TNG 3×21: Hollow Pursuits

Episódio ao mesmo tempo bem-humorado e sensível discute vício e escapismo

Sinopse

Data estelar: 43807.4

A Enterprise recebe contêineres e um deles sofre um vazamento. O tenente Reginald Barclay, da equipe de engenharia, se apresenta com atraso e sofre uma reprimenda de La Forge e Riker.

Em seus momentos de folga, Barclay recria no holodeck os tripulantes da nave em situações constrangedoras, em que ele é um grande herói, os colegas são patetas e as colegas são apaixonadas por ele. Fora da simulação, ele mal consegue se comunicar com qualquer um.

O desempenho de Barclay chega aos ouvidos do capitão, que ordena que La Forge faça um esforço para integrar o homem à equipe, já que ele veio bem recomendado de seu último posto. Enquanto isso, pequenos e misteriosos problemas começam a aparecer: uma falha em uma unidade antigravitacional, um copo defeituoso no Bar Panorâmico e um defeito no transporte.

La Forge tenta conversar com Barclay e recomenda que ele marque uma consulta com Troi. No processo, acaba descobrindo que o oficial está rodando um programa em que a tripulação está em um cenário idílico, a conselheira é a “deusa da empatia” e os colegas lembram “mosqueteiros atrapalhados”, em duelos de florete constantes.

Eis que surge um defeito grave: os injetores de matéria e antimatéria do motor travam ligados, e a nave começa a acelerar fora de controle. Riker, Troi e La Forge vão atrás de Barclay, responsável pela investigação dos incidentes, e topam com o programa bizarro.

Na engenharia, Barclay sugere uma possível conexão: o vazamento do contêiner pode ter contaminado os oficiais com algo, que então foi transferido aos sistemas afetados. A teoria é confirmada, bem como o composto envolvido e uma estratégia para neutralizá-lo. A nave é salva, e Barclay se despede de seus colegas… no holodeck. Ele apaga todos os programas (salvo um), antes de tentar voltar a encarar a vida real na Enterprise.

Comentários

“Hollow Pursuits” é impressionante em tudo que faz. Ele discute um tema relevante para os nossos dias (aliás, talvez até mais no século 21, com a ascensão das redes sociais virtuais, do que no fim do século 20, quando foi escrito) e com uma humanização de personagem incomum para A Nova Geração, tão acostumada a tratar seus personagens como modelos quase perfeitos de civilidade, autocontrole e bom senso. A chave para isso, claro, é a criação de um novo personagem, o tenente Reginald Barclay, colocando a responsabilidade pelo sucesso (ou fracasso) do episódio sobre as costas do ator que o viveria: Dwight Schultz. E ele faz um trabalho estupendo. Sem exagero, uma das melhores atuações que já passaram pela série.

Para além da discussão crucial sobre a necessidade psicológica que algumas pessoas podem ter por escapismo e como o ambiente social pode contribuir mais e mais para isso, criando um ciclo vicioso, o episódio também mergulha no que pode ser a origem de alguns vícios. Tudo é tratado de forma muito madura e sensível. O capitão Picard é a voz da razão, impondo a seus subordinados o decoro e a postura requeridas para tentar ajudar um colega em dificuldade, e isso é feito sem que Riker e La Forge soem como pessoas brutais. Troi tem um papel importante expressando alguns aspectos psicológicos da situação. E Wesley, bem… Wesley é Wesley.

Ao mesmo tempo, há muito humor no episódio. Rimos com as recriações patetas da tripulação no holodeck e também com as reações desses mesmos tripulantes às suas contrapartes fictícias. Também há uma dose de riso fácil na cena em que Picard, depois de recriminar seus oficiais por se referirem a Barclay como Brócoli, acaba usando o apelido maldoso sem querer ao falar com o engenheiro na ponte.

Nada disso, contudo, distrai da seriedade do tema abordado. É bem-humorado sem ser jocoso; é profundo sem ser pretensioso. Em resumo: é muito bem escrito e atuado. E tudo sem nos deixar entediados, com uma história que é essencialmente pessoal e só apresenta ameaças reais mais para o fim, de modo a redimir o herói falível da trama: o próprio Barclay.

Talvez o lance de colocar a nave acelerando fora de controle fosse um clichê velho demais para ser usado aqui (depois de tantas ocasiões em que isso ocorrera na Série Clássica), mas, para os propósitos a que serve, funciona. No fim das contas, temos um grande vencedor, e a inevitabilidade de que veríamos Barclay novamente, como de fato ocorreu, tanto em A Nova Geração como, mais tarde, no filme Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato e em Voyager.

Avaliação

Citações

“It’s been fun. Computer – end program. Erase all programs filed under ‘Reginald Barclay’. Except Program 9.”
(Foi divertido. Computador – finalizar programa. Apagar todos os programas arquivados sob ‘Reginald Barclay’. Exceto o Programa 9.)
Barclay, decidindo se livrar do vício… mas não exatamente

Trivia

  • Esta é a primeira aparição de Dwight Schultz como Reginald Barclay. O ator era um ávido fã de Star Trek por muito tempo e pediu tanto a Rick Berman como a Whoopi Goldberg (com quem ele trabalhara no filme Uma História Americana, em 1990) por uma chance, se o papel certo aparecesse. Goldberg teria inclusive recomendado o ator, algo que ele não soube até ser escalado para viver Barclay.
  • A equipe de produção fez questão de apontar que o episódio não foi pensado como uma sátira dos fãs obsessivos de Star Trek. O diretor Cliff Bole declarou: “Não senti isso, e eu teria ouvido se fosse essa a intenção. Eu certamente não o abordei dessa maneira.”
  • O showrunner Michael Piller também reforçou essa ideia. “Realmente não era direcionado para os fãs de Star Trek. Era certamente sobre vida de fantasia versus realidade. Mais do que qualquer outro personagem nos três anos que eu estive [na série], o personagem de Barclay era mais como eu do que qualquer outro. Minha esposa viu aquele episódio e perguntou, o que está rolando, e disse que era [eu] porque estou constantemente em meu mundo de fantasia. Felizmente, ganho a vida nela. Tenho uma extraordinária vida de fantasia e uso minha imaginação o tempo todo. É com a vida real que tenho problemas. Fiquei deliciosamente feliz com o episódio.”
  • A propósito, a fala de Barclay sobre “ficar no canto, tentando parecer confortável examinando um pote de plantas” foi tirada, quase exatamente, de algo que Piller havia dito a Ira Steven Behr pouco tempo depois de ele entrar para a equipe da série. E foi Behr que incluiu a fala, ao fazer a reescrita do roteiro.
  • O roteiro, por sinal, é assinado por Sally Caves, pseudônimo para Sarah Higley, professora da Universidade de Rochester, em Nova York, com doutorado em idiomas e literatura medievais. Ela escreveu a história entre o terceiro trimestre de 1988 e o começo de 1989, enviando o roteiro à produção através de um agente do WGA (sindicato dos escritores). Mais tarde, ela contribuiria uma nova história para Star Trek, com Ira Steven Behr, para o episódio “Babel”, da primeira temporada de Deep Space Nine.
  • O visual do Wesley holográfico neste episódio foi baseado em uma famosa pintura de Thomas Gainsborough, chamada “The Blue Boy”. Seu figurino foi copiado em detalhes, e referências ao pintor e à pintura já apareciam no roteiro do episódio.
  • Os cilindros de teste do transporte eram na verdade caixas de transporte de boias sonares da Marinha dos EUA.
  • Algumas notas da canção “The Minstrel Boy” podem ser ouvidas quando Barclay deixa o holodeck no fim do episódio. A mesma música seria cantada em alto e bom som pelo chefe O’Brien e seu antigo comandante, capitão Maxwell, no episódio “The Wounded”, da quarta temporada.
  • O diretor Cliff Bole relembrou assim a produção: “Dwight Schultz é excelente. Ele realmente vem para o trabalho preparado e tem direção. Fez um grande trabalho. A parte de fantasia foi divertida também. Tecnicamente, eu me diverti naquele episódio. Os fãs gostam quando fazemos uma ilusão dentro de uma ilusão. Eles gostam dessas pequenas fantasias de época. Fiquei feliz com o episódio. Foi um bom estudo de personagem, e uma grande fantasia dentro da ilusão.”
  • Jonathan Frakes também se divertiu a valer. “Aquilo foi um desbunde, e a deusa da empatia…”
  • O segmento foi indicado a um Emmy de Melhor Cabelo para uma Série.

Ficha Técnica

Escrito por Sally Caves
Dirigido por Cliff Bole

Exibido em 30 de abril de 1990

Título em português: “Existência Vazia”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado

Colm Meaney como Miles O’Brien
Whoopi Goldberg como Guinan
Dwight Schultz como Reginald Barclay
Charley Lang como Duffy

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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