TNG 3×23: Sarek

Volta do pai de Spock discute envelhecimento e sedimenta duas gerações

Sinopse

Data estelar: 43917.4

A Enterprise vai a Vulcano para recepcionar o embaixador Sarek, que conduzirá o fim de longas tratativas de paz com os legaranos a bordo. Sua comitiva alerta Picard de que o notório dignitário estará indisponível durante praticamente toda a viagem, mas Sarek já chega querendo inspecionar as instalações para as negociações.

Acompanhado de sua esposa, Perrin, e de dois auxiliares, o vulcano se mostra bastante exasperado. Picard decide convidá-lo para um concerto no bar panorâmico. Para a surpresa de todos, Sarek é tocado pela emoção e chora. A delegação vulcana logo deixa o evento, constrangida pela situação. Ao mesmo tempo, incidentes aleatórios de tensão e violência irrompem entre os tripulantes.

Logo fica claro que, de algum modo, Sarek é responsável. Aos 202 anos, ele sofre de síndrome de Bendii, uma doença degenerativa que acomete os vulcanos e lhes rouba o controle das emoções. Sarek estava irradiando seus sentimentos descontrolados e contagiando aleatoriamente pessoas ao seu redor. É revelado que Sakkath, um dos auxiliares de Sarek, vem usando seus poderes telepáticos para ajudar o embaixador manter seu controle mental. Mas já não é suficiente.

Para que Sarek possa concluir essa última missão, ele terá de fazer um elo mental com Picard, de forma a ganhar o controle do capitão enquanto Jean-Luc lida com as fortes emoções represadas do vulcano. O procedimento é arriscado, mas funciona, e o embaixador encerra com sucesso a negociação do tratado.

Comentários

 “Sarek” é o episódio que sedimenta a união da Série Clássica com A Nova Geração em um universo ficcional compartilhado. É verdade que a premissa do “futuro do futuro” estava na série desde o início, um almirante McCoy apareceria no piloto “Encounter at Farpoint” e no segundo episódio, “The Naked Now”, Kirk e sua Enterprise seriam mencionados, mas nunca houve uma história que realmente ligasse as duas séries por mais do que uma referência passageira e dispensável. Com este episódio, o jogo virou, e coube a ninguém menos que o pai de Spock, graças à longevidade dos vulcanos, fazer essa ponte.

O episódio viola a noção instituída pelo showrunner Michael Piller de que cada episódio deveria “falar” de algum dos personagens principais. A regra já havia sido violada algumas vezes na terceira temporada, com graus variados de sucesso, mas aqui há uma justificativa excelente: Sarek é um personagem de legado e, pelo menos para os fãs da Série Clássica, é tão importante quanto um membro do elenco regular.

Mark Lenard volta ao papel que havia interpretado algumas vezes, na TV (“Journey to Babel”) e no cinema (Jornada III e Jornada IV, àquela altura), e traz uma versão mais envelhecida e doente, embora não menos potente e digna. Lenard, como Nimoy, sempre soube entregar o que é preciso para retratar bem um vulcano, e aqui não é diferente.

Descobrimos que o vulcano se casou novamente (o que faz certo sentido, já que vulcanos vivem mais que humanos) e conhecemos sua segunda esposa, Perrin — mais uma vez uma humana. Mas as maiores revelações sobre a vida interna do pai de Spock afloram quando as vemos interpretadas por Patrick Stewart, durante o elo mental de Sarek com Picard. A atuação é espetacular e retrata de forma potente a angústia do vulcano após uma vida reprimindo demonstrações de afeto por sua família. A sequência, por sinal, lembra uma circunstância parecida, mas vivida por Spock, em “The Naked Time”, da Série Clássica. Tal pai, tal filho.

Além de apaixonante, o episódio tem uma virtude importante do ponto de vista da produção: é econômico. Ambientado totalmente na Enterprise, é muito mais um drama psicológico do que uma aventura, com uma temática clara e importante: as deficiências que vêm com o envelhecimento e como é difícil lidar com elas, reconhecendo suas limitações. É o que torna “Sarek” um segmento que, a despeito de levar o peso e a relevância de conectar duas gerações de Star Trek, se mantém relevante por si só, independentemente das referências profundas que traz consigo.

Avaliação

Citações

“We shall always retain the best part of the other inside us.”
“I believe I have the better part of that bargain, Ambassador. Peace and long life.”
“Live long and prosper.”
(Sempre reteremos a melhor parte um do outro dentro de nós.)
(Acredito ter a melhor parte nessa troca, embaixador. Paz e vida longa.)
(Vida longa e próspera.)
Sarek e Picard

Trivia

  • Segundo Michael Piller, a história deste episódio originalmente envolvia outro embaixador que desenvolvia problemas mentais durante uma missão. “Começamos a falar entre nós na equipe e dissemos que seria realmente interessante se você pegasse um membro muito poderoso do Comando da Frota Estelar ou da Federação, e o fizesse passar por uma época da vida, como muitos dos nossos pais, em que eles começam a ter problemas com envelhecimento. Daquele ponto, foram dois ou três passos de alguém dizendo, ‘como podemos transformar em ficção científica?’, e alguém disse, ‘se você fosse vulcano, poderia ter um impacto telepático real a partir de alguma doença’, e daquele ponto foi realmente rápido até ‘e que tal Sarek?’. Sarek é um personagem extraordinariamente honrado e sentíamos a obrigação de protegê-lo e lidar com ele de forma muito respeitável. Ao mesmo tempo, essa se torna uma história extraordinariamente pessoal. Um episódio fantástico.”
  • Para Piller, o uso de um personagem estabelecido, como Sarek, “traz a ideia de que até mesmo os homens mais grandiosos estão sujeitos a doença mental”.
  • Marc Cushman se lembra de que, depois de ele sugerir uma história de Sarek passando pela senilidade, Gene Roddenberry pediu que ele escrevesse dois roteiros: um com Sarek e outro comum com um novo personagem vulcano. De acordo com ele, Gene “começou a ter dúvidas sobre unir as duas séries”. Após a passagem de algum tempo, e com A Nova Geração firmemente estabelecida, Roddenberry achou que era a hora de fazer o episódio com Sarek.
  • Piller sentia uma ressonância ainda maior com a história. “O que eu me lembro mais daquele episódio, entretanto, é que de uma forma muito real, ele refletia o que estava acontecendo na série na época em que o escrevemos. Gene estava começando a declinar. Não que ele estivesse totalmente incomunicável, mas estava claro que não era mais o mesmo homem que fora. Todos nós o respeitávamos muito, e ele havia sido um líder tão forte para a franquia e tudo que ela representava. Mas aqui está esse grande homem — e eu o conhecia havia menos de um ano naquele ponto –, aqui está esse grande homem em declínio, e imediatamente senti uma conexão muito forte com a premissa de ‘Sarek’, porque eu podia ver que era realmente sobre o universo em que vivemos diariamente. Se você voltar e olhar para ‘Sarek’ com atenção, aquele personagem é Gene Roddenberry.”
  • O roteiro sofreu uma reescrita completa por Ira Steven Behr e Ronald D. Morre, não creditada. Behr e Moore inclusive reviram uma cena de Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock para escrever a cena do elo mental.
  • Behr queria incluir mais referências diretas ao filho de Sarek, Spock, mas disse ter sido um grande desafio até mesmo mencionar o personagem, pois havia trepidação na equipe de fazer referências à Série Clássica. “Eu quebrei a barreira e tornei possível para A Nova Geração usar nomes como Spock em tela. Esse era um grande tabu quando cheguei lá. De modo algum podíamos mencionar personagens de Star Trek. Levou dias e dias de discussão para incluir uma única referência a Spock. Então, gosto de pensar, de meu modo meio incoerente, que ajudei a abrir a porta do que era então uma franquia muito fechada e estreita.”
  • Mark Lenard comentou sobre o episódio: “O roteiro lidava com um vulcano com uma doença muito rara, meio que uma versão do mal de Alzheimer. Eu sabia algo sobre isso. Nós costumávamos chamar de ‘senilidade’ quando eu era criança. Então não fiz conscientemente muita coisa. Parte era o que o roteiro demandava e a outra parte era instinto.”
  • Ronald D. Moore gostou muito do resultado final. “Acho que, de alguns modos, era até melhor que ‘Journey to Babel’. Mark Lenard tem a chance de fazer uma atuação sólida. É um episódio orientado a personagem e isso é diferente para nós.”
  • Piller também gostou. “A chave de toda a temporada está em riscos pessoais e drama pessoal. A história de Sarek toca muita gente.”
  • O diretor Les Landau também foi só elogios, sobretudo à cena do elo mental, em que Picard está com Beverly, canalizando as emoções de Sarek. “Se você vir o que Patrick fez naquela cena, é realmente espetacular. Tive muitas experiências ótimas na série, mas certamente essa foi uma das melhores. Patrick é tão capaz em tantos níveis diferentes que a pessoa simplesmente deixa ele carregar.”
  • Lenard também elogiou Stewart. “Patrick era jovem e profissional, e sua atuação era simples, pura e limpa. Há uma grande confiança em Patrick que é muito importante para um ator. Quando ele teve aquela cena emocional, ele a atuou com grande habilidade. E quando estava se comportando como si mesmo, ele fez isso com grande habilidade também.”

Ficha Técnica

História de Peter S. Beagle (de história não publicada de Marc Cushman & Jake Jacobs)
Roteiro de Peter S. Beagle
Dirigido por Les Landau

Exibido em 14 de maio de 1990

Título em português: “Sarek”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado

Colm Meaney como Miles O’Brien
Mark Lenard como Sarek
Joanna Miles como Perrin
William Denis como Ki Mendrossen
Rocco Sisto como Sakkath
John H. Francis como alferes da divisão de ciência

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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