TNG 3×22: The Most Toys

Data vira peça de colecionador e enfrenta um dilema ético asimoviano

Sinopse

Data estelar: 43872.2

Após negociar com o comerciante Kivas Fajo, a Enterprise recebe vários carregamentos de hitrítio, transportados por Data em uma nave auxiliar. Na última viagem, a nave explode, e a tripulação acha que o androide foi destruído. Contudo, ele está a salvo; foi desativado pela equipe de Fajo e incorporado à coleção de objetos raros deles.

A investigação do incidente não revela nada imediatamente suspeito, mas La Forge não se conforma e segue avaliando o caso. Enquanto isso, na nave de Fajo, o colecionador tenta convencer Data a aceitar ser mais um de seus objetos raros. O androide se nega a cooperar, recusando-se a vestir um traje que Fajo preparou para ele. O comerciante então joga um solvente sobre seu uniforme, para forçá-lo.

A Enterprise parte para o sistema Beta Agni, onde o hitrítio irá combater uma catástrofe natural que contaminou um lençol freático. La Forge segue investigando o incidente com a nave auxiliar e repara que Data não seguiu o protocolo de comunicação à risca na última jornada. Suspeito, mas não incriminador.

No planeta, Riker, Worf e Beverly Crusher constatam que a contaminação não foi natural. Surgem as suspeitas de que Kivas Fajo tenha criado o incidente em Beta Agni para depois oferecer uma solução. Picard ordena uma perseguição à nave do comerciante.

Data segue resistindo. Ele se faz de inanimado quando Kivas recebe um colega colecionador para uma visita e só aceita se sentar na cadeira reservada para ele quando o comerciante ameaça matar Varria, sua assistente. Depois de se ver em risco de morte, Varria decide ajudar Data a escapar, contanto que ele a leve junto. Eles vão para um módulo de fuga, mas Fajo chega a tempo de impedi-los e mata Varria.

O androide se vê confrontado por um dilema: matar Fajo ou deixar que ele saia impune. Data parece chegar a uma decisão, e no exato momento a Enterprise o transporta de volta. A arma é desativada antes da rematerialização, e o androide sugere que o disparo deve ter sido ocasionado pelo transporte. Fajo é detido e os itens de sua coleção voltarão a seus legítimos donos.

Comentários

“The Most Toys” tem pouca história para 45 minutos, o que o torna um pouco arrastado. Ainda assim, é uma boa exploração do personagem Data, que é confrontado com aquele que talvez seja o dilema quintessencial de um androide: como lidar com as três leis da robótica de Asimov.

Embora não haja em Star Trek qualquer vestígio de que Data foi programado com as tais leis (não ferir um ser humano ou, por inação, permitir que seja ferido; obedecer às ordens dadas por humanos, exceto quando elas conflitarem com a primeira lei; proteger sua própria existência, exceto quando em conflito com a primeira ou a segunda leis), o problema que o androide enfrenta ao final do episódio lembra muito a estrutura das histórias de robôs de Isaac Asimov. Data precisa decidir se pode ou não matar Fajo para impedir que outras pessoas sejam mortas.

Pena que esse dilema só se manifeste no clímax do episódio, mas pelo menos ele rende, e é bem executado. Data de fato tentou matar Kivas Fajo e mentiu para Riker ao voltar à Enterprise? Ou foi realmente um problema com o transporte que levou a arma a disparar? Nunca saberemos ao certo, embora a sequência sugira que sim, Data tomou a decisão racional de pôr fim à vida do trapaceiro.

Fora isso, o episódio só se sustenta graças à interação entre Data e Kivas Fajo, e Brent Spiner e Saul Rubinek entregam uma química efetiva. Por sinal, Spiner faz uma grande atuação aqui — apesar das expressões minimalistas, você consegue “enxergar” não só a mente de Data funcionando, como também a sensação de que se trata de processamento computadorizado, graças aos trejeitos da atuação. Pode parecer mais fácil do que é interpretar um androide, e Spiner se mostra um mestre.

Ainda assim, é pouco para sustentar a trama, e o episódio acaba sendo um pouco arrastado e repetitivo. É meia hora de Kivas forçando Data a se comportar, com a trama toda só voltando a avançar nos quinze minutos finais. A bordo da Enterprise, temos alguma exploração das reações dos personagens ao que parece ser a morte de Data, mas tudo parece meio morno (e não ajuda o fato de que a audiência em nenhum momento cogitou que ele pudesse ter sido destruído). No fim, “The Most Toys” é divertido, mas não figura ao lado dos melhores episódios desta temporada.

Avaliação

Citações

“I cannot permit this to continue.”
(Eu não posso permitir que isso continue.)
Data

Trivia

  • O título do episódio em inglês vem de uma frase ocasionalmente usada para justificar a ganância:”He who dies with the most toys, wins.” (Quem morrer com mais brinquedos ganha.)
  • A filmagem deste episódio envolveu uma tragédia. O ator britânico David Rappaport foi originalmente escalado para interpretar Kivas Fajo (com uma complicada maquiagem prostética), mas tentou cometer suicídio no fim de semana, após poucos dias de filmagem. Contou o diretor Timothy Bond: “Havia uma história circulando de que eles o encontraram no carro com um tubo correndo do escapamento. Obviamente tive de substituí-lo.” Saul Rubinek então foi escalado às pressas, e as cenas com Rappaport foram refilmadas. Àquela altura, imagens promocionais de Rappaport como Fajo já haviam sido distribuídas à imprensa.
  • O ator britânico continuou a sofrer de depressão suicida e deu fim à sua vida dois meses depois, com um tiro, em um parque de Los Angeles, em 2 de maio de 1990, cinco dias antes da exibição do episódio. Rick Berman comentou: “Claro que ficamos muito tristes.”
  • Sobre a reescalação do papel tão rapidamente, o diretor Timothy Bond tinha o seguinte a dizer: “O cara que no fim fez o papel, Saul Rubinek, é alguém que ia à escola comigo. Apenas calhou de ele estar passando pela cidade, prestes a começar A Fogueira das Vaidades, o malfadado filme, e ele é trekkie. Ele me ligou e perguntou se eu conseguiria levá-lo para conhecer os sets. Eu disse que ia tentar e ligaria para ele na segunda-feira. Então liguei e disse: ‘O quando você quer ver esses sets?’ Ele nunca faz papéis de convidado em televisão, mas eu o convenci a fazê-lo.” Bond também comentou: “Reescalar mudou o personagem, porque David Rappaport era bem baixinho. O requisito, dramaticamente, é que as pessoas tivessem medo dele. Isso era bem difícil para alguém do tamanho de David conseguir, e tivemos de fazer com uma abordagem diferente na fotografia e dar o senso de que ele sempre poderia pegar uma arma e explodir as pessoas. David atuava de forma sutil, mas eu sempre tinha uns caras no fundo que eram bem grandões. De fato, quando primeiro comecei a trabalhar no episódio, eu tinha essa ideia — que ainda acho que é brilhante, mas eles não me deixariam fazer — de construir a espaçonave na escala dele, de modo que o teto estaria a 1,2 m do chão. Quando alguém entrasse, teria de se abaixar. Teria sido um pesadelo para filmar, mas acho que seria um visual poderoso. Quando perdemos David, graças a Deus que não tínhamos os sets pequenos.”
  • Em uma cena no roteiro, mas não no episódio final, Fajo envia Varria para testar as habilidades sexuais de Data, e o androide, ciente da intenção de Fajo, deixa Varria ainda mais humilhada, o que mais tarde alimentaria seu desejo de trair Fajo no clímax.
  • A roteirista Shari Goodhartz comentou sobre o dilema de Data e seu desfecho. “Perguntei a Brent Spiner se ele achava que Data havia disparado de propósito ou não, e ele estava convencido de que Data disparou a arma, o que também era minha intenção, mas os mandachuvas queriam manter ambíguo, e assim foi. Se eu tivesse uma chance de fazer de novo, com toda a experiência que tenho hoje, eu defenderia apaixonadamente que as ações de Data e suas consequências fossem mais claras e, com sorte, mais provocantes.”
  • No chão da área de carga da Jovis, nave de Kivas Fajo, há duas palavras japonesas: ケイ e ユリ (Kei e Yuri), referência aos protagonistas do anime The Dirty Pair.
  • A nave auxiliar destruída se chamava Pike, em homenagem ao capitão Cristopher Pike.
  • Michael Piller relembrou assim o episódio: “Tivemos de reescalar e refilmar, e tivemos sorte de pegar um bom ator. Estou feliz com o modo como o roteiro saiu. Era um personagem bem doente que ele interpreta, mas fascinante.”
  • Timothy Bond também também deu sua opinião: “O que eu adorei sobre o episódio foi o juízo suspenso no fim. Data o teria matado? Data tentou matá-lo? E o último confronto com Data, quando ele conta ao cara que estão confiscando todos os seus bens. O cara diz ‘você está gostando disso’ e Data diz ‘não’. Foi divertido porque o Brent Spiner é um ator muito bom. Ele sabe como mostrar apenas o suficiente para o público perguntar: ‘Ele está gostando?’ Foi divertido capturar esse sentimento.”

Ficha Técnica

Escrito por Shari Goodhartz
Dirigido por Timothy Bond

Exibido em 7 de maio de 1990

Título em português: “O Colecionador”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado

Colm Meaney como Miles O’Brien
Nehemiah Persoff como Palor Toff
Jane Daly como Varria
Saul Rubinek como Kivas Fajo

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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