SNW 3×03: Shuttle to Kenfori

M´Benga encara seu monstro interior em visita a planeta dos zumbis

Sinopse

Data estelar: 2449.1

A Enterprise está em uma missão de rotina quando Batel tem uma crise – a infecção gorn voltou e está mais agressiva. M’Benga diz que uma flor quimera que tem compostos com ação forte contra moléculas invasoras. Mas ela só pode ser encontrada em Kenfori, um planeta hoje neutro e abandonado, mas que foi alvo de disputas durante a Guerra Klingon. Uma missão oficial é impossível, pois violaria tratados, mas Pike decide fazer uma expedição não autorizada com M’Benga para buscar a planta.

A Enterprise navega por um campo de asteroides, de onde parte a nave auxiliar com os dois. Uma boia automática deixada pelos klingons instrui a não se aproximar do planeta. Pike decide ir mesmo assim e pousa a nave em uma clareira na floresta. O tricorder não detecta fauna no planeta, apenas flora. O sinal contrasta com um cadáver klingon no caminho para um posto avançado da Federação abandonado, onde esperam encontrar amostras da quimera. M’Benga cuidadosamente colhe uma, evitando contato direto. Pike, em compensação, encontra uma perna desmembrada e em processo de decomposição.

Enquanto isso, a Enterprise detecta um cruzador de batalha klingon na área, mas Una, no comando, opta pela discrição. O cruzador despacha uma nave batedora à superfície. No planeta, Pike e M’Benga a veem chegando e atirando próximo ao posto – provavelmente atrás deles. Um grupo de três klingons adentra o posto, enquanto a dupla da Frota Estelar tenta escapar. Um tiroteio se segue, mas os dois acabam rendidos – até um grupo de zumbis humanos e klingons atacarem, obrigando todos a fugirem. Um dos três klingons fica para trás e é atacado.

Na enfermaria da nave, Batel está sob dor excruciante. Spock se oferece para fazer um elo mental e aplacar o sofrimento, mas ambos visualizam uma fúria gorn dentro dela. O vulcano tem uma reação de choque e por alguns instantes reage como um gorn, até voltar a si por um bofete de Chapel. Una convoca uma reunião e indica que perderam contato com Pike e M’Benga. Spock recomenda uma aproximação lenta para evitar detecção dos klingons, a fim de se colocar em distância de transporte. Ortegas é contra e sugere um resgate rápido, ainda que violando o tratado, saltando em dobra para a alta atmosfera do planeta. Una opta pelo plano de Spock.

No terminal do posto, M’Benga descobre o que aconteceu: um experimento para tornar plantios hiper-resistentes com o uso da quimera para misturar as culturas a um fungo virtualmente imortal. As coisas saíram de controle com a invasão dos klingons, que não tiveram cuidado e causaram a contaminação que transformou todos em zumbis. Pike se dá conta do plano de M’Benga para Batel: usar a quimera para transformá-la em uma híbrida humana-gorn. O médico diz que é o único jeito, sem isso ela teria dias de vida. Pike está inconformado. A conversa é interrompida por um ataque de zumbis. Os dois se escondem em um armário e são “salvos” pelos klingons. Após enfrentar mais zumbis, um dos klingons é morto, e a líder deles conduz Pike e M’Benga ao teto do prédio. Lá, eles ativam um campo de força que mantém os zumbis afastados e a klingon revela seu propósito: ela é Bytha, filha de Dak’Rah, morto por M’Benga, e quer recuperar sua honra matando-o. O médico estava sendo rastreado após o contato aparentemente inocente com um r’ongoviano na celebração do centenário da Federação. Ela ameaça matar Pike, e M’Benga admite que matou o pai dela. Os dois então travam um combate ritualístico com d’k tahgs, que o doutor vence, mas se recusa a matar sua oponente, para a frustração dela, que se sente ainda mais desonrada.

Em órbita, a Enterprise tenta se aproximar e acaba detectada pelo cruzador klingon, que se prepara para atacar. Isso obriga Una a trocar de estratégia e usar o plano de Ortegas. Por um breve tempo, a nave fica sem gravidade artificial, mas a manobra funciona. No planeta, o campo de força está para ceder. Bytha então decide enfrentar os zumbis, ter uma morte honrada, e permitir que Pike e M’Benga escapem. Eles correrão para a nave auxiliar, mas, antes disso, são transportados pela Enterprise, que foge antes de ser atingida pelo cruzador.

No laboratório, Spock manipula cuidadosamente a quimera para uso em Batel. M’Benga pergunta se Pike vai entregá-lo por ter admitido o assassinato de Dak’Rah. Mas o capitão lembra que a missão foi clandestina, e não há nada para reportar. Se houvesse, ele indica que acobertaria o amigo do mesmo modo. No gabinete, Una chama Ortegas para uma reunião e a confronta, indicando que ela acelerou a nave sem ordens para ser detectada, levando-a escolher o plano dela. Pela insubordinação, Una a dispensa do serviço por duas semanas e a obriga a fazer um curso corretivo. Pike confronta Batel sobre o tratamento, mas ela diz que está ciente dos riscos e não tem alternativa. Os dois se abraçam, assustados.

Comentários

O que pode ser mais divertido que um episódio de zumbis? Resposta: um episódio de zumbis klingons! “Nave Auxiliar para Kenfori” é uma tradução perfeita desse clássico subgênero do terror para o formato de Star Trek, mas também é muito mais que isso: focado principalmente em M’Benga, ele oferece uma continuação para o excelente “Under the Cloak of War”, confirmando aqui o que lá foi deixado ambíguo, mas muitos já suspeitavam: ele de fato assassinou o genocida/desertor Dak’Rah.

A trama é colocada em ação da forma mais simples e rápida possível: Batel tem mais uma crise com seu “câncer gorn” e só uma misteriosa flor quimérica que cresce em um planeta proibido poderia salvá-la. Sem demora, Pike e M’Benga partem para buscá-la e se veem às voltas com um bando de zumbis famintos.

Não é o primeiro experimento de Jornada com o gênero; em “Impulse”, da terceira temporada de Enterprise, encontramos uma nave vulcana à deriva na Expansão Délfica em que todos os tripulantes se converteram em zumbis. Aqui, contudo, o paralelo com os filmes de sabor The Walking Dead é mais efetivamente realizado, com Pike e M’Benga explorando um ambiente aberto de “terra arrasada”, que um dia abrigou um posto avançado de pesquisa da Federação. Toda a fauna local desapareceu, mas os dois não tardam a encontrar evidências (e cadáveres) indicando que há algo muito errado em Kenfori.

Do ponto de vista técnico, como é o usual em Strange New Worlds, o episódio é uma joia. Esteticamente bem trabalhado, ele se equilibra bem entre o usual pudor de mostrar cenas fortes na franquia e a necessidade de criar momentos impactantes e sanguinolentos que acompanham filmes de terror. Tudo isso sem vergonha nenhuma de estar se inspirando em um subgênero bem estabelecido e, a essa altura, manjado. Os roteiristas usam Pike para pendurar uma lanterna sobre esse fato, ao fazer o capitão usar o termo “zumbis”, ser recriminado por M’Benga, e voltar com “a palavra z”. E mais uma vez vale destacar a trilha musical da Nami Melumad, que bebe apropriadamente na fonte de temas de Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida para algumas das cenas com os klingons.

Se, do ponto de vista da ação, o segmento é despretensioso e inclui todos os clichês que seriam esperados, para os personagens, em particular M’Benga, é uma exploração muito bem-vinda. Babs Olusanmokun é chamado a trazer novas nuances para o lutador-tornado médico-tornado monstro durante a Guerra Klingon e se vê obrigado a revisitar seu passado, demonstrando certo remorso pelo que pode ter se tornado. É emblemático o diálogo entre ele e Pike quando, passado o perigo, o médico quer saber se seria denunciado pelo capitão. Pike conclui que ele não é um monstro, apenas um homem – enfatizando que foram as circunstâncias terríveis de uma guerra sanguinolenta e sem regras que fizeram M’Benga ser capaz de tomar as ações que tomara. É uma síntese da clássica frase “é fácil ser santo no paraíso”, usada por Benjamin Sisko em Deep Space Nine para explicar a suposta sensibilidade evoluída dos humanos do século 24. Provocados, eles podem, sim, reverter à selvageria de seus ancestrais, e isso faz deles apenas humanos – nada mais, nada menos.

M’Benga não é o único a ganhar um desenvolvimento importante no episódio. Com a trama secundária ambientada a bordo da Enterprise, temos a oportunidade de ver Una no comando, tendo de tomar decisões difíceis, e ganhamos mais evidências de que há algo errado com Ortegas, quando ela se insubordina e coloca em risco a nave e a tripulação para forçar a adoção de seu plano de resgate, baseado em adrenalina e desejo de morte. Melissa Navia explora com naturalidade e de forma convincente esse novo aspecto de sua personagem e Rebecca Romijn confere a Una a seriedade e serenidade que se espera de uma primeira oficial que um dia estará no comando de uma nave estelar.

Como trama terciária, a situação de Batel de início traz apenas o impulso inicial para a aventura, mas logo se converte em um ponto importante para a temporada e a série como um todo, com a perspectiva do uso da flor quimérica como forma de estabilizar sua infecção transformando-a em algo como uma híbrida humana-gorn. Pike fica naturalmente horrorizado com a hipótese, e está claro que esse será um desenvolvimento importante mais adiante. A ideia é reforçada pelo elo mental de Spock com Batel, que nos apresenta algum “instinto gorn” já implantado nela.

Embora seja uma virada interessante dessa trama contínua, há de se ressaltar o vai-e-vem conduzido pela natureza episódica da série: em “Hegemony, Part II”, Batel estava morrendo, porque isso interessava à trama; em “Wedding Bell Blues”, parecia inteiramente recuperada e pronta para assumir o comando de uma nave estelar, porque isso convinha àquele momento; em “Shuttle to Kenfori”, ela volta a ter uma crise de saúde séria e está a poucos dias da morte, restando apenas a esperança de um tratamento experimental e controverso.

Do ponto de vista estritamente narrativo, não há nada tão irreal. A situação de “montanha-russa”, por sinal, lembra muito tratamentos atuais de câncer, em que o paciente oscila entre momentos em que tudo parece perdido e outros em que tudo se encaminha para ficar bem, enquanto nada está de fato descartado: nem a remissão, nem a metástase fatal. Tendo dito isso, é mais uma lembrança de que Strange New Worlds é uma série para ser vista episódio a episódio, a despeito dos elementos de continuidade. Assistir aos três primeiros desta terceira temporada em rápida sucessão pode transformar a percepção de uma realista montanha-russa emocional em uma oscilação ao sabor das conveniências de cada roteiro. Mesmo nesse quesito, os elogios, aqui, em muito superam as críticas.

No frigir dos ovos, temos um episódio plenamente satisfatório, pois entrega uma história autocontida de alto valor de entretenimento enquanto explora fatos passados e ilumina perspectivas futuras para vários personagens, tratando-os todos de maneira realista e nuançada. É muito mais do que se costuma esperar de uma típica aventura de zumbis.

Avaliação

Citações

“You’re not a monster, Joseph. Just a man. And my friend.”
(Você não é um monstro, Joseph. Só um homem. E meu amigo.)
Christopher Pike, consolando Joseph M’Benga

Trivia

  • A roteirista Onitra Johson assinou o roteiro de “The Elysian Kingdom”, da primeira temporada, foi incorporada à equipe de roteiristas no segundo ano e promovida a editora de histórias na terceira. “Shuttle to Kenfori” é seu segundo episódio na série.
  • Bill Wolkoff está em seu quinto episódio, depois de ter assinado “Ghosts of Illyria” e “Lift Us Where Suffering Cannot Reach”, da primeira temporada, e “Those Old Scientists” e “Subspace Rhapsody”, da segunda temporada. Ele começou na série como produtor supervisor e no terceiro ano passou a coprodutor executivo.
  • Dan Liu costuma dirigir episódios voltados para o terror. Foram dele os segmentos “Memento Mori”, do primeiro ano, e “Lost in Translation”, do segundo.
  • Este é o segundo episódio zumbi de Star Trek, depois de “Impulse”, da terceira temporada de Enterprise.
  • O título do episódio é uma paródia do nome de um filme de zumbis coreano de sucesso, Train to Busan (2016), lançado no Brasil como Invasão Zumbi. Já o nome do planeta, Kenfori, é uma referência ao ator Ken Foree, que ficou famoso ao estrelar Dawn of the Dead (1978), rebatizado no Brasil como Despertar dos Mortos.
  • Neste episódio vemos um esqueleto klingon, com suas peculiares costelas. O design é baseado em arte feita em 1998 por Dan Curry, produtor de efeitos visuais da segunda era televisiva de Star Trek. A ilustração foi aproveitada num gráfico exibido no episódio “Affliction”, da quarta temporada de Enterprise, mas esses detalhes anatômicos jamais haviam sido vistos em carne e osso (mais osso que carne aqui).
  • A pequena nave batedora klingon que pousa no planeta é o mesmo modelo criado para Discovery e visto pela primeira vez em “Choose Your Pain”. Já o cruzador em órbita é o clássico D-7, criado por Matt Jefferies para a Série Clássica e atualizado em diversas ocasiões, para os filmes de cinema, para as séries da segunda era televisiva e para Discovery, introduzido na segunda temporada daquela série.
  • O episódio traz mais informações sobre o passado de M’Benga, que já foi casado três vezes – quatro se contar o casamento que foi anulado. Uma dela pode ser a Debra, mãe de sua filha Rukiya.
  • Os klingons aqui usam uma versão atualizada de um tricorder klingon visto primeiro em Deep Space Nine.
  • As luvas e a máscara que M’Benga e Pike usam para colher as flores são do mesmo tecido que a roupa protetora vista em “Hegemony, Part II”.
  • Una e Uhura aparecem de cabelos presos neste episódio – sem dúvida para evitar o problema que seria mostrá-los flutuando na breve cena em que a nave fica sem gravidade!

Ficha Técnica

Escrito por Onitra Johnson & Bill Wolkoff
Dirigido por Dan Liu

Exibido em 24 de julho de 2025

Título em português: “Nave Auxiliar para Kenfori”

Elenco

Anson Mount como Christopher Pike
Ethan Peck como Spock
Jess Bush como Christine Chapel
Christina Chong como La’An Noonien-Singh
Celia Rose Gooding como Nyota Uhura
Melissa Navia como Erica Ortegas
Babs Olusanmokun como Joseph M’Benga
Martin Quinn como Montgomery Scott
Rebecca Romijn como Una Chin-Riley

Elenco convidado

Christine Horn como Bytha
Melanie Scrofano como Marie Batel
Chris Myers como Dana Gamble
Ishan Davé como Scannell

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Edição de Maria Lucia Rácz

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