegaram àquele sistema em comboios, com a Enterprise liderando um deles. Eles estão atualmente na colônia do quinto planeta do sistema Ceti Alfa, que é longe da Expansão. A maioria da tripulação ainda está a bordo da Enterprise, patrulhando o sistema.

T'Pol e Archer em futuro alternativo onde a Terra foi destruída

A caminho de Ceti Alfa 5, Soval visita T’Pol para convencê-la a retornar a Vulcano com Archer, onde médicos vulcanos poderão ajudá-lo. T’Pol e Soval discutem sobre como os vulcanos atrapalharam os humanos no desenvolvimento da tecnologia de dobra. Ela diz a ele que, se eles não tivessem feito isso, talvez os humanos tivessem conseguido evitar essa atrocidade. Soval parte e T’Pol fica na Enterprise.

Após um ano, o comboio chega a Ceti Alfa e T’Pol desiste de sua carreira para cuidar de Archer, uma vez que ele ficará melhor no planeta. No futuro, T’Pol revela a Archer que a relação dos dois evoluiu muito e que ela sabe muito sobre ele, inclusive sobre seu passado.

Soval e T'Pol

Phlox vai visitá-los e conta a Archer as boas notícias. Após uma década de pesquisa em Denobula, ele desenvolveu uma cura para os parasitas que irá exigir grandes quantidades de energia, que só poderiam ser fornecidas por um reator de dobra. Archer, T’Pol e Phlox, então, voltam à Enterprise e Archer descobre que Trip já é capitão há nove anos e que Reed foi promovido a capitão da Intrepid.

Enquanto Phlox executa o procedimento na engenharia, na ponte Reed descobre que há uma nave os seguindo. Eles a desabilitam e trazem o piloto a bordo. Trip e Reed o interrogam e ele confessa que foi pago para seguir Phlox se ele algum dia deixasse Denobula. Trip, então, vai à enfermaria, onde Phlox e T’Pol dizem a ele que o primeiro agrupamento de parasitas que eles destruíram não aparece em nenhuma das imagens tiradas do cérebro de Archer nos últimos 12 anos. Em outras palavras, ao destruir os parasitas, a linha do tempo poderia ser mudada e o futuro que eles agora experimentam não existirá. Trip se recusa a deixar que eles executem o resto do procedimento, para concentrar a energia na batalha à frente — seis naves xindis entraram no sistema.

Archer retornando à Enterprise em futuro alternativo

Eles começam a disparar nas naves xindis. Duas quebram formação e seguem a Enterprise. As outras quatro seguem na direção do planeta. A NX-01 desabilita as duas naves e as quatro restantes se voltam para confrontá-la.

Na enfermaria, Archer levanta da biocama e dispara na direção da ponte, com T’Pol indo logo atrás. Após descobrirem que não podem chegar à ponte, destruída durante a batalha, Archer e T’Pol vão à engenharia para completar o experimento. Quando chegam lá, encontram Phlox, que diz que a câmara foi destruída. Archer decide iniciar uma implosão subespacial com os motores de dobra, que irá destruir a nave, mas também matar os parasitas. Phlox e T’Pol o ajudam, mas todos são atacados por tropas xindis que invadiram a nave. Archer leva vários tiros, mas consegue iniciar a implosão.

Enterprise explodindo em linha do tempo alternativa

O capitão acorda na enfermaria, com Phlox perguntando sobre como se sente. O médico diz que ele sofreu uma concussão leve e precisa descansar. T’Pol dá a ele um padd com o filme O Bebê de Rosemary, traz um travesseiro e apaga as luzes.

Comentários

“Twilight” é um episódio que pode facilmente figurar numa lista dos melhores de Jornada nas Estrelas em todos os tempos. O roteiro de Mike Sussman é tão redondinho, mas tão redondinho, que até o uso do famigerado “botão reset” parece se sustentar aqui.

A história é perfeita de todos os ângulos. Enquanto simples premissa para um enredo de ficção científica, trata-se de uma preciosidade. Aproveitando-se das já recorrentes turbulências espaço-temporais da Expansão Délfica, o roteiro nos apresenta uma razão convincente para justificar que Archer adquira uma doença cerebral devastadora que o torna incapaz de comandar a Enterprise.

Title Card Enterprise Twilight

A partir desse evento, tudo dá errado na importante missão da NX-01. T’Pol é promovida a capitão, mas os esforços combinados de toda a tripulação não são capazes de evitar que os xindis acionem sua arma e destruam a Terra. Depois dela, foi a vez de as colônias espaciais humanas serem erradicadas. Em doze anos, há apenas um punhado de humanos vivos no Universo.

Desse ponto de vista, a história já é interessante — embora obviamente exija o “botão reset“. O que, no entanto, torna o segmento verdadeiramente especial é o uso que é dado aos personagens. Em primeiro lugar, Archer não tem uma disfunção qualquer. Ele sofre danos sinápticos no hipocampo (uma região do cérebro) que o impedem de registrar novas memórias de longo prazo. Para todos os efeitos, o capitão sofre de uma versão futurista do mal de Alzheimer, em seu estado inicial (eventualmente, o mal de Alzheimer causa demência e morte; no caso de Archer, ao que parece, só a função da memória é afetada).

Terra sendo destruída pelos Xindis em futuro alternativo

Com sua amnésia seletiva, o capitão passa a ser uma peça praticamente inútil a bordo da Enterprise. Ele sempre precisa ser relembrado dos últimos eventos, desde o momento em que foi infectado pelos parasitas. Começa a se sentir desconfortável, mas luta bravamente para ser útil e ajudar a Enterprise em sua missão — não que isso resulte em mais que embaraços, para o constrangimento de todos.

A narrativa é sensível e envolvente, fazendo com que os telespectadores sofram “na pele” o que Archer está sentindo. É um drama extremamente humano — algo que existe na vida real, na forma do mal de Alzheimer — que é conduzido com maestria pelo roteiro. Também é interessante — e justificável — a decisão final de T’Pol de permanecer numa pequena colônia, após a destruição da Terra, para cuidar de Archer. Faz todo o sentido, no contexto do episódio, e oferece uma justificativa muito melhor para a aproximação dos personagens do que o tosco “A Night in Sickbay”, que tentou fazer a mesma coisa na temporada passada.

Archer no início da sua doença de perda de memória

Sem dúvida, os personagens de Archer e T’Pol são os mais beneficiados pela trama. É uma das poucas oportunidades que temos de observar esses personagens evoluindo e realmente sofrendo, com coisas com as quais podemos nos identificar. E, apesar do “botão reset“, a audiência acaba saindo do episódio com um conhecimento muito mais profundo e próximo da vida interior dessas duas pessoas.

Em termos de estrutura de roteiro, Sussman dá uma aula de como usar todos os recursos que os escritores de Enterprise adoram do jeito apropriado. Um teaser curto e arrebatador, em que temos nada menos que a destruição da Terra, sequências bem organizadas e naturalmente fluidas de flashbacks (a coisa é tão bem-feita que é difícil localizar em que “época” se passa o episódio — a rigor, a coisa acontece em vários tempos ao mesmo tempo, uma qualidade extraordinária!) e um uso inteligente do “botão reset” para contar um drama humano realista. Não dá para pedir mais.

Archer e T'Pol em futuro alternativo

O episódio é reminiscente de outros segmentos consagrados de “botão reset“, como “Cause and Effect” e “All Good Things…”, de A Nova Geração, mas tem suficientes motivações para se firmar como algo mais do que uma reciclagem. O tema do envelhecimento e da senilidade raras vezes foi tratado com tanta vitalidade, inteligência e sutileza.

Uma outra raridade: os efeitos especiais estão a serviço da trama! Normalmente, algumas sequências em Enterprise dão a impressão de que foram escritas justamente porque renderiam boas imagens de efeitos especiais — aquela sensação do escritor de que “isso vai ficar muito legal na tela, então vamos incluir no roteiro”. Aqui, o que acontece é justamente o contrário — e o correto: são os elementos do enredo que naturalmente motivam os efeitos especiais.

O resultado é um segmento mais enxuto em termos de imagens geradas por computador. Em compensação, cada uma das sequências de efeitos tem tamanha justificativa que não existe essa sensação de que algo foi incluído na história porque seria legal. Mais um ponto para o roteiro.

Enterprise e nave Xindi em futuro alternativo

Algumas cenas, individualmente, também são tocantes e têm toques de brilhantismo. O poder da interpretação de Bakula quando T’Pol conta a ele que a Terra e a imensa maioria dos seres humanos estão perdidos e uns poucos sobreviventes, foragidos, é arrebatador. E lágrimas também incorrem quando Archer, já velho, é levado de volta à Enterprise e encontra seus antigos comandados.

Por fim, temos uma conclusão convincente e dramática, em que Archer é curado (e não soa falso que ele seja curado também “no passado”, uma vez que as criaturas infecciosas vivem num estado de contínuo fluxo espaço-temporal) numa batalha que leva à destruição da Enterprise e acorda, 12 anos antes, se recuperando de uma simples pancada na cabeça.

T'Pol contanto à Archer sobre a destruição da Terra em futuro alternativo

A coisa é tão inteligente que podemos nos perguntar o que, afinal, vimos. Foi tudo um sonho de Archer, inconsciente o tempo todo na enfermaria da Enterprise? Ou foi algo que realmente aconteceu e depois foi expurgado da linha temporal, como tantas vezes vimos antes ocorrer em Jornada nas Estrelas?

A resposta imediata do telespectador é, evidentemente, a segunda. Mas pense de novo: o fato de que Archer faz vários pedidos a T’Pol e chega até a dizer que ela daria uma boa enfermeira faz crer que, mesmo que seja num nível subconsciente, ele tenha guardado alguma memória dos eventos. Isso só seria possível caso toda a ação tivesse acontecido apenas na cabeça dele, não numa linha do tempo alternativa que, naquele momento, nem havia acontecido…

Qual é a verdade então, afinal? E essa é só a cereja no bolo de “Twilight”, um episódio legitimamente brilhante.

Avaliação

Citações

“It couldn’t have been easy for you, telling me the same story over and over again for 12 years.”
“I don’t always tell it in detail.”
(Não deve ter sido fácil para você, me contar a mesma história de novo e de novo por 12 anos.)
(Eu nem sempre conto em detalhes.)
Archer e T’Pol

“I hope I’ve told you this before, but I’m very grateful for everything you’ve done for me.”
(Espero já ter dito isso antes, mas sou muito grato por tudo que você fez por mim.)
Archer

Trivia

  • As filmagens do episódio terminaram em 19 de setembro de 2003, após sete dias, interrompidos pela morte do primeiro diretor assistente Jerry Fleck.
  • Robert Duncan McNeill, diretor do episódio, disse: “Isso é saltar no futuro com Archer e ver algo que afeta a linha do tempo, assim como o passado e toda a sorte de outras coisas, em termos das grandes questões com a humanidade e a civilização e também das relações interpessoais. Nós damos uma olhada em 20 ou 30 anos lá na frente”.
  • Mike Sussman também falou do segmento: “‘Archer não se lembrando de nada’ era realmente a ideia básica para o episódio. A noção central era a de que alguém com o mal de Alzheimer, de algum modo, poderia ser visto como um viajante do tempo”.
  • Gary Graham faz mais uma aparição como o embaixador Soval.

Ficha Técnica

Escrito por Michael Sussman
Dirigido por Robert Duncan McNeill

Exibido em 5 de novembro de 2003

Títulos em português: “Futuro Incerto”

Elenco

Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato

Elenco convidado

Gary Graham como Soval
Brett Rickaby como Yedrin Koss
Richard Anthony Crenna como segurança

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Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Nívea Doria

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