No dia 08 de setembro, os fãs foram apresentados a uma nova camada do universo da franquia com a estreia do podcast roteirizado Star Trek: Khan. A série, que foca no lendário vilão Khan Noonien Singh, explora os eventos de sua vida durante o exílio em Ceti Alpha V, entre o episódio “Space Seed” da série original e sua volta no filme Star Trek II: The Wrath of Khan.
Com Naveen Andrews, conhecido por seu papel em Lost, assumindo o icônico personagem interpretado originalmente por Ricardo Montalban, o podcast oferece uma abordagem profunda e multifacetada do supervilão geneticamente aprimorado. Em entrevista ao TrekMovie, Andrews compartilhou suas impressões sobre o papel, o legado de Montalban e os temas complexos abordados na produção.
Um Papel Icônico e o Peso do Legado
Interpretar Khan, um dos vilões mais memoráveis de Star Trek, não é tarefa simples. Andrews reconhece a influência de Ricardo Montalban, que definiu o personagem com carisma e intensidade.
Ah, é compreensível que, se você tem alguém como Ricardo Montalban criando o modelo, você tem que pelo menos tentar segui-lo. Mas graças a Deus ele estabeleceu um modelo, e foi esse que eu segui. Então, sou muito grato a ele.
Para se preparar, Andrews admite que seu conhecimento prévio do personagem era limitado e revisitou o episódio “Space Seed“, usando a atuação de Montalban como principal referência, sem buscar inspirações externas.
Nem um pouco profundo (sobre Khan), porque, se eu pensasse em Star Trek de improviso, estaria me referindo à minha experiência de infância na Inglaterra. Nasci em 1969, então, assistíamos à série na década de 1970. Se significou alguma coisa para mim, foi o fato de que ali estava uma série que aparentemente tinha um núcleo de responsabilidade moral, e é disso que mais me lembro.
Bem, essas coisas definitivamente estavam lá para serem usadas como pontos de referência ou pesquisa. O que me ajudou mais na prática foi o episódio de Star Trek “Space Seed” em que Ricardo Montalban foi o personagem principal. Para ser sincero, não vi nada que pudesse ser melhor do que isso.
Em Star Trek Into Darkness (2013), Benedict Cumberbatch brilhou como Khan Noonien Singh, dirigido por J.J. Abrams. Naveen Andrews, que trabalhou com Abrams em Lost, foi questionado se esteve cotado para o papel no cinema. “Sinceramente, não sei se fui considerado“, respondeu com franqueza. Ao comentar a atuação de Cumberbatch, ele riu: “Ah, normalmente penso isso sobre a maioria das coisas“, mostrando que poderia performar como o vilão no filme.
A Humanidade de Khan
Um dos pontos centrais do podcast é a dualidade de Khan. Para Andrews, o personagem transcende a dicotomia herói-vilão.
Depende de como você quer descrever o heróico, na falta de um termo melhor. A ideia de um superser com falhas é um pouco mais complexa, eu diria, do que apenas um herói-vilão. É justamente o que o torna interessante para mim: o fato de que, sim, sensatamente, ele é um superser, mas com falhas da forma mais humana possível.
Essa humanidade é explorada especialmente na relação de Khan com Marla McGivers, interpretada por Wrenn Schmidt no podcast. Diferente do que foi mostrado em “Space Seed“, onde a dinâmica entre os dois era menos desenvolvida, o podcast apresenta uma história de amor marcada por nuances trágicas.
Eu vi isso como uma história de amor. E também foi uma oportunidade para mim, e acho que para o público, de ver, na maneira como eles interagiam, que Khan — quase contra a sua própria vontade — era na verdade bastante humano, e isso significa imperfeito. Mas também, em termos do que fizemos no podcast, você tem a oportunidade de ver suas idiossincrasias e sua capacidade de autodepreciação.
Apesar de trabalhar sozinho na cabine de gravação, sem interação direta com outros atores, Andrews lamenta a falta de colaboração presencial, algo que, como ator, ele valoriza.
Tragicamente, eu estava sozinho na cabine com a [coroteirista] Kirsten Beyer e o diretor. Tecnicamente, acho que não é viável. Gostaria que fosse, porque, como ator, me inspiro nas pessoas com quem trabalho. E se isso não for possível, você só precisa fazer o melhor que puder.
A busca por vingança de Khan Noonien Singh contra o Capitão Kirk é um dos fios condutores da história de Star Trek II: The Wrath of Khan. Para Andrews a questão da vingança não é tão simples quanto certo ou errado:
Em sua própria mente, sim, em sua mente. Mas então, poderíamos olhar para Lear (A Tragédia do Rei Lear por William Shakespeare), ele estava certo em dividir o reino no início da peça? Foi um erro enorme? Ou suas intenções eram boas? Só mencionei isso porque, claro, Khan é o tipo de homem renascentista. Ele certamente é culto.
Temas Atuais e o Perigo da Eugenia
Além da narrativa pessoal de Khan, o podcast aborda questões éticas que ressoam com o presente, como os perigos da eugenia e do aprimoramento genético. Andrews destaca a relevância do tema:
É um pouco surpreendente ver como isso é relevante agora, no presente. Isso é algo que vem acontecendo desde o século XIX, com filósofos defendendo um “super-homem”. E, como tenho certeza de que você já sabe, com resultados deletérios no século XX, com regimes totalitários na Rússia, Japão, Alemanha e Itália. Então, já vimos esse tipo de trajetória e para onde ela leva. Então, se a arte puder mais uma vez nos mostrar como vivemos, acho que isso é algo positivo.
O podcast não busca tornar Khan mais simpático de forma deliberada, mas Andrews acredita que a natureza da mídia sonora permite ao público tirar suas próprias conclusões:
Acho que o fato de abordar — deixando de lado todas as referências literárias — é, espero, algo de grande profundidade. É isso que eu gostaria que o público entendesse, que é bastante complexo. E não é necessariamente apenas entretenimento.
Fazer parte da franquia tem um significado especial para Andrews, especialmente por seguir os passos de Montalban.
É uma honra ser convidado para fazer isso. É significativo para mim pessoalmente, por causa do Ricardo Montalban. O fato de eu poder ir até onde ele me levou é uma coisa boa.
Star Trek: Khan já tem três episódios disponíveis no youtube. Você também pode acompanhar nossas resenhas sobre cada episódio no TB ao Vivo. A série tem 9 episódios e encerrará dia 3 de novembro.
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