TNG 6×24: Second Chances

O Riker que é e o Riker que foi protagonizam grande episódio para Jonathan Frakes

Sinopse

Data estelar: 46915.2

A Enterprise-D visita Nervala IV, planeta visitado por Riker quando ele servia a bordo da Potemkin, oito anos antes. A missão é resgatar a base de dados deixada pelos cientistas lá, mas há apenas uma estreita janela em que a interferência com o transporte pode ser superada. Caso ela seja perdida, um novo resgate só poderá ser feito em oito anos. Riker lembra que quase ficou preso no planeta em sua última visita, tendo sido o último a escapar.

E é ele quem comanda o grupo avançado que desce ao posto e descobre a presença de um humano lá — alguém que diz ser o tenente William Riker, preso naquele planeta há oito anos. Uma análise do que ocorrera revelou que uma falha causou uma duplicação de Riker: uma cópia se materializou na Potemkin, e a outra permaneceu em Nervala IV.

Os dois Rikers estão obviamente desconfortáveis com a situação. E as coisas se complicam ainda mais quando o tenente Riker decide reatar com Deanna Troi. Ela de início é refratária, mas acaba se envolvendo novamente. Picard consegue uma vaga na USS Gandhi para que o tenente Riker possa seguir sua carreira. Ele está feliz, mas quer que Deanna vá consigo.

Enquanto isso, depois de vários conflitos a bordo da Enterprise, os dois Rikers trabalham na última missão avançada para resgatar a base de dados. O tenente quase morre, mas é salvo pelo comandante. De volta à nave com a tarefa concluída, o tenente Riker decide assumir seu nome do meio, Thomas, como primeiro nome, a fim de se distinguir de sua réplica. Thomas recebe com tristeza a notícia de que Deanna não deixará a Enterprise para acompanhá-lo e pede que Will cuide bem dela, enquanto manifesta o desejo de reatar com a conselheira no futuro.

Comentários

“Second Chances” cria uma interessante variação sobre o tema do doppelgänger, explorado com frequência em Star Trek desde a Série Clássica. Em todos os casos, são inevitáveis o desconforto e a tensão dramática quando um dos nossos tripulantes encontra uma réplica de si mesmo. Mas aqui a trama é revestida por um verniz romântico, o que a torna nova e interessante – além de um excelente veículo para Jonathan Frakes, levado a interpretar duas versões de Will Riker, inclusive contracenando consigo mesmo em vários momentos.

Começando por esse ângulo, o sucesso varia de cena para cena. Em algumas, os diálogos e reações de Frakes como o tenente Thomas Riker e como o comandante William Riker parecem um pouco desalinhados – mais pelo desafio técnico do que propriamente pelo trabalho do ator. Essas interações menos naturais são mais frequentes no princípio do episódio, mas, conforme ele progride, tudo entra nos eixos e temos algumas cenas poderosas entre os dois Rikers, como nos conflitos de insubordinação do tenente e numa clássica cena de pôquer, em que Thomas descobre que não é fácil blefar diante de Will – retratado basicamente como a versão de si mesmo “que levou sorte na vida”.

A ideia de uma réplica de um dos nossos personagens que passou oito anos como um virtual náufrago, sem contato com ninguém, é muito interessante – embora tenha sido tratada aqui talvez de forma menos visceral do que a premissa merecia. Afinal, uma pessoa que passou quase uma década em isolamento absoluto, e sem perspectivas de resgate, deveria estar psicologicamente em frangalhos. O que temos, em vez disso, é um Thomas jovial e ousado – como Will costumava ser em seu princípio de carreira –, quase como uma versão congelada no tempo do personagem que conhecemos.

A escolha se paga de forma positiva de duas maneiras: primeiro, gera um novo/velho personagem muito carismático; segundo, oferece uma oportunidade dramaticamente interessante quando Thomas se revela ainda imbuído dos mesmos sentimentos que tinha antes de Will abandonar o relacionamento romântico com Deanna Troi.

A rivalidade que se cria em torno dos dois Rikers é retratada de forma efetiva e com um clímax interessante, em que um deles se vê na situação de ter de salvar a vida do outro. É um momento catártico em que ambos percebem que o outro não tem culpa pelo que estão vivendo – são ambos a mesma pessoa, vítima de circunstâncias que só a ficção científica pode entregar.

Além de exigir bastante de Jonathan Frakes, em um de seus melhores trabalhos na série, o episódio também traz material interessante para Deanna Troi, e Marina Sirtis entrega o que é exigido dela. Partindo da óbvia situação em que Will amadureceu de forma diferente de Thomas, o roteiro também acaba explorando o fato de que Troi já não é mais a mesma pessoa que era quando os dois estiveram romanticamente envolvidos, oito anos antes. Tanto que ela decide permanecer a bordo da Enterprise.

O episódio acaba enfatizando como o amor de Will e Deanna acabou se solidificando como uma bonita amizade, algo que vemos na abertura (com a brincadeira com o pedido de música para Will tocando trombone no bar panorâmico) e no fechamento (com Will recebendo de Thomas a “missão” de cuidar de Deanna).

Acaba que temos aqui um sólido estudo de personagem, que ajuda a contrastar quem Will Riker era e quem ele se tornou, tanto pessoalmente como profissionalmente. Combinado a uma boa direção e a efeitos visuais que, se não são perfeitos, entregam a dramaticidade exigida nas cenas em que Frakes contracena consigo mesmo, “Second Chances” se consolida como um dos bons episódios desta sexta temporada.

Avaliação

Citações

“You always had the better hand… in everything.”
(Você sempre teve as melhores cartas… em tudo.)
Thomas Riker para Will Riker

Trivia

  • A história de Michael Medlock de duplicar Will Riker quase foi rejeitada, até que os roteiristas decidiram usar o conceito para explorar o romance com Deanna Troi. René Echevarria relembrou assim: “Nós sempre falávamos sobre o fato de que eles costumavam estar envolvidos, e agora não estavam. E ‘Second Chances’ foi a nossa chance de contar uma história sobre eles, e sobre como esse era um grande amor para esse homem e essa mulher. Tom é Will, e ele passou os últimos oito anos pensando em reatar com ela.”
  • Nos estágios iniciais da escrita, Jeri Taylor e a equipe de roteiristas cogitaram matar William Riker e deixar Thomas como seu substituto na tripulação da Enterprise-D. Thomas viraria o piloto ou o oficial de operações, com Data promovido a primeiro oficial.
  • Ronald D. Moore lembrou: “Nós pensamos que seria ousado e chocante, e algo para os fãs digerirem. Mas Rick Berman e, até certo ponto, Michael Piller não queriam fazer uma mudança tão grande.”
  • Uma das razões de Berman para impedir a mudança tinha a ver com o planejamento para levar A Nova Geração às telonas. Seria estranho ter um personagem que não viveu nada dos últimos seis anos e não conhecia praticamente nenhum dos outros tripulantes.
  • Já Michael Piller rejeitou a ideia por apreço pelo personagem original. “Riker sempre foi um personagem difícil para os roteiristas escreverem, e eles disseram, ‘vamos criar algum conflito, alguma empolgação e energia’, mas o fato é que ele é um personagem muito bom. Um personagem com o qual eu me conecto bastante. Eu disse que tudo nessa história sugere que o novo Riker vem a bordo e ele é tudo que o velho Riker perdeu. Eu ressinto isso como alguém que escreveu em ‘The Best of Both Worlds’ que ele chegou a um ponto em sua vida em que aprecia o que tem e está confortável com seus amigos e atingiu uma grande paz interior. Eu não acredito que o cara que era uma metralhadora giratória seis anos atrás seja necessariamente a parte boa do homem. Eu lutei muito para proteger o Riker que tínhamos na nave.”
  • Para solucionar a questão, Piller propôs o desfecho em que os dois Rikers vivem. “Quer dizer, que outra série poderia fazer isso?”
  • Brannon Braga foi quem sugeriu a coisa da caça ao tesouro, baseada em suas próprias experiências românticas. “Quando tudo mais falhar, tente a caça ao tesouro. Funcionou com Troi.”
  • Segundo Ronald D. Moore, um título de trabalho deste episódio foi “Two Many Rikers!”
  • Este foi o primeiro episódio da série dirigido por LeVar Burton. Por conta dos efeitos visuais complexos, ele considerou este um “batismo de fogo”. “Eu tinha um ator vivendo dois personagens diferentes, e esses personagens continuamente interagiam durante o curso da história. Era minha responsabilidade descobrir como realizar isso. Eu senti que se pudesse fazer isso sem afundar o navio, eu realmente teria um possível futuro como diretor.” Burton ainda dirigiria “The Pegasus”, da sétima temporada, além de muitos episódios de Deep Space Nine, Voyager e Enterprise.
  • Jonathan Frakes relembrou: “Uma de minhas lembranças mais queridas de ‘Second Chances’ é como eu estava tentando encontrar diferenças sutis entre os dois personagens. E até hoje, Marina [Sirtis] sempre me lembra disso. Ela diz, ‘eu gostava mais do Thomas Riker’.”
  • Mae Jemison, a primeira astronauta afro-americana a ir ao espaço, faz uma ponta aqui como a operadora do transporte Palmer. Burton foi o responsável pela escalação, pois ele sabia que Jemison havia creditado ao papel de Nichelle Nichols como Uhura na Série Clássica uma inspiração para sua carreira. O ator-diretor até convidou Nichols para visitar a produção quando Jemison estava filmando suas cenas, momento que ele reputou como mágico.
  • Thomas Riker voltaria a aparecer no episódio “Defiant”, de Deep Space Nine.
  • “Second Chances” é o episódio que revela que o T. do nome do meio de Riker se refere a Thomas.
  • A primeira duplicação de uma pessoa pelo teletransporte aconteceu com o capitão Kirk em “The Enemy Within”, da primeira temporada da Série Clássica.
  • Em “Kayshon, His Eyes Open”, da segunda temporada de Lower Decks, Brad Boimler é duplicado exatamente como Riker.

Ficha Técnica

História de Michael Medlock
Roteiro de René Echevarria
Dirigido por LeVar Burton

Exibido em 24 de maio de 1993

Título em português: “Segunda Chance”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Dra. Mae Jemison como Palmer

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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