TNG 7×09: Force of Nature

Alegoria ambiental bem-intencionada, mas rasa, produz episódio vazio para Geordi

Sinopse

Data estelar: 47310.2

Geordi decidiu cuidar da gatinha de Data, Spot, mas está tendo dificuldades com ela e desiste da experiência. O androide considera a sugestão do amigo de treiná-la, enquanto a Enterprise é chamada a investigar o sumiço da Fleming, uma nave médica que cruzava o corredor de Hekaras, uma faixa estreita do espaço em meio a intensos campos de tétrions em que um campo de dobra é possível.

Enquanto Geordi trabalha para melhorar o desempenho do motor da nave, por uma competição pessoal com o engenheiro-chefe da USS Intrepid, Troi sugere que a Enterprise contate o planeta Hekaras II, o único habitável na região, em busca de informações da Fleming. Riker diz que o contato foi feito, e eles não sabem de nada, mas revelaram que uma nave ferengi esteve na região nos últimos dias. Crusher suspeita que os ferengis possam ter saqueado a Fleming. Com efeito, a Enterprise logo encontra a nave ferengi, que está com os motores de dobra desligados, mas, apesar disso, reage com um ataque. Ela é facilmente dominada pela Enterprise, e Picard abre contato com seu capitão, DaiMon Prak, que os acusa de causar os danos à sua nave. Picard professa inocência, e, relutante, Prak aceita participar de uma reunião a bordo da Enterprise.

Lá, ele revela que sua nave captou o que parecia ser uma boia da Federação, que disparou um pulso de vérterons, desabilitando o motor de dobra, sensores e comunicações. Picard reforça que a Federação não foi responsável pelo ataque e negocia dados sobre a última aparição da Fleming em troca de ajuda nos reparos. Prak concorda.

A Enterprise então encontra um campo de detritos, que Picard supõe ser os restos da Fleming. Após detectarem uma boia, a nave é atingida por um pulso de vérterons e então abordada por dois alienígenas, Rabal e Serova. Os dois são de Hekaras II e estão desabilitando naves em protesto, a fim de convencê-los de que o uso de motores de dobra está desestabilizando o espaço local e acabará por tornar seu planeta inabitável.

Picard concorda em analisar os argumentos da dupla, e Data faz uma análise, concluindo que faltam evidências para suportar as conclusões deles. Serova não aceita o que considera como apenas mais protelações e parte para sua nave. A Enterprise restabeleceu seus sistemas e detectou a Fleming. Quando Picard ordena que partam para o resgate, a nave hekarana com Serova a bordo inicia uma sobrecarga de seu próprio motor. A explosão a mata, e no processo abre uma fenda subespacial com um ano-luz de diâmetro – provando os argumentos dela.

A Fleming acaba presa na fenda, e a tripulação da Enterprise formula um plano para resgatá-la, usando de forma cuidadosa seu motor de dobra. Quando estão prestes a atingi-la, descobrem que ela também reparou seu motor e está para acioná-lo. Ao fazê-lo, a fenda fica mais violenta, e agora a Enterprise não tem mais momento suficiente para escapar. A tripulação da Fleming é evacuada, mas o estresse sobre o casco da Enterprise é imenso. La Forge sugere que a nave “surfe” as ondas de distorção, usando os escudos defletores para isso. O plano dá certo.

Ao ser informado dos últimos eventos, o Conselho da Federação decide que regiões do espaço suscetíveis a campos de dobra devem ser trafegadas apenas para viagens essenciais e que todas as naves federadas devem limitar-se a uma velocidade de dobra 5, exceto em casos de emergência extrema. Refletindo sobre isso, Picard lamenta que suas ações como explorador tenham se mostrado deletérias para a galáxia, mas La Forge diz que eles descobriram a tempo e serão capazes de reparar os danos causados.

Comentários

“Force of Nature” é um episódio com uma clássica mensagem de proteção ambiental, usando os efeitos dos motores de dobra sobre o espaço como uma alegoria para a queima de combustíveis fósseis e a destruição de ecossistemas que nos séculos 20 e 21 vêm alterando o clima e causando extinções em massa na Terra. Infelizmente, para além das boas intenções, o episódio não tem grandes qualidades.

Para começar, ele parece bastante desconjuntado, perdendo muito tempo com Data e Geordi discutindo a criação da gatinha Spot a fim de preencher os 45 minutos. A trama principal, por sinal, só vai dar as caras para valer lá pela metade do segmento, quando encontramos Rabal e Serova, os equivalentes trekkers de ativistas do Greenpeace. A exemplo da ONG internacional, que ocasionalmente bloqueia navios e faz protestos disruptivos, os dois estão sabotando naves que viajam por sua região, a fim de alertar para os perigos dos motores de dobra.

A ideia em si de que a geração de um campo de dobra possa afetar de forma adversa o espaço é interessante e, como alegoria, funciona muito bem. O problema é que aqui não temos uma história boa o suficiente para explorá-la. Todos os perigos e desafios apresentados no segmento – a busca da desaparecida Fleming, o encontro com os ferengis, a invasão da dupla hekarana, a criação da fenda com uma ação suicida de Serova, o resgate da Fleming e a fuga da fenda – são desinteressantes, quando não pouco convincentes.

Se a ideia do segmento era transmitir uma moral, talvez fosse mais interessante tomar a primeira metade com essa história toda, e usar a segunda metade para levar Picard ao Conselho da Federação, onde ele poderia fazer uma defesa apaixonada de que seria preciso mudar nossos hábitos de transporte para salvar a civilização interestelar. No fim, temos muito pouco dessas reflexões dos nossos tripulantes, apesar de algumas cenas nesse sentido com La Forge, Data e Picard.

Adicionalmente, o uso dessa premissa acaba criando problemas para a série e suas derivadas. A partir de agora, todas as naves da Federação teriam de viajar em dobra 5? Isso mudaria a dinâmica das histórias? Seria preciso pedir autorização ao Conselho da Federação toda vez que fosse necessário viajar em alta dobra? O conceito cria limitações que dificultam o trabalho futuro dos roteiristas – e logo seriam colocados de lado, num paralelo irônico do que acontece aos nossos alertas ambientais no mundo real.

O roteiro não exige nada de ninguém. LeVar Burton, o mais requerido, faz o que pode com suas cenas mais emotivas, mas ainda assim é muito pouco para chamar de protagonismo. E o personagem não se beneficia da infantil disputa com o engenheiro-chefe da Intrepid ou com sua frustração excessiva com Spot.

A trama é coletiva, burocrática, e talvez por isso tenha pouca ressonância com a audiência. Certamente uma das horas menos inspiradas da série.

Avaliação

Citações

“It now appears certain that what we’ve seen here will have repercussions for many years to come.”
(Agora parece certo que o que vimos aqui terá repercussões por muitos anos.)
Jean-Luc Picard, em seu diário

Trivia

  • O roteiro final é datado de 17 de setembro de 1993.
  • O episódio é derivado de uma premissa que Joe Menosky criou na sexta temporada, conhecida como “Limits”. A alegoria de Menosky para os problemas ambientais modernos foi dispensada de vários episódios daquela temporada, dentre eles “Suspicions”.
  • Jeri Taylor relembrou assim: “Esse foi um episódio problemático desde o início… Nós tentamos de muitos jeitos e nunca funcionava. No começo do sétimo ano, enviei Naren e Brannon para uma grande reunião de café da manhã com um grupo ambientalista que temos aqui em Hollywood e eles voltaram inspirados. Naren estava tão mobilizado. Ele disse, ‘quero fazer uma tentativa com ‘Limits’, quero fazer isso, isso é importante’. Eu concordei. Era uma história que eu realmente queria fazer e que acho que faz uma afirmação importante, mas dramatizar uma grande questão como essa é sempre o problema. Começamos a avançar por muitos caminhos. De início, trouxemos a irmã de Geordi a bordo para ajudá-lo a se ajustar à morte da mãe, mas isso pareceu bagunçar tudo completamente. Então começamos com a coisinha do Geordi em competição com o engenheiro de outra nave, para que pudéssemos mostrar a crença profunda de Geordi na tecnologia e nos benefícios da tecnologia, de forma que ele estivesse em guerra contra si mesmo ao perceber que estava contribuindo para algo desastroso.
  • “Quando o roteiro foi escrito, acabou ficando muito, muito curto, e então começamos a adicionar cenas sobre a gata de Data. Por sorte, ou má sorte, todas essas cenas acabaram sendo no começo do episódio, então você tinha um episódio que começava arrumadinho e parecia ser sobre a gata de Data e então pegava uma curva e parecia ser sobre Geordi e sua rivalidade com esse outro cara. Então voltava à gata e aí, finalmente, no terceiro ato, a história real começava e, a partir deste ponto, acho que as pessoas já estavam irremediavelmente perdidas. Nunca voltou aos trilhos, mas ainda é uma ideia importante e nossas intenções eram boas.”
  • Considerando a fraca ligação entre as tramas A e B, Shankar comentou: “A mais sutil conexão dramática entre esses dois é a noção de que você não pode controlar uma força da natureza como um gato.”
  • Gel biomimético foi criado pelo consultor científico André Bormanis, que se baseou em notícia de que pesquisadores de Cambridge haviam desenvolvido um material que criava pequenos túbulos que poderiam imitar certas atividades e estruturas biológicas em nível celular.
  • Este foi o primeiro episódio de Star Trek em que uma velocidade máxima de dobra foi imposta pela Federação a todas as suas naves. Outras referências ao limite apareceriam em “The Pegasus” e “Eye of the Beholder”, também da sétima temporada, mas depois disso o assunto praticamente sumiu. De acordo com a edição da primeira temporada do guia técnico de Voyager, escrito por Rick Sternbach e Michael Okuda, mas nunca publicado oficialmente, o problema foi aparentemente resolvido com naceles com geometria variável, impedindo que o campo de dobra tivesse impacto negativo. Por isso, supostamente, as naceles da USS Voyager se moviam para a entrada em dobra.
  • Este é o primeiro episódio em que Spot é citado como ela, não ele. No episódio “Genesis”, mais adiante, isso se tornaria ainda mais relevante, com ela tendo filhotes.
  • A nave hekarana é uma reutilização do modelo da nave de guerra talariana.
  • A equipe de produção ficou unanimemente desapontada com o episódio. Michael Piller comentou: “Acho que este foi o pior episódio com que colaborei nesta temporada. Ele certamente nos inspirou a fazer várias reuniões sobre para onde a temporada estava indo, porque eu sentia que estávamos deixando escapar.”
  • Taylor avaliou: “Eu estive em séries suficientes tentando fazer questões ambientais para saber que elas são muito difíceis de dramatizar, porque você está falando sobre o buraco de ozônio, e… é tão, tão difícil torná-lo emocional e pessoal e dar impacto nesse nível.” Ela elogiou as tentativas de Shankar de lidar com a “premissa condenada”.
  • Shankar lamentou que o arco emocional de Geordi com a irmã foi derrubado em vez de retrabalhado. Ele admitiu que o episódio finalizado não foi “um dos meus melhores momentos”.
  • Brannon Braga comentou: “Houve momentos ridículos nesse episódio. Por outro lado, sabíamos dos riscos, mas sentimos que era realmente importante ao menos tentar um episódio ambiental. Lutamos para fazer dele uma história pessoal e no fim não funcionou tão bem quanto queríamos. Não pudemos encontrar um ângulo pessoal. Quando você limita o motor de dobra, o tapete está sendo puxado de baixo de Star Trek. Eu gostaria que mais tempo tivesse sido gasto com isso, e menos com Spot, a gata.”

Ficha Técnica

Escrito por Naren Shankar
Dirigido por Robert Lederman

Exibido em 15 de novembro de 1993

 Título em português: “Força da Natureza”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Michael Corbett como Rabal
Margaret Reed como Serova
Lee Arenberg como Prak
Majel Barrett como voz do computador

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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