ENT 4×03: Home

Tripulação da Enterprise sendo recebida na Terra após destruição da arma xindi e das esferas

Com sabor de “novo piloto”, episódio entre a Terra e Vulcano foca no “grande trio” da série

Sinopse

Data: Desconhecida

Archer e sua tripulação são recebidos como heróis em uma cerimônia pública na Terra. Em seguida, o capitão é convocado para prestar esclarecimentos sobre os eventos ocorridos durante a missão na Expansão Délfica. Diante da comissão, ele é confrontado por Soval por conta do encontro com uma nave vulcana perdida que resultou em sua destruição. Sentindo-se acusado, Archer reage explosivamente, e a sessão é suspensa.

Archer irritado ao ser questionado por Soval

O resto da tripulação também tira folga, enquanto a Enterprise passa por uma reforma. Phlox acompanha Mayweather e Reed em uma visita a um bar, mas a xenofobia na Terra aumentou muito desde o ataque xindi. Phlox é hostilizado, e o trio acaba em uma briga, encerrada depois que o médico acaba ficando com a cara estufada (uma reação fisiológica instintiva denobulana).

T’Pol parte para Vulcano e, como Trip diz não ter motivação para voltar à Terra, ela o leva com ele. Os dois ficam hospedados na casa da mãe dela, que se aposentou recentemente. Koss, ex-noivo de T’Pol, faz uma visita e a confronta, dizendo que quer se casar com ela a qualquer custo, como é seu direito em razão da tradição vulcana. Ele revela que a mãe de T’Pol não se aposentou voluntariamente, mas foi forçada a se retirar. Koss diz que seu pai teria influência para restituir o posto dela, mas somente se T’Pol concordar em se casar.

T'Pol em Vulcano se casando com Koss

Na Terra, Archer parte para uma escalada solitária nas montanhas, mas acaba acompanhado pela capitão Erika Hernandez, que assumirá em breve o comando da Columbia (NX-02). Lá, ele precisa confrontar suas frustrações diante de tudo que teve de fazer para cumprir sua missão na Expansão Délfica. Os dois acabam se entrosando. Ao retornar a São Francisco, a inquirição de Archer é concluída e, para a surpresa do capitão, Soval o agradece pelos serviços prestados.

Em Vulcano, T’Pol decide se casar com Koss. Trip está sofrendo com a decisão dela, mas, mesmo assim, decide assistir à cerimônia.

Comentários

Depois da montanha-russa de “Storm Front”, “Home” é um episódio mais que bem-vindo. É quase um terceiro piloto (sintomático ao mesmo tempo da perda de audiência e da dificuldade de encontrar uma identidade própria para a série a cada temporada). Está contando? O primeiro foi “Broken Bow”, a estreia de Enterprise. O segundo, “The Expanse”, último episódio do segundo ano, dando início ao arco xindi, que perduraria por toda a terceira temporada. “Home” é o terceiro.

Dos três, ele é disparado o mais voltado para os personagens. É verdade que “Broken Bow” fala bastante da evolução de Archer, de filho de Henry ao capitão da NX-01, mas há muito mais no pacote, e o desenvolvimento dos personagens é esparso. Em “Home”, não só voltamos a ver a antiga rebeldia de Archer, tão bem expressa no piloto (o verdadeiro) de Enterprise, como também ganhamos lampejos importantes sobre como a cabeça do capitão mudou depois desse ano na Expansão Délfica.

Title Card Enterprise "Home"

Archer é um homem torturado. Aclamado por muitos humanos como o “salvador da pátria”, ele se vê sob um ângulo muito menos favorável. Um indivíduo que colocou seus princípios de lado para cumprir sua missão. Ele está totalmente descrente no conceito de exploração pacífica do espaço, depois de três anos trocando farpas com alienígenas lá fora.

Por isso, “Home” é tão interessante do ponto de vista dele. Ao colocar Archer em contato com Hernandez, uma ex-namorada e agora promovida a capitão da Columbia (NX-02), segunda nave construída com o motor de dobra cinco, podemos ver o contraste entre o explorador pacífico e esperançoso e o homem cínico e prático, calejado por encontros com sulibans, klingons, andorianos, vulcanos, órions, xindis…

Archer escalando com Hernandez

Nesse processo de desenovelar o personagem, algumas cenas se destacam como clássicas. A que mais marca é a inquirição do capitão, em que Archer é pressionado por Soval e perde totalmente o controle, lembrando o quanto ele pode se ressentir dos vulcanos, a despeito de sua convivência com T’Pol. E a cena final, em que Soval cumprimenta o capitão, ajuda a reforçar essa sensação de trauma/incompreensão, muito mais do que legítima animosidade, entre humanos e vulcanos.

De outro lado, temos bom trabalho de desenvolvimento para T’Pol e Trip. O engenheiro acompanha a oficial de ciência a uma visita à família em Vulcano. Há um esforço interessante de detalhar a relação entre os dois, enfatizando o porquê de ela estar no pé em que está, muitas vezes criticada como “morna” e “alusiva” demais. Na verdade, a barreira cultural é tão grande que justifica esse “pé atrás”, tanto dela quanto dele. Trip protagoniza algumas cenas interessantes, especialmente com a mãe de T’Pol. E deve-se louvar a coragem dos produtores em produzir uma mudança substancial num personagem: ao contrário do que parece a princípio, T’Pol acaba mesmo se casando com Koss. A não ser que o evento seja simplesmente esquecido, promete trazer novos desdobramentos interessantes no futuro.

Mãe de T'Pol recebendo a filha e Tucker em Vulcano

Para fechar a conta, os personagens secundários fazem um papel do mesmo tipo: secundário. Sua função meramente consiste em mostrar o clima de xenofobia que ficou na Terra após o ataque xindi. Além de oferecer comentário social relevante aos tempos atuais, a série apresenta elementos que também devem ser mais bem explorados no futuro.

Como destaque da produção fica o sensacional efeito especial da cara inflada de Phlox. Pode não ter sido particularmente importante para a história, mas não se pode negar a qualidade técnica da tomada.

Phloz inflando a cara em bar na Terra

No fim, “Home” é o que promete ser: uma volta para casa. Quem sabe agora, embalada com um sentido de prólogo da Série Clássica mais intenso, Enterprise não engata uma quinta e entrega tudo o que prometeu aos fãs em sua premissa original?

Avaliação

Citações

“This planet would be a cloud of dust right now if we’d have listened to you. We got more help from the Andorians!”
(Este planeta seria uma nuvem de poeira agora se nós tivéssemos escutado você. Tivemos mais ajuda dos andorianos!)
Archer, para Soval

“You end up spending most of your time boldly going into battle.”
(Você acaba gastando boa parte do seu tempo audaciosamente indo para a batalha.)
Archer, para Hernandez

“Do you really believe a Vulcan and a human could have a future? Imagine the shame your children would have to endure.”
(Você realmente acredita que uma vulcana e um humano possam ter um futuro? Imagine a vergonha que suas crianças teriam que enfrentar.)
T’Les

“Sorry? You brought me 16 light-years to watch you marry someone you don’t even know?”
(Desculpe? Você me trouxe 16 anos-luz para assistir a você se casando com alguém que mal conhece?)
Trip, para T’Pol

Trivia

  • Este episódio introduz o tema da xenofobia entre humanos, que seria mais explorado em “Demons” e “Terra Prime”. Sobre o segmento, Dominic Keating comentou que “nossos heróis finalmente podem constatar como o mundo deles mudou após o ataque xindi à Flórida no final do segundo ano”.
  • Na ponte da Columbia, Archer menciona o capitão Jefferies. Ele já havia sido mencionado em “First Flight”, como engenheiro de naves estelares que chefiava a equipe a que Trip pertencia. A referência é, claro, ao designer que criou a Enterprise para a produção da Série Clássica, Matt Jefferies.
  • O primeiro nome da capitão Hernandez é estabelecido como Erika no roteiro, embora ele nunca seja dito no episódio.
  • Pela primeira vez, vemos o planeta Vulcano em Enterprise. Também é o primeiro vislumbre de cidades vulcanas em live-action, já que, antes disso, a cidade vulcana ShiKahr só havia aparecido na Série Animada, em “Yesteryear”.
  • O roteirista Mike Sussman queria estabelecer em diálogo que Vulcano orbita a estrela 40 Eridani, uma velha suposição dos fãs que chegou a ter o endosso de Gene Roddenberry. Mas não rolou. O máximo que ele conseguiu foi incluir a distância entre a Terra e Vulcano, 16 anos-luz, que é a mesma que separa 40 Eridani do Sistema Solar.
  • O ator Michael Reilly Burke faz sua primeira de três aparições como Koss. Ele antes havia vivido Goval, em “Descent II” (A Nova Geração), e Hogue, em “Profit and Loss” (Deep Space Nine). O personagem Koss em si foi mencionado antes em “Breaking the Ice”, da primeira temporada.
  • Joanna Cassidy, que vive T’Les, a mãe de T’Pol, neste episódio, chegou a disputar o papel de Janeway em Voyager.
  • Jack Donner, que aqui faz o sacerdote vulcano, é um veterano da Série Clássica. Ele interpretou o romulano Tal, de “The Enterprise Incident”, da terceira temporada.
  • Toda a temática do casamento vulcano segue fielmente o que foi visto e estabelecido em “Amok Time”, da Série Clássica. Até mesmo as palavras do sacerdote na cerimônia são as mesmas ditas por T’Pau para Spock.
  • Este episódio marcou a primeira e única vez em que Phlox “infla” seu rosto.
  • Quando Archer e Hernandez estão escalando, ele aponta uma estrela em torno da qual orbita o primeiro planeta classe M que a tripulação visitou (visto em “Strange New World”). Esse mundo seria mais tarde chamado de Archer IV em homenagem a ele. E, a despeito do ceticismo do capitão, uma colônia seria mais tarde estabelecida lá, como sugerido por Hernandez, com uma população de 700 milhões em 2268. Isso se acreditarmos numa referência solta em “Yesterday’s Enterprise”, de A Nova Geração, e uma arte de produção em “In a Mirror, Darkly, Part II”.
  • Archer revela neste episódio que 27 tripulantes morreram na Expansão Délfica.

Ficha Técnica

Escrito por Michael Sussman
Dirigido por Allan Kroeker

Exibido em 22 de outubro de 2004

Títulos em português: “Lar”

Elenco

Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato

Elenco convidado

Joanna Cassidy como T’Les
Michael Reilly Burke como Koss
Ada Maris como Hernandez
Gary Graham como Soval
Vaughn Armstrong como Maxwell Forrest
Joe Chrest como cliente do bar
Jim Fitzpatrick como Williams
Jack Donner como sacerdote vulcano

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Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Nívea Doria

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